quarta-feira, 13 de junho de 2012

Harry Potter e o Cálice de Fogo - Capítulo 18





— CAPÍTULO DEZOITO —
A Pesagem das Varinhas



QUANDO HARRY ACORDOU NO DOMINGO DE MANHÃ, levou algum tempo para se lembrar da razão pela qual se sentia tão infeliz e preocupado. Então, a lembrança da noite anterior o engolfou. Ele se sentou e afastou as cortinas da cama, com a intenção de falar com Rony, forçar Rony a acreditar nele, mas encontrou a cama do amigo vazia, obviamente já fora tomar o café da manhã.
Harry se vestiu e desceu a escada circular para a Sala Comunal. No instante em que apareceu, os colegas que já haviam terminado o café, mais uma vez, prorromperam em aplausos. A perspectiva de chegar no Salão Principal e encarar o restante dos colegas da Grifinória, todos tratando-o como uma espécie de herói, não era nada convidativa, mas era isso ou ficar ali encurralado pelos irmãos Creevey, que lhe acenavam freneticamente para que fosse se juntar a eles.
Assim, dirigiu-se resolutamente ao buraco do retrato, abriu-o, passou por ele e deu de cara com Hermione.
— Olá — exclamou ela, estendendo uma pilha de torradas que carregava em um guardanapo — Trouxe para você... quer dar uma volta?
— Boa ideia — respondeu Harry agradecido.
Os dois desceram, atravessaram depressa o Saguão, sem olhar para o Salão Principal, e pouco depois estavam caminhando pelos jardins em direção ao lago, onde o navio de Durmstrang, ancorado, se refletia na água.
Fazia uma manhã fria e os dois amigos não pararam de andar, comendo as torradas, enquanto Harry contava a Hermione exatamente o que acontecera depois que deixara a mesa da Grifinória, na noite anterior. Para seu imenso alívio, Hermione aceitou sua história sem duvidar.
— Bem, é claro que eu sabia que você não tinha se inscrito — disse a garota quando ele terminou de contar a cena na câmara vizinha ao Salão Principal — A cara que você fez quando Dumbledore o chamou! Mas a pergunta é, quem inscreveu você? Porque, Moody tem razão, Harry... acho que nenhum estudante teria sido capaz de fazer isso... nunca teria sido capaz de enganar o Cálice de Fogo nem de anular o feitiço de Dumbledore...
— Você viu o Rony? — interrompeu-a Harry.
Hermione hesitou.
— Hum... vi... estava tomando café.
— Ele ainda acha que eu me inscrevi?
— Bem... não, acho que não... não para valer — disse ela sem jeito.
— Que é que você está querendo dizer com esse não para valer?
— Ah, Harry, não está na cara? — respondeu Hermione desesperada — Ele está com ciúmes!
— Com ciúmes?— repetiu o garoto sem acreditar — Com ciúmes de quê? Será que ele quer fazer papel de babaca na frente da escola inteira?
— Olha — disse Hermione pacientemente — É sempre você que recebe todas as atenções, você sabe que é. Sei que não é sua culpa — acrescentou ela depressa, vendo Harry abrir a boca, indignado — Sei que você não quer isso... mas, bem... sabe, Rony tem todos aqueles irmãos competindo com ele em casa, e você é o melhor amigo dele e é realmente famoso, Rony é sempre deixado de lado quando as pessoas veem você, e ele aguenta isso sem reclamar, mas acho que mais essa vez foi demais...
— Ótimo — disse Harry com amargura — Realmente ótimo. Diga a ele que troco de lugar quando ele quiser. Diga a ele que o meu lugar está às ordens... gente olhando de boca aberta para a minha cicatriz para todo lado que vou...
— Não vou dizer nada a ele — falou Hermione com rispidez — Diga você mesmo, é o único jeito de resolver isso.
— Não vou correr atrás dele para fazer ele crescer! — disse Harry, tão alto que várias corujas pousadas em uma árvore próxima levantaram vôo assustadas — Talvez ele acredite que não estou me divertindo quando me partirem o pescoço ou...
