CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS
CAPÍTULO
2
T
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OM
HAGEN foi para o seu escritório de advocacia na cidade, na manhã de
terça-feira. Ele planejava pôr em dia a sua papelada, a fim de ficar plenamente
desimpedido para a reunião com Virgil Sollozzo. Reunião esta de tamanha
importância que ele solicitara a Don Corleone a tarde inteira para conversação
e preparar-se para a proposta que eles sabiam que Sollozzo ofereceria ao
negócio da Família. Hagen desejava ter todos os pequenos detalhes esclarecidos,
a fim de poder ir à reunião preparatória de espírito prevenido.
Don Corleone pareceu
não se surpreender quando Hagen voltou da Califórnia na terça-feira, tarde da
noite, e lhe comunicou os resultados das negociações com Woltz. Ele fizera
Hagen descrever todos os detalhes e esboçara uma careta de desagrado quando
Hagen lhe contou a história da linda menina e sua mãe. Ele pronunciara infamita, a sua maior palavra de
reprovação. Fizera uma última pergunta a Hagen:
— Esse homem tem
realmente colhão?
Hagen compreendeu
exatamente o que Don Corleone quisera dizer com essa pergunta. Com o decorrer
dos anos, ele aprendera que os valores de Don Corleone eram tão diferentes dos
da maioria das pessoas que as suas palavras também podiam ter um significado
diferente. Tinha Woltz caráter? Tinha ele uma vontade firme? Certamente que
sim, mas não era isso o que Don Corleone estava perguntando. Tinha o produtor
cinematográfico coragem bastante para não ser blefado? Tinha ele disposição
para suportar o grande prejuízo financeiro que o retardamento na produção de
seus filmes significaria, o escândalo de ser seu grande astro apontado como
viciado em heroína? A resposta seria, outra vez, não. Mas igualmente não era
isso o que Don Corleone queria dizer. Finalmente Hagen traduziu a pergunta de
modo correto em sua mente. Tinha Jack Woltz colhão para arriscar tudo, para
arriscar-se a perder tudo por uma questão de princípio, por uma questão de
honra, por vingança?
Hagen sorriu.
Raramente o fazia, mas agora não podia resistir a pilheriar com Don Corleone.
— Você está
perguntando se ele é siciliano — Don Corleone acenou com a cabeça com
satisfação, reconhecendo a argúcia da lisonja e sua verdade — Não — respondeu
Hagen.
Isso era tudo. Dou
Corleone ponderou a questão até o dia seguinte. Na quarta-feira à tarde, chamou
Hagen à sua casa e forneceu-lhe as instruções, as quais consumiram o resto do
dia de trabalho de Hagen e o deixou estonteado de admiração. Não havia dúvida
em seu espírito de que Don Corleone resolvera o problema, de que Woltz lhe telefonaria
pela manhã comunicando ter Johnny Fontane obtido o papel de galã em seu novo
filme de guerra.
Nesse momento, o
telefone tocou, mas era Amerigo Bonasera. A voz do agente funerário tremia de
gratidão. Queria que Hagen transmitisse a Don Corleone os protestos de sua
imorredoura amizade. Ele, Amerigo Bonasera, daria a vida pelo abençoado
Padrinho. Hagen garantiu-lhe que comunicaria isso a Dou Corleone.
O Daily News trazia
uma notícia de meia pággina sobre Jerry Wagner e Kevin Moonan, encontrados desfalecidos
na rua. As fotografias eram realmente impressionantes, eles pareciam massas de
seres humanos. Milagrosamente, dizia o jornal, ainda estavam vivos, embora
tivessem de passar alguns meses no hospital e necessitassem de cirurgia
plástica. Hagen redigiu uma nota para informar a Clemenza que fizesse algo em
favor de Paulie Gatto. Ele parecia conhecer o seu ofício.
Hagen trabalhou com
rapidez e eficiência durante três horas, examinando os relatórios de lucros da
companhia imobiliária de Don Corleone, seu negócio de importação de azeite e
sua empresa de construção. Nenhum deles estava indo bem, mas com o término da
guerra todos esses empreendimentos passariam a ter bons lucros. Já havia quase
esquecido o problema de Johnny Fontane quando a sua secretária lhe informou que
estavam telefonando da Califórnia. Teve um pequeno pressentimento quando pegou
o telefone e disse:
— Aqui fala Hagen.
A voz transmitida pelo
fio era irreconhecível, denunciando ódio e paixão.
— Seu canalha
ordinário! — gritou Woltz — Vou pôr vocês todos na cadeia por cem anos. Vou
gastar até o último níquel para arrasar vocês. Vou mandar arrancar os colhões
de Johnny Fontane, está-me ouvindo, seu carmano ordinário?
Hagen respondeu
amavelmente:
— Eu sou
tento-irlandês.
Houve uma longa pausa e
depois o estalo do telefone sendo desligado. Hagen sorriu. Nem uma só vez Woltz
pronunciou qualquer ameaça ao próprio Don Corleone. O gênio tinha suas
recompensas.
Jack Woltz sempre
dormia só. Tinha uma cama bastante grande para caber dez pessoas e um quarto de
dormir bastante amplo para uma cena cinematográfica de dança, mas dormia
sozinho desde a morte de sua primeira mulher, dez anos antes. Isso não quer
dizer que ele não mais usasse mulheres. Era um homem fisicamente vigoroso
apesar de sua idade, mas agora só podia ser excitado por mocinhas muito novas e
aprendera que algumas horas da noite eram tudo o que a juventude do seu corpo e
sua paciência podiam tolerar.
Naquela terça-feira,
por algum motivo, acordara cedo. A luz da manhã tornava seu enorme quarto tão
embaçado quanto uma campina enevoada. A certa distância no pé de sua cama,
estava uma coisa de forma familiar, e Woltz moveu-se com dificuldade apoiado
nos cotovelos para conseguir uma visão mais clara. Tinha a forma de uma cabeça
de cavalo. Ainda tonto, Woltz estendeu a mão para alcançar a lâmpada de
cabeceira e acendeu-a.
O choque do que viu
tornou-o fisicamente doente. Parecia que um grande martelo o havia atingido no
peito, o seu coração começou a bater estranhamente e ele sentiu náuseas. O seu vômito
respingou no tapete de gosto grosseiro.
Separada do corpo, a
sedosa cabeça preta do grande cavalo Khartoum
estava colada num espesso coágulo de sangue. Viam-se-lhe os tendões brancos e
delgados. Espuma cobria-lhe o focinho, e seus olhos grandes como maçãs que
haviam brilhado como ouro se apresentavam manchados, lembrando uma fruta podre,
de sangue morto, em conseqüência da hemorragia. Woltz foi atacado por um terror
puramente animal, e sob o efeito desse terror, gritou pelos criados, em
seguida, telefonou para Hagen, fazendo ameaças descontroladas. Seu delírio
insano alarmou o mordomo, que telefonou para o médico particular de Woltz e
para o seu substituto eventual no estúdio. Mas Woltz recuperou os sentidos
antes de eles chegarem.
