sábado, 11 de fevereiro de 2012

O PODEROSO CHEFÃO - CAPÍTULO 7



CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS



CAPÍTULO
7




N
A NOITE ANTERIOR ao atentado contra Don Corleone, o seu servidor mais forte, mais leal e mais temido preparava-se para encontrar-se com o inimigo. Luca Brasi entrara em contato com as forças de Sollozzo vários meses antes. Ele fizera isso freqüentando os cabarés controlados pela Família Tattaglia e deitando com uma de suas prostitutas de alto gabarito. Na cama com essa garota, reclamou como era sacrificado na Família Corleone, como o seu valor não era reconhecido. Depois de uma semana de amor com a pequena, Luca foi abordado por Bruno Tattaglia, gerente do cabaré. Bruno era o filho mais moço e, aparentemente, não tinha qualquer ligação com o negócio de prostituição da Família. Mas o seu famoso cabaré com a sua equipe de lindas dançarinas altas e esguias era a escola de aperfeiçoamento para muitas prostitutas da cidade.
A primeira reunião transcorreu em clima de honestidade, Tattaglia oferecendo-lhe um emprego para trabalhar no negócio da família como guarda-costas. O namoro continuou por quase um mês. Luca desempenhava o seu papel de homem apaixonado por uma linda garota, enquanto Bruno Tattaglia fingia ser um homem de negócios procurando atrair um elemento eficiente de um bando rival. Numa dessas reuniões, Luca fingiu hesitar, depois disse:
— Mas uma coisa deve ficar compreendida. Nunca agirei contra o Padrinho. Don Corleone é um homem que eu respeito. Compreendo que ele deve pôr os filhos antes de mim no negócio da Família.
Bruno Tattaglia era um indivíduo da nova geração, com um ódio mal oculto pelos tipos antiquados como Luca Brasi, Don Corleone e até o seu próprio pai. Era apenas um pouco respeitoso. Então respondeu:
— Meu pai não esperaria que você fizesse alguma coisa contra os Corleone. Por que esperaria ele? Todo mundo se dá bem agora com qualquer pessoa, não é como nos velhos tempos. Trata-se apenas de que você está procurando um novo emprego, posso falar isso com meu pai. Há sempre necessidade de um homem como você no nosso negócio. É um ramo difícil e precisa de homens duros para que possa funcionar suavemente. Avise-me, se você se decidir.
Luca deu de ombros.
— Não é tão ruim assim o lugar onde estou agora.
E deixaram a conversa nesse pé.
A idéia geral era levar os Tattaglia a acreditar que ele, Luca, sabia a respeito da operação lucrativa dos narcóticos e que queria um pedaço do bolo como franco-atirador. Desse modo, podia ouvir algo sobre os planos de Sollozzo, se o turco tivesse algum, ou se este estava se preparando para dar um golpe em Don Corleone. Depois de esperar dois meses sem que nada acontecesse, Luca informou a Don Corleone que Sollozzo evidentemente se conformara com a derrota. Don Corleone tinha-lhe dito que continuasse tentando simplesmente como uma coisa secundária, que não se empenhasse muito naquilo.
Luca entrara no cabaré na noite anterior ao atentado contra Don Corleone. Quase imediatamente, Bruno Tattaglia viera a sua mesa e sentara-se.
— Tenho um amigo que quer falar com você — declarou ele.
— Traga-o aqui — tornou Luca — Falarei com qualquer amigo seu.
— Não — retrucou Bruno — Ele quer ver você em particular.
— Quem é ele? — perguntou Luca.
— Apenas um amigo meu — respondeu Bruno Tattaglia — Ele quer apresentar-lhe uma proposta. Você poderá encontrá-lo mais tarde, ainda esta noite?
— Certamente — retrucou Luca — A que horas e onde?
Tattaglia respondeu suavemente.
— O cabaré fecha às quatro da manhã. Por que vocês não se encontram aqui, enquanto os garçons estão fazendo a limpeza?
Eles conheciam seus hábitos, pensou Luca, Deviam ter mandado segui-lo. Ele geralmente acordava por volta das três ou quatro horas da tarde e tomava o seu breakfast, depois divertia-se jogando com companheiros da Família ou apanhava uma garota. Às vezes, assistia a um filme na sessão da meia-noite e depois entrava num cabaré para tomar uma bebida. Nunca ia dormir antes do amanhecer. Portanto, a sugestão de uma reunião às quatro horas da madrugada não era tão esquisita como parecia.
— Está bem, está bem — respondeu Luca — Voltarei às quatro horas.
Deixou o cabaré e tomou um táxi para casa, na Décima Avenida. Morava com uma família italiana de quem era parente distante. Ocupava dois quartos separados do resto do apartamento por uma porta especial. Ele gostava dessa moradia porque lhe proporcionava uma espécie de vida familiar e também proteção contra alguma surpresa onde ele era mais vulnerável.
A astuta raposa turca iria mostrar a sua cauda espessa, pensou Luca. Se as coisas fossem longe demais, se Sollozzo se comprometesse naquela noite talvez a coisa pudesse acabar como um presente de Natal para Don Corleone. Em seu quarto, Luca abriu a fechadura do baú que estava embaixo da cama e tirou o seu colete à prova de balas. Era pesado. Despiu a roupa e ajustou o colete sobre a sua camiseta de lã, em seguida pôs a camisa e o paletó por cima. Pensou por um momento em telefonar para a casa de Don Corleone em Long Beach para contar-lhe o novo desenrolar de sua aventura, mas ele sabia que Don Corleone nunca falava ao telefone com ninguém, e lhe tinha confiado essa missão em segredo e, portanto, não queria que ninguém, nem mesmo Hagen ou seu filho mais velho, soubesse algo a respeito.