— Isso não tem graça — disse Hermione baixinho — Não tem a menor graça — ela parecia extremamente ansiosa — Harry, estive pensando... você sabe o que precisamos fazer, não sabe? Depressa, assim que voltarmos ao castelo?
— Sei, tacar no Rony um bom chute na b...
— Escrever a Sirius. Você tem que contar a ele o que aconteceu. Ele pediu para você o manter informado de tudo que estivesse acontecendo em Hogwarts... é quase como se ele esperasse que uma coisa dessas fosse acontecer. Trouxe pergaminho e uma pena comigo...
— Corta essa! — exclamou Harry, olhando à volta para verificar se havia alguém ouvindo, mas os jardins estavam muito desertos — Ele voltou ao país só porque a minha cicatriz doeu. Provavelmente invadiria o castelo furioso se eu contasse que alguém me inscreveu no Torneio Tribruxo...
— Sirius iria gostar que você contasse a ele — disse Hermione com severidade — Ele vai descobrir de qualquer jeito...
— Como?
— Harry isso não vai poder ser abafado — disse ela seriamente — Esse torneio é famoso e você é famoso. Eu ficaria realmente surpresa se já não tiver saído alguma coisa no Profeta Diário sobre a sua entrada no torneio... você já aparece em metade dos livros que tratam do Você-Sabe-Quem, sabia. E Sirius iria preferir saber por você, eu sei que sim.
— Ok, ok, vou escrever — disse Harry atirando o último pedaço de torrada no lago.
Os dois ficaram parados observando o pão flutuar por um instante, antes de um grande tentáculo emergir e engoli-lo por baixo. Depois disso retornaram ao castelo.
— Vou usar a coruja de quem? — perguntou Harry, quando subiam as escadas — Ele me disse para não usar Edwiges outra vez.
— Pergunte ao Rony se você pode pedir emprestada...
— Não vou pedir nada ao Rony — disse o garoto decidido.
— Bom, então peça uma das corujas da escola, qualquer pessoa pode pedir — disse Hermione.
Os dois subiram até o Corujal.
Hermione deu a Harry um pedaço de pergaminho, uma pena e um tinteiro, depois saiu percorrendo as longas filas de poleiros, examinando as diferentes corujas, enquanto Harry se sentava encostado à parede e escrevia a carta.

Caro Sirius,

Você me disse para mantê-lo informado do que está acontecendo em Hogwarts, então aqui vai: não sei se você já sabe, mas vão realizar um Torneio Tribruxo este ano e, na noite de Sábado, fui escolhido para ser o Quarto Campeão. Não sei quem pôs o meu nome no Cálice de Fogo, mas não fui eu.
O outro campeão de Hogwarts é Cedrico Diggory da Lufa-Lufa.

Ele parou nesse ponto, pensativo. Teve vontade de dizer alguma coisa sobre a imensa carga de ansiedade que parecia ter se instalado em seu peito desde a noite anterior, mas não conseguiu descobrir como traduzir isso em palavras. Então, ele simplesmente molhou mais uma vez a pena no tinteiro e escreveu: “Espero que você esteja ok, e Bicuço também. Harry”.
— Terminei — disse ele a Hermione, levantando-se e sacudindo a palha das vestes.
Ao fazer isso, Edwiges veio voando para o seu ombro e estendeu a perna.
— Não posso usar você — disse Harry a ela, correndo o olhar pelas corujas da escola ao redor — Tenho que usar uma dessas...
Edwiges soltou um pio muito alto e levantou vôo tão inesperadamente que suas garras cortaram o ombro do garoto. E ficou de costas para Harry enquanto ele tentava prender a carta a uma grande coruja-de-igreja. Depois que a coruja partiu, Harry estendeu a mão para acariciar Edwiges, mas ela estalou o bico, furiosa, e voou para os caibros do telhado fora do seu alcance.
— Primeiro Rony, e agora você — disse Harry aborrecido — Não é minha culpa.

