sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Conde de Monte Cristo - Capitulo 15


XV

O NÚMERO 34 E O NÚMERO 27




D
antés passou por todos os graus do infortúnio a que estão sujeitos os prisioneiros esquecidos numa prisão. Começou pelo orgulho, que é um complemento da esperança e uma consciência da inocência: em seguida principiou a duvidar da sua inocência, o que não justificava mal as idéias do governador acerca da alienação mental; por fim, caiu do alto do seu orgulho e pediu, não ainda a Deus, mas sim aos homens: Deus é o derradeiro recurso. O infeliz que deveria começar pelo Senhor, só consegue confiar nele depois de esgotar todas as outras esperanças.
Dantés pediu, pois, que se dignassem tirá-lo da sua masmorra e o metessem noutra, ainda que fosse mais escura e profunda. Uma mudança mesmo desvantajosa, era sempre uma mudança e proporcionaria a Dantés uma distração de alguns dias. Pediu que lhe concedessem o passeio, o ar, livros, instrumentos. Nada disso lhe foi concedido. Mas não importava, continuava a pedir. Habituara-se a falar ao seu novo carcereiro, embora este fosse ainda, se possível, mais mudo do que o antigo. Mas falar a um homem, mesmo a um mudo, era também um prazer. Dantés falava para ouvir o som da sua própria voz. Tentara falar quando estava sozinho, mas tivera medo.
Muitas vezes, quando estava em liberdade, Dantés; fizera um bicho de sete cabeças daqueles amontoados de prisioneiros constituídos por vagabundos, bandidos e assassinos, cujos prazeres ignóbeis incluem orgias indescritíveis e amizades medonhas. Pois acabou por desejar ser lançado numa dessas enxovias, a fim de ver outras caras além da do carcereiro impassível que se recusava terminantemente a falar. Invejava os trabalhos forçados, com o seu fato infamante, a sua corrente no pé e a sua marca no ombro.
Ao menos os galerianos viviam no meio dos seus semelhantes, respiravam o ar, viam o céu. Os galerianos eram muito felizes.
Um dia suplicou ao carcereiro que pedisse lhe dessem um companheiro, fosse qual fosse, ainda que esse companheiro tivesse de ser o abade louco de que ouvira falar. Sob a pele do carcereiro, por mais coriácea que fosse, continuava a haver um homem. Este tinha muitas vezes, do fundo do coração, e embora o seu rosto nada tivesse deixado transparecer a tal respeito, lamentado aquele pobre rapaz para quem o cativeiro era tão duro.
Transmitiu o pedido do 34 ao governador; mas este, prudente como se fosse um político, imaginou que Dantés pretendia amotinar os prisioneiros, tramar qualquer conspiração, ter o auxílio de um amigo em qualquer tentativa de evasão, e recusou.
Dantés esgotara o círculo dos recursos humanos. Como dissemos que acabaria por acontecer, virou-se então para Deus.
Todas as idéias piedosas espalhadas pelo mundo, que buscam os infelizes vencidos pelo destino, vieram então acalmar-lhe o espírito. Recordou-se das preces que a mãe lhe ensinara e encontrou-lhes um sentido que outrora ignorara. Porque para o homem feliz a prece não passa de um conjunto de palavras monótono e vazio de sentido, até ao dia em que a dor explica ao infortunado a linguagem sublime com o auxílio da qual ele fala a Deus.
Rezou, portanto, não com fervor, mas sim com raiva. Rezando em voz alta, já se não assustava com as suas palavras. Então, caía em espécies de êxtases. Via Deus, deslumbrante, em cada palavra que pronunciava. Todos os Atos da sua vida humilde e perdida, atribuía-os à vontade desse Deus poderoso, extraía daí ensinamentos, propunha-se tarefas a cumprir e no fim de cada prece insinuava o pedido interesseiro que os homens encontram com muito mais freqüência maneira de dirigir aos homens do que a Deus: “E perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos tem ofendido”.
Mas, apesar das suas preces ferventes, Dantés continuou prisioneiro.
Então, o seu espírito tornou-se sombrio e formou-se-lhe uma nuvem espessa diante dos olhos. Dantés era um homem simples e sem educação; o passado permanecera para ele coberto com esse véu escuro que só a ciência ergue. Na solidão da sua masmorra e no deserto do seu pensamento, não podia reconstituir os tempos passados, ressuscitar os povos extintos, reconstruir as cidades antigas, que a imaginação engrandece e poetisa, e que nos passam diante dos olhos, gigantescas e iluminadas pelo fogo do céu, como os quadros babilônicos de Martinn.
