domingo, 7 de agosto de 2011

O Hobbit - Capítulo 6



— Capitulo VI —
Da Frigideira Para O Fogo




BILBO ESCAPARA DOS ORCS, mas não sabia onde estava. Perdera capuz, capa, comida, pônei, seus botões e seus amigos. Foi seguindo em frente a esmo, até que o sol começou a descer para o oeste, atrás das montanhas. A sombra delas atravessava o caminho de Bilbo, e ele olhou para trás. Depois olhou para frente e só conseguiu ver cordilheiras e taludes descendo na direção de baixadas e planícies que vislumbrava ocasionalmente em meio às árvores.
— Céus! — exclamou ele — Parece que cheguei ao outro lado das Montanhas Sombrias, bem no limite da Terra Além! Onde será que se meteram Gandalf e os anões? Só espero que não estejam ainda lá em poder dos orcs!
Continuou avançando, saiu do vale alto e estreito, e desceu as ladeiras além, mas, o tempo todo, um pensamento muito incômodo crescia dentro dele. Perguntava-se se não deveria, agora que tinha o anel mágico, voltar para os horríveis, horríveis túneis e procurar os amigos. Acabara de decidir que esse era o seu dever, que devia voltar — e sentia-se arrasado com a decisão — quando ouviu vozes. Parou para escutar.
Não pareciam vozes de orcs, então, Bilbo avançou cautelosamente. Estava numa trilha de pedra que serpeava ao longo de uma muralha rochosa à esquerda, do outro lado o chão inclinava-se e havia vales abaixo do nível da trilha, cobertos de arbustos e árvores baixas. Em um desses vales, sob os arbustos, havia gente conversando.
Bilbo aproximou-se mais ainda, e de repente viu, espreitando entre dois rochedos, uma cabeça coberta com um capuz vermelho: era Balin em seu posto de sentinela. Poderia ter batido palmas e gritado de alegria, mas não fez nada disso. Ainda estava usando o anel, devido ao medo de encontrar algo inesperado e desagradável, e percebeu que Balin olhava na sua direção sem notá-lo.
“Vou fazer uma surpresa a todos”, pensou ele, enquanto se arrastava para dentro dos arbustos na borda do vale.
Gandalf estava discutindo com os anões. Ponderavam tudo o que acontecera nos túneis, perguntando-se e discutindo o que deveriam fazer. Os anões estavam resmungando, e Gandalf dizia que não podiam continuar a viagem deixando o Sr. Bolseiro nas mãos dos orcs, sem tentar descobrir se ele estava vivo ou morto, e sem tentar resgatá-lo.
— Afinal de contas, ele é meu amigo — disse o mago — E não é um mau sujeito. Sinto-me responsável por ele. Queria imensamente que não o tivessem perdido.
Os anões queriam saber por que, afinal de contas, o tinham trazido, por que ele não conseguia ficar com os amigos e vir junto com eles, e por que o mago não escolhera alguém com mais juízo.
— Até agora ele mais atrapalhou do que ajudou — disse um deles — Se tivermos de voltar agora, entrar naqueles túneis abomináveis para procurá-lo, então que ele se dane, é o que eu digo.
Gandalf respondeu enfurecido:
— Eu o trouxe, e não trago coisas que não são de utilidade. Ou vocês me ajudam a procurá-lo, ou eu os abandono aqui, e vão ter de sair dessa confusão por si próprios. Se conseguirmos encontrá-lo de novo, vocês vão me agradecer antes que tudo esteja terminado. Por que diabos você o deixou cair, Dori?
— Você o teria deixado cair — respondeu Dori — Se um orc de repente agarrasse suas pernas por trás no escuro, desse-lhe uma rasteira e chutasse suas costas!
— Então por que não o pegou de novo?
— Ora essa! Que pergunta! Orcs lutando e mordendo no escuro, todo mundo caindo sobre os outros e batendo uns nos outros! Você quase cortou fora minha cabeça com Glamdring, e Thorin golpeava com Orcrista torto e a direito. De repente você soltou um de seus clarões ofuscantes, e vimos os orcs fugindo e ganindo. Você gritou: “Sigam-me, todos!”, e todos deveriam tê-lo seguido. Pensamos que todo mundo tivesse feito isso. Não havia tempo para contar, como você sabe muito bem, até que tivéssemos escapulido pelos portões da guarda, pela porta de baixo, chegando aos trambolhões até aqui. E aqui estamos sem o ladrão, maldito!
— E aqui está o ladrão! — disse Bilbo, descendo para o meio deles e retirando o anel.
Céus! Como pularam! Depois gritaram de surpresa e alegria.
Gandalf estava tão atônito quanto qualquer um deles, mas provavelmente mais alegre que todos os outros. Chamou Balin e disse-lhe o que pensava de vigias que deixavam alguém aparecer no meio deles daquele jeito, sem nenhum aviso. É fato que a reputação de Bilbo entre os anões cresceu muito depois disso. Se eles ainda tinham dúvidas, apesar das palavras de Gandalf, de que ele era um ladrão de primeira classe, deixaram de tê-las.
Balin foi o que ficou mais perplexo, mas todos disseram que foi uma façanha de muita esperteza.