Woltz estava profundamente
chocado. Que espécie de homem poderia destruir um animal que valia seiscentos
mil dólares? Sem uma palavra de advertência. Sem qualquer possibilidade de
negociação para que o ato, a sua ordem, pudesse ser revogado. A crueldade e a
falta de consideração por qualquer valor implicavam um homem que considerava a
si próprio como a sua própria lei, até como seu próprio Deus. E seu poder e
astúcia eram tão grandes que tornaram impotentes as severas medidas adotadas
para a segurança das cocheiras. Pois àquela hora Woltz já sabia que o cavalo
tinha sido obviamente narcotizado com uma forte dose antes que alguém
calmamente cortasse a cabeça do animal com um machado. Os homens encarregados
da vigilância noturna afirmaram que não ouviram nada. Para Woltz isso parecia
impossível. Era preciso fazê-los falar. Eles se haviam vendido e era preciso
fazê-los dizer quem os havia comprado.
Woltz não era burro,
era apenas supremamente egoísta. Ele se havia enganado ao pensar que o poder de
que dispunha fosse maior do que o poder de Don Corleone. Necessitava apenas de
alguma prova de que isso não era verdade. Ele entendera essa mensagem. De que,
apesar de sua riqueza, apesar de toda a sua intimidade com o Presidente dos
Estados Unidos, apesar de todas as pretensões de amizade com o diretor do FBI,
um obscuro importador de azeite italiano o teria assassinado, o teria
“realmente” assassinado! Porque ele não desejava dar a Johnny Fontane o papel
cinematográfico que ele queria. Era incrível. Ninguém tinha o direito de agir
dessa maneira. Não poderia haver qualquer espécie de mundo se as pessoas
agissem dessa maneira. Era loucura. Significava que o indivíduo não podia fazer
o que quisesse com o seu próprio dinheiro, com as companhias que possuía, com o
poder que tinha de dar ordens. Era dez vezes pior do que o comunismo. Isso
tinha de ser esmagado. Nunca se devia permitir tal coisa.
Woltz acedeu em que o
médico lhe aplicasse um sedativo brando. Isso o ajudou a acalmar-se e a pensar
sensatamente. O que na realidade o chocou foi a indiferença com que esse Don
Corleone ordenara matar um cavalo de fama mundial que valia seiscentos mil
dólares. Seiscentos mil dólares! E isso apenas para começar. Woltz deu de
ombros. Pensou na vida que havia conseguido organizar. Era rico. Podia possuir as
mulheres mais bonitas do mundo acenando com o dedo e prometendo um contrato.
Era recebido por reis e rainhas. Levava a vida mais confortável que o dinheiro
e o poder eram capazes de proporcionar. Era loucura arriscar perder tudo isso
por causa de um capricho. Talvez pudesse chegar a um acordo com Don Corleone.
Qual é a punição legal pelo ato de se matar um cavalo de corrida? Ele riu
selvagemente, enquanto o seu médico e os criados o observavam com nervosa
preocupação. Outro pensamento ocorreu-lhe. Ele seria motivo de chacota de toda
a Califórnia simplesmente porque alguém desafiara desdenhosamente o seu poder
de maneira tão arrogante. Isso o levou a decidir-se. Isso e o pensamento de
que, talvez, talvez eles não o matassem. Que estivesse planejando algo mais
astuto e mais doloroso.
Woltz deu as ordens
necessárias. A sua equipe pessoal de confiança entrou em ação. Os criados e o
médico juraram manter segredo sob pena de expor-se à inimizade imorredoura de
Woltz e do estúdio. Comunicou-se à imprensa que o cavalo de corrida Khartoum
tinha morrido de uma doença contraída durante o seu embarque na Inglaterra.
Foram expedidas ordens para enterrar os restos mortais do animal num lugar
secreto da propriedade.
Seis horas depois,
Johnny Fontane recebeu um telefonema do produtor-executivo do filme
informando-o de que se apresentasse para trabalhar na segunda-feira seguinte.
Nessa noite, Hagen
dirigiu-se à casa de Don Corleone a fim de preparar-se para a importante
reunião que manteria no dia seguinte com Virgil Sollozzo. Don Corleone havia
chamado o filho mais velho para comparecer, e Sonny Corleone, com seu rosto de
cupido denunciando cansaço, estava bebendo calmamente um copo de água. Ele ainda devia estar trepando com aquela
dama de honra, pensou Hagen. Outra preocupação.
Don Corleone
instalou-se numa poltrona fumando o seu charuto Di No bili. Hagen tinha uma
caixa deles em sua sala. Ele havia tentado fazer Don Corleone mudar para o
Havana, mas o Don alegara que este lhe irritava a garganta.
— Será que sabemos
tudo necessário a respeito? — perguntou Don Corleone.
Hagen abriu o arquivo
onde se encontravam as suas notas. Tais notas não eram de forma alguma
incriminatórias, mas simplesmente lembretes enigmáticos para assegurar que ele
estava de posse de todos os detalhes importantes.
— Sollozzo vem nos
solicitar ajuda — disse Hagen — Vai pedir á Família que levante pelo menos um
milhão de dólares e prometa alguma espécie de imunidade com respeito à lei. Em
virtude disso, passamos a participar da operação, ninguém sabe quanto. Sollozzo
é garantido pela Família Tattaglia que, em conseqüência, participa da operação.
A operação são narcóticos. Sollozzo tem os seus agentes na Turquia, onde
cultivam a papoula. Daí ele a embarca para a Sicília. Nenhuma dificuldade. Na
Sicília, transforma a planta em heroína. Tem operações seguras para
transformá-la em morfina e voltar a transformá-la em heroína, se for
necessário. Mas parece que a fabricação do produto na Sicília é protegida de
toda maneira. A única dificuldade é trazê-la para os Estados Unidos e depois
proceder à distribuição. Outra, o capital inicial, Um milhão de dólares em
dinheiro não nasce em árvores.
Hagen viu Don Corleone
fazer uma careta de desaprovação. O velho detestava floreios desnecessários em
questão de negócio. Continuou a falar de modo rápido:
— Chamam Sollozzo de
turco por dois motivos. Ele passou algum tempo na Turquia e supõe-se que tem
uma mulher e filhos turcos. Segundo, pensa-se que ele é muito ligeiro com a
faca, ou era, quando jovem. Somente em questões de negócio, entretanto, e com
uma espécie de queixa razoável. Ë um homem muito competente, sendo seu próprio
chefe. Tem ficha na polícia, cumpriu duas penas na prisão, uma na Itália, outra
nos Estados Unidos, e é conhecido das autoridades como contrabandista de narcóticos.
Isso podia ser uma vantagem para nós. Significa que ele jamais conseguirá
imunidades para depor, porque é considerado o chefão e, naturalmente, devido à
sua ficha. Outrossim, tem mulher e três filhos americanos, e é um bom chefe de
família. Faz qualquer acordo desde que saiba que o negócio será bem dirigido
para render um bom dinheiro.
Don Corleone tirou uma
baforada do charuto e perguntou:
— Santino, que é que
você acha?
Hagen sabia o que Sonny iria responder. Sonny
estava aborrecido por se achar sob o domínio de Don Corleone. Ele queria
um grande empreendimento por sua própria conta. Algo como isso seria ótimo.
