terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel - Prólogo - 1° parte



— Prólogo —




A Respeito de Hobbits

Em grande parte, este livro trata de hobbits, e através de suas páginas o leitor pode descobrir muito da personalidade deles e um pouco de sua história. Informações adicionais podem ser obtidas na seleção feita a partir do Livro Vermelho do Marco Ocidental, já publicada sob o título de O Hobbit. Essa história originou-se dos primeiros capítulos do Livro Vermelho, escritos pelo próprio Bilbo, o primeiro hobbit a se tornar famoso no mundo todo, e chamados por ele de Lá e de Volta Outra Vez, porque relatavam a sua viagem para o Leste e sua volta: uma aventura que mais tarde envolveria todos os hobbits nos grandes acontecimentos daquela Era relatados aqui.
Entretanto, muitos podem desejar desde o início saber mais sobre esse povo notável, uma vez que alguns podem não possuir o primeiro livro. Para esses leitores, aqui vão algumas notas sobre os pontos mais importantes dos hobbits, e um rápido resumo da primeira aventura.
Os hobbits são um povo discreto mas muito antigo, mais numeroso outrora do que é hoje em dia. Amam a paz e a tranquilidade e uma boa terra lavrada: uma região campestre bem organizada e bem cultivada era seu refúgio favorito. Hoje, como no passado, não conseguem entender ou gostar de máquinas mais complicadas que um fole de forja, um moinho de água ou um tear manual, embora sejam habilidosos com ferramentas.
Mesmo nos tempos antigos, eles geralmente se sentiam intimidados pelas “Pessoas Grandes”, que é como nos chamam, e atualmente nos evitam com pavor e estão se tornando difíceis de encontrar. Têm ouvidos agudos e olhos perspicazes, e, embora tenham tendência a acumular gordura na barriga e a não se apressar desnecessariamente, são ligeiros e ágeis em seus movimentos. Possuem, desde o início, a arte de desaparecer rápida e silenciosamente, quando pessoas grandes que não desejam encontrar aparecem pelos caminhos aos trambolhões, e desenvolveram essa arte a tal ponto que para os homens ela pode parecer magia. Mas os hobbits na verdade nunca estudaram qualquer tipo de magia, e sua habilidade para desaparecer se deve somente a um talento profissional que a hereditariedade, a prática e uma relação íntima com a terra tornaram inimitáveis por raças maiores e mais desengonçadas.
São um povo pequeno, menores que os anões: menos robustos e troncudos, quer dizer, mesmo que na realidade não sejam muito mais altos, a sua altura é variável, indo de 60 centímetros a 1 metro e 20 centímetros em nossa medida. Raramente chegam a 1 metro e meio, mas eles diminuíram pelo que dizem, e em tempos antigos eram maiores. De acordo com o Livro Vermelho, Bandobras Túk (Urratouro), filho de Isengrim II, tinha 1 metro e 33 centímetros de altura e conseguia montar um cavalo. Ele só foi superado em todos os recordes hobbitianos por dois personagens famosos de antigamente, mas essa interessante questão é tratada neste livro.
Quanto aos hobbits do Condado, enfocados nesses contos, nos tempos de paz e prosperidade eram um povo alegre. Vestiam-se com cores vivas gostando notadamente de verde e amarelo, mas raramente usavam sapatos uma vez que seus pés tinham solas grossas como couro e eram cobertos por pêlos grossos e encaracolados, muito parecidos com os que tinham na cabeça, que eram geralmente castanhos. Dessa forma, o único ofício pouco praticado entre eles era a manufatura de sapatos, mas tinham dedos longos habilidosos e podiam fazer muitas outras coisas úteis e graciosas. Em geral seus rostos eram mais simpáticos que bonitos: largos, com olhos brilhantes, bochechas vermelhas e bocas prontas para rir e para comer e beber. Assim eles riam, comiam e bebiam, frequentemente e com entusiasmo, gostando de brincadeiras a qualquer hora, e também de cinco refeições por dia (quando podiam tê-las). Eram hospitaleiros e adoravam festas e presentes que ofereciam sem reservas e aceitavam com gosto.
É fato que, apesar de um estranhamento posterior, os hobbits são nossos parentes: muito mais próximos que os elfos, ou mesmo que os anões. Antigamente, falavam a língua dos homens, à sua própria maneira, e em grande parte gostavam e desgostavam das mesmas coisas que os homens. Mas qual é exatamente nosso parentesco não se pode mais descobrir. A origem dos hobbits se situa nos Dias Antigos, agora perdidos e esquecidos.
Apenas os elfos preservam registros dessa época extinta, e suas tradições tratam quase que inteiramente de sua própria história, na qual os homens aparecem raramente e os hobbits não são mencionados. Mas não há dúvida de que os hobbits, de fato, viveram sossegadamente na Terra-Média por muitos anos antes que qualquer outro povo tomasse conhecimento deles. E estando o mundo afinal de contas cheio de inumeráveis criaturas estranhas, esse pequeno povo parecia ter muito pouca importância. Mas na época de Bilbo e de Frodo, seu herdeiro, eles repentinamente se tornaram, sem que o desejassem, tanto importantes quanto renomados, e atrapalharam as deliberações dos Sábios e dos Grandes.