Na verdade, Bilbo ficou tão satisfeito com os elogios deles que apenas riu por dentro e não disse nada sobre o anel, e quando lhe perguntaram como fizera aquilo, ele disse:
— Ah, eu só cheguei sorrateiramente, vocês sabem, com toda a cautela e silêncio.
— Bem, nunca me aconteceu nem mesmo de um rato passar, com toda a cautela e silêncio, bem debaixo do meu nariz sem ser visto — disse Balin — E tiro o meu capuz para você.
E foi o que ele fez.
— Balin, às suas ordens — disse ele.
— Bolseiro, seu criado — disse Bilbo.
Então quiseram saber tudo sobre as suas aventuras depois que o haviam perdido, e Bilbo sentou-se e contou tudo, exceto sobre o anel (“Não agora”, pensou ele). Ficaram particularmente interessados na competição de adivinhas, e tremeram, muito impressionados, ao ouvirem a descrição de Gollum feita por Bilbo.
— E então eu não conseguia pensar em nenhuma outra pergunta com ele sentado ao meu lado — terminou Bilbo — Aí eu disse: “O que eu tenho no bolso?” E ele não conseguiu adivinhar em três tentativas. Então eu disse: “E sua promessa? Mostre-me a saída!” Mas ele partiu para cima de mim com a intenção de me matar, e eu corri, caí e ele me perdeu na escuridão. Então fui atrás dele, porque o ouvi conversando consigo mesmo. Pensava que eu realmente conhecia a saída, e por isso estava indo para lá. E então ele se sentou na entrada, e eu não conseguia passar. Então saltei por cima dele e escapei, e desci correndo até o portão.
— E os guardas? — perguntaram eles — Não tinha nenhum?
— Tinha sim! Um monte, mas eu me esquivei deles. Fiquei entalado na porta, que só estava um pouquinho aberta, e perdi um monte de botões — disse ele tristemente, olhando para as roupas rasgadas — Mas consegui me espremer e passar, e aqui estou.
Os anões o olharam com um respeito inteiramente novo, quando ele falou sobre esquivar-se de guardas, saltar sobre Gollum e se espremer e passar, como se não fosse nada muito difícil ou alarmante.
— O que foi que eu lhes disse? — disse Gandalf rindo — O Sr. Bolseiro tem muito mais talentos do que vocês imaginam.
No momento em que dizia isso, lançou a Bilbo um olhar estranho por baixo das grossas sobrancelhas, e o hobbit ficou imaginando se ele não adivinhara a parte da história que ele havia omitido. Depois, ele tinha suas próprias perguntas, pois, se Gandalf explicara tudo aos anões, ele não ouvira. Queria saber como o mago aparecera de novo e onde todos eles haviam se metido.
O mago, para falar a verdade, não se incomodava em explicar sua esperteza mais de uma vez, então disse a Bilbo que tanto ele como Elrond sabiam muito bem da presença de orcs malignos naquela região das montanhas. Mas seu portão principal ficava numa passagem diferente, mais fácil de atravessar, de modo que frequentemente pegavam pessoas surpreendidas pela noite perto de seus portões. Evidentemente as pessoas haviam deixado de trilhar aquele caminho, e os orcs provavelmente tinham aberto a nova entrada no topo da passagem que os anões haviam escolhido, e muito recentemente, porque até então ela parecera bastante segura.
— Preciso ver se encontro um gigante mais ou menos confiável para bloqueá-la de novo — disse Gandalf — Ou logo não haverá como atravessar as montanhas.
Assim que Gandalf ouvira o grito de Bilbo, percebeu o que acontecera. No clarão que matara os orcs que o agarravam, ele se enfiara na fenda, bem no momento em que ela se fechava. Seguiu os condutores e os prisioneiros até o limiar do grande salão, e ali sentou-se e preparou a melhor mágica que podia naquela escuridão.
— Um negócio bastante melindroso — disse ele — Muito arriscado!
Mas, sem dúvida, Gandalf fizera um estudo especial de encantamentos com fogo e luzes (mesmo o hobbit nunca esquecera os fogos de artifício mágicos nas festas do solstício de verão do Velho Túk, como vocês devem lembrar). O resto todos sabemos, exceto que Gandalf sabia tudo sobre a porta dos fundos, que os orcs chamavam Portão de Baixo, onde Bilbo perdera seus botões. Na verdade, todos os que estavam familiarizados com aquela região das montanhas conheciam-na muito bem, mas era preciso um mago para manter a cabeça fria nos túneis e guiar o grupo na direção certa.
— Eles fizeram o portão eras atrás — disse ele — Em parte como um caminho de fuga, se precisassem de um, e em parte como saída para as terras além, aonde ainda vão no escuro e onde causam grandes estragos. Eles a guardam constantemente, e ninguém jamais conseguiu bloqueá-la. Depois disso, vão dobrar a vigilância — disse ele, rindo.