Sonny tomou um longo
trago de uísque
— Muito dinheiro se
pode fazer com esse pó branco — respondeu ele — Mas pode ser perigoso. Algumas pessoas
correm o risco de acabar na cadeia por uns vinte anos. Quero dizer que se
ficarmos fora das operações propriamente ditas, isto é, se apenas dermos
proteção e financiamento, pode ser uma boa idéia.
Hagen olhou para Sonny
apoiando-o. Ele jogara bem as cartas. Limitara-se ao óbvio, que era o que
melhor podia fazer.
Don Corleone tirou uma
baforada do seu charuto,
— E você, Tom, que é
que acha?
Hagen preparou-se para
ser completamente honesto. Já havia chegado à conclusão de que Don Corleone
recusaria a proposta de Sollozzo. Mas, o que era pior, Hagen estava convencido
de que em uma das raras vezes em sua vida Don Corleone não havia pensado
inteiramente no assunto. Não estava olhando suficientemente para a frente.
— Vamos, Tom —
exclamou Don Corleone encorajadoramente —
Nem mesmo um consigliori siciliano
concorda sempre com o chefe.
Todos riram.
— Penso que você devia
dizer sim — observou Hagen — Você conhece todos os motivos evidentes. Porém o
mais importante de todos é este. Há mais dinheiro em potencial em narcóticos do
que em qualquer outro negócio Se não entrarmos nele, outras pessoas entrarão,
talvez a Família Tattaglia. Com a receita que eles obtêm podem acumular cada
vez mais poder policial e político. A Família deles ficará mais forte do que a
nossa. Finalmente virão em cima de nós para tomar o que nós temos. É tal como
acontece entre os países. Se eles se armam, temos de nos armar. Se eles se
tornam economicamente mais fortes, tornam-se uma ameaça para nós. No momento,
possuímos o jogo e os sindicatos, e são precisamente agora as melhores coisas
para se ter. Mas penso que os narcóticos são o próximo passo. Acho que temos de
participar disso ou pomos em risco tudo que possuímos. Não agora, mas talvez
daqui a dez anos.
Don Corleone parecia
bastante impressionado. Tirou uma baforada de seu charuto e murmurou:
— Isso é a coisa mais importante, sem dúvida — deu
um suspiro e pôs-se de pé — A que
horas temos de encontrar esse turco amanhã?
Hagen respondeu
esperançosamente:
— Ele estará aqui às
dez horas da manhã.
Talvez Don Corleone
resolvesse aceitar o negócio.
— Quero vocês dois
aqui comigo — preveniu Don Corleone. Levantou-se, espreguiçando-se, e pegou o
filho pelo braço — Santino, durma bem esta noite, você parece o próprio diabo.
Cuide de você, pois não será sempre jovem.
Sonny, animado por
esse interesse paterno, fez a pergunta que Hagen não se atrevera a fazer.
— Pai, qual vai ser a
sua resposta?
Don Corleone sorriu.
— Como posso saber sem
antes ouvir as percentagens e outros detalhes? Além disso, preciso de tempo
para pensar no conselho que me deram aqui esta noite. Afinal de contas, não sou
homem que faz as coisas precipitadamente — quando ia saindo, perguntou
casualmente a Hagen — Você tem em suas notas que o turco vivia da prostituição
antes da guerra? Tal como a Família Tattaglia faz agora. Anote isso antes que
você esqueça.
Havia um tom de
escárnio na voz de Don Corleone, e Hagen ficou vermelho. Ele deliberadamente
não mencionara isso, legitimamente por assim dizer, pois realmente não tinha
qualquer relação, mas receara que pudesse prejudicar a decisão de Don Corleone.
Ele era notoriamente rigoroso em questões de sexo.
Virgil Sollozzo, o
turco, era um homem de constituição robusta, tez escura, que podia ser tomado
por um verdadeiro turco. Tinha um nariz que lembrava uma cimitarra e olhos
pretos cruéis. Possuía também uma dignidade impressionante.
Sonny Corleone
recebeu-o na porta e o introduziu no escritório onde Hagen e Don Corleone
esperavam. Hagen pensou que nunca vira um homem de aspecto mais perigoso, com
exceção de Luca Brasi. Houve troca de apertos de mão corteses entre eles.
Se Don Corleone me perguntar se esse homem tem colhão, eu responderei
que sim, pensou Hagen. Nunca vira tamanha força num homem, nem mesmo em Don
Corleone. De fato, Don Corleone parecia sentir-se inferiorizado. Ele foi um
pouco demasiadamente simples, um pouco demasiadamente agradável em sua
saudação.
Sollozzo entrou no
assunto imediatamente, O negócio eram narcóticos. Tudo estava estabelecido. Os
campos de papoula na Turquia haviam-lhe garantido certas quantidades todo ano.
Ele tinha uma fábrica protegida na França para converter a papoula em morfina e
outra fábrica completamente garantida na Sicília para transformá-la em heroína.
O contrabando para entrar nos dois países era tão seguro quanto tais coisas
podiam ser. A entrada nos Estados Unidos envolvia cerca de 5% de prejuízo, pois
o próprio FBI era incorruptível, como ambos sabiam. Mas os lucros seriam
enormes, o risco não existia.
— Então por que você
veio a mim? — perguntou Don Corleone delicadamente — Por que passei a merecer
essa generosidade de sua parte?
O rosto escuro de
Sollozzo permaneceu impassível.
— Preciso de dois
milhões de dólares em dinheiro — respondeu — Igualmente importante, preciso de
um homem que tenha amigos poderosos nos lugares-chave. Alguns dos meus correios
serão apanhados no decorrer dos anos. Isso é inevitável. Todos eles terão
fichas limpas, isso eu prometo. Assim, será lógico que os juízes dêem penas
leves. Preciso de um amigo que possa garantir que quando meu pessoal estiver em
dificuldade não passe mais de um ano ou dois na cadeia. Assim, ele não falará.
Mas se pegar dez ou vinte anos, quem sabe? Nesse mundo há muitos indivíduos
fracos. Eles podem falar, e pôr em perigo gente mais importante. A proteção
legal é uma coisa indispensável. Ouvi dizer, Don Corleone, que o senhor tem
tantos juízes em sua gaveta como um engraxate tem moedas de níquel.
Don Corleone não tomou
conhecimento dessa lisonja.
— Que percentagem
oferece à minha Família? — perguntou.
Os olhos de Sollozzo
brilharam.
— Cinqüenta por cento
— fez uma pausa e depois disse numa voz que era quase um carinho — No primeiro
ano, a sua parcela de lucro seria de três ou quatro milhões de dólares. Depois
subiria.
— E qual é a
percentagem da Família Tattaglia? — perguntou Don Corleone.
Pela primeira vez
Sollozzo pareceu ficar nervoso.
— Ela receberá uma
parte da minha parcela. Preciso de alguma ajuda nas operações.
— Assim — falou Don
Corleone — Eu recebo 50% simplesmente pelo financiamento e proteção legal. Não
tenho preocupações com as operações, é isso o que você quer dizer?
Sollozzo acenou a
cabeça afirmativamente.
— Se o senhor acha que
dois milhões de dólares em dinheiro são um “simples financiamento”, eu o
felicito, Don Corleone.
Don Corleone falou
calmamente:
— Consenti em vê-lo,
em virtude do meu respeito pelos Tattaglia e porque ouvi dizer que o senhor é
um homem sério que também merece ser tratado com respeito. Devo dizer-lhe não,
mas devo dar-lhe minhas razões. Os lucros em seu negócio são enormes, mas
também o são os riscos. A sua operação, se eu fizesse parte dela, poderia
prejudicar meus outros interesses. É verdade que tenho inúmeros amigos na
política, mas eles não seriam tão cordiais, se meu negócio fosse narcóticos em
vez de jogo. Eles pensam que o jogo é algo como a bebida, um vício inofensivo,
e acham que o narcótico é um negócio sujo. Não, não proteste. Estou-lhe dizendo
a opinião deles, não a minha. Como um homem ganha a vida é assunto que não me
interessa. E o que estou dizendo é que esse seu negócio é muito arriscado.
Todos os membros de minha Família têm vivido bem nos últimos dez anos, sem
perigo, sem prejuízo. Não posso expor ao perigo esses homens ou seus meios de
vida por simples ganância.
O único sinal de
decepção de Sollozzo foi uma rápida piscadela em torno da sala, como que
esperando que Hagen ou Sonny falasse em seu favor
— O senhor está
preocupado com a garantia que posso oferecer aos seus dois milhões? —
perguntou, logo depois.
Don Corleone sorriu
friamente.
— Não — respondeu.
Sollozzo fez nova
tentativa.
— A Famfiia Tattaglia
garantirá também o seu investimento.
Foi então que Sonny
Corleone cometeu um erro imperdoável de julgamento e conduta. Perguntou
ansiosamente:
— A Família Tattaglia
garante a volta do nosso investimento sem nos tirar qualquer percentagem?
Hagen ficou
horrorizado com essa interrupção. Ele viu Don Corleone ficar frio, com os olhos
maldosos pousados no seu filho mais velho, que ficou gelado de aflição
incompreendida.
Os olhos de Sollozzo
piscaram novamente, mas desta vez com satisfação. Tinha descoberto uma fenda na
fortaleza de Don Corleone. Quando este falou, sua voz denotava desaprovação.
— Os jovens são
gananciosos — disse — E hoje em dia não têm modos, interrompem os mais velhos e
metem o bedelho. Mas tenho uma fraqueza sentimental pelos meus filhos e os
tenho mimado. Como vê, Signor Sollozzo, meu “não” é final. Digamos que
eu particularmente lhe desejo boa sorte no seu negócio. Não entra em conflito
com o meu. Lamento ter de decepcioná-lo.
Sollozzo curvou-se,
apertou a mão de Don Corleone e se deixou conduzir por Hagen até o seu carro.
Não havia qualquer expressão em seu rosto quando ele se despediu de Hagen.
Quando Hagen voltou à
sala, Don Corleone perguntou-lhe:
— Que é que você pensa
desse homem?
— Ele é siciliano —
respondeu Hagen secamente.
Don Corleone balançou
a cabeça pensativamente. Depois virou-se para o filho e disse com brandura:
— Santino, nunca deixe
nenhum estranho à Família saber o que você pensa. Nunca deixe alguém saber o
que pensa intimamente. Acho que os seus miolos estão amolecendo com toda essa
comédia que você está representando com essa moça. Pare com isso e passe a dar
atenção aos negócios. Agora, saia da minha vista.
Hagen viu a surpresa
estampada no rosto de Sonny, depois a raiva ante a reprovação do pai. Pensava
realmente que Don Corleone ignoraria tal conquista, Hagen duvidava. E não sabia
ele realmente que erro perigoso cometera essa manhã? Se isso fosse verdade,
Hagen jamais desejaria ser o consigliori de Santino Corleone.
Don Corleone esperou
até que Sonny deixasse a sala. Depois voltou a afundar-se na poltrona de couro
e bruscamente fez sinal pedindo uma bebida. Hagen serviu-lhe um cálice de
anisete. Don Corleone levantou os olhos para ele.
— Mande Luca Brasi
falar comigo — disse ele.
Três meses depois,
Hagen lia apressadamente a sua papelada em seu escritório da cidade, esperando
sair mais cedo para fazer algumas compras de Natal para a mulher e filhos. Foi
interrompido por um telefonema de Johnny Fontane que começou a falar com grande
entusiasmo. O filme tinha sido rodado, a primeira cópia, qualquer que diabo
fosse, pensou Hagen, era fabulosa. Ele estava enviando para Don Corleone um
presente de Natal que o deslumbraria, gostaria de levá-lo pessoalmente, mas
havia pequenas coisas a serem feitas no filme. Teria de permanecer na
Califórnia. Hagen procurava esconder sua impaciência. Johnny Fontane perdera
para ele todo o seu encanto. Mas isso despertara o seu interesse.
— Que é? — perguntou
ele.
Johnny Fontane riu
entredentes e respondeu:
— Não posso dizer, isso é a melhor coisa de um
presente de Natal.
Hagen imediatamente
perdeu todo o interesse e finalmente conseguiu, de modo delicado, encerrar a
conversação telefônica.
Dez minutos depois,
sua secretária informou-o de que Connie estava ao telefone e queria falar-lhe.
Hagen suspirou. Como moça, Connie havia sido boazinha; como mulher casada, era
uma amolação. Fazia queixas do marido. Costumava ir para casa para visitar a
mãe por dois ou três dias. E Carlo Rizzi se estava revelando um verdadeiro
fracasso. Tinham-no estabelecido com um pequeno negócio interessante, mas
estava levando a breca. Também dera para beber, para entregar-se à devassidão,
para jogar e bater na mulher. Connie não dissera isso à Família, mas contou a
Hagen. Ele se interrogava que nova história de infortúnio ela teria para
contar-lhe agora.
Entretanto, o espírito
de Natal parecia que lhe havia trazido algum ânimo. Connie queria apenas
perguntar a Hagen o que o pai realmente gostaria de receber de presente. E
Sonny, Fred e Mike. Ela já sabia o que iria comprar para a mãe. Hagen fez
algumas sugestões, todas rejeitadas por ela como tolas. Finalmente, Connie
desligou.
Quando o telefone
tocou novamente, Hagen voltou a pôr todos os papéis na cesta. O diabo que
agüentasse aquilo. Ele ia embora. Não lhe ocorreu, contudo, recusar a atender o
telefonema. Quando a sua secretária lhe comunicou que era Michael Corleone, ele
pegou o telefone com prazer. Sempre gostara de Mike.
— Tom — falou Michael
Corleone — Vou descer para a cidade com Kay amanhã. Há algo importante que
quero comunicar ao velho antes do Natal. Será que ele estará em casa amanhã de
noite?
— Certamente —
respondeu Hagen — Ele não vai sair da cidade até depois do Natal. Posso fazer
algo por você?
Michael era tão
reservado quanto o pai.
— Não — respondeu ele
— Penso que o verei no Natal, todo mundo estará fora, em Long Beach, certo?
— Certo — respondeu
Hagen.
Achou graça quando
Mike desligou o telefone sem mais nem menos.
