quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Conde de Monte Cristo - Capitulo 13


XIII

OS CEM DIAS




O
 Sr. Noirtier era um bom profeta e as coisas caminharam depressa como ele dissera. Todos conhecem o regresso da Ilha de Elba, regresso estranho, miraculoso, que sem exemplo no passado, ficará provavelmente sem imitação no futuro. Luís XVIII só fracamente tentou deter aquele golpe tão rude; a sua pouca confiança nos homens tirava-lhe a confiança nos acontecimentos. A realeza, ou antes, a monarquia mal acabada de reconstituir por ele, tremeu nos seus alicerces ainda pouco firmes e um único gesto do Imperador fez ruir todo o edifício, mistura informe de velhos preconceitos e idéias novas.
Villefort não teve, portanto do seu rei mais do que um reconhecimento não só inútil de momento, mas até perigoso, e aquela cruz de oficial da Legião de Honra que teve a prudência de não mostrar, embora o Sr. de Blacas, como lhe recomendara o rei, lhe tivesse mandado enviar oportunamente o alvará.
Napoleão teria decerto destituído Villefort sem a proteção de Noirtier, tornado todo-poderoso na corte dos Cem Dias, devido aos perigos que correra e aos serviços que prestara. Assim, como lhe prometera, o girondino de 93 e o senador de 1806 protegeu aquele que o protegera na véspera.
Todo o poder de Villefort se limitou, portanto, durante esta revivescência do Império, cuja segunda queda, aliás, foi bem fácil de prever, a abafar o segredo que Dantés estivera prestes a divulgar. Só o Procurador Régio foi demitido, por suspeita de pouco entusiasmo no seu bonapartismo.
Entretanto, mal o poder imperial foi restabelecido, isto é, assim que o imperador se instalou nas Tulherias que Luís XVIII acabava de deixar, e lançou as suas ordens, numerosas e divergentes, do gabinetezinho onde, juntamente com Villefort, introduzimos os nossos leitores, e em cima de cuja mesa de nogueira encontrou ainda aberta e meio cheia a tabaqueira de Luís XVIII, Marselha, apesar da atitude dos seus magistrados, começou a sentir acenderem-se em si os tachos da guerra civil sempre mal extintos no Meio-Dia. Pouco falhou então para que as represálias não excedessem alguns apupos com que se importunavam os monárquicos que se fechavam em casa e alguns insultos públicos com que se perseguiam os que se atreviam a sair.
Numa reviravolta muito natural, o digno armador que dissemos pertencer ao Partido Popular encontrou-se por sua vez nesse momento, não diremos todo-poderoso, porque o Sr. Morrel era homem prudente e um bocadinho tímido, com todos aqueles que acumularam uma lenta e laboriosa fortuna comercial, mas em condições, por mais excedido que fosse pelos zelosos bonapartistas que o apodavam de moderado, em condições, dizia, de erguer a voz para fazer ouvir uma reclamação. Essa reclamação, como facilmente se adivinha, referia-se a Dantés.
Villefort ficara de pé apesar da queda do seu superior, e o seu casamento, embora continuasse decidido, fora, no entanto, adiado para tempos mais propícios. Se o imperador conservasse o trono, Gerard precisaria de outra aliança, e o pai se encarregaria de a arranjar; se segunda restauração reconduzisse Luís XVIII a França, a influência do Sr. de Saint-Méran duplicaria, assim como a dele, e a união tornava-se mais vantajosa do que nunca.
O Substituto do Procurador Régio era, portanto, momentaneamente o primeiro magistrado de Marselha quando uma manhã a sua porta se abriu e lhe anunciaram o Sr. Morrel.
Qualquer outro se apressaria a ir ao encontro do armador e com essa solicitude deixaria transparecer a sua fraqueza. Mas Villefort era um homem superior que possuía, senão a prática, pelo menos o instinto de todas as coisas. Mandou-o, pois, esperar na antecâmara, como faria no tempo da Restauração, embora não estivesse atendendo ninguém, mas pela simples razão de que era hábito um Substituto do Procurador Régio fazer esperar na antecâmara. Depois, passado um quarto de hora, que empregou a ler dois ou três jornais de tendências diferentes, mandou introduzir o armador.