Todos os outros também riram. Afinal de contas, tinham perdido muita coisa, mas haviam matado o Grão-Orc, além de muitos outros, e todos tinham escapado, de modo que se podia dizer que, até o momento, haviam levado vantagem.
Mas o mago chamou-os à razão.
— Precisamos partir imediatamente, agora que descansamos um pouco — disse ele — Vão sair atrás de nós às centenas quando cair a noite, e as sombras já estão se alongando. Eles podem farejar nossas pegadas horas e horas depois de termos passado. Precisamos estar milhas à frente antes do crepúsculo. Haverá um pouco de lua, se o tempo continuar bom, e isso é sorte. Não que se incomodem muito com a lua, mas ela nos dará um pouco de luz para que possamos nos guiar.
— Ah, sim! — disse ele, em resposta a mais perguntas do hobbit — A gente perde a noção do tempo nos túneis dos orcs. Hoje é quinta-feira, e foi na segunda a noite ou na terça cedo que fomos capturados. Andamos milhas e milhas, e passamos através do coração das montanhas, e agora estamos do outro lado, um belo atalho. Mas não estamos no ponto que nossa passagem nos teria conduzido, estamos muito ao norte, e temos um bom trecho de terreno acidentado à frente. E ainda estamos muito no alto. Vamos!
— Estou com uma fome terrível! — resmungou Bilbo, que, de repente, percebeu que não tivera uma refeição desde a noite de antes de anteontem. Imaginem o que é isso para um hobbit! Seu estômago parecia vazio e frouxo, e suas pernas completamente bambas, agora que a excitação passara.
— Não há nada a fazer — disse Gandalf — a não ser que você queira voltar e pedir aos orcs com toda a educação que lhe devolvam o pônei com a bagagem.
— Não, obrigado! — respondeu Bilbo.
— Então muito bem, só nos resta apertar os cintos e avançar, ou seremos transformados em comida, e isso será muito pior do que ficarmos sem comer.
Enquanto avançavam, Bilbo olhava de um lado para o outro procurando algo para comer, mas as amoreiras estavam apenas em flor, e é claro que não havia nozes, nem mesmo frutinhas de espinheiro. Mordiscou umas folhas de azedinha, bebeu de um pequeno riacho da montanha que cruzava a trilha, e comeu três morangos silvestres que encontrou na margem, mas não adiantou muito.
Ainda continuaram avançando. A trilha acidentada desapareceu. Os arbustos, e o capim alto entre os rochedos, os trechos de relva tosada pelos coelhos, o tomilho, a sálvia e a manjerona, as estevas amarelas, todos desapareceram, e eles se viram no topo de uma encosta larga e íngreme, de pedras soltas, os restos de uma avalanche. Quando começaram a descer, entulho e pedregulhos rolaram de seus pés, logo, pedaços maiores de pedra partida começaram a cair, fazendo deslizar outros pedaços mais abaixo, depois, grandes pedaços de rocha soltaram-se e caíram, partindo-se com estrondo e poeira. Logo, toda a encosta, acima e abaixo deles, parecia estar em movimento, e eles se viram deslizando, amontoados, numa confusão medonha de pedaços de rocha que escorregavam, estrepitavam e arrebentavam.
Foram as árvores no fundo do vale que os salvaram. Escorregaram para dentro de um bosque de pinheiros que naquele trecho subia a encosta da montanha, vindo das florestas mais escuras e profundas do vale lá embaixo. Alguns se agarraram aos troncos e foram descendo até os galhos mais baixos, outros (como o pequeno hobbit) ficaram atrás de alguma árvore para se protegerem do ataque furioso das rochas. Logo o perigo passou, a avalanche havia parado, e podiam-se ouvir os últimos estrondos abafados, enquanto rochedos deslocados saltavam, rodopiando por entre as samambaias e as raízes dos pinheiros lá embaixo.
— Bem, isso nos fez avançar um bocado — disse Gandalf — E até mesmo orcs em nosso encalço vão ter trabalho para descer até aqui sem barulho.
— Talvez — resmungou Bombur — Mas não vai ser difícil rolar pedras sobre nossas cabeças.
Os anões (e Bilbo) estavam longe de se sentirem felizes, e esfregavam as pernas e os pés esfolados e feridos.
— Besteira! Vamos virar aqui e sair da trilha do deslizamento.
— Precisamos ser rápidos! Vejam a luz!
 O sol já se escondera atrás das montanhas havia muito tempo. As sombras já se adensavam ao redor deles, embora, na distância, por entre as árvores e sobre as copas negras das que cresciam mais abaixo, ainda pudessem ver as luzes do entardecer nas planícies além. Foram avançando com dificuldade, tão rapidamente quanto podiam, pelas encostas suaves de um bosque de pinheiros, numa trilha oblíqua, que seguia sempre para o sul. Às vezes abriam caminho através de um mar de samambaias com frondes altas, erguendo-se acima da cabeça do hobbit, às vezes avançavam com o maior silêncio sobre um leito de agulhas de pinheiros, e a cada momento a escuridão da floresta ficava mais pesada e o silêncio mais profundo. Naquela noite não havia vento que trouxesse sequer um suspiro de oceano aos ramos das árvores.