* * *

Se Harry pensou que as coisas iam melhorar uma vez que se acostumasse à idéia de ser campeão, o dia seguinte lhe provou que estava enganado. Ele não poderia evitar o resto da escola quando voltasse às aulas, e era visível que o resto da escola, tal como seus colegas da Grifinória, achava que Harry se inscrevera para o torneio.
Ao contrário dos garotos de sua Casa, porém, os outros não pareciam estar bem impressionados. Os da Lufa-Lufa, que normalmente conviviam em excelentes termos com os alunos da Grifinória, tinham se tornado bastante frios. Uma aula de Herbologia foi suficiente para demonstrar isso.
Ficou claro que os alunos da Lufa-Lufa achavam que Harry roubara a glória do seu campeão, um sentimento talvez exagerado pelo fato de que a Lufa-Lufa raramente conquistava alguma glória, e Cedrico era um dos poucos que lhe dera alguma, tendo uma vez derrotado a Grifinória no Quadribol.
Ernesto Macmillan e Justino Finch-Fletchley, com quem Harry habitualmente se dava tão bem, não falaram com ele, embora os três estivessem reenvasando bulbos saltadores na mesma caixa, embora tivessem rido de modo bem desagradável quando um dos bulbos saltadores escapuliu da mão de Harry e bateu com força no rosto do garoto.
Tampouco Rony estava falando com Harry. Hermione se sentou entre os dois, procurando a custo manter uma conversa, e embora os dois lhe respondessem normalmente, evitavam se olhar.
Harry achou que até a Profª. Sprout parecia estar distante com ele, mas, afinal, ela era a Diretora da Lufa-Lufa.
Em circunstâncias normais, o garoto teria ficado ansioso para ver Hagrid, mas a aula de Trato das Criaturas Mágicas significava também rever os alunos da Sonserina a primeira vez que estaria cara a cara com eles desde que se tornara campeão.
Previsivelmente, Malfoy chegou à cabana de Hagrid com o conhecido sorriso desdenhoso atarraxado no rosto.
— Ah, olha só, pessoal, é o Campeão — disse ele a Crabbe e a Goyle no instante em que se aproximou de Harry o bastante para ser ouvido — Trouxeram os cadernos de autógrafos? É melhor pedir um agora porque duvido que a gente vá vê-lo por muito tempo... metade dos campeões do Torneio Tribruxo morreram... quanto tempo você acha que vai durar, Potter? Aposto que só os primeiros dez minutos da Primeira Tarefa.
Crabbe e Goyle deram risadas para agradá-lo, mas Malfoy teve que parar por aí, porque Hagrid surgiu dos fundos da cabana, segurando uma torre instável de caixas, cada uma contendo um enorme explosivim. Para horror da turma, Hagrid começou a explicar que a razão pela qual os bichos tinham andado se matando era o excesso de energia acumulada, e que a solução era cada aluno pôr uma coleira em um bicho e levá-lo para passear um pouco. A única vantagem desse plano foi distrair Malfoy completamente.
— Levar essa coisa para passear um pouco? — repetiu ele enojado, olhando para dentro de uma das caixas — E onde exatamente você quer que a gente amarre a coleira? No ferrão, no rabo explosivo desse treco?
— No meio — respondeu Hagrid, fazendo uma demonstração — Hum... é, vocês talvez queiram calçar as luvas de couro de dragão, assim como uma precaução a mais. Harry, vem até aqui me ajudar com esse grandalhão...
A verdadeira intenção de Hagrid, no entanto, era falar com Harry longe do restante da turma. Ele esperou até todos terem se afastado com os explosivins, depois se virou para o garoto e disse, muito sério:
— Então... você vai competir, Harry. No torneio. Campeão da escola.
— Um dos Campeões — corrigiu-o Harry.
Os olhos de Hagrid, negros como besouros, pareciam muito ansiosos sob as sobrancelhas desgrenhadas.
— Não faz ideia de quem o meteu nessa fria, Harry?
— Você acredita então que não fui eu que me inscrevi? — perguntou Harry, escondendo com esforço o arroubo de gratidão que sentiu ao ouvir as palavras de Hagrid.