Ele só tinha o seu passado, tão curto; o seu presente, tão sombrio, e o seu futuro, tão duvidoso: dezenove anos de luz a meditar talvez numa noite eterna! Nenhuma distração podia, portanto vir ajudá-lo. O seu espírito enérgico, ao qual nada seduziria mais do que voar através dos tempos, era obrigado a permanecer prisioneiro como uma águia numa gaiola. Aterrava-se então a uma idéia, à da sua felicidade destruída sem motivo aparente e devido a uma fatalidade inaudita. Encarniçava-se à volta desta idéia, virava-a e revirava-a por todos os lados, devorava-a por assim dizer sofregamente, como no inferno de Dante o implacável Ugolino devora o crânio do arcebispo Roger. Dantés tivera apenas uma fé passageira baseada no poder; perdeu-a como outros a perdem depois do êxito. Simplesmente, não tirara proveito dela.
A raiva sucedeu ao ascetismo. Edmond proferia blasfêmias que faziam recuar de horror o carcereiro. Quebrava o copo contra as paredes da sua prisão. Atribuía com furor as culpas a tudo o que o rodeava, e, sobretudo a si mesmo, à menor contrariedade que lhe fizesse experimentar um grão de areia uma palhinha ou um sopro de ar. Então, a carta denunciadora que vira, que lhe mostrara Villefort, em que tocara, acudia-lhe de novo ao espírito e cada linha chamejava sobre a muralha como o “Mane, Thecel, Phares” de Baltasar.
Dizia para consigo que fora o ódio dos homens e não a vingança de Deus que o mergulhara no abismo onde se encontrava. Votava esses homens desconhecidos a todos os suplícios forjados pela sua ardente imaginação e ainda lhe parecia que os mais terríveis eram excessivamente suaves e sobretudo demasiado curtos para eles. Porque depois do suplicio vinha a morte, e a morte era, senão o repouso, pelo menos a insensibilidade, segundo lhe parecia.
A calma era a morte e que quem quer punir cruelmente deve recorrer a outros meios diferentes da morte, caiu na imobilidade sombria das idéias de suicídio. Ai daquele que na vertente da desgraça se detém em tão sombrias idéias! E como um desses mares mortos que se estendem como o azul das torrentes puras, mas nos quais o nadador sente os pés se enterrarem cada vez mais numa vasa betuminosa que o puxa para si, o aspira e engole. Uma vez assim apanhado, se o socorro divino não vem em seu auxílio está tudo acabado, e cada esforço que tenta, o mergulha mais profundamente na morte.
Todavia, esse estado de agonia moral é menos terrível do que o sofrimento que o precede e talvez do que o castigo que se lhe seguir. É uma espécie de consolação vertiginosa que nos mostra o abismo escancarado e no fundo do abismo o nada. Chegado aí, Edmond encontrou certa consolação nessa idéia. Todos os seus sofrimentos, bem como o cortejo de espectros que arrastavam atrás de si, pareceram sumir-se do canto da sua prisão onde o anjo da morte podia pousar o pé silencioso. Dantés observou com calma a sua vida passada, com terror a sua vida futura, e escolheu o ponto intermédio que parecia ser um lugar de asilo.
— Às vezes — dizia então para consigo — Nas minhas viagens longínquas, quando era ainda um homem e esse homem, livre e forte, gritava a outros homens ordens que eram cumpridas, vi o céu cobrir-se, o mar estremecer e bramir, a tempestade formar-se num canto do céu e, como uma  águia gigantesca, bater os dois horizontes com as suas duas asas. Então sentia que o meu navio não passava de um refúgio impotente, pois o meu navio, leve como uma pena na mão de um gigante, também tremia e estremecia. Não tardava que, acompanhado do barulho medonho das vagas, o aspecto dos rochedos cortantes me anunciasse a morte, e a morte aterrorizava-me. Empregava todos os esforços para lhe escapar e reunia todas as torças do homem e toda a inteligência do marinheiro para lutar com Deus!... porque então era feliz, porque voltar à vida era voltar à felicidade, porque não chamara aquela morte, não a escolhera, porque, enfim, me parecia duro dormir naquele leito de algas e seixos, porque me indignava. Eu que me julgava uma criatura feita à imagem de Deus, servir depois da minha morte de pasto aos alcatrazes e aos abutres. Mas hoje o caso é diferente: perdi tudo o que podia fazer-me amar a vida, hoje a morte sorri-me como uma ama à criança que vai embalar. Mas hoje morro como quero, e adormeço exausto e quebrado como adormecia depois de uma daquelas noites de desespero e raiva durante as quais chegava a contar três mil voltas no meu quarto, isto é, trinta mil passos, ou seja, cerca de dez léguas.
Desde que este pensamento germinou no espírito do jovem este tornou-se mais tratável, mais sorridente. Aceitou melhor o leito duro e o pão negro, comeu menos, deixou de dormir e achou quase suportável aquele resto de existência que tinha a certeza de abandonar quando lhe apetecesse, como deixamos uma peça de roupa velha.
Havia duas maneiras de morrer. Uma era simples: tratava-se de prender o lenço a um varão da janela e enforcar-se. A outra consistia em fingir comer e deixar-se morrer de fome.