— Precisamos avançar mais ainda? — perguntou Bilbo, quando estava tão escuro que só conseguia ver a barba de Thorin balançando ao seu lado, e tão silencioso que até a respiração dos anões fazia barulho — Meus pés estão machucados e bambos, minhas pernas doem e meu estômago está balançando como um saco vazio
— Um pouco mais — respondeu Gandalf.
Depois do que pareceu séculos, chegaram de repente a uma clareira onde não crescia nem uma árvore. A lua estava alta e brilhava na clareira. De alguma forma, todos tiveram a impressão de que aquele não era um bom lugar, embora não se visse nada de errado.
De repente, ouviram um uivo colina abaixo, um uivo longo e assustador. Foi respondido por outro à direita, muito mais próximo, depois por outro, não muito longe, à esquerda.
Eram lobos uivando para a lua, lobos se juntando!
Não havia lobos perto da toca do Sr. Bolseiro, mas ele conhecia aquele barulho. Ouvira a descrição em histórias muitas vezes. Um de seus primos mais velhos (do lado dos Túks), que fora um grande viajante, costumava imitar o barulho para amedrontá-lo. Ouvi-lo na floresta ao luar era demais para Bilbo. Mesmo anéis mágicos não são de grande utilidade contra lobos, especialmente contra as alcatéias malignas que viviam à sombra das montanhas infestadas de orcs, além do Limiar do Ermo, nos limites do desconhecido. Lobos desse tipo têm o faro mais apurado que os orcs, e não precisam enxergar para pegar alguém!
— O que vamos fazer, o que vamos fazer! — gritou ele — Escapar dos orcs para ser apanhado pelos lobos! — disse ele, e a frase tornou-se um provérbio, embora hoje em dia digamos “saltar da frigideira para cair no fogo” no mesmo tipo de situação incômoda.
— Subam nas árvores, depressa! — gritou Gandalf.
E eles correram para as árvores na borda da clareira, procurando aquelas que tinham galhos bastante baixos ou que eram esguias o suficiente para permitir a escalada. Encontraram-nas com a maior rapidez possível, vocês podem imaginar, e subiram nos galhos mais altos em que podiam confiar. Vocês teriam rido (a uma distância segura) se tivessem visto os anões empoleirados nas árvores com as barbas balançando. Como velhos cavalheiros malucos brincando de ser meninos.
Fiji e Kili estavam em cima de um lanço alto, que parecia uma enorme árvore de Natal. Dori, Nori, Ori, Oin e Gloin ficaram mais confortáveis num enorme pinheiro com galhos que saíam do tronco em intervalos regulares, como os raios de uma roda. Bifur, Bofur e Bombur e Thorin estavam em outro. Dwalin e Balin haviam trepado num abeto alto, delgado e com poucos galhos e tentavam encontrar um lugar para sentar entre a folhagem dos ramos mais altos. Gandalf, que era bem mais alto que os outros, encontrara uma árvore na qual eles não podiam subir, um grande pinheiro bem na borda da clareira. Estava bem escondido entre os galhos, mas podia-se ver seus olhos brilhando à luz da lua quando ele espiava lá fora.
E Bilbo? Não conseguiu subir em nenhuma árvore, e corria de um tronco para outro, como um coelho que perdeu a toca e está fugindo de um cachorro.
— Você deixou o ladrão para trás outra vez! — disse Nori a Dori, olhando para baixo.
— Não posso ficar o tempo todo carregando ladrões nas costas — disse Dori — Descendo túneis e subindo em árvores. O que acha que eu sou? Um carregador?
— Ele vai ser devorado se não fizermos algo — disse Thorin, pois ouviam-se uivos em toda a volta, chegando cada vez mais perto — Dori! — chamou ele, pois Dori estava mais embaixo, na árvore mais fácil — Seja rápido e ajude o Sr. Bolseiro a subir!
Dori era realmente um sujeito decente, apesar de resmungão. O pobre Bilbo não conseguia alcançar sua mão mesmo depois que ele desceu até o galho mais baixo e esticou o braço o máximo possível. Dori então desceu da árvore e permitiu que Bilbo subisse em suas costas.
Naquele exato momento os lobos invadiram a clareira uivando. De repente, havia centenas de olhos fixados sobre eles. Mesmo assim, Dori não abandonou Bilbo. Esperou que ele se desprendesse de seus ombros e subisse na árvore, e depois ele mesmo saltou para os galhos.
Por um triz! Um lobo tentou abocanhar sua capa no momento em que subia, e quase conseguiu. Em um minuto já havia um bando inteiro ganindo em volta da árvore e saltando contra o tronco, os olhos flamejantes e línguas à mostra. Mas nem mesmo os Wargs Selvagens (pois esse era o nome dos lobos malignos que habitavam o Limiar do Ermo) conseguem subir em árvores.