Hagen ordenou a sua
secretária que ligasse para a mulher e dissesse que iria para casa um pouco
mais tarde, mas que lhe preparasse alguma ceia. Saindo do edifício, passou a
caminhar rapidamente para o centro da cidade em direção ao Macy’s. Alguém
interceptou-lhe o passo. Para surpresa sua, viu que era Sollozzo.
Sollozzo tomou o pelo
braço e disse calmamente:
— Não se assuste,
quero apenas falar com você.
Um carro estacionado
no meio-fio, subitamente, teve a sua porta aberta. Sollozzo falou com
insistência:
— Entre, quero falar
com você.
Hagen puxou o braço
livrando-se de Sollozzo. Não estava sobressaltado, apenas irritado.
— Não tenho tempo —
retrucou.
Nesse momento, dois
homens vieram por trás dele. Hagen sentiu uma fraqueza súbita nas pernas.
Sollozzo disse brandamente:
— Entre no carro. Se
eu quisesse matá-lo, você estaria morto agora. Confie em mim.
Sem qualquer sombra de
confiança, Hagen embarcou no veículo.
Michael Corleone
mentira para Hagen. Ele já estava em Nova York, e telefonara de um quarto do
Hotel Pensilvânia a menos de dez quarteirões de distância. Quando ele desligou,
Kay Adams jogou fora o seu cigarro e disse:
— Mike, que mentiroso
você é.
Michael sentou-se ao
lado dela na cama.
— Tudo por você,
querida; se eu dissesse à minha família que nós estávamos na cidade teríamos de
ir diretamente para lá. Então, não poderíamos sair para jantar, não poderíamos
ir ao teatro e não poderíamos dormir juntos esta noite. Não na casa do meu pai,
enquanto não somos casados.
Ele passou os braços
em volta da moça e a beijou delicadamente nos lábios. A sua boca era doce, e
ele delicadamente fê-la deitar-se na cama. Kay fechou os olhos, esperando que
Michael lhe fizesse amor, e ele sentiu uma felicidade enorme. Passara os anos
da guerra lutando no Pacífico, e naquelas ilhas malditas havia sonhado com uma
garota como Kay Adams. Com uma beleza igual à dela. Um corpo frágil e bonito,
branco como leite e eletrizado pela paixão. Ela abriu os olhos e depois puxou a
cabeça dele para beijá-la. Amaram-se até chegar a hora do jantar e de ir para o
teatro.
Depois do jantar,
passaram pelos grandes magazines profusamente iluminados, cheios de fregueses
que faziam as suas compras, e Michael perguntou:
— Que é que vou
comprar para você como presente de Natal?
Ela achegou-se bem a
ele.
— Quero apenas você —
respondeu — Você acha que o seu pai vai concordar que se case comigo?
Michael retrucou
delicadamente:
— A questão não é
realmente essa. Será que os seus pais vão concordar que você case comigo?
Kay deu de ombros.
— Não me importo com
isso — respondeu.
— Até pensei em mudar
o nome, legalmente — disse Michael — Mas se algo acontecesse, isso realmente
não adiantaria nada. Você tem certeza de que quer entrar para a família
Corleone? — perguntou meio brincalhão.
— Sim — respondeu ela
séria.
Eles se apertaram
mutuamente. Haviam resolvido casar-se durante a semana do Natal, uma cerimônia
civil tranqüila na pretoria com apenas dois amigos como testemunhas. Mas
Michael insistira em que devia comunicar ao pai. Explicara que o velho não se
oporia de maneira alguma desde que a coisa não fosse feita em segredo. Kay
tinha suas dúvidas. Dissera que só poderia comunicar a seus pais depois do
casamento.
— Certamente eles
pensarão que estou grávida — disse ela.
Michael sorriu
mostrando os dentes.
— Meus pais pensarão a
mesma coisa — acrescentou ele.
O que nenhum deles
mencionou foi o fato de que Michael teria de cortar seus laços íntimos com a
família. Ambos compreendiam que Michael já havia feito isso até certo ponto e
se sentiam culpados com respeito a esse fato. Planejavam terminar o curso,
vendo-se um ao outro nos fins de semana e vivendo juntos durante as férias de
verão. Isso lhes parecia uma vida feliz
A peça a que assistiam
era um musical chamado Carousel, cuja
história sentimental de um ladrão farofeiro os fez rir alegremente. Quando
saíram do teatro, fazia frio. Kay aconchegou-se a ele e disse:
— Depois que a gente
se casar, você vai bater-me e depois roubar uma estrela para me dar de
presente?
Michael deu uma
gargalhada.
— Vou ser professor de
Matemática — declarou. Em seguida, perguntou — Você quer alguma coisa para
comer antes de irmos para o hotel?
Kay balançou a cabeça.
Olhou para ele expressivamente. Michael, como sempre, estava excitado pela
ânsia dela de fazer amor. Riu para ela, e os dois se beijaram na rua fria.
Michael sentia fome e resolveu pedir que mandassem sanduíches para o quarto.
No saguão do hotel,
Michael empurrou Kay para a banca de jornais, dizendo:
— Apanhe os jornais,
enquanto pego a chave.
Ele teve de esperar
numa pequena fila; o hotel estava ainda com falta de empregados, apesar de já
ter terminado a guerra. Michael apanhou a chave do quarto e procurou Kay em
volta, com os olhos, impacientemente. Ela estava a lado da banca, com os olhos
fixos no jornal que segurava na mão. Ele se encaminhou na direção dela. Kay
olhou para ele, com os olhos cheios de água.
— Oh, Mike! — exclamou
ela — Oh, Mike!
Michael tirou o jornal
das mãos dela. A primeira coisa que viu foi uma fotografia do pai caído na rua,
com a cabeça numa poça de sangue. Um homem estava sentado no meio-fio chorando
como uma criança. Era seu irmão Freddie. Michael Corleone sentiu o corpo ficar
gelado. Não havia pesar, nem medo, apenas raiva fria. Ele disse para Kay:
— Suba para o quarto.
Mas teve de tomá-la
pelo braço e conduzi-la para o elevador. Subiram em silêncio. Ao chegarem ao
quarto, Michael sentou-se na cama e abriu o jornal. As manchetes diziam:
vito corleone
baleado.
suposto chefe de
extorsionários
gravemente ferido.
operado sob forte
proteção policial.
teme-se sangrenta
guerra de quadrilhas.
Michael sentiu
fraqueza nas pernas. Disse para Kay:
— Ele não está morto,
os canalhas não o mataram.
Leu a notícia
novamente. Seu pai tinha sido baleado às cinco horas da tarde. Isso significava
que, enquanto ele estava fazendo amor com Kay, jantando, deleitando-se no
teatro, o seu pai estava à morte. Michael começou a sentir-se pesarosamente
culpado.
— Vamos ao hospital
agora? — perguntou Kay.
Michael balançou a
cabeça.
— Deixe-me telefonar
para casa primeiro. O pessoal que fez isso está maluco, e como o velho continua
vivo, muita gente está desesperada. Que diabo sabe o que esse pessoal vai fazer
em seguida.
Ambos os telefones na
casa de Long Beach estavam ocupados e Michael teve de esperar quase vinte
minutos para conseguir ligação. Finalmente ouviu a voz de Sonny dizer:
— Sim.
— Sonny, sou eu —
disse Michael.
Ele pôde ouvir o
alívio na voz de Sonny.