O Sr. Morrel esperava encontrar Villefort abatido; encontrou-o como o encontrara seis semanas antes, isto é, calmo, firme e cheio de fria polidez, a mais intransponível de todas as barreiras que separam o homem educado do homem vulgar.
Entrara no gabinete de Villefort convencido de que o magistrado tremia ao vê-lo, e era ele, muito pelo contrário, que se encontrava trêmulo e impressionado diante daquela personagem interrogadora que o esperava com o cotovelo apoiado na mesa.
Parou à porta. Villefort olhou-o como se tivesse certa dificuldade em o reconhecer. Por fim, depois de alguns segundos de exame e silêncio, durante os quais o digno armador virou e revirou o chapéu nas mãos, Villefort disse:
— Sr. Morrel, creio?
— Sim, senhor, eu próprio — respondeu o armador.
— Aproxime-se — continuou o magistrado, fazendo com a mão um gesto protetor — E diga-me a que circunstância devo a honra da sua visita.
— Não adivinha, senhor? — perguntou Morrel.
— Não faço a mais pequena idéia, o que não impede que esteja inteiramente à sua disposição para lhe ser agradável, se for coisa que esteja na minha mão.
— A coisa depende inteiramente de si, senhor — disse Morrel.
— Explique-se então.
— Senhor — continuou o armador, recuperando a presença de espírito à medida que falava e sentindo-se fortalecido pela justiça da sua causa e pela clareza da sua posição — Deve lembrar-se de que dias antes de se saber do desembarque de Sua Majestade, o Imperador, vim solicitar a sua indulgência para um pobre rapaz, um marinheiro, imediato a bordo do meu brigue. Era acusado, como se deve recordar, de relações com a Ilha de Elba. Ora, essas relações, que nessa época eram um crime, são hoje títulos de favor. O senhor servia então Luís XVIII e não o poupou; era o seu dever. Hoje serve Napoleão e deve protegê-lo; é também o seu dever. Venho, pois, perguntar-lhe que é feito dele.
Villefort fez um violento esforço sobre si mesmo.
— O nome desse homem? — perguntou — Tenha a bondade de me dizer o seu nome.
— Edmond Dantés.
Evidentemente Villefort gostaria tanto de enfrentar, num duelo, o fogo do seu adversário a vinte e cinco passos como de ouvir pronunciar assim aquele nome à queima-roupa. Contudo, nem sequer pestanejou.
“Desta forma não poderão acusar-me de ter feito da prisão desse rapaz uma questão puramente pessoal”, disse Villefort para consigo mesmo.
— Dantés? — repetiu — Edmond Dantés, diz o senhor?
— Sim, senhor.
Villefort abriu então um volumoso registro colocado numa estante próxima, consultou um mapa, do mapa passou a uma pilha de processos e por fim, virando-se para o armador, perguntou-lhe com ar mais natural deste mundo:
— Tem a certeza de não estar enganado, senhor?
Se Morrel fosse um homem mais arguto ou estivesse melhor esclarecido acerca do caso, teria achado estranho que o Substituto do Procurador Régio se dignasse responder-lhe sobre matéria completamente estranha às suas atribuições, e teria perguntado a si mesmo por que motivo Villefort o não remetia para os registros de presos, para os governadores de prisão ou para o prefeito do departamento. Mas Morrel, procurando em vão o temor em Villefort, não viu mais, desde o momento em que todo o temor parecia ausente, do que a condescendência. Villefort estava bem senhor de si.
— Não, senhor — respondeu Morrel — Não estou enganado. Aliás, conheço o pobre rapaz há dez anos e tenho-o ao meu serviço há quatro. Vim há seis semanas, recorda-se? Pedir-lhe que fosse clemente, como venho hoje pedir-lhe que seja justo com o pobre rapaz. Por sinal o senhor recebeu-me bastante mal e respondeu-me desabridamente. Oh, como os monárquicos eram duros nesse tempo para com os bonapartistas!