Por algum tempo o grupo estava a salvo. Felizmente, o tempo estava quente e sem vento. Não é muito confortável ficar sentado numa árvore por muito tempo. Em qualquer ocasião, mas, no frio e no vento, com lobos por toda a volta esperando a gente lá embaixo, as árvores podem se transformar em lugares absolutamente deploráveis.
Aquela clareira no círculo de árvores era evidentemente um local de encontro dos lobos. Mais e mais continuavam a chegar. Deixaram guardas no pé da árvore em que estavam Dori e Bilbo, e depois foram farejando até descobrirem cada árvore que abrigava alguém. Estas também ficaram sob vigia, enquanto todos os outros lobos (ao que parecia, centenas e centenas) foram sentar-se num grande circulo na clareira, e no meio do círculo havia um enorme lobo cinzento. Dirigiu-se a eles na terrível língua dos Wargs.
Gandalf a entendia. Bilbo não, mas aquilo lhe pareceu horrível, como se toda a conversa fosse sobre coisas cruéis e malvadas, e de fato era. De quando em quando todos os Wargs no circulo respondiam ao chefe cinzento numa só voz, e seu clamor medonho quase fazia com que o hobbit caísse de seu pinheiro.
Vou lhes contar o que Gandalf ouviu, embora Bilbo não tenha entendido. Os Wargs e os orcs frequentemente se ajudavam uns aos outros em feitos maldosos. Os orcs geralmente não se arriscam a ir muito longe de suas montanhas, a não ser que sejam expulsos e estejam procurando novas moradias, marchando para a guerra (o que, alegro-me em dizer, não acontece há muito tempo). Mas, naquela época, eles às vezes organizavam ataques, especialmente para conseguir comida ou escravos que trabalhassem para eles. Nessas ocasiões, muitas vezes chamavam os Wargs para ajudá-los e dividiam o espólio com eles. Às vezes montavam nos lobos como os homens montam em cavalos. Aparentemente um grande ataque orc fora planejado para aquela noite. Os Wargs tinham vindo encontrar-se com os orcs e os orcs estavam arrasados. O motivo, sem dúvida, era a morte do Grão-Orc, além de toda a confusão causada pelos anões, Bilbo e o mago, que eles provavelmente ainda estavam caçando.
Apesar dos perigos daquela terra longínqua, homens corajosos ultimamente retornavam do sul, cortando árvores e construindo moradias nas florestas mais agradáveis dos vales e ao longo das margens dos rios. Havia muitos deles, eram corajosos e estavam bem-armados, e mesmo os Wargs não ousavam atacá-los quando estavam em grupos grandes, ou em plena luz do dia. Mas, dessa vez, tinham planejado, com a ajuda dos orcs, atacar de noite algumas vilas mais próximas das montanhas. Se o plano fosse levado até o fim, não teria sobrado ninguém no dia seguinte, todos teriam sido mortos, exceto os poucos que os orcs protegessem dos lobos e levassem como prisioneiros para suas cavernas. Era uma conversa horrível de ouvir, não só por causa dos bravos homens das florestas, suas mulheres e crianças, mas também devido ao perigo que agora ameaçava Gandalf e seus amigos.
Os Wargs estavam furiosos e perplexos por tê-los encontrado exatamente em seu local de encontro. Achavam que eram amigos dos homens da floresta, que tinham vindo espioná-los, e levariam notícias de seus planos para os vales, e então os orcs e os lobos teriam de travar uma terrível batalha em vez de capturar prisioneiros e devorar pessoas surpreendidas durante o sono. Assim, os Wargs não tinham intenção de ir embora e deixar escapar as pessoas em cima das árvores, pelo menos não até de manhã. E, muito antes disso, diziam eles, soldados orcs viriam das montanhas, e orcs podem subir em árvores ou cortá-las.
Agora vocês podem entender por que Gandalf, ouvindo aqueles rosnados e ganidos, começou a ficar terrivelmente amedrontado, mesmo sendo um mago, e a sentir que estavam num lugar muito ruim e que ainda não tinham escapado. Mesmo assim, não estava disposto a permitir que eles fizessem tudo como desejavam, embora não pudesse fazer muita coisa pendurado numa árvore alta e com lobos por toda a volta no chão lá embaixo. Apanhou as grandes pinhas dos galhos de sua árvore. Então, ateou em uma delas um fogo azul e brilhante e arremessou-a zunindo no meio do círculo de lobos.
Acertou um nas costas, e imediatamente seu pelo emaranhado pegou fogo, e ele começou a saltar de um lado para o outro com ganidos horríveis. Então veio outra, e mais outra, uma com fogo azul, outra com fogo vermelho, outra ainda com chamas verdes. Explodiam no chão no meio do círculo e se apagavam em faíscas coloridas e fumaça. Uma especialmente grande acertou o focinho do chefe dos lobos, que deu um pulo de dez pés e depois começou a correr em volta do círculo, mordendo e tentando abocanhar até mesmo os outros lobos em sua fúria e medo.