A primeira repugnou profundamente a Dantés. Criara-se no horror aos piratas, gente que se enforca nas vergas dos navios. O enforcamento era, portanto para ele, uma espécie de suplício infamante que recusava aplicar a si mesmo.
Adotou, pois, a segunda e colocou-a em execução naquele próprio dia.
Tinham decorrido cerca de quatro anos nas alternativas que relatamos. Ao fim do segundo, Dantés deixara de contar os dias e recaíra na ignorância do tempo de que outrora o tirara o inspetor.
Dantés dissera: “Quero morrer”, e escolhera o seu gênero de morte. Então, encarara-o bem de frente e, com medo de voltar atrás na sua decisão, jurara a si mesmo morrer assim. “Quando me servirem as refeições da manhã e da tarde”, pensara, “Atirarei a comida pela janela e parecerá que comi”.
Procedeu como prometera a si próprio proceder. Duas vezes por dia, através da aberturazinha gradeada que só lhe permitia distinguir o céu, lançava fora a comida, primeiro alegremente, depois com reflexão e depois com pesar. Precisou recorrer à lembrança do juramento que fizera a si mesmo para ter a coragem de prosseguir o terrível desígnio. A fome canina tornava-lhe apetecíveis à vista e tentadores ao olfato aqueles alimentos que antes lhe repugnavam.
Às vezes, conservava durante uma hora na mão o prato que os continha, de olhos cravados no naco de carne ou no peixe infecto, bem como no pão negro e bolorento. Eram os derradeiros instintos da vida que ainda lutavam nele e que de vez em quando derrubavam a sua resolução. Então, a sua masmorra já lhe não parecia tão sombria e o seu estado parecia-lhe menos desesperado. Ainda era novo; devia ter vinte e cinco anos e restavam-lhe pouco mais ou menos cinqüenta anos para viver, ou seja, duas vezes mais do que já vivera. Durante esse enorme lapso de tempo, quantos acontecimentos poderiam forçar as portas, derrubar as muralhas do Castelo d’If e restituir-lhe a liberdade!
Então, aproximava os dentes da comida que, Tântalo voluntário, ele próprio afastava da boca. A lembrança do seu juramento acudia-lhe ao espírito e aquela natureza generosa tinha demasiado medo de se desprezar a si mesma para faltar a esse juramento. Gastou, pois, rigoroso e implacável, a pouca existência que lhe restava e chegou um dia em que já não teve forças para se levantar e lançar pela janela o jantar que lhe traziam.
No dia seguinte já não via e quase não ouvia. O carcereiro julgou tratar-se de uma doença grave; Edmond esperava uma morte próxima.
O dia passou-se assim. Edmond sentia um vago entorpecimento que não deixava de lhe proporcionar certo bem-estar. Os arrancos nervosos do seu estômago tinham diminuído e os ardores da sede haviam-se acalmado. Quando fechava os olhos via uma quantidade de luzes brilhantes idênticas aos fogos-fátuos que percorrem de noite os terrenos pantanosos. Era o crepúsculo desse país desconhecido chamado a morte. De súbito, à noite, por volta das nove horas, ouviu um ruído abafado na parede junto da qual estava deitado.
Tantos bichos imundos tinham vindo fazer barulho na prisão que pouco a pouco Edmond habituara-se a dormir sem que o seu sono fosse perturbado por tão pouco. Mas desta vez, quer porque os seus sentidos estivessem excitados pela abstinência, quer porque realmente o ruído fosse mais forte do que de costume, quer ainda porque naquele momento supremo tudo adquirisse importância, Edmond soergueu a cabeça para ouvir melhor.
Tratava-se de um arranhar sempre igual que parecia denotar quer uma garra enorme, quer um dente poderoso, quer finalmente a pressão de qualquer instrumento nas pedras.
Apesar de enfraquecido, o cérebro do jovem foi assaltado por essa idéia banal constantemente presente no espírito dos prisioneiros: a liberdade. Aquele barulho chegava tão precisamente no momento em que todo o ruído ia cessar para ele que lhe parecia que Deus se mostrava enfim compadecido dos seus sofrimentos e lhe enviava aquele barulho para o avisar de que se detivesse à beira da sepultura onde o seu pé já vacilava. Quem sabe se um dos seus amigos, um desses entes queridos em que pensara tantas vezes, não se ocupava dele naquele momento e procurava encurtar a distância que os separava.
Mas não, Edmond enganava-se sem dúvida e tratava-se de um desses sonhos que pairam à porta da morte.
Contudo, Edmond continuava a ouvir o ruído. Este durou cerca de três horas e depois Edmond ouviu uma espécie de desmoronamento, depois do qual o ruído cessou. Poucas horas mais tarde recomeçou mais forte e mais próximo. Edmond se interessava por aquele trabalho que lhe fazia companhia quando, de súbito, o carcereiro entrou.