— Claro que acredito — resmungou Hagrid — Você diz que não foi você e eu acredito em você, e Dumbledore acredita em você.
— Eu bem gostaria de saber quem foi — disse o garoto com amargura.
Os dois olharam para os jardins, a turma agora andava espalhada por lá, toda ela em grande apuro. Os explosivins tinham alcançado uns noventa centímetros de comprimento e se tornado extremamente fortes. Já não eram sem casca e descolorados, tinham desenvolvido uma espécie de escudo acinzentado grosso e reluzente. Pareciam uma cruza de enormes escorpiões com caranguejos alongados, mas ainda não possuíam cabeças ou olhos reconhecíveis. Tinham-se tornado imensamente fortes e difíceis de controlar.
— Parece que eles estão se divertindo, não acha? — comentou Hagrid alegremente.
Harry presumiu que ele estivesse se referindo aos explosivins, porque seus colegas certamente não estavam, de vez em quando, com um alarmante estampido, a cauda de um deles explodia, fazendo-o saltar vários metros à frente e mais de um aluno estava sendo arrastado de bruços enquanto tentava desesperadamente se levantar.
— Ah, eu não sei, Harry — suspirou Hagrid de repente, voltando a encará-lo, com uma expressão preocupada no rosto — Campeão da escola... parece que tudo acontece com você, não é?
O garoto não respondeu.
É, parecia que tudo acontecia com ele... era mais ou menos o que Hermione dissera quando andavam pela margem do lago, e essa era a razão, segundo ela, pela qual Rony deixara de falar com ele.

* * *

Os dias que se seguiram foram alguns dos piores que Harry passara em Hogwarts. O mais próximo que ele chegara desse sentimento fora durante aqueles meses, no segundo ano, em que grande parte da escola suspeitara que era ele que atacava os colegas. Mas, então, Rony ficara do seu lado. Harry achava que poderia suportar a atitude do resto da escola se ao menos pudesse ter Rony outra vez como amigo, mas não ia tentar persuadi-lo a voltarem a se falar se ele não queria. Contudo, estava solitário com tanta animosidade ao redor dele.
Harry podia entender a atitude do pessoal da Lufa-Lufa, mesmo que não lhe agradasse, tinham um campeão próprio para apoiar. Não esperara menos do que agressões verbais dos alunos da Sonserina, era muito impopular entre eles e sempre o fora, pois ajudara a Grifinória a derrotá-los muitas vezes, tanto no Quadribol quanto no Campeonato Intercasas. Mas alimentara a esperança de que os colegas da Corvinal tivessem a bondade de apoiá-lo tanto quanto a Cedrico.
Mas se enganara. A maioria dos alunos daquela Casa parecia pensar que estivera desesperado para conquistar um pouco mais de fama fazendo o Cálice de Fogo aceitar seu nome. Depois, havia ainda o fato de Cedrico se enquadrar muito melhor no papel de campeão do que ele.
Excepcionalmente bonito, nariz reto, cabelos escuros e olhos cinzentos, era difícil dizer quem era o alvo de maior admiração ultimamente, se Cedrico ou Vitor Krum. Harry chegou a presenciar as mesmas garotas do sexto ano que se empenharam tanto para obter um autógrafo de Krum, suplicando a Cedrico para assinar suas mochilas na hora do almoço.
Entrementes não havia resposta de Sirius, Edwiges se recusava a se aproximar dele, a Profª. Sibila Trelawney andava predizendo sua morte com uma certeza ainda maior do que de costume, e ele estava se saindo tão mal nos Feitiços Convocatórios na aula do Prof. Flitwick que recebera dever de casa suplementar, a única pessoa a receber, à exceção de Neville.
— Na realidade não é tão difícil assim — Hermione tentou tranqüilizá-lo quando saíam da sala de Flitwick, a garota fizera os objetos dispararem pela sala em sua direção a aula inteira, como se ela fosse uma espécie de ímã exótico para espanadores, cestas de papel e lunascópios — Você simplesmente não se concentrou como devia...