— Jesus, menino, você nos deixou preocupados. Onde
diabo está você? Mandei gente a essa sua cidade caipira para ver o que
aconteceu.
— Como está o velho? —
perguntou Michael. — Qual é a gravidade do ferimento?
— Muito sério. Eles o
atingiram com cinco tiros. Mas o velho é duro — a voz de Sonny denotava orgulho
— Os médicos disseram que escapará. Ouça, menino, estou ocupado, não posso
falar, onde está você?
— Nova York —
respondeu Michael —Tom não lhe falou que eu ia descer?
Sonny baixou um pouco
a voz.
— Raptaram Tom. Essa a
razão por que eu estava preocupado com você. A mulher dele está aqui. Ela não
sabe, nem tampouco os tiras. Não quero que eles saibam. Os bandidos que fizeram
isso devem estar malucos. Quero que você saia daqui imediatamente e se mantenha
calado. Entendido?
— Entendido —
respondeu Mike — Você sabe quem fez isso?
— Certamente —
retrucou Sonny — Logo que Luca Brasi se apresentar, eles estarão mortos. Ainda
somos senhores da situação.
— Sairei dentro de uma
hora — disse Mike — Num táxi.
Ele desligou. Os
jornais já estavam na rua há mais de três horas. Deviam ter dado notícia pelo
rádio. Era quase impossível que Luca não tivesse ouvido. Preocupado, Michael
ponderava sobre a questão. Onde estava Luca Brasi? Era a mesma pergunta que
Hagen fazia nesse momento. Era a mesma pergunta que intrigava Sonny Corleone lá
em Long Beach.
* * *
A um quarto para as cinco horas dessa
tarde, Don Corleone terminara de examinar os documentos que o chefe do
escritório de sua companhia de azeite preparara para ele. Pôs o paletó e deu
uma pancadinha na cabeça de seu filho Freddie para fazê-lo tirar os olhos do
vespertino que estava lendo absortamente.
— Diga a Gatto para
tirar o carro do parque de estacionamento — falou — Estarei pronto para ir para
casa em poucos minutos.
— Eu mesmo vou ter de
apanhá-lo — resmungou Freddie — Paulie telefonou esta manhã dizendo que está
doente. Pegou um resfriado novamente.
Don Corleone olhou
pensativo por um momento.
— Esta é a terceira
vez este mês. Penso que talvez é melhor você arranjar um sujeito mais sadio
para esse serviço. Fale com Tom.
— Paulie é um bom
menino — protestou Fred — Se ele diz que está doente, está doente. Eu não me
importo em apanhar o carro.
Fred saiu do
escritório. Don Corleone olhou pela janela quando o filho cruzava a Nona
Avenida para o parque de estacionamento. Resolveu telefonar para o escritório
de Hagen, porém não obteve resposta. Ligou para a casa de Long Beach, mas
igualmente ninguém atendeu. Irritado, olhou pela janela. Seu carro estava
estacionado no meio-fio em frente ao seu edifício. Freddie estava encostado no
pára-lama, com os braços cruzados, olhando os transeuntes atarefados com as
compras de Natal. Don Corleone pôs o paletó. O chefe do escritório ajudou-o a
vestir o sobretudo. O velho resmungou os seus agradecimentos e saiu, começando
a descer os dois lançes de escada.
Lá fora na rua, a luz
do começo de inverno estava falhando. Freddie encostou-se casualmente no
pára-lama do pesado Buick. Quando viu o pai sair do edifício, desceu a rua para
o lado do assento do motorista e entrou no carro. Don Corleone estava prestes a
entrar no veículo pelo lado do calçada, quando hesitou e depois voltou até a comprida
banca de frutas situada perto da esquina. Isso já se tornara um hábito
ultimamente, ele gostava das frutas grandes, fora de estação, os pêssegos e
laranjas amarelas, que luziam em suas caixas verdes. O proprietário moveu-se
rapidamente para atendê-lo. Don Corleone não pegava nas frutas. Apenas
apontava. O fruteiro só discordou de suas decisões uma vez, para mostrar-lhe
que uma das frutas por ele escolhidas tinha um lado podre. Don Corleone pegou o
saco de papel com a mão esquerda e pagou ao homem com uma nota de cinco
dólares. Apanhou o troco, e quando se virou para voltar para o carro que o
esperava, dois homens vieram da esquina. Don Corleone sabia imediatamente o que
estava para acontecer.
Os dois homens usavam
sobretudos pretos e chapéus também pretos puxados para baixo, a fim de esconder
o rosto. Não esperavam a pronta reação de Don Corleone. Este deixou cair o saco
de frutas e correu para o carro estacionado com uma rapidez espantosa para um
homem de seu volume, ao mesmo tempo em que gritava:
— Fredo, Fredo!
Foi então que os dois
homens puxaram suas armas e dispararam.
O primeiro tiro pegou
Don Corleone nas costas. Ele sentiu o choque violento do impacto, mas moveu-se
até o carro. As duas balas seguintes atingiram-no nas nádegas e fizeram-no cair
estatelado no meio da rua. Entrementes, os dois pistoleiros, tomando cuidado
para não escorregar nas frutas que rolavam no chão, partiram em direção a ele a
fim de acabar de liquidá-lo. Nesse momento, talvez num máximo de cinco segundos
depois que Don Corleone gritara para o filho, Frederico Corleone apareceu fora
do carro, assomando sobre ele. Os pistoleiros deram mais dois tiros em Don
Corleone que estava deitado na sarjeta. Um o atingiu na parte carnosa do braço
e o outro na barriga da perna direita. Embora esses ferimentos fossem os menos
graves, sangravam abundantemente, formando pequenas poças de sangue ao lado de
seu corpo. Porém, nessa altura, Don Corleone tinha perdido a consciência.
Freddie ouvira o grito
do pai, chamando-o pelo apelido de infância, e em seguida escutava os dois
primeiros estampidos. No momento em que saiu do carro, ele se achava em estado
de choque, não tendo sequer sacado a arma. Os dois assassinos podiam facilmente
tê-lo abatido a tiros. Mas eles também estavam em pânico. Deviam saber que o
filho se encontrava armado, e além disso muito tempo havia passado.
Desapareceram na esquina, deixando Freddie sozinho na rua com o corpo
ensangüentado do pai. Muitos transeuntes que atravancavam a avenida lançaram-se
para as portas ou no chão, outros em pequenos grupos.
Freddie, contudo, não
puxara sua arma. Parecia atordoado. Olhava fixamente para o corpo do pai que
jazia de bruços no asfalto, deitado agora no que lhe parecia ser um escuro lago
de sangue. Freddie estava traumatizado. Gente afluía novamente, e alguém,
vendo-o começar a desfalecer, conduziu-o até o meio-fio e fê-lo sentar-se ali.
Uma multidão se formou em torno do corpo de Don Corleone, um círculo que se
desmanchou quando o primeiro carro da polícia tocou a sirena para abrir caminho.
Diretamente atrás da polícia vinha o carro do Daily News e, mesmo antes de ele
parar, um fotógrafo saltou para bater chapas de Don Corleone esvaindo-se em
sangue. Alguns momentos depois, chegou uma ambulância. O fotógrafo voltou sua
atenção para Freddie Corleone, que agora chorava abertamente, e isso era uma
cena curiosamente cômica, devido ao seu rosto duro de cupido, nariz grande e
boca espessa lambuzada de muco. Agentes se espalhavam pela multidão e mais
carros da polícia chegavam. Um detetive ajoelhou-se ao lado de Freddie,
interrogando-o, mas Freddie se achava em profundo estado de choque para
responder. O detetive meteu a mão no bolso interno do casaco de Freddie e tirou
sua carteira. Olhou para a identificação aí contida e assoviou para o companheiro.
Em poucos segundos, Freddie foi isolado da multidão por um numeroso grupo de
policiais à paisana. O primeiro detetive encontrou o revólver de Freddie em seu
coldre e tirou-o. Então levantaram o rapaz e puseram-no de pé, empurrando-o
para dentro de um carro sem marca da polícia. Quando o veículo se afastou, foi
seguido pelo carro do Daily News. O fotógrafo estava ainda ba tendo chapas de
tudo e de todos.
Na meia-hora após o
atentado a tiros contra seu pai, Sonny Corleone recebeu cinco telefonemas em rápida
sucessão. O primeiro foi do Detetive John Phillips, que constava da folha de
pagamento da Família e estivera no carro da frente de policiais à paisana no
local do crime. A primeira coisa que ele perguntou a Sonny pelo telefone foi:
— Você reconhece minha
voz?
— Sim — respondeu
Sonny.
Ele estava despertando
de uma soneca, tendo sido chamado ao telefone por sua mulher.
— Alguém baleou seu
pai na porta do edifício de seu escritório. Há cerca de quinze minutos. Ele
está vivo, mas gravemente ferido. Levaram-no para o Hospital Francês.
Conduziram seu irmão Freddie para o distrito de Chelsea. É melhor conseguir um
médico para ele quando o soltarem. Vou agora para o hospital a fim de ajudar a
interrogar o seu velho, se ele puder falar. Manterei você informado a respeito
do assunto — disse Philips, sem preâmbulo.
Do outro lado da mesa,
a mulher de Sonny, Sandra, percebeu que o rosto do marido se tornara vermelho,
com o sangue afluindo precipitadamente. Seus olhos se tornaram vidrados.
— Que é que há? —
perguntou ela.
Ele acenou-lhe
impacientemente para que se calasse, virou o corpo, dando as costas para ela, e
perguntou no telefone:
— Você tem certeza de
que ele está vivo?
— Sim, tenho certeza —
respondeu o detetive — Ele perdeu muito sangue, mas acho que talvez não esteja
tão ruim como parece.
— Obrigado — disse
Sonny — Esteja em casa amanhã de manhã às oito horas em ponto. Você merece uma
boa recompensa.
Sonny pôs o fone no
gancho. Fez um esforço para manter-se calmo. Sabia que a sua maior fraqueza era
a ira, e aquele era um momento em que a ira podia ser fatal. A primeira coisa a
fazer era chamar Tom Hagen. Mas antes que pudesse pegar no telefone, este
tocou. A chamada era do bookmaker autorizado pela Família a funcionar na zona
do escritório de Don Corleone. O bookmaker chamou para informá-lo de que Don
Corleone tinha sido assassinado, fatalmente baleado na rua. Após algumas
gestões para se assegurar de que o informante do bookmaker não estivera perto
do corpo, Sonny rejeitou a informação como incorreta. A informação de Phillips
seria mais exata. O telefone tocou quase imediatamente pela terceira vez. Era
um repórter do Daily News. Assim que ele se identificou, Sonny Corleone
desligou.
Em seguida discou para
a casa de Hagen e perguntou à mulher dele:
— Tom já veio para
casa?
— Não — respondeu ela,
acrescentando que ele devia demorar uns vinte minutos, mas que ela o esperava
em casa para a ceia.
— Diga-lhe que
telefone para mim — falou Sonny.
Ele procurou
considerar os fatos. Tentou imaginar como o pai reagiria numa situação como
essa. Sabia imediatamente que era um ataque de Sollozzo, mas Sollozzo nunca se
atreveria a eliminar um chefe de tão alto gabarito como Don Corleone, a não ser
que fosse apoiado por outras pessoas poderosas. O telefone, tocando pela quarta
vez, interrompeu-lhe os pensamentos. A voz do outro lado era muito branda,
muito gentil:
— Santino Corleone?
— Sim — respondeu
Sonny.
— Temos em nosso poder
Tom Hagen — informou a voz — Dentro de três horas, ele será solto com a nossa
proposta. Não faça nada precipitadamente até ouvir o que ele tem a dizer. Você
só pode causar um bocado de complicação. O que está feito está feito. Todo
mundo deve ser sensato agora. Não perca as estribeiras.
A voz era ligeiramente
escarnecedora. Sonny não tinha certeza, mas parecia ser a de Sollozzo.
Respondeu numa voz fingidamente abafada e deprimida:
— Vou esperar.
Ouviu desligarem do
outro lado o receptor. Olhou para seu pesado relógio-pulseira de ouro, e
observou a hora exata do telefonema, anotando-a na toalha da mesa.
Sentou-se na mesa da
cozinha, franzindo as sobrancelhas. A mulher perguntou:
— Sonny, que é que há?
— Balearam o velho —
respondeu calmamente. Quando percebeu no rosto dela o choque que lhe causara a
notícia, acrescentou asperamente:— Não se preocupe, ele não está morto. E nada
mais vai acontecer.
Nada comentou a
respeito de Hagen. E então o telefone tocou pela quinta vez.
Era Clemenza. A voz do
gorducho veio ofegante pelo telefone em arfadas rosnantes:
— Você já sabe o que
aconteceu a seu pai? — perguntou.
— Sim — respondeu
Sonny — Mas ele não está morto.
Houve uma longa pausa
e depois a voz de Clemenza fez-se ouvir com repassada emoção:
— Graças a Deus,
graças a Deus! Você tem certeza? — acrescentou ansiosamente — Disseram-me que
ele estava morto na rua.
— Ele está vivo —
retrucou Sonny.
Sonny prestava atenção
na entonação da voz de Clemenza. A emoção parecia autêntica, mas era parte da
profissão do gordo ser um bom ator.
— Você vai ter de
trabalhar muito, Sonny — disse Clemenza — Que é que você quer que eu faça?
— Vá até a casa de meu
pai — respondeu Sonny — Traga Paulie Gatto.
— Só isso? — perguntou
Clemenza — Não quer que eu mande alguns homens para o hospital e para a sua
casa?
— Não, quero apenas
você e Paulie Gatto — houve uma longa pausa. Clemenza estava entendendo a
coisa. Para dar à situação um aspecto um pouco mais natural, Sonny perguntou —
Onde diabo estava Paulie, afinal? Que diabo estava ele fazendo?
Não havia mais
ofegação do outro lado da linha. A voz de Clemenza era cautelosa.
— Paulie estava doente,
apanhara um resfriado, assim ficara em casa. Ele tem estado um pouco doente
todo o inverno.
Sonny muito
prontamente perguntou:
— Quantas vezes ele
ficou em casa nos últimos dois meses?
— Talvez três ou
quatro — respondeu Clemenza — Sempre perguntei a Freddie se ele queria outro
sujeito, mas ele disse que não. Não há motivo, nos dez últimos anos as coisas
têm andado bem calmas, você sabe.
— Sim — retrucou Sonny
— Eu o verei em casa de meu pai. Não deixe de trazer Paulie. Apanhe-o no
caminho. Não me importo quão doente ele esteja. Entendeu? — bateu com o
telefone no gancho sem esperar resposta.
Sua mulher estava
chorando silenciosamente. Sonny olhou para ela por um momento, depois disse com
voz áspera:
— Se alguém do meu
pessoal telefonar, diga-lhe para chamar-me na casa de meu pai pelo telefone
especial. Se for outra pessoa qualquer, você não sabe de nada. Se a mulher de
Tom tocar, diga-lhe que Tom demorará um pouco a chegar em casa, ele está a
serviço — ele ponderou por um momento. Viu o medo estampado no rosto dela e
disse impacientemente — Você não precisa ficar assustada, eu os quero aqui.
Faça o que eles lhe mandarem fazer. Se você quiser falar comigo, chame-me pelo
telefone especial do papai, mas não me telefone a menos que seja realmente
importante. E não se preocupe.
Em seguida, saiu de
casa.
Já era noite fechada e
o vento de dezembro soprava fortemente pela alameda. Sonny não tinha medo de
andar por ali no escuro. Todas as oito casas eram de propriedade de Don
Corleone. Na entrada da alameda, as duas casas de cada lado eram alugadas a
servidores da Família com suas próprias famílias e seus dependentes, homens
solteiros que viviam nos apartamentos do subsolo. Das outras seis casas que
formavam o resto do semicírculo, uma era habitada por Tom Hagen e sua família,
de sua propriedade, e a menor e menos pretensiosa, pelo próprio Don Corleone.
As outras três eram habitadas graciosamente por amigos aposentados de Don
Corleone com a condição de que seriam desocupadas quando ele o exigisse. A
alameda, aparentemente inofensiva, era uma fortaleza inexpugnável.
Todas as oito casas
eram equipadas com holofotes que iluminavam profusamente o terreno em volta
delas e tornavam impossível que alguém ali se emboscasse. Sonny atravessou a
rua para a casa do pai e entrou com a sua própria chave.
— Mãe, onde está você?
— gritou, e a mãe veio da cozinha ao seu encontro.
Atrás dela, elevou-se
o cheiro de pimentões fritos. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, Sonny
tomou-a pelo braço e fê-la sentar-se.
— Acabo de receber um
telefonema — disse — Agora não se preocupe. Papai está no hospital, está
ferido. Vista-se e apronte-se para ir para lá. Terei um carro e um motorista
para você dentro de pouco tempo. Entendido?
A mãe olhou para ele
firmemente por um momento, depois perguntou em italiano:
— Eles o balearam?
Sonny acenou com a
cabeça afirmativamente. A mãe baixou a cabeça por um momento. Em seguida,
voltou para a cozinha. Sonny a seguiu. Ele a viu desligar o gás sob a
frigideira cheia de pimentões e depois sair e subir para o quarto de dormir.
Sonny pegou alguns pimentões da frigideira e pão da cesta em cima da mesa e fez
um sanduíche, lambuzando-se com o azeite quente que lhe escorria pelos dedos.
Foi até a enorme sala do canto que era o escritório do pai e tirou o telefone
especial de uma caixa fechada a chave. O fone tinha sido especialmente
instalado e o aparelho constava no catálogo com nome e endereço falsos. A
primeira pessoa que Sonny chamou foi Luca Brasi. Não houve resposta. Depois
telefonou para o caporegime do Brooklyn, um home de indiscutível lealdade a Don
Corleone. O nome desse homem era Tessio. Sonny comunicou-lhe o que havia
acontecido e o que desejava. Tessio devia reunir cinqüenta homens de absoluta
confiança. Devia mandar guardas para o hospital e destacar homens para Long
Beach, a fim de trabalharem lá. Tessio perguntou:
— Eles pegaram
Clemenza também?
— Não quero usar o
pessoal de Clemenza agora — respondeu Sonny.
Tessio compreendeu imediatamente, fez uma pausa, e
depois falou:
— Desculpe-me, Sonny,
digo isso como seu pai diria. Não ande muito depressa. Não acredito que
Clemenza nos traiu.
— Obrigado — respondeu
Sonny — Também não penso, mas preciso tomar cuidado. Certo?
— Certo — retrucou
Tessio.
— Outra coisa — disse
Sonny — Meu irmão menor Mike está em Hanover, New Hampshire. Faça algumas
pessoas que nós conhecemos em Boston irem até lá e o trazerem aqui para casa
até que a situação se acalme. Vou telefonar para ele para que as espere. Também
estou medindo bem as coisas, justamente para ter certeza.
— Entendido —
respondeu Tessio — Estarei na casa de seu pai assim que tiver todas as coisas
providenciadas. Entendido? Você conhece meus rapazes, não é?
— Sim — retrucou
Sonny, e desligou o telefone.
Foi até um pequeno
cofre de parede e o abriu, dele tirando um livro com índice alfabético
encadernado em couro azul. Abriu-o e folheou-o até encontrar o lançamento que
estava procurando, o qual dizia: “Ray
Farrell 5.000 dólares véspera de Natal”. Isso era seguido de um número de
telefone. Sonny discou o número e perguntou:
— Farrell?
O homem do outro lado
da linha respondeu:
— Sim.
— Aqui é Santino
Corleone — disse Sonny — Quero que você me faça um favor e que seja já. Quero
que você me averigüe dois números de telefone e me forneça todas as chamadas
que eles receberam e todas as chamadas que fizeram durante os últimos três
meses — deu o número da casa de Paulie Gattto e o da casa de Clemenza. Depois
acrescentou — Isso é importante. Consiga-me isso antes de meia-noite e você
terá um Natal verdadeiramente extraordinário.
Antes de voltar a
considerar os fatos, Sonny deu mais um telefonema para o número de Luca Brasi.
Outra vez não houve resposta. Isso o preocupou, mas procurou esquecer logo.
Luca viria para casa assim que soubesse a notícia. Sonny reclinou-se na cadeira
giratória. Dentro de uma hora, a casa estaria apinhada de gente da Família e
ele teria de comunicar a todos eles o que fazer, e agora que finalmente tinha
tempo para pensar, podia avaliar como a situação era séria.
Era o primeiro desafio
à Família Corleone e ao poder dela em dez anos. Não havia dúvida de que
Sollozzo estava por trás disso, mas ele jamais se atreveria a tentar tal golpe
a não ser que tivesse o apoio de pelo menos uma das cinco grandes Famílias de
Nova York. E esse apoio devia ter vindo da Família Tattaglia. O que significava
uma guerra em grande escala ou um acordo imediato segundo as condições de
Sollozzo. Sonny riu sinistramente. O matreiro turco tinha planejado bem a
coisa, mas não tivera sorte. O velho estava vivo e assim haveria guerra. Com
Luca Brasi e os recursos da Família Corleone só podia haver um resultado. Mas
outra vez a preocupação importuna. Onde estava Luca Brasi?
Frase Curiosa: "Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère
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