— Senhor — respondeu Villefort, aparando o golpe com a sua presteza e o seu sangue-frio habituais — Fui monárquico enquanto julguei os Bourbon não só os herdeiros legítimos do trono, mas também os eleitos da nação. Mas o regresso miraculoso de que acabamos de ser testemunhas provou-me que me enganava. O gênio de Napoleão venceu: o monarca legítimo é o monarca amado.
— Não imagina o prazer que me dá ouvi-lo falar assim! — exclamou Morrel com a sua ingênua franqueza — Agora já não temo pela sorte de Edmond.
— Espere — prosseguiu Villefort, folheando outro registro — Já me lembro: era um marinheiro, não era, e ia casar com uma catalã? Sim, sim... oh, agora me recordo! O caso era muito grave...
— Como assim?
— Como sabe, depois de sair de minha casa foi conduzido às prisões do Palácio da Justiça.
— Sim, e depois?
— Depois... fiz o meu relatório para Paris e enviei os documentos encontrados em seu poder. Era o meu dever, compreende... e oito dias depois da sua prisão o prisioneiro desapareceu.
— Desapareceu! — exclamou Morrel — Que terão feito do pobre rapaz?
— Oh, sossegue! Deve ter sido levado para Fenestrelles, para Pignerol ou para as Ilhas de Santa Margarida, o que se chama desterrado em termos administrativos, e um belo dia o verá aparecer para reassumir o comando do seu navio.
— Venha quando vier, o lugar está guardado. Mas porque não voltou ainda? Parece-me que o primeiro cuidado da justiça bonapartista deveria ser pôr em liberdade os que foram encarcerados pela justiça monárquica.
— Não acuse precipitadamente, meu caro Sr. Morrel — atalhou Villefort — Em todas as coisas é preciso proceder legalmente. A ordem de encarceramento veio de cima, é, portanto também de cima que deve vir a ordem de libertação. Ora, Napoleão regressou apenas há quinze dias; logo, as cartas de abolição ainda mal tiveram tempo de ser expedidas.
— Mas — perguntou Morrel — Não há meio de apressar as formalidades, agora que triunfamos? Tenho alguns amigos, alguma influência; posso obter a anulação do mandado de captura.
— Não houve mandado de captura.
— Do registro, então.
— Em matéria política, não há registro de presos. Às vezes, os governos têm interesse em fazer desaparecer um homem sem que deixe vestígios da sua passagem. Mandados e registros guiariam as buscas.
— No tempo dos Bourbon talvez fosse assim, mas agora...
— É assim em todos os tempos, meu caro Sr. Morrel. Os governos seguem-se e assemelham-se. A máquina penitenciária montada no reinado de Luís XIV ainda hoje funciona, excetuando a Bastilha. O Imperador tem sido sempre mais rigoroso com o regulamento das suas prisões do que foi o próprio grande rei, e o número de encarcerados de que não há vestígios nos registros é incalculável.
Tanta benevolência teria até desfeito certezas, e Morrel nem sequer tinha suspeitas.
— Mas então, Sr. de Villefort, que conselho me daria para abreviar o regresso do pobre Dantés?
— Apenas um, senhor: faça uma petição ao Ministro da Justiça.
— Oh, senhor, todos nós sabemos o que acontece às petições!... O ministro recebe duzentas por dia e nem sequer lê quatro.
— Sim — admitiu Villefort — Mas ler uma petição enviada por mim, informada por mim, recomendada diretamente por mim.
— E o senhor se encarregaria de fazer chegar essa petição?
— Com o maior prazer. Dantés podia ser culpado então, mas hoje está inocente e tenho o dever de fazer restituir a liberdade àquele que foi meu dever meter na prisão.
Villefort, precavia-se assim do perigo de um inquérito pouco provável, mas possível, um inquérito que o perderia irremediavelmente.
— Mas como se escreve ao ministro?
— Sente-se aqui, Sr. Morrel — disse Villefort, cedendo o seu lugar ao armador — Vou-lhe ditar.
— Terá essa bondade?
— Sem dúvida. Não percamos tempo.
— Sim, senhor. Lembremo-nos que o pobre rapaz espera, sofre e desespera talvez.
Villefort estremeceu à idéia daquele prisioneiro amaldiçoando-o no silêncio e nas trevas. Mas fora já demasiado longe para recuar. Dantés devia ser esmagado pelas engrenagens da sua ambição.
— Pronto, senhor — disse o armador, sentado na poltrona de Villefort com uma pena na mão.
Villefort ditou então uma petição em que, como nada tinha a recear, exagerava o patriotismo de Dantés e os serviços por ele prestados à causa bonapartista. Nessa petição, Dantés era transformado num dos agentes mais ativos do regresso de Napoleão. Era evidente que, ao ver semelhante documento, o ministro se apressaria a fazer imediatamente justiça, se justiça ainda não fora feita. Terminada a petição, Villefort releu-a em voz alta.
— É isto mesmo. E agora confie em mim.
— E a petição partirá brevemente, senhor?
— Hoje mesmo.
— Informada por si?
— A melhor informação que posso dar, senhor, é certificar veracidade de tudo o que diz na petição.
E Villefort sentou-se por seu turno e escreveu num canto da petição o seu certificado.
— E agora, senhor, que mais é preciso fazer? — perguntou Morrel.
— Esperar — respondeu Villefort — Respondo por tudo.
Esta garantia restituiu a esperança a Morrel, que deixou o Substituto do Procurador Régio encantado com ele e foi anunciar ao velho Dantés que não tardaria a rever o filho.
Quanto a Villefort, em vez de a mandar para Paris, conservou cuidadosamente em seu poder a petição que, sendo capaz de salvar Dantés no presente, o comprometeria irremediavelmente no futuro, supondo uma coisa que o aspecto da Europa e o andamento dos acontecimentos permitiam já supor, isto é, Segunda Restauração.
Dantés continuou, portanto, preso. Metido nas profundezas da sua masmorra, nem sequer ouviu o estrondo formidável da queda do trono de Luís XVIII e o ainda mais formidável do desmoronamento do Império.
Mas Villefort, esse, seguiu tudo com olhar vigilante, escutou tudo com ouvido atento. Por duas vezes, durante a curta aparição imperial a que se chamou os Cem Dias, Morrel voltou à carga, insistindo sempre pela libertação de Dantés, e de ambas às vezes Villefort o tranqüilizou com promessas e esperanças. Por fim, chegou Waterloo e Morrel não reapareceu em casa de Villefort. O armador fizera pelo seu jovem amigo tudo o que era humanamente possível fazer. Fazer novas tentativas depois da segunda Restauração seria comprometer-se inutilmente.
Luís XVIII voltou a subir ao trono.
Villefort, para quem Marselha estava cheia de recordações que para ele se tinham transformado em remorsos, pediu e obteve o lugar de Procurador Régio em Toulouse, que se encontrava vago. Quinze dias depois de se instalar na sua nova residência casou com Mademoiselle Renée de Saint-Méran, cujo pai estava melhor visto na corte do que nunca.
Foi assim que Dantés, durante os Cem Dias e depois de Waterloo, permaneceu preso, esquecido, senão dos homens, pelo menos de Deus.
Danglars compreendeu todo o alcance do golpe que vibrara em Dantés, ao ver Napoleão regressar a França. A sua denúncia acertara em cheio e, como todos os homens de certa tendência para o crime e de média inteligência na vida corrente, chamou a essa coincidência estranha um “decreto da Providência”.
Mas quando Napoleão chegou a Paris e a sua voz soou de novo, imperiosa e forte, Danglars teve medo. Esperava a cada instante ver aparecer Dantés, Dantés sabedor de tudo, Dantés ameaçador e capaz de todas as vinganças. Então manifestou ao Sr. Morrel o desejo de deixar o serviço do mar e conseguiu que ele o recomendasse a um negociante espanhol, ao serviço do qual entrou como angariador de encomendas, em fins de Março, isto é, dez ou doze dias depois do regresso de Napoleão às Tulherias. Partiu, pois, para Madrid e mais ninguém ouviu falar dele.