— E por que teria sido isso? — perguntou Harry sombriamente, quando Cedrico Diggory passou por eles, cercado por um grande grupo de garotas que sorriam debilmente e olharam para Harry como se ele fosse um explosivim particularmente grande.
— Mesmo assim, deixa para lá, não é? Dois tempos de Poções à espera da gente hoje à tarde...
A aula de Poções sempre fora uma experiência terrível, mas ultimamente chegava quase a ser uma tortura. Ficar trancado em uma masmorra durante uma hora e meia com Snape e os alunos da Sonserina, todos decididos a castigar Harry o máximo por se atrever a ser campeão da escola, era a coisa mais desagradável que ele poderia imaginar. Já aturara uma sexta-feira, com Hermione sentada ao seu lado, entoando entre dentes “Não ligue, não ligue, não ligue”, e ele não conseguia ver por que esta seria melhor.
Quando ele e a amiga chegaram à porta da masmorra de Snape depois do almoço, encontraram os alunos da Sonserina esperando à porta, cada um deles usando um distintivo no peito. Por um instante delirante, Harry pensou que fossem distintivos do F.A.L.E., mas logo viu que todos continham a mesma mensagem em letras vermelhas luminosas, que brilhavam vivamente no corredor subterrâneo mal iluminado.
“Apóie CEDRICO DIGGORY o VERDADEIRO campeão de Hogwarts”.
— Gostou, Potter? — perguntou Malfoy em voz alta, quando Harry se aproximou — E isso não é só o que eles fazem, olha só!
E apertou o distintivo contra o peito, a mensagem desapareceu e foi substituída por outra, que emitia uma luz verde:
“POTTER FEDE”
Os alunos da Sonserina rolaram de rir. Cada um deles apertou o distintivo também, até que a mensagem POTTER FEDE estivesse brilhando vivamente a toda volta do garoto. Ele sentiu uma onda de calor subir pelo pescoço e o rosto.
— Ah, engraçadíssimo — disse Hermione com sarcasmo a Pansy Parkinson e sua turma de garotas da Sonserina, que riam mais gostosamente do que quaisquer outros — É realmente engraçado.
Rony estava parado encostado à parede com Dino e Simas. Ele não estava rindo, mas tampouco defendia Harry.
— Quer um, Granger? — perguntou Malfoy, oferecendo um distintivo a Hermione — Tenho um monte. Mas não toque na minha mão agora, acabei de lavá-la, sabe, e não quero que uma sangue ruim a suje.
Uma parte da raiva que Harry vinha sentindo havia dias pareceu romper um dique em seu peito. Ele apanhou a varinha antes que conseguisse pensar no que estava fazendo.
As pessoas em volta se afastaram correndo, recuaram pelo corredor.
— Harry! — gritou Hermione em tom de aviso.
— Anda, Potter, usa — disse Malfoy em voz baixa, puxando a própria varinha — Moody não está aqui para proteger você agora, use, se tiver peito...
Por uma fração de segundos, eles se encararam nos olhos, depois, exatamente ao mesmo tempo, os dois agiram.
Furnunculus! — berrou Harry.
Densaugeo! — berrou Malfoy.
Feixes de luz saíram de cada varinha, colidiram em pleno ar e ricochetearam em ângulo, o de Harry atingiu Goyle no rosto e, o de Malfoy, Hermione. Goyle berrou e levou as mãos ao nariz, de onde começaram a brotar furúnculos enormes e feios, a garota, chorando de dor, apertou a boca.
— Mione! — Rony correu para ela para ver o que acontecera.
Harry se virou e viu Rony tirando a mão de Hermione do rosto. Não era uma visão agradável. Os dentes da frente da garota, que já eram maiores do que o normal, cresciam agora a um ritmo assustador, a cada minuto a garota se parecia mais com um castor, pois seus dentes se alongavam, ultrapassavam o lábio inferior em direção ao queixo. Tomada de pânico, ela os apalpou e soltou um grito aterrorizado.
— E que barulheira é essa? — perguntou uma voz suave e letal.
Snape chegara. Os alunos da Sonserina gritavam tentando dar explicações. Snape apontou um dedo longo e amarelado para Malfoy e disse:
— Explique.