Aqueles dias, a Terceira Era da Terra-Média, já se passaram há muito tempo, e o formato de todas as terras foi mudado, mas as regiões habitadas pelos hobbits dessa época são sem dúvida as mesmas onde eles ainda permanecem: o Noroeste do Velho Mundo, a Leste do Mar. De sua terra natal, os hobbits da época de Bilbo não preservavam nenhum conhecimento. O amor por aprender coisas novas (que não fossem registros genealógicos) estava longe de ser comum entre eles, mas ainda restavam alguns nas famílias mais antigas que estudavam seus próprios livros, e até reuniam relatos de tempos antigos e terras distantes feitos por elfos, anões e homens. Seus próprios registros começaram apenas depois da fundação do Condado, e suas lendas mais antigas raramente são anteriores aos seus Dias Errantes.
Entretanto, está claro, a partir dessas lendas e das evidências de suas palavras e hábitos peculiares, que os hobbits, como muitos outros povos, se dirigiram para o Oeste no passado. Suas histórias mais antigas parecem ser de um tempo em que eles moravam nos vales superiores de Anduin, entre a orla da Grande Floresta Verde e as Montanhas Sombrias. Já não se conhece com certeza a razão pela qual empreenderam a tarefa árdua e perigosa de atravessar as montanhas e chegar até Eriador. Seus próprios depoimentos falam da multiplicação dos homens na terra, e de uma sombra que desceu sobre a floresta, de modo que esta ficou escura e seu nome passou a ser Floresta das Trevas.
Antes de atravessar as montanhas, os hobbits já se haviam dividido em três raças relativamente diferentes: Pés-peludos, Grados e Cascalvas. Os Pés-peludos tinham a pele mais escura, eram menores e mais baixos, não tinham barbas ou botas; suas mãos e pés eram destros e ágeis e eles preferiam as regiões serranas e as encostas de montanhas. Os Grados tinham uma constituição mais encorpada e pesada: suas mãos e pés eram maiores, e preferiam planícies e regiões banhadas por rios. Os Cascalvas tinham a pele e o cabelo mais claros, eram mais altos e esguios que os outros e eram amantes de árvores e florestas.
Os Pés-peludos tinham muito a ver com os anões em épocas antigas, e viveram por muito tempo nos pés das montanhas. Migraram cedo em direção ao Oeste, e vagaram até Eriador chegando ao Topo do Vento, enquanto os outros ainda estavam nas Terras Ermas. Eram a variedade mais comum e representativa de hobbits, e sem dúvida a mais numerosa. Eram os mais inclinados a se acomodar em um único lugar, e preservaram por mais tempo o hábito ancestral de viver em túneis e tocas.
Os Grados permaneceram por mais tempo ao longo das margens do Grande Rio Anduin, e eram menos reservados em relação aos homens. Migraram, para o Oeste depois dos Pés-peludos e seguiram o curso do Ruidoságua em direção ao Sul, e ali muitos deles moraram por um longo tempo entre Tharbad e os limites da Terra Parda, antes de rumar para o Norte novamente.
Os Cascalvas, os menos numerosos, eram um ramo do Norte. Tinham um contato mais amigável com os elfos do que os outros hobbits, e tinham mais habilidade com línguas e música do que com trabalhos manuais. E desde antigamente preferiam caçar a lavrar a terra. Eles cruzaram as montanhas ao norte de Valfenda e desceram o Rio Fontegris. Em Eriador, rapidamente se mesclaram com os outros tipos que os haviam precedido, mas, sendo relativamente maiores e mais aventureiros, eram frequentemente tidos como líderes ou chefes entre os clãs de Pés-peludos ou de Grados. Mesmo no tempo de Bilbo, ainda se podiam notar os fortes traços de Cascalvas entre as famílias maiores, como os Túks e os Mestres da Terra dos Buques.
Na região oeste de Eriador, entre as Montanhas Sombrias e as Montanhas de Lún, os hobbits encontraram tanto homens quanto elfos. Na verdade, ainda morava lá um remanescente dos Dúnedain, os reis dos homens que chegaram do Ponente pelo Mar, mas eles estavam desaparecendo rapidamente, e as terras de seu Reino do Norte estavam se deteriorando por toda a região. Havia espaço de sobra para os que chegavam, e logo os hobbits começaram a se assentar em comunidades organizadas. Muitas de suas comunidades mais antigas tinham desaparecido e caído em total esquecimento na época de Bilbo, mas uma das primeiras a se tornar importante ainda permanecia, embora reduzida em tamanho, situava-se em Bri e na Floresta Chet que ficava nas redondezas, a umas quarenta milhas do Condado.
Foi nesses tempos primordiais, sem dúvida, que os hobbits aprenderam suas letras e começaram a escrever na maneira dos Dúnedain, que por sua vez tinham aprendido a arte muito antes com os elfos. E nessa época eles também esqueceram todas as línguas usadas anteriormente, e depois disso sempre falaram a Língua Geral, o Westron, que era como a chamavam nas terras dos reis desde Arnor até Gondor, e em toda a costa marítima desde Belfalas até Lúri. Mesmo assim, eles ainda preservavam do passado algumas palavras próprias, bem como seus próprios nomes de meses e dia e uma grande quantidade de nomes de pessoas.
Por volta dessa época, as lendas entre os hobbits se tornaram pela primeira vez história, com uma contagem de anos. Pois foi no ano 1601 da Terceira Era que os irmãos Cascalvas, Marcho e Blanco, partiram de Bri, e tendo obtido permissão do Rei em Fornost[1], cruzaram o escuro rio Barandum acompanhados de muitos hobbits. Atravessaram a Ponte dos Arcos de Pedra, construída na época de poder do Reinado do Norte, e tomaram toda terra além dela para ali morar, entre o rio e as Colinas Distantes. Tudo que se exigia deles era que fizessem a manutenção da Grande Ponte e de todas as outras pontes e estradas, que facilitassem a passagem dos mensageiros do rei e que reconhecessem seu poder.