Luca sempre portava um revólver. Tinha licença para isso, provavelmente a licença mais cara já concedida em qualquer lugar, em qualquer tempo. Custara-lhe um total de dez mil dólares, mas evitaria que ele fosse para a cadeia se os tiras o revistassem. Como um funcionário de operações de alta categoria da Família, ele conhecia o valor da licença. Porém naquela noite, justamente para o caso de poder terminar o seu serviço, ele queria um revólver “garantido”. Um revólver cujo proprietário não pudesse ser identificado. Mas então, pensando novamente no assunto, resolveu que apenas ouviria a proposta naquela noite e depois a comunicaria ao Padrinho, Don Corleone.
Saiu de casa com a intenção de voltar ao cabaré, mas não bebeu mais. Em vez disso, caminhou despreocupado até a Rua 48, onde ceou tranqüilamente no Patsy’s, seu restaurante italiano preferido. Quando chegou a hora do encontro, dirigiu-se calmamente para a entrada do cabaré. O porteiro não estava mais lá quando ele entrou. A chapeleira tinha ido embora. Somente Bruno Tattaglia esperava para recebê-lo e levá-lo até o bar deserto situado no lado da sala. Diante dele, estavam as pequenas mesas vazias, com a pista de dança de madeira amarela bem encerada e luzindo no meio delas. Mergulhado nas sombras, mal se via o estrado da orquestra, do qual se projetava a haste metálica de um microfone.
Luca sentou-se no bar e Bruno Tattaglia foi atrás dele. Luca recusou a bebida que lhe foi oferecida e acendeu um cigarro. Era possível que isso resultasse em outra coisa que não o turco. Mas em seguida viu Sollozzo sair das sombras na extremidade oposta da sala.
Sollozzo apertou-lhe a mão e sentou-se no bar perto dele. Tattaglia pôs um cálice em frente do turco, que acenou a cabeça agradecendo.
— Você sabe quem sou eu? — perguntou Sollozzo.
Luca acenou com a cabeça afirmativamente. Os ratos estão começando a sair dos buracos. Ele teria prazer em tomar a seu serviço esse siciliano renegado.
— Você sabe o que é que lhe vou pedir? — perguntou Sollozzo.
Luca balançou a cabeça.
— Há um grande negócio a ser feito — afirmou Sollozzo — Quero dizer milhões para o pessoal lá de cima. No primeiro embarque, posso garantir a você cinqüenta mil dólares. Estou falando de entorpecentes. É a coisa que vai começar a dar bom lucro.
Luca perguntou
— Por que vir a mim? Você quer que eu fale a meu Don?
Sollozzo fez uma careta de desaprovação.
— Já falei com o Don. Ele não quer participar disso. Muito bem, posso fazer a coisa sem ele. Mas preciso de alguém forte para proteger a operação fisicamente. Acho que você não está contente com a sua Família, você deve mudar de vida.
Luca deu de ombros.
— Se a oferta for boa...
Sollozzo o estava observando atentamente e parecia ter chegado a uma decisão.
— Pense na minha oferta durante alguns dias e depois falaremos novamente — disse ele.
Sollozzo estendeu a mão, mas Luca fingiu não ver e começou a ocupar-se com a colocação de um cigarro na boca. De trás do bar, Bruno Tattaglia fez um isqueiro aparecer magicamente e segurou-o para acender o cigarro de Luca. E, de repente, fez uma coisa esquisita. Deixou cair o isqueiro no bar e agarrou a mão direita de Luca, segurando-a com força.
Luca reagiu instantaneamente, seu corpo escorregando do banquinho do bar e procurando contorcer-se para escapulir. Porém Sollozzo agarrara-lhe a outra mão pelo pulso. Contudo, Luca era muito forte para eles e teria conseguido livrar-se, se outro homem não saísse das sombras por trás dele e passasse um fino cordão de seda em volta de seu pescoço. O homem apertou o cordão ao máximo, estrangulando-o. O rosto de Luca ficou roxo, a força de seus braços exauriu-se. Tattaglia e Sollozzo seguravam-lhe as mãos facilmente, agora, e ali permaneciam curiosamente como crianças, enquanto o homem por trás de Luca puxava o cordão, apertando-o cada vez mais. De repente, o soalho se tornou úmido e escorregadio. O esfíncter de Luca, não mais sob controle, rompeu-se, e os detritos do seu corpo jorraram. Não havia mais força nele e as pernas se dobraram, o corpo vergou. Sollozzo e Tattaglia soltaram-lhe as mãos e somente o estrangulador ficou ao lado da vítima, ajoelhando-se para acompanhar a queda do corpo de Luca e puxando o cordão com tanta força, que este cortava e entrava na carne do pescoço e desaparecia. Os olhos de Luca saltaram-lhe da cabeça como que expressando a maior surpresa, como o único vestígio de humanidade que lhe restava. Ele estava morto.
— Não quero que ele seja encontrado — declarou Sollozzo — É importante que ele não seja encontrado agora.
E girou em seus calcanhares, voltando a desaparecer nas sombras.







Continua...





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Frase Curiosa"Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère

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