Quanto a Fernand, não compreendeu nada. Dantés estava ausente, era tudo o que desejava. Que fora feito dele? Nem sequer o procurou saber. Apenas durante todo o compasso de espera que lhe proporcionava a sua ausência se esforçou em parte por enganar Mercedes acerca dos motivos da sua ausência e em parte a forjar planos de emigração e de fuga. De tempos em tempos também — e essas eram as horas sombrias da sua vida — sentava-se na ponta do Cabo Pharo, lugar donde se distinguia simultaneamente Marselha e a aldeia dos Catalães, a pensar, triste e imóvel como uma ave de rapina, se não veria voltar, por um desses dois caminhos, o belo jovem de andar desenvolto e cabeça altiva que para ele se transformara no mensageiro de uma cruel vingança.
Então os planos de Fernand detinham-se. Estouraria a cabeça a Dantés com um tiro de espingarda e se suicidaria em seguida, dizia para consigo, procurando disfarçar o assassínio. Mas Fernand enganava-se: esse homem nunca seria assassinado porque continuava a esperar.
Entretanto, no meio de tantas flutuações dolorosas, o Império convocou uma derradeira classe de soldados e todos os homens em condições de pegar em armas lançaram-se para fora de França à voz trovejante do Imperador. Fernand partiu como os outros, deixou a sua cabana e Mercedes roído pelo sombrio e terrível pensamento de que depois da sua partida o seu rival regressaria e casaria com aquela que ele amava.
Se Fernand alguma vez tivesse de se matar, seria deixando Mercedes que o faria.
As suas atenções para com Mercedes, a compreensão com que parecia aceitar a sua infelicidade, o cuidado com que procurava ir ao encontro dos seus mais pequenos desejos, tinham produzido o efeito que produzem sempre nos corações generosos as aparências do devotamento. Mercedes sempre fora amiga de Fernand, e a essa amizade por ele juntou-se, aumentando-a, um novo sentimento: o reconhecimento.
— Meu irmão — disse ela, prendendo a mochila do soldado nos ombros do catalão — Meu irmão, meu único amigo, não te faças matar, não me deixes sozinha neste mundo, onde choro e ficarei só se não estiveres aqui.
Estas palavras, proferidas no momento da partida, deram algumas esperanças a Fernand. Se Dantés não voltasse, Mercedes poderia vir um dia a ser dele.
Mercedes ficou sozinha naquela terra nua, que nunca lhe parecera tão árida, e com o mar imenso por horizonte. Lavada em lágrimas, com essa multidão de que nos contam a história dolorosa, viam-na vaguear constantemente à volta da aldeiazinha dos Catalães, umas vezes parada debaixo do sol ardente do Meio-Dia, de pé, imóvel, muda como uma estátua, a olhar para Marselha, outras vezes sentada à beira-mar, a escutar os queixumes das águas, eternos como a sua dor, e perguntando-se sem cessar se não valeria mais inclinar-se para a frente, deixar-se levar pelo seu próprio peso, abrir o abismo e engolfar-se nele, do que sofrer assim todas as cruéis alternativas de uma espera sem esperança.
Não foi coragem o que faltou a Mercedes para pôr em prática tal projeto, foi a religião que veio em seu auxílio e a salvou do suicídio.
Caderousse foi convocado, como Fernand. Simplesmente, como tinha mais oito anos do que o catalão e era casado, só fez parte do terceiro turno e enviaram-no para as costas.
O velho Dantés, que já só era amparado pela esperança, perdeu-a com a queda do Imperador. Passados cinco meses, dia a dia depois de ter sido separado do filho e quase à mesma hora em que fora preso, soltou o derradeiro suspiro nos braços de Mercedes.
O Sr. Morrel chamou a si todas as despesas do funeral e pagou as pobres dividazinhas que o velhote fizera durante a sua doença.
Havia mais do que beneficência em proceder assim; havia coragem. O Meio-Dia estava em logo, e socorrer, mesmo no seu leito de morte, o pai de um bonapartista tão perigoso como Dantés era um crime.




  
 continua...



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