[1] Conforme os relatos de Gondor, este rei era Argeleb II, o vigésimo da linhagem do Norte, que terminou com Arvedui, três séculos depois.

Assim teve início o Registro do Condado, pois o ano em que cruzaram o Rio Brandevin (assim rebatizado pelos hobbits) se tornou o Ano Um do Condado, e todas as datas posteriores se baseiam nessa.
Imediatamente os hobbits do Oeste se apaixonaram por sua nova terra e lá permaneceram, e assim rapidamente mais uma vez desapareceram da história dos homens e dos elfos. Enquanto ainda havia um rei, eram seus súditos nominais, mas na verdade eram governados por seus próprios líderes e não se misturavam de modo algum com os acontecimentos do mundo lá fora.
Na última batalha em Fornost contra o Rei dos Bruxos de Angmar, enviaram alguns arqueiros para ajudar o rei, ou pelo menos assim afirmavam, embora nenhuma história dos homens confirme a informação. Mas com aquela guerra o Reinado do Norte acabou, e então os hobbits tomaram a terra para si próprios, e escolheram entre seus próprios chefes um Thain para ocupar o lugar de autoridade do rei que havia partido. Ali, por mil anos, tiveram poucos problemas com guerras, e prosperaram e se multiplicaram depois da Peste Negra (R.C. 37[2]) até o desastre do Inverno Longo e a penúria que o seguiu. Milhares pereceram nessa época, mas os Dias de Privação já estavam distantes na época desta história, e os hobbits tinham se acostumado novamente com a fartura. A terra era rica e boa, e, embora já estivesse abandonada por muito tempo quando lá chegaram, fora bem cultivada antes, e ali o rei possuíra muitas fazendas, plantações de milho, vinhedos e bosques.

[2] R.C. significa “Registro do Condado”, portanto esse era o Ano de 37 do Registro do Condado.