Os anões e Bilbo gritavam e aplaudiam. Era terrível a fúria dos lobos, e o tumulto que faziam enchia toda a floresta. Os lobos têm medo do fogo em todas as ocasiões, mas aquele fogo era terrível e estranho demais. Quando uma faísca atingia o pêlo, grudava nele e queimava-lhes a carne e, a menos que rolassem rápido no chão, logo estavam completamente em chamas. Em pouco tempo, havia por toda a clareira lobos rolando no chão tentando apagar as faíscas das costas, enquanto os que estavam queimando corriam por todos os lados, uivando e ateando fogo aos outros, até que seus próprios amigos passaram a acossá-los, e eles fugiram descendo as encostas, gritando e gemendo à procura de água.
— Que alvoroço é este na floresta? — perguntou o Senhor das Águias. Estava pousado, negro ao luar, no topo de um solitário pináculo de pedra na borda leste das montanhas — Ouço vozes de lobos! Será que os orcs estão aprontando alguma maldade na floresta?
Ergueu-se no ar, e imediatamente dois de seus guardas, das rochas dos dois lados, saltaram atrás dele. Voavam em círculos e olhavam o circulo dos Wargs, um pequeno ponto distante, bem lá embaixo. Mas as águias têm olhos penetrantes e podem enxergar coisas pequenas a uma grande distância. O senhor das águias das Montanhas Sombrias tinha olhos que podiam contemplar o sol sem piscar e enxergar um coelho movendo-se no solo uma milha abaixo, mesmo á luz da lua. Assim, embora não conseguisse ver as pessoas nas árvores, pôde perceber a confusão entre os lobos, ver os pequenos clarões de fogo e ouvir os uivos e ganidos que lhe chegavam fracos lá de baixo. Também pôde ver o reflexo da luz nas lanças e capacetes dos orcs, quando longas fileiras do povo maligno desciam pelas encostas, saindo de seus portões e entrando na floresta.
As águias não são pássaros amigáveis. Algumas são covardes e cruéis. Mas as da raça antiga das montanhas do norte eram as mais nobres de todas as aves, eram altivas, fortes e de coração nobre. Não gostavam de orcs, nem tinham medo deles. Quando lhes davam alguma atenção (o que era raro, pois não comiam tais criaturas), precipitavam-se sobre eles num vôo rasante e os empurravam, aos gritos, de volta para suas cavernas, interrompendo qualquer maldade que estivessem fazendo.
Os orcs odiavam as águias e tinham medo delas, mas não conseguiam alcançar seus altos domínios, ou expulsá-las das montanhas. Naquela noite, o Senhor das Águias estava cheio de curiosidade para saber o que estava se passando, então reuniu muitas outras águias e todas alçaram vôo das montanhas, e lentamente, voando em espiral, foram descendo, descendo na direção do círculo de lobos e do local de encontro dos orcs.
Foi ótimo! Coisas terríveis estavam acontecendo lá embaixo.
Os lobos que tinham pegado fogo e fugido floresta adentro tinham-na incendiado em vários trechos. Era pleno verão, e no lado oriental das montanhas houvera pouca chuva. Samambaias amarelecidas, galhos caídos, grandes montes de agulhas de pinheiros e, aqui e ali, árvores mortas, logo estavam em chamas. À volta de toda a clareira dos Wargs o fogo subia. Mas os guardas-lobos não abandonavam as árvores. Enlouquecidos e furiosos, saltavam e uivavam ao redor dos troncos, amaldiçoando os anões em sua língua horrível, com as línguas para fora e os olhos brilhando, tão rubros e ferozes como as chamas.
Então, de repente, orcs chegaram, correndo e gritando. Achavam que se travava uma batalha contra os homens da floresta, mas logo perceberam o que realmente acontecera. Alguns deles sentaram-se para rir. Outros agitavam as lanças e batiam as hastes contra os escudos. Os orcs não têm medo de fogo, e logo já tinham um plano que lhes pareceu bastante divertido.
Alguns reuniram todos os lobos. Outros amontoaram samambaias e gravetos em volta dos troncos das árvores. Outros ainda corriam de um lado para outro, pisando e batendo os pés, batendo os pés e pisando, até que todas as chamas estivessem extintas, mas não apagaram o fogo mais próximo às árvores onde estavam os anões. Este fogo alimentaram com folhas, galhos e samambaias mortas. Logo havia um anel de fumaça e chamas ao redor dos anões, um anel que impediam que se alastrasse para fora, mas que se fechava cada vez mais, até que o fogo começou a lamber o combustível amontoado sob as árvores.
Os olhos de Bilbo encheram-se de fumaça, ele sentia o calor das chamas, e através da fumaça podia ver os orcs dançando num círculo, como pessoas em volta de uma fogueira no solstício de verão. Ao redor do círculo, guerreiros com lanças e machados mantinham os lobos a uma distância respeitosa, observando e esperando.
Bilbo pôde ouvir os orcs entoando uma canção horrível:

