terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O PODEROSO CHEFÃO - CAPÍTULO 3



CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS



CAPÍTULO
3




C
        ONTANDO COM O MOTORISTA, havia quatro homens no carro com Hagen. Puseram-no no assento traseiro, no meio dos dois homens que o tinham acompanhado na rua. Sollozzo sentou-se na frente. O homem à direita de Hagen passou-lhe o braço pelo corpo e inclinou o chapéu de Hagen sobre os seus olhos para que ele não pudesse ver.
— Não mova nem mesmo o dedo mindinho — disse ele.
Foi uma viagem curta que não durou mais de vinte minutos, e quando saltaram do carro, Hagen não pôde reconhecer o itinerário devido à espessa escuridão. Conduziram-no a um apartamento de subsolo e fizeram-no sentar numa cadeira de cozinha de costas retas. Sollozzo sentou-se na mesa da cozinha no lado oposto a ele. O seu rosto escuro tinha um aspecto peculiarmente rapace.
— Não quero que você fique com medo — declarou Sollozzo — Sei que você não pertence ao grupo violento da Família. Quero que você ajude os Corleone e que me ajude também.
As mãos de Hagen tremiam quando ele pôs um cigarro na boca. Um dos homens trouxe uma garrafa de uísque e serviu-lhe uma dose numa xícara de café de porcelana. Hagen ingeriu a bebida ardente com prazer. Deu-lhe firmeza nas mãos e tirou-lhe a fraqueza das pernas:
— Seu chefe está morto — comunicou Sollozzo. Fez uma pausa, surpreso com as lágrimas que rolaram dos olhos de Hagen. Depois prosseguiu — Nós o liquidamos no lado de fora de seu escritório, na rua. Assim que recebi a notícia, eu o apanhei. Você tem de restabelecer a paz entre mim e Sonny.
Hagen não respondeu. Estava surpreso com sua própria dor. E com um sentimento de desolação misturado com o seu medo de morrer.
Sollozzo voltou a falar:
— Sonny ficou entusiasmado pela minha proposta. Não é verdade? Você sabe que é a coisa acertada a se fazer também. Narcóticos é o próximo bom negócio. Há tanto dinheiro a se ganhar nisso que qualquer pessoa pode ficar rica em poucos anos. Don Corleone era um velho antiquado, seu tempo tinha passado, mas ele não sabia. Agora ele está morto, nada pode fazê-lo ressuscitar. Estou disposto a fazer uma nova proposta, quero que você fale com Sonny para aceitá-la.
— Você não tem qualquer chance — retrucou Hagen — Sonny virá atrás de você com tudo o que lhe for possível.
— Isso vai ser a primeira reação dele — disse Sollozzo impacientemente — Você precisa dar-lhe conselhos sensatos. A Família Tattaglia está por trás de mim com todo o seu pessoal. As outras Famílias de Nova York vão fazer tudo o que for possível para evitar uma guerra em grande escala entre nós. A nossa guerra tem de prejudicar a eles e a seus negócios. Se Sonny resolver topar o negócio, as outras Famílias do país acharão que isso não é da conta delas, até mesmo os amigos mais antigos de Don Corleone.
Hagen de cabeça baixa fixava os olhos em suas próprias mãos, sem responder.
Solozzo prosseguiu persuasivamente;
— Don Corleone estava-se esquivando. Nos velhos tempos, eu jamais poderia chegar até ele. As outras Famílias perderam a confiança nele porque ele fez de você seu consigliori e você nem mesmo é italiano, muito menos siciliano. Se isso se tornar uma guerra total, a Família Corleone será esmagada e todo mundo perde, inclusive eu. Preciso dos contatos políticos da Família mais do que preciso mesmo do dinheiro. Assim, fale com Sonny, fale com os caporegimes; você poupará muito derramamento de sangue.
Hagen estendeu a sua xícara de porcelana pedindo mais uísque.
— Vou tentar — replicou — Mas Sonny é teimoso. E mesmo Sonnny não é capaz de dissuadir Luca. Você tem de se preocupar com Luca. Eu terei de me preocupar com Luca, se apresentar a sua proposta.
— Eu cuidarei de Luca — retrucou Sollozzo calmamente — Você cuida de Sonny e dos outros dois meninos. Escute, você pode dizer-lhes que Freddie poderia ter sido eliminado hoje junto com o velho, mas meu pessoal tinha ordem rigorosa de não atirar nele. Não quero mais ressentimentos do que os estritamente necessários. Você pode dizer isso a eles, Freddie está vivo graças a mim.
Finalmente, a mente de Hagen começou a funcionar. Pela primeira vez, ele realmente acreditava que Sollozzo não pretendia matá-lo nem mantê-lo como refém. O súbito alívio do medo que lhe percorreu o corpo fê-lo corar de vergonha. Sollozzo observava-o com um tranqüilo sorriso de compreensão. Hagen começou a ponderar os fatos. Se ele não concordasse em defender a causa de Sollozzo, poderia ser assassinado. Mas, afinal, pensou que Sollozzo esperava apenas que ele apresentasse a causa e o fizesse devidamente, como lhe competia fazer como um consigliori responsável. E agora, pensando nisso, ele também admitiu que Sollozzo tinha razão. Uma guerra ilimitada entre os Tattaglia e os Corleone devia ser evitada a todo custo. Os Corleone deviam enterrar o seu pranteado chefe e esquecer, fazer um acordo. E, então, quando chegasse o momento oportuno, podiam vingar-se de Sollozzo.
Levantando os olhos, ele compreendeu que Sollozzo sabia exatamente o que ele estava pensando. O turco agora sorriu. E, de súbito, uma idéia ocorreu à mente de Hagen. Que teria acontecido a Luca Brasi para que Sollozzo estivesse tão despreocupado? Teria Luca feito um acordo? Ele se lembrava de que na noite em que Don Corleone rejeitara a proposta de Sollozzo, Luca tinha sido convidado a comparecer ao escritório para uma conversa particular com Don Corleone. Mas agora não era hora de se preocupar com tais detalhes. Ele tinha de voltar para a segurança da fortaleza da Família Corleone em Long Beach.
— Farei o possível — disse ele a Sollozzo — Acredito que você tem razão, é precisamente o que Don Corleone queria que nós fizéssemos.
Sollozzo balançou a cabeça com gravidade.
— Ótimo — respondeu ele — Não gosto de derramamento de sangue, sou um homem de negócios, e sangue custa muito dinheiro.
Nesse momento, o telefone tocou e um dos homens sentados atrás de Hagen foi atendê-lo. Ele ouviu um pouco e depois respondeu laconicamente:
— Está certo, direi a ele.
Em seguida, desligou e dirigiu-se para o lado de Sollozzo e sussurrou no ouvido do turco. Hagen viu o rosto de Sollozzo empalidecer, os seus olhos brilharem de raiva. Ele próprio sentiu um frêmito de medo. Sollozzo olhou para ele especulativamente, e de repente Hagen compreendeu que não ia mais ser solto. Algo ocorrera que podia significar a sua morte. Sollozzo falou:
— O velho ainda está vivo. Cinco balas na carcaça desse siciliano e ele ainda está vivo — deu de ombros de modo fatalista — Azar — disse para Hagen — Azar meu. Azar seu.




Continua...






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Frase Curiosa"Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère

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