A terra se estendia por 120 milhas desde as Colinas Distantes até a Ponte do Brandevin, e por 150 milhas dos pântanos do norte até os charcos do sul. Os hobbits a chamaram de Condado, sendo a região de autoridade de seu Thain e um distrito de negócios bem-organizados, e ali, naquele canto agradável do mundo, exerceram sua bem organizada atividade de viver e prestavam cada vez menos atenção ao mundo de fora, onde coisas obscuras aconteciam, chegando a pensar que paz e fartura fossem a regra na Terra-Média e o direito de todas as pessoas sensatas.
Esqueceram ou ignoravam o pouco que sabiam dos Guardiões e dos trabalhos daqueles que possibilitavam a paz prolongada do Condado. Na verdade, eles estavam protegidos, mas deixaram de se lembrar disso.
Em tempo algum, hobbits de qualquer tipo foram amantes da guerra, e nunca guerrearam entre si. Em tempos antigos, é claro, viram-se frequentemente obrigados a lutar para se manterem num mundo difícil, mas na época de Bilbo esta já era uma história muito antiga. A última batalha antes de esta história começar, e na verdade a única que aconteceu dentro dos limites do Condado, estava além da memória viva: a Batalha dos Campos Verdes, R.C. 1147, na qual Bandobras Túk expulsou os orcs que tinham invadido a região. Até mesmo o clima ficara mais ameno, e os lobos que uma vez chegavam famintos fugindo do Norte, durante amargos invernos brancos, eram apenas uma história contada pelos avós. Dessa forma, embora ainda houvesse um pequeno estoque de armas no Condado, estas eram usadas geralmente como troféus, penduradas sobre lareiras ou nas paredes, ou reunidas no museu em Grã Cava. A Casa-Mathom, era como se chamava, pois qualquer coisa que os hobbits não fossem utilizar imediatamente, mas que não quisessem jogar fora, eles chamavam de mathom. Suas moradias podiam vir a ficar cheias de mathoms, e muitos dos presentes que passavam de mão em mão eram desse tipo.
Entretanto, a paz e a tranquilidade tinham tornado este povo curiosamente resistente. Se a situação exigisse, eram difíceis de intimidar ou matar e eram, talvez, tão incansavelmente afeiçoados às coisas boas quanto, quando necessário, capazes de passar sem elas, e podiam sobreviver à ação rude da tristeza, do clima ou do inimigo de um modo que surpreendia aqueles que não os conheciam direito e não enxergavam além de suas barrigas e de seus rostos bem-alimentados. Embora demorassem para discutir e não matassem nenhum ser vivente por esporte, eram valentes quando em apuros, se fosse preciso sabiam ainda manejar armas. Atiravam bem com o arco pois seus olhos eram perspicazes e certeiros no alvo. Não apenas com arco e flechas.
Se qualquer hobbit se abaixasse para pegar uma pedra era bom logo se proteger, como bem sabiam todos os animais transgressores.
Todos os hobbits viviam originalmente em tocas no chão, ou assim acreditavam, e nesse tipo de moradia ainda se sentiam mais à vontade, mas com o passar do tempo foram obrigados a adotar outros tipos de habitação. Na verdade, no Condado da época de Bilbo, geralmente apenas os mais ricos e os mais pobres mantinham o antigo hábito.
Os mais pobres foram viver em tocas do tipo mais primitivo, na verdade meros buracos com apenas uma ou nenhuma janela, enquanto os abastados ainda construíam versões mais luxuosas das escavações simples de antigamente. Mas locais adequados para esses tipos de túneis grandes e ramificados (ou smials, como os chamavam) não se encontravam em qualquer lugar, e nas planícies e nos distritos baixos os hobbits, conforme se multiplicavam, começaram a construir acima do solo.
Na verdade, mesmo nas regiões montanhosas das aldeias mais antigas, como a Vila dos Hobbits ou Tuqueburgo, ou no distrito principal do Condado, que se chamava Grã Cava e ficava sobre as Colinas Brancas, havia agora muitas casas de madeira, tijolo ou pedra. Estas eram especialmente preferidas por mineiros, ferreiros, cordoeiros e carreteiros e outros profissionais do tipo, pois mesmo na época em que tinham tocas onde morar, os hobbits já estavam havia muito tempo acostumados a construir oficinas e barracões.
Afirmava-se que o hábito de construir celeiros e casas-grandes teve início entre os habitantes do Pântano, na região do Rio Brandevin. Os hobbits dessa região, a Quarta Leste, eram bastante grandes e tinham pernas volumosas, e usavam botas de anões quando o tempo estava úmido e havia lama no chão. Mas eram conhecidos por ter uma boa quantidade de sangue Grado, como de fato se demonstrou pela penugem que muitos deles tinham no queixo. Nenhum dos Pés-peludos ou dos Cascalvas tinha qualquer sinal de barba. Na verdade, o pessoal do Pântano, e da Terra dos Buques, a Leste do Rio, que eles ocuparam posteriormente, vieram em sua maior parte para o Condado mais tarde, procedendo do Sul, e ainda tinham muitos nomes peculiares e usavam palavras estranhas não encontradas em nenhuma outra região do Condado.
É provável que o ofício da construção, além de muitos outros ofícios, tenha sido copiado dos Dúnedain. Mas os hobbits podem ter aprendido diretamente com os elfos, os professores dos homens quando jovens. Pois os elfos da Alta Linhagem ainda não haviam abandonado a Terra-Média e naquela época ainda moravam nos Portos Cinzentos, no longínquo Oeste, e em outros lugares dentro dos domínios do Condado.
Três torres élficas de tempos imemoriais ainda podiam ser vistas nas Colinas das Torres, além das fronteiras do Oeste. Brilhavam de longe à luz da lua. A mais alta ficava mais distante, erguendo-se solitária sobre uma colina verde.
Os hobbits da Quarta Oeste diziam que se podia ver o Mar do alto daquela torre, mas jamais se soube de um hobbit que tivesse estado lá. Na verdade, poucos hobbits já tinham visto o Mar ou navegado nele, e menos ainda retornaram para contar o que fizeram. A maioria dos hobbits encarava mesmo os rios e pequenos barcos com grande apreensão, e poucos sabiam nadar. E conforme os dias do Condado se alongavam, eles falavam cada vez menos com os elfos, e se tornaram receosos deles, e desconfiados daqueles que tinham relações com eles, o Mar se tornou uma palavra ameaçadora e um sinônimo de morte, e deram as costas para as colinas e o Oeste.
O oficio da construção pode ter vindo dos elfos ou dos homens, mas os hobbits o usavam a sua própria maneira. Não gostavam de torres. Suas casas eram geralmente compridas, baixas e confortáveis. Os tipos mais antigos eram, na verdade, nada mais que imitações construídas de smials, cobertas com grama seca ou palha ou turfa, e com paredes de certo modo arqueadas. Esse estágio, entretanto, pertenceu aos primeiros tempos do Condado, e as construções dos hobbits tinham sido alteradas havia muito, aprimoradas por métodos aprendidos com os anões ou desenvolvidos por eles próprios.
Uma preferência por janelas e mesmo por portas redondas era a peculiaridade mais importante da arquitetura hobbit.
As casas e tocas dos hobbits do Condado eram sempre grandes, e habitadas por grandes famílias. (Bilbo e Frodo Bolseiro, sendo solteiros, eram muito incomuns, como eram também em muitos outros pontos, como por exemplo, em sua amizade com os elfos). Algumas vezes, como no caso de Túks de Grandes Smials, ou os Brandebuques da Sede do Brandevin, muitas gerações de parentes viviam em (relativa) paz, juntos numa mansão ancestral e de muitos túneis.
Todos os hobbits, de qualquer modo tinham tendência a viver em clãs, e tratavam seus parentes com muita atenção e cuidado. Desenhavam grandes e elaboradas árvores genealógicas com ramos inumeráveis. Em se tratando de hobbits é importante lembrar quem é parente de quem, e em que grau. Seria impossível neste livro esboçar uma árvore genealógica que incluísse mesmo apenas os mais importantes membros das famílias mais importantes da época da qual esses contos trataram.
As árvores genealógicas no final do Livro Vermelho do Marco Ocidental são em si um pequeno volume, e todos, com a exceção dos hobbits, as considerariam excessivamente enfadonhas.
Os hobbits se deliciavam com esse tipo de coisas, quando eram precisas: gostavam de ter os livros repletos de coisas que já conheciam, colocadas preto no branco, sem contradições.








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"A verdadeira história de um ser não está naquilo que fez, mas naquilo que pretendeu fazer".
[Thomas Hardy]

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