 

Em cinco pinheiros, quinze passarinhos,

Brisa de fogo os mantém quentinhos!

Estranhos pássaros, todos desasados!

Que vamos fazer com esses coitados?

Assá-los vivos ou à cabidela,

Fritá-los, fervê-los, servir na panela?


Depois pararam e gritaram:
— Voem, passarinhos! Voem, se puderem! Desçam, passarinhos, ou vão se tostar em seus ninhos! Cantem, cantem, passarinhos! Por que não cantam?
— Vão embora, moleques! — gritou Gandalf em resposta — Não é época de roubar ninhos. Além disso, meninos travessos que brincam com fogo levam castigo — disse isso para deixá-los furiosos, e para mostrar que não estava com medo, embora fosse óbvio que estava, mesmo sendo um mago.
Mas eles não tomaram conhecimento e continuaram a cantar.

 

Queimar, queimar, samambaia e abeto alvar!

Mirrar, sapecar! A tocha que chia

A noite ilumina pra nossa alegria, Ya hey!

Assar e tostar, fritar e torrar,

Que haja barbas ardentes e olhos vidrados,

Cheiro de cabelos e ossos queimados

Em cinzas jazendo expostos ao relento!

Assim vão os anões morrendo,

E acendendo a noite para nosso deleite,

Ya hey!

Ya-harri-hey!

Ya hoy!

 

E com aquele Ya hoy! as chamas estavam sob a árvore de Gandalf. Num instante espalharam-se para as outras. Os troncos pegaram fogo e os galhos mais baixos estalavam. Então Gandalf subiu até o topo de sua árvore. O esplendor repentino brilhou de seu cajado como um relâmpago, no momento em que se preparava para saltar de lá de cima bem no meio das lanças dos orcs. Teria sido o seu fim, embora ele provavelmente viesse a matar vários ao se arremessar como um raio. Mas não chegou a saltar. Naquele exato momento o Senhor das Águias deu um vôo rasante, prendeu-o nas garras e se foi.
Os orcs soltaram um uivo de raiva e surpresa.
O Senhor das Águias emitiu um grito forte, pois Gandalf agora lhe falara, as aves que estavam com ele voltaram e desceram como enormes sombras negras. Os lobos gemiam e rangiam os dentes, os orcs gritavam e batiam os pés no chão, cheios de ira, arremessando as pesadas lanças no ar em vão. Sobre suas cabeças as águias atacavam, a arremetida negra de suas asas derrubava-os no chão ou empurrava-os para longe, suas garras dilaceravam as caras dos orcs.
Outras aves voaram até as copas das árvores e agarraram os anões, que agora subiam mais alto do que jamais teriam ousado. O pobrezinho do Bilbo quase foi deixado para trás de novo! Conseguiu apenas agarrar as pernas de Dori, no momento em que Dori era levado, por último, e assim os dois passaram juntos por sobre o tumulto e o incêndio, Bilbo balançando no ar, com os braços quase se quebrando.
Agora, lá embaixo, os orcs e os lobos se dispersavam pela floresta.
Algumas águias ainda voavam em círculos e faziam rasantes sobre o campo de batalha. As chamas ao redor das árvores saltaram de repente para os galhos mais altos. Subiram num fogo crepitante. Houve uma rajada súbita de faíscas e fumaça. Bilbo escapara por um triz! Logo o incêndio era uma luz fraca lá embaixo, um ponto vermelho piscando no chão negro, e eles estavam no céu, subindo sempre em círculos possantes e largos.
Bilbo nunca se esqueceu daquele vôo, pendurado nos tornozelos de Dori. Gemia “meus braços, meus braços”, mas Dori resmungava “minhas pobres pernas, minhas pobres pernas!”.
Na melhor das hipóteses, alturas deixavam Bilbo zonzo. Ficava tonto quando olhava por sobre a borda de um penhasco, mesmo baixo, e jamais gostara de escadas, muito menos de árvores (nunca tivera de escapar de lobos antes). Então vocês podem imaginar como a cabeça dele rodava, agora que ele olhava para baixo, por entre seus pés suspensos no ar, e via terras escuras estendendo-se abaixo dele, tocadas aqui e acolá pela luz da lua numa encosta rochosa ou num rio das planícies.
Os picos pálidos das montanhas estavam mais perto, espigões de pedra iluminados pelo luar, projetando-se de sombras negras. Verão ou não, parecia estar muito frio. Bilbo fechou os olhos e ficou imaginando se conseguiria aguentar mais. Depois imaginou o que aconteceria se não aguentasse. Sentiu enjôos.
O vôo terminou na hora exata para ele, um momento antes de seus braços cederem. Ele largou os tornozelos de Dori com um suspiro e caiu em cima da plataforma áspera de um ninho de águia. Ali ficou deitado, sem falar nada, e seus pensamentos eram uma mistura de surpresa por ter sido salvo do fogo e medo de cair daquele lugar estreito e mergulhar nas sombras profundas dos dois lados. Agora sentia-se realmente zonzo, depois das terríveis aventuras dos últimos três dias, sem quase nada para comer, e viu-se dizendo em voz alta:
— Agora eu sei como um pedaço de toucinho se sente quando o pegam da panela com um garfo e colocam de volta na prateleira!
— Não, você não sabe! — ele ouviu Dori respondendo — Porque o toucinho sabe que mais cedo ou mais tarde voltará para a panela: é de esperar que nós não vamos voltar. Além disso, águias não são garfos!
— Ah, não! Nem um pouco parecidas com garças, garfos, quero dizer — disse Bilbo, recostando-se e olhando ansiosamente para a águia pousada ali perto. Perguntou-se que outras besteiras estivera dizendo, e se a águia o consideraria rude.
Não se deve ser rude com uma águia quando se tem o tamanho de um hobbit e se está no ninho dela de noite! A águia apenas afiou o bico numa pedra, aprumou as penas e não deu a mínima atenção.
Logo outra águia surgiu.
— O Senhor das Águias ordena que leve seus prisioneiros para o Grande Patamar — gritou ela, e foi-se embora de novo.
A outra pegou Dori em suas garras e voou com ele para dentro da noite, deixando Bilbo sozinho. Ele teve forças apenas para se perguntar o que o mensageiro quisera dizer com “prisioneiros”, e para começar a se imaginar sendo desmembrado para a ceia como um coelho, quando então chegou a sua vez.
A águia voltou, pegou-o pelo casaco com as garras e levantou voo. Desta vez foi apenas uma viagem curta. Logo depois Bilbo era colocado, tremendo de medo, numa ampla plataforma de pedra na encosta da montanha. Não havia um caminho até o alto, a não ser voando, e nenhum caminho para baixo, a não ser pulando do precipício. Ali encontrou todos os outros, recostados na parede da montanha. O Senhor das Águias também estava lá e conversava com Gandalf. Parecia que, afinal de contas, Bilbo não seria devorado.
O mago e o senhor-águia pareciam conhecer-se ligeiramente, e davam até a impressão de que mantinham relações amistosas. Na realidade, Gandalf, que estivera várias vezes nas montanhas, outrora prestara um serviço às águias, curando o seu o senhor de um ferimento de flecha.
Então, como vocês podem perceber, “prisioneiros” queria dizer apenas “prisioneiros resgatados dos orcs”, e não cativos das águias. Ouvindo a conversa de Gandalf, Bilbo percebeu que finalmente iriam escapar de verdade das terríveis montanhas.
O mago estava discutindo com a Grande Águia planos para carregar para longe os anões, ele mesmo e Bilbo, e deixá-los prosseguir sua viagem através das planícies lá embaixo. O Senhor das Águias não estava disposto a levá-los a nenhum lugar onde houvesse homens.
— Eles atirariam em nós com seus grandes arcos de teixo — disse ele — Pois pensariam que estamos atrás de suas ovelhas. E, em outra ocasião, estariam certos. Não! Estamos satisfeitos por atrapalhar as brincadeiras dos orcs e satisfeitos por retribuir o que nos fez, mas não vamos nos arriscar por anões nas planícies do sul.
— Muito bem — disse Gandalf — Levem-nos para onde e até onde quiserem! Já estamos profundamente agradecidos a vocês. Mas, enquanto isso, estamos com uma fome terrível!
— Estou quase morto de fome — disse Bilbo numa vozinha fraca que ninguém ouviu.
— Talvez possa dar-se um jeito nisso — disse o Senhor das Águias.
Mais tarde vocês poderiam ver uma fogueira brilhando no patamar de pedra e os vultos dos anões ao redor dela, cozinhando e produzindo um cheiro agradável de assado.

[FIG. 11] DARREL SWEET – O REI DAS ÁGUIAS


As águias haviam trazido galhos secos para o fogo, coelhos, lebres e uma ovelha pequena. Os anões fizeram todos os preparativos. Bilbo estava fraco demais para ajudar, e, de qualquer forma, não era muito bom para esfolar coelhos e picar carne, acostumado que estava a recebê-la do açougueiro prontinha para cozinhar. Gandalf também estava deitado, depois de ter feito a sua parte acendendo o fogo, já que Oin e Gloin tinham perdido suas pederneiras (os anões ainda não usavam fósforos).
Assim terminaram as aventuras nas Montanhas Sombrias.
Logo o estômago de Bilbo estava cheio e confortável de novo. E ele tinha a impressão de que poderia dormir satisfeito, embora, na verdade, preferisse pão com manteiga a pedaços de carne assada em espetos. Dormiu na rocha dura, mais profundamente do que jamais dormira na cama de penas em sua pequena toca. Mas toda a noite sonhou com a própria casa e em seu sonho caminhou em todos os cômodos, procurando algo que não conseguia encontrar nem lembrar como era.






 continua...




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"A verdadeira história de um ser não está naquilo que fez, mas naquilo que pretendeu fazer".
[Thomas Hardy]

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