— Potter me atacou, professor...
— Atacamos um ao outro ao mesmo tempo! — gritou Harry.
—... e ele atingiu Goyle, olhe...
Snape contemplou Goyle, cujo rosto agora lembrava a ilustração de um livro doméstico sobre cogumelos venenosos.
— Ala Hospitalar, Goyle — disse o professor calmamente.
— Malfoy atingiu Hermione! — disse Rony — Olhe!
O garoto obrigou Hermione a mostrar os dentes a Snape, ela se esforçava ao máximo para escondê-los com as mãos, embora isso fosse difícil, porque agora tinham ultrapassado o seu decote. Pansy Parkinson e as outras garotas da Sonserina se dobravam de rir em silêncio, apontando para Hermione pelas costas de Snape. Snape olhou friamente para Hermione e disse:
— Não vejo diferença alguma.
Hermione deixou escapar um lamento, seus olhos se encheram de lágrimas, ela deu meia-volta e correu, correu pelo corredor afora e desapareceu.
Foi uma sorte, talvez, que Harry e Rony tenham começado a gritar com Snape ao mesmo tempo, sorte que suas vozes tenham ecoado tão forte no corredor de pedra, porque, na confusão de sons, ficou impossível o professor ouvir exatamente os nomes de que o xingaram. Mas ele captou o sentido.
— Vejamos — disse, na voz mais suave do mundo — Cinqüenta pontos a menos para a Grifinória e uma detenção para cada um, Potter e Weasley. Agora, entrem ou será uma semana de detenções.
Os ouvidos de Harry zumbiram. A injustiça daquilo o fez desejar amaldiçoar Snape, desintegrá-lo em mil pedacinhos nojentos. Ele passou pelo professor e se dirigiu com Rony para o fundo da masmorra, largando com força a mochila sobre a carteira. Rony tremia de raiva também, por um instante, pareceu que tudo voltara ao normal entre os dois, mas, em vez disso, Rony se virou e se sentou entre Dino e Simas, deixando Harry sozinho na carteira.
Do lado oposto da masmorra, Malfoy deu as costas para Snape e comprimiu o distintivo, rindo-se, o POTTER FEDE lampejou mais uma vez pela sala.
Harry se sentou e ficou encarando Snape quando a aula começou, visualizando coisas horríveis acontecendo ao professor... se ao menos ele soubesse executar uma Maldição Cruciatus... atiraria Snape no chão, de costas, como aquela aranha, contorcendo-se e estrebuchando.
— Antídotos! — disse Snape, abrangendo a turma toda com o olhar, seus olhos negros e frios, brilhando de forma desagradável — Vocês já tiveram tempo de pesquisar suas fórmulas. Quero que as preparem cuidadosamente e depois vamos escolher alguém em quem experimentar...
Os olhos de Snape encontraram os de Harry e o garoto percebeu o que vinha a caminho. O professor ia envenená-lo. Harry se imaginou agarrando o caldeirão, correndo até a frente da turma e tacando o caldeirão na cabeça oleosa de Snape...
Então uma batida na porta da masmorra invadiu os pensamentos de Harry.
Era Colin Creevey; o garoto entrou discretamente na sala, sorrindo para Harry, e dirigiu-se à escrivaninha de Snape diante da turma.
— Que foi? — perguntou Snape com rispidez.
— Por favor, professor, me mandaram levar Harry Potter lá em cima.
Do alto do seu nariz de gancho, Snape baixou os olhos para Colin, cujo sorriso desapareceu do seu rosto pressuroso.
— Potter tem mais uma hora de Poções para completar — disse Snape friamente — Subirá quando a aula terminar.
Colin corou.
— Professor, o Sr. Bagman é quem está chamando — disse nervoso — Todos os campeões têm que ir, acho que querem tirar fotos...
Harry teria dado tudo que possuía para impedir Colin de dizer aquelas últimas palavras. Arriscou um relanceio para Rony, mas o amigo contemplava o teto decidido.
— Muito bem, muito bem — retorquiu Snape — Potter deixe o seu material, quero que volte aqui depois para testar o seu antídoto.
— Por favor, professor, ele tem que levar o material — disse Colin com uma vozinha esganiçada — Todos os Campeões...
— Muito bem! — disse Snape — Potter, apanhe sua mochila e desapareça da minha frente!
Harry atirou a mochila por cima do ombro, se levantou e se encaminhou para a porta. Ao passar pelas carteiras dos alunos da Sonserina, o POTTER FEDE lampejou para ele de todas as direções.
— É fantástico, não é, Harry? — disse Colin, começando a falar no instante em que Harry fechou a porta da masmorra depois de passarem — Mas não é? Você ser Campeão?
— É, realmente fantástico — disse Harry, desalentado, quando começaram a subir a escada para o Saguão de Entrada — Para que é que eles querem fotos, Colin?
— O Profeta Diário, acho!
— Ótimo — disse Harry, sem emoção — Exatamente do que estou precisando. Mais publicidade.
— Boa sorte! — disse Colin, quando chegaram à sala certa.
Harry bateu na porta e entrou.
Era uma sala de aula relativamente pequena, a maior parte das carteiras fora afastada para o fundo do aposento, deixando um amplo espaço no meio: três delas, no entanto, tinham sido enfileiradas lado a lado, diante do quadro-negro e cobertas com uma toalha de veludo.
Cinco cadeiras tinham sido arrumadas atrás das mesas cobertas de veludo e Ludo Bagman estava sentado em uma delas conversando com uma bruxa que Harry nunca vira antes e que usava vestes carmim. Vítor Krum estava em pé, pensativo, a um canto, como de costume, sem falar com ninguém. Cedrico e Fleur estavam entretidos conversando, a garota parecia muito mais feliz do que Harry a vira até então, não parava de jogar a cabeça para trás de modo que os cabelos longos e prateados refletiam a luz. Um homem barrigudo, segurando uma grande máquina fotográfica que soltava uma leve fumaça, observava Fleur pelo canto do olho.
Bagman de repente viu Harry, levantou-se depressa e foi ao encontro do garoto.
— Ah, aqui está ele. O Campeão número quatro! Entre Harry, entre... não tem com o que se preocupar, é apenas a Cerimônia de Pesagem das Varinhas, os outros juízes estão chegando...
— Pesagem das Varinhas? — repetiu Harry, nervoso.
— Temos que verificar se as varinhas estão em perfeitas condições de funcionamento, sem problemas, entende, porque são os instrumentos mais importantes nas tarefas que vocês têm pela frente — disse Bagman — O perito está lá em cima com Dumbledore, agora. E depois vai haver uma pequena sessão de fotos. Esta é Rita Skeeter — acrescentou, indicando com um gesto a bruxa de vestes carmim — Está escrevendo um pequeno artigo sobre o torneio para o Profeta Diário...
— Talvez não seja tão pequeno assim, Ludo — disse ela, com os olhos em Harry.
Os cabelos da repórter estavam arrumados em cachos caprichosos e curiosamente rígidos que contrastavam estranhamente com seu rosto de queixo volumoso. Ela usava óculos com aros de pedrinhas. Os dedos grossos que seguravam uma bolsa de couro de crocodilo terminavam em unhas de cinco centímetros de comprimento, pintadas de escarlate.
— Gostaria de saber se poderia dar uma palavrinha com Harry antes de começarmos? — pediu ela a Bagman, mas ainda com os olhos fixos em Harry — O Campeão mais novo, entende... para dar um toque pitoresco?
— Certamente! — exclamou Bagman — Isto é, se Harry não fizer objeção?
— Hum... — disse Harry.
— Beleza — respondeu Rita Skeeter e, num segundo, seus dedos com garras vermelhas tinham segurado com surpreendente firmeza o braço do garoto, conduziam-no para fora da sala e abriam uma porta próxima — Não queremos ficar lá dentro com todo aquele barulho — disse ela —Vejamos... ah, sim, aqui está bom e aconchegante.
Era um armário de vassouras.
Harry arregalou os olhos para a bruxa.
— Vamos querido, certo, