CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS
CAPÍTULO
3
C
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ONTANDO
COM O MOTORISTA, havia quatro homens no carro com Hagen. Puseram-no no assento
traseiro, no meio dos dois homens que o tinham acompanhado na rua. Sollozzo
sentou-se na frente. O homem à direita de Hagen passou-lhe o braço pelo corpo e
inclinou o chapéu de Hagen sobre os seus olhos para que ele não pudesse ver.
— Não mova nem mesmo o
dedo mindinho — disse ele.
Foi uma viagem curta
que não durou mais de vinte minutos, e quando saltaram do carro, Hagen não pôde
reconhecer o itinerário devido à espessa escuridão. Conduziram-no a um
apartamento de subsolo e fizeram-no sentar numa cadeira de cozinha de costas
retas. Sollozzo sentou-se na mesa da cozinha no lado oposto a ele. O seu rosto
escuro tinha um aspecto peculiarmente rapace.
— Não quero que você
fique com medo — declarou Sollozzo — Sei que você não pertence ao grupo
violento da Família. Quero que você ajude os Corleone e que me ajude também.
As mãos de Hagen
tremiam quando ele pôs um cigarro na boca. Um dos homens trouxe uma garrafa de
uísque e serviu-lhe uma dose numa xícara de
café de porcelana. Hagen ingeriu a bebida ardente com prazer. Deu-lhe
firmeza nas mãos e tirou-lhe a fraqueza das pernas:
— Seu chefe está morto
— comunicou Sollozzo. Fez uma pausa, surpreso com as lágrimas que rolaram dos
olhos de Hagen. Depois prosseguiu — Nós o liquidamos no lado de fora de seu
escritório, na rua. Assim que recebi a notícia, eu o apanhei. Você tem de
restabelecer a paz entre mim e Sonny.
Hagen não respondeu.
Estava surpreso com sua própria dor. E com um sentimento de desolação misturado
com o seu medo de morrer.
Sollozzo voltou a
falar:
— Sonny ficou
entusiasmado pela minha proposta. Não é verdade? Você sabe que é a coisa
acertada a se fazer também. Narcóticos é o próximo bom negócio. Há tanto
dinheiro a se ganhar nisso que qualquer pessoa pode ficar rica em poucos anos.
Don Corleone era um velho antiquado, seu
tempo tinha passado, mas ele não sabia. Agora ele está morto, nada pode
fazê-lo ressuscitar. Estou disposto a fazer uma nova proposta, quero que você
fale com Sonny para aceitá-la.
— Você não tem
qualquer chance — retrucou Hagen — Sonny virá atrás de você com tudo o que lhe
for possível.
— Isso vai ser a
primeira reação dele — disse Sollozzo impacientemente — Você precisa dar-lhe
conselhos sensatos. A Família Tattaglia está por trás de mim com todo o seu
pessoal. As outras Famílias de Nova York vão fazer tudo o que for possível para
evitar uma guerra em grande escala entre nós. A nossa guerra tem de prejudicar
a eles e a seus negócios. Se Sonny resolver topar o negócio, as outras Famílias
do país acharão que isso não é da conta delas, até mesmo os amigos mais antigos
de Don Corleone.
Hagen de cabeça baixa
fixava os olhos em suas próprias mãos, sem responder.
Solozzo prosseguiu
persuasivamente;
— Don Corleone
estava-se esquivando. Nos velhos tempos, eu jamais poderia chegar até ele. As
outras Famílias perderam a confiança nele porque ele fez de você seu consigliori e você nem mesmo é italiano,
muito menos siciliano. Se isso se tornar uma guerra total, a Família Corleone
será esmagada e todo mundo perde, inclusive eu. Preciso dos contatos políticos
da Família mais do que preciso mesmo do dinheiro. Assim, fale com Sonny, fale
com os caporegimes; você poupará
muito derramamento de sangue.
Hagen estendeu a sua
xícara de porcelana pedindo mais uísque.
— Vou tentar —
replicou — Mas Sonny é teimoso. E mesmo Sonnny não é capaz de dissuadir Luca.
Você tem de se preocupar com Luca. Eu terei de me preocupar com Luca, se
apresentar a sua proposta.
— Eu cuidarei de Luca
— retrucou Sollozzo calmamente — Você cuida de Sonny e dos outros dois meninos.
Escute, você pode dizer-lhes que Freddie poderia ter sido eliminado hoje junto
com o velho, mas meu pessoal tinha ordem rigorosa de não atirar nele. Não quero
mais ressentimentos do que os estritamente necessários. Você pode dizer isso a
eles, Freddie está vivo graças a mim.
Finalmente, a mente de
Hagen começou a funcionar. Pela primeira vez, ele realmente acreditava que
Sollozzo não pretendia matá-lo nem mantê-lo como refém. O súbito alívio do medo
que lhe percorreu o corpo fê-lo corar de vergonha. Sollozzo observava-o com um
tranqüilo sorriso de compreensão. Hagen começou a ponderar os fatos. Se ele não
concordasse em defender a causa de Sollozzo, poderia ser assassinado. Mas,
afinal, pensou que Sollozzo esperava apenas que ele apresentasse a causa e o
fizesse devidamente, como lhe competia fazer como um consigliori responsável. E agora, pensando nisso, ele também
admitiu que Sollozzo tinha razão. Uma guerra ilimitada entre os Tattaglia e os
Corleone devia ser evitada a todo custo. Os Corleone deviam enterrar o seu
pranteado chefe e esquecer, fazer um acordo. E, então, quando chegasse o
momento oportuno, podiam vingar-se de Sollozzo.
Levantando os olhos,
ele compreendeu que Sollozzo sabia exatamente o que ele estava pensando. O
turco agora sorriu. E, de súbito, uma idéia ocorreu à mente de Hagen. Que teria
acontecido a Luca Brasi para que Sollozzo estivesse tão despreocupado? Teria
Luca feito um acordo? Ele se lembrava de que na noite em que Don Corleone
rejeitara a proposta de Sollozzo, Luca tinha sido convidado a comparecer ao
escritório para uma conversa particular com Don Corleone. Mas agora não era
hora de se preocupar com tais detalhes. Ele tinha de voltar para a segurança da
fortaleza da Família Corleone em Long Beach.
— Farei o possível —
disse ele a Sollozzo — Acredito que você tem razão, é precisamente o que Don
Corleone queria que nós fizéssemos.
Sollozzo balançou a
cabeça com gravidade.
— Ótimo — respondeu
ele — Não gosto de derramamento de sangue, sou um homem de negócios, e sangue
custa muito dinheiro.
Nesse momento, o
telefone tocou e um dos homens sentados atrás de Hagen foi atendê-lo. Ele ouviu
um pouco e depois respondeu laconicamente:
— Está certo, direi a
ele.
Em seguida, desligou e
dirigiu-se para o lado de Sollozzo e sussurrou no ouvido do turco. Hagen viu o
rosto de Sollozzo empalidecer, os seus olhos brilharem de raiva. Ele próprio
sentiu um frêmito de medo. Sollozzo olhou para ele especulativamente, e de
repente Hagen compreendeu que não ia mais ser solto. Algo ocorrera que podia
significar a sua morte. Sollozzo falou:
— O velho ainda está
vivo. Cinco balas na carcaça desse siciliano e ele ainda está vivo — deu de
ombros de modo fatalista — Azar — disse para Hagen — Azar meu. Azar seu.
Continua...
Frase Curiosa: "Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère
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