Havia cerca de oito dias que resolvera morrer e quatro que começara a pôr o projeto em execução sem que Edmond dirigisse a palavra àquele homem, não lhe respondesse quando lhe perguntara de que doença julgava sofrer e se virasse para a parede quando o outro o olhara com demasiada atenção. Mas naquele dia o carcereiro poderia ouvir aquele barulho abafado, alarmar-se, pôr-lhe termo e destruir assim, talvez, não sei que esperança, cuja simples idéia fascinava os derradeiros momentos de Dantés, o carcereiro trazia o café da manhã.
Dantés soergueu-se na cama, engrossou a voz e desatou a falar de tudo quanto lhe veio à cabeça: da má qualidade da comida que o carcereiro trazia, do frio que se rapava naquela masmorra, etc., sempre murmurando e resmungando para ter o direito de gritar mais alto e cansando a paciência do carcereiro, que precisamente naquele dia solicitara para o prisioneiro doente um caldo e pão fresco e lhe trazia esse caldo e esse pão.
Felizmente, o homem julgou que Dantés delirava, pousou a comida em cima da mesa coxa em que tinha o hábito de a colocar e retirou-se.
De novo livre, Edmond pôs-se a escutar com alegria. O ruído tornara-se tão distinto que naquele momento o jovem já o ouvia sem esforço.
“Não há dúvida”, disse para consigo, “Se o ruído continua, apesar de já ser dia, é porque algum pobre prisioneiro como eu trabalha para se libertar. Oh, se estivesse perto dele como o ajudaria!”
Depois, de repente, uma nuvem sombria passou sobre esta aurora de esperança naquele cérebro habituado à desgraça e que só dificilmente poderia recuperar as alegrias humanas: assaltou-o bruscamente a idéia de que o barulho poderia ser provocado pelo trabalho de alguns operários que o Governo empregasse nas reparações de uma cela contígua.
Era fácil assegurar-se disso; mas como arriscar uma pergunta? Claro que era muito simples esperar a chegada do carcereiro, fazê-lo escutar o ruído e ver o rosto que faria. Mas proporcionar-se semelhante satisfação não seria atraiçoar interesses demasiados preciosos por uma satisfação tão curta? Infelizmente a cabeça de Edmond, campânula vazia, estava dominada pelo zumbido de uma idéia. Encontrava-se tão fraco que o seu espírito pairava como um vapor e não conseguia condensar-se à volta de um pensamento. Edmond viu apenas um meio de dar clareza à sua reflexão e lucidez ao seu julgamento. Olhou para o caldo ainda fumegante que o carcereiro acabava de deixar em cima da mesa, levantou-se, aproximou-se dele cambaleante, pegou na tigela, levou-a aos lábios e engoliu a beberagem que continha com uma indizível sensação de bem-estar.
Teve então a coragem de ficar por ali. Ouvira dizer que pobres náufragos recolhidos, extenuados pela fome, tinham morrido por haverem devorado vorazmente uma alimentação demasiado substancial. Edmond pousou em cima da mesa o pão que tinha já quase ao alcance da boca e voltou a deitar-se.
Desistira de morrer.
Não tardou a sentir a luz entrar-lhe no cérebro. Todas as suas idéias vagas e quase inapreensíveis retomavam o seu lugar naquele tabuleiro de xadrez maravilhoso, onde uma casa a mais talvez seja suficiente para estabelecer a superioridade do homem sobre os animais. Conseguiu pensar e fortificar o pensamento com o raciocínio. Então, disse para consigo:
“É necessário tentar a experiência, mas sem comprometer ninguém. Se o trabalhador for um operário vulgar, bastará bater na minha parede e imediatamente ele interromperá a sua tarefa para procurar adivinhar quem bate e com que fim bate. Mas se o seu trabalho não for só lícito, mas também encomendado, o retomará imediatamente. Se, pelo contrário, for um prisioneiro, o barulho que eu fizer irá assustá-lo. Receando ser descoberto, interromperá o seu trabalho e só o retomará à noite, quando julgar que todos estarão deitados e dormindo”.
Edmond levantou-se imediatamente de novo. Desta vez as pernas já não lhe vacilavam nem tinha visões de fogos-fátuos. Dirigiu-se para um canto da cela, arrancou uma pedra minada pela umidade e foi bater na parede no mesmo lugar onde o barulho era mais sensível.
Bateu três vezes.
Logo à primeira, o barulho cessou como que por encanto.
Edmond escutou com toda a sua alma. Passou uma, duas horas sem que nenhum novo ruído se ouvisse; Edmond provocara do outro lado da muralha um silêncio absoluto.
Cheio de esperança, Edmond comeu um pouco de pão e bebeu alguns goles de água. Graças à poderosa constituição de que a natureza o dotara encontrou-se pouco depois como anteriormente. Passou o dia e o silêncio manteve-se.
Anoiteceu e o barulho não recomeçou.
“É um prisioneiro”, disse Edmond para consigo com indizível alegria. Desde então a cabeça exaltou-se-lhe e a vida tornou-se-lhe violenta à força de ser ativa.
A noite passou sem que se ouvisse o menor ruído.
Edmond não pregou olho.
Amanheceu; o carcereiro entrou com a comida. Edmond já devorara os alimentos antigos e devorou os novos escutando sem cessar, à espera de um ruído que não voltava, receando que tivesse cessado para sempre, percorrendo dez ou doze léguas na sua masmorra, sacudindo durante horas inteiras os varões de ferro do seu respiradouro, recuperando a elasticidade e o vigor dos seus membros por meio de um exercício esquecido havia muito tempo, dispondo-se enfim a retomar, corpo a corpo, o seu destino futuro, como faz, estendendo os braços e esfregando o corpo com óleo, o lutador que vai entrar na arena. Depois, nos intervalos desta atividade febril, escutava se o ruído voltava, impacientando-se com a prudência daquele prisioneiro que não adivinhava que fora distraído da sua obra de libertação por outro prisioneiro que tinha, pelo menos, tanta pressa de ser livre como ele.
Passaram-se assim três dias, setenta e duas horas mortais, contadas minuto a minuto.
Por fim, uma noite, quando o carcereiro acabava de fazer a sua última visita e Dantés colava pela centésima vez o ouvido à muralha, pareceu-lhe que um abalo imperceptível se repercutia na sua cabeça, encostada às pedras silenciosas.
Dantés recuou, para acalmar o cérebro agitado, deu algumas voltas na cela e recolocou o ouvido no mesmo lugar. Não havia dúvida: fazia-se qualquer coisa do outro lado. O prisioneiro reconhecera o perigo da sua manobra e optara por qualquer outra. Sem dúvida, para continuar a sua obra com mais segurança, substituíra a alavanca pelo escopro.
Animado por esta descoberta, Edmond resolveu ajudar o infatigável trabalhador. começou por afastar a cama, atrás da qual lhe parecia decorrer a obra de libertação, e procurou com os olhos um objeto com o qual pudesse atacar a muralha, arrancar o cimento úmido, desprender finalmente uma pedra.
Não viu nada. Não tinha faca nem qualquer outro instrumento cortante. De ferro só tinha os varões e quanto a estes já se assegurara muitas vezes que estavam bem presos e não valia a pena tentar abalá-los. Todo o seu mobiliário se compunha de uma cama, uma cadeira, uma mesa, um balde e uma bilha. A cama tinha respigas de ferro, mas essas respigas encontravam-se presas à madeira por parafusos. Seria necessária uma chave de fenda para tirar os parafusos e arrancar as respigas. Na mesa e na cadeira, nada; o balde tivera noutros tempos uma asa, mas essa asa desaparecera.
Só havia um recurso para Dantés: quebrar a bilha e com um dos bocados de barro talhado em ângulo meter mãos à obra. Deixou cair a bilha no chão e a bilha voou em pedaços.
Dantés escolheu dois ou três cacos aguçados, escondeu-os na enxerga e deixou os outros espalhados pelo chão. A quebra da bilha era um acidente tão natural que ninguém se preocuparia com ele.
Edmond tinha toda a noite para trabalhar; mas na escuridão a tarefa corria mal, pois tinha de trabalhar às apalpadelas e não tardou a sentir que embotava o instrumento informe numa argamassa mais dura. Recolocou, pois, a cama no seu lugar e esperou que amanhecesse. Com a esperança, voltara-lhe também a paciência. Durante toda a noite escutou e ouviu o mineiro desconhecido que continuava a sua obra subterrânea.
Amanheceu e o carcereiro entrou. Dantés disse-lhe que ao beber na véspera pela própria bilha esta lhe escapara das mãos, caíra e partira-se. O carcereiro foi, resmungando, buscar uma bilha nova, e nem sequer se deu ao incômodo de levar os pedaços da velha.
Voltou pouco depois, recomendou mais cuidado ao prisioneiro e saiu.
Dantés escutou com indizível alegria o chiar da fechadura, que antes lhe apertava o coração todas as vezes que se fechava. Ouviu afastar-se o ruído dos passos; depois, quando o ruído se extinguiu, saltou para a cama, que desviou, e à claridade do fraco raio de luz que peneirava na cela pode ver o trabalho inútil que fizera na noite anterior, atacando o corpo da pedra em vez da argamassa que lhe rodeava as extremidades.
A umidade tornara essa argamassa friável.
Dantes verificou, com o coração a pulsar-lhe de alegria, que a argamassa se soltava em fragmentos, fragmentos que eram quase átomos é verdade seja... mas ao cabo de meia-hora, porém Dantés já arrancara pouco mais ou menos um punhado. Um matemático poderia calcular que aproximadamente em dois anos daquele trabalho, supondo que se não encontrasse rocha, seria possível abrir uma passagem de dois pés quadrados e vinte pés de profundidade.
O prisioneiro censurou-se por não ter empregado naquele trabalho as longas horas passadas, sempre mais lentas, que perdera na esperança, na oração e no desespero.
Havia cerca de seis anos que se encontrava fechado naquela masmorra: que trabalho, por mais lento que fosse não teria feito!
Esta idéia deu-lhe novo ardor.
Em três dias conseguiu, com inauditas precauções, retirar toda a argamassa e pôr a pedra a nu. A muralha era feita de pequenas pedras de construção, no meio das quais, para aumentar a solidez, tinham colocado, a intervalos, grandes blocos de pedra aparelhados. Era uma dessas pedras que quase descarnara e que se tratava agora de fazer sair do seu alvéolo.
Dantés experimentou com as unhas, mas as unhas eram insuficientes para isso. Os cacos da bilha, introduzidos nos intervalos, quebravam-se quando Dantés pretendia utilizá-los como alavanca.
Passado uma hora de tentativas inúteis, Dantés levantou-se, com o suor da angústia na testa. Iria ser detido assim logo ao princípio e teria de esperar, inerte e inútil, que o vizinho, que se esfalfava do seu lado, talvez, fizesse tudo? Passou-lhe então uma idéia pelo espírito. Ficou de pé sorrindo. A sua testa úmida de suor secou por si mesma.
O carcereiro trazia todos os dias a sopa de Dantés numa caçarola de folha-de-flandres. Essa caçarola continha a sua sopa e a do outro prisioneiro, pois Dantés notara que ou estava completamente cheia ou meio vazia, conforme o carcereiro começava a distribuição da comida por ele ou pelo seu companheiro.
A caçarola tinha um cabo de ferro. Era esse cabo de ferro que Dantés ambicionava e que pagaria, se lhe exigissem em troca, com dez anos de vida.
O carcereiro deitou o conteúdo da caçarola no prato de Dantés. Depois de comer a sopa com uma colher de pau, Dantés lavava o prato, que servia assim todos os dias. À noite, Dantés pôs o prato no chão, a meio caminho entre a porta e a mesa. Ao entrar, o carcereiro pôs o pé em cima do prato e partiu-se em mil pedaços.
Desta vez não havia nada a dizer contra Dantés: fizera mal em deixar o prato no chão, é verdade, mas o carcereiro também não vira onde punha os pés.
O carcereiro limitou-se, portanto a resmungar.
Em seguida olhou à sua volta para ver onde poderia deitar a sopa; mas a baixela de Dantés limitava-se àquele único prato e não havia por onde escolher.
— Deixe a caçarola — sugeriu Dantés — Leve-a quando me trouxer amanhã o café da manhã.
O conselho ia ao encontro da preguiça do carcereiro, que assim não tinha necessidade de subir, descer e tornar a subir.
Deixou a caçarola.
Dantés estremeceu de alegria. Desta vez comeu rapidamente a sopa e a carne que, segundo o hábito das prisões, deitavam na sopa. Em seguida, depois de esperar uma hora para ter a certeza de que o carcereiro não mudava de idéia, afastou a cama, pegou a caçarola, introduziu a ponta do cabo entre a pedra aparelhada liberta de argamassa e as pedras de construção vizinhas e começou a utilizá-la como alavanca.
Uma pequena oscilação provou a Dantés que as coisas corriam bem. De fato, ao cabo de uma hora a pedra estava fora da parede, onde deixaram um buraco de mais de pé e meio de diâmetro.
Dantés apanhou com cuidado toda a argamassa, transportou-a para os cantos da cela, raspou a terra acinzentada com um dos fragmentos da bilha e cobriu a argamassa de terra. Depois, disposto a tirar proveito daquela noite em que o acaso, ou antes, o excelente truque que imaginara, lhe pusera nas mãos um instrumento tão precioso, continuou a cavar com energia.
Ao amanhecer, recolocou a pedra no buraco, empurrou a cama contra a parede e deitou-se. O café da manhã consistia num naco de pão. O carcereiro entrou e deixou-o em cima da mesa.
— Então, não traz outro prato? — perguntou Dantés.
— Não — respondeu o carcereiro — Parte tudo, já partiu a bilha e foi o causador de lhe partir o prato. Se todos os prisioneiros dessem tanta despesa, não sei aonde o Governo havia de ir buscar dinheiro. Deixo-lhe a caçarola, onde lhe deitarei a sopa. Assim, talvez já não parta a sua baixela.
Dantés ergueu os olhos ao céu e juntou as mãos debaixo do cobertor. Aquele pedaço de ferro que lhe deixavam fazia-lhe nascer no coração um impulso de reconhecimento ao Céu mais vivo do que o que alguma vez lhe causara no passado as maiores venturas que experimentara.
Notara, porém, que desde que começara a trabalhar o prisioneiro já não trabalhava. Que interessava, isso não era motivo para interromper a sua tarefa. Se o vizinho não vinha ter com ele, iria ele ter com o vizinho.
Trabalhou todo o dia sem descanso. À noite, graças ao seu novo instrumento, tirara da muralha mais de dez punhados de fragmentos de pedra de construção, gesso e cimento.
Quando chegou a hora de visita, endireitou o melhor que pode o cabo da caçarola e colocou o recipiente no seu lugar habitual. O carcereiro deitou nele a costumada ração de sopa e carne, ou antes, de sopa e peixe, pois aquele era dia de jejum, um dos três dias de jejum semanais a que sujeitavam os prisioneiros. Seria mais um meio de calcular o tempo, se há muito Dantés não tivesse renunciado a tal cálculo.
Deitada a sopa, o carcereiro retirou-se.
Desta vez, Dantés quis ter a certeza se o vizinho deixara realmente de trabalhar.
Escutou.
Estava tudo silencioso como durante os três dias em que o trabalho fora interrompido. Dantés suspirou. Era evidente que o vizinho desconfiava dele. No entanto, não desanimou e continuou a trabalhar toda a noite. Mas após duas ou três horas de escavar, encontrou um obstáculo: o ferro já não mordia, deslizava numa superfície plana.
Dantés apalpou com as mãos e reconheceu que atingira uma viga.
A viga atravessava, ou antes, barrava inteiramente o buraco que Dantés começara. Agora era preciso escavar por cima ou por baixo.
O pobre rapaz nunca pensara em semelhante obstáculo.
— Oh, meu Deus, meu Deus, pedi-vos tanto que esperava me tivésseis ouvido! — exclamou — Meu Deus, depois de me terdes tirado a liberdade da vida, meu Deus! Depois de me terdes tirado a calma da morte, meu Deus! Por que me chamastes à existência, meu Deus? Tende piedade de mim e não me deixeis morrer no desespero!
— Quem fala de Deus e de desespero ao mesmo tempo? — perguntou uma voz que parecia vir de baixo da terra e que, abafada pelo local, chegava aos ouvidos do jovem com um acento sepulcral.
Edmond sentiu os cabelos eriçarem-se-lhe na cabeça e recuou nos joelhos.
— Oh, ouvi falar um homem!... — murmurou.
Havia quatro ou cinco anos que Edmond só ouvia falar o carcereiro, e para um preso o carcereiro não é homem: é uma porta viva ajustada à sua porta de carvalho; é um varão de carne entre os varões de ferro.
— Em nome do Céu — gritou Dantés — Quem falou, que volte a falar, embora a sua voz me tenha assustado! Quem é o senhor?
— E o senhor?  — perguntou a voz.
— Um pobre prisioneiro — respondeu Dantés, que pela sua parte não punha nenhuma dificuldade em responder.
— De que país?
— Francês.
— O seu nome?
— Edmond Dantés.
— A sua profissão?
— Marinheiro.
— Há quanto tempo está aqui?
— Desde 28 de Fevereiro de 1815.
— O seu crime?
— Estou inocente.
— Mas de que o acusam?
— De conspirar para regresso do Imperador.
— Como? Para o regresso do Imperador?... O Imperador já não está no trono?
— Abdicou em Fontainebleau em 1814 e foi exilado para a Ilha de Elba. Mas há quanto tempo está o senhor aqui que ignora tudo isto?
— Desde 1811.
Dantés estremeceu. Aquele homem tinha mais quatro anos de prisão do que ele.
— Bom, não escave mais — disse a voz, falando muito depressa.
— Diga-me apenas a que altura se encontra a escavação que fez.
— Rente ao chão.
— Como está escondida?
— Atrás da minha cama.
— Afastaram alguma vez a sua cama do seu lugar desde que o senhor está na cela?
— Nunca.
— Para onde dá a sua cela?
— Para uma passagem coberta.
— E a passagem coberta?
— Para o pátio.
— Pouca sorte! — murmurou a voz.
— Oh, meu Deus, que diz?! — exclamou Dantés.
— Digo que me enganei, que a imperfeição dos meus desenhos me levou a resultados errados, que a falta de uma bússola me perdeu, que uma linha de erro no meu plano equivaleu na realidade a quinze pés e que tomei a parede que o senhor abriu pela da cidadela!
— Mas então iria dar ao mar!
— Era o que eu queria.
— E se tivesse conseguido?
— Deitava-me a nado, alcançava uma das ilhas que rodeiam o Castelo d’If , quer a Ilha de Daume, quer a Ilha de Tiboulen, quer até a costa, e estava salvo.
— Conseguiria nadar até lá?
— Deus me daria forças. E agora está tudo perdido!
— Tudo?
— Sim. Tape o seu buraco, com precaução, não trabalhe mais, não faça nada e espere as minhas notícias.
— Quem é, ao menos? Ao menos diga-me quem é!
— Sou... sou... nº. 27.
— Desconfia de mim? — perguntou Dantés.
Edmond julgou ouvir como que um riso amargo transpor a abóbada e subir até ele.
— Oh, sou um bom cristão! — gritou, adivinhando instintivamente que aquele homem tencionava abandoná-lo — Juro-lhe por Cristo que mais depressa me deixarei matar do que entrever aos seus carrascos e aos meus a sombra da verdade. Mas em nome do Céu não me prive da sua presença, não me prive da sua voz, suplico-lhe, pois cheguei ao limite das minhas forças e juro-lhe que partirei a cabeça contra a muralha e o senhor será culpado da minha morte.
— Que idade tem? A sua voz parece a de um rapaz.
— Não sei a minha idade, porque não contei o tempo desde que estou aqui. O que sei é que ia fazer dezenove anos quando fui preso, em 28 de Fevereiro de 1815.
— Ainda não completou vinte e seis anos — murmurou a voz — Bom, nessa idade ainda se não é um traidor.
— Oh, não, não! Juro-lhe — repetiu Dantés — Já lhe disse e repito que mais depressa me deixarei fazer em pedaços do que o atraiçoarei.
— Fez bem em falar-me; fez bem em pedir-me, porque ia formar outro plano e afastar-me de você. Mas a sua idade tranqüiliza-me. Irei ter consigo; espere por mim.
— Quando?
— Tenho de calcular as nossas probabilidades. Depois lhe darei sinal.
— Mas não me abandonará, não me deixará sozinho, virá ter comigo ou me permitirá que vá ter consigo? Fugiremos juntos, e se não pudermos fugir falaremos, o senhor das pessoas que lhe são queridas e eu das minhas. Decerto tem alguém que lhe é querido?...
— Estou só no mundo.
— Então, seremos amigos. Se for novo, serei seu camarada; se for velho, serei seu filho. O meu pai deve ter setenta anos, se ainda é vivo. Não amava mais ninguém a não ser ele e uma moça chamada Mercedes. O meu pai não me esqueceu, tenho a certeza; mas ela, só Deus sabe se ainda pensa em mim. Amá-lo-ei como amava o meu pai.
— Pois sim, amanhã — disse o prisioneiro.
Estas poucas palavras foram proferidas com um acento que convenceu Dantés. Não perguntou mais nada, levantou-se, tomou as mesmas precauções com os fragmentos tirados da parede do que as que já tomara com os anteriores e empurrou a cama contra a muralha.
Desde então, Dantés entregou-se por completo à sua felicidade. Nunca mais estaria só, decerto, talvez até conseguisse ser livre. Na pior das hipóteses, se continuasse prisioneiro, teria um companheiro. Ora o cativeiro compartilhado não passa de meio cativeiro. Os queixumes em comum são quase preces; preces que se rezam a dois são quase ações de graças.
Dantés andou durante todo o dia de um lado para o outro na sua cela, com o coração a pular de alegria. De vez em quando, a alegria sufocava-o. Sentava-se então na cama e comprimia o peito com a mão. Ao mais pequeno ruído que ouvia na passagem coberta, saltava para a porta. Uma vez ou duas, o receio de que o separassem daquele homem que não conhecia, mas que, no entanto, estimava já como um amigo, passou-lhe pela cabeça. Se isso acontecesse, estava decidido: no momento em que o carcereiro afastasse a cama e baixasse a cabeça para examinar o buraco, partir-lha-ia com a laje em que estava pousada a bilha.
O condenariam à morte, bem o sabia; mas não morreria de aborrecimento e desespero desde o momento em que aquele ruído miraculoso o restituíra à vida.
O carcereiro veio à noitinha. Dantés estava na cama, onde lhe parecia que guardava a melhor cobertura inacabada. Decerto fitou o visitante importuno com olhar estranho, pois o homem disse-lhe:
— Então, está cada vez mais louco?
Dantés não respondeu; receava que a emoção da sua voz o atraiçoasse.
O carcereiro retirou-se abanando a cabeça.
Quando anoiteceu, Dantés julgou que o vizinho aproveitaria o silêncio e a escuridão para reatar a conversa consigo, mas enganava-se; a noite passou sem que nenhum ruído respondesse à sua febril expectativa. Mas no dia seguinte, depois da visita da manhã, quando afastou a cama da muralha, ouviu três pancadas a intervalos regulares e precipitou-se de joelhos.
— É o senhor? — perguntou — Estou aqui!
— O seu carcereiro já foi embora? — perguntou a voz.
— Já — respondeu Dantés — E só voltará à tardinha. Temos doze horas de liberdade.
— Posso, portanto trabalhar? — insistiu a voz.
— Pode, sim, e imediatamente, agora mesmo, suplico-lhe.
Ato contínuo, a porção de terra em que Dantes, meio metido na abertura, apoiava as mãos pareceu ceder debaixo dele. Recuou, enquanto uma massa de terra e pedras soltas se precipitava num buraco acabado de, abrir por baixo da abertura que ele próprio fizera. Então, no fundo desse buraco escuro e cuja profundidade não podia calcular, viu aparecer uma cabeça, ombros e finalmente um homem completo, que saiu com bastante agilidade da escavação praticada.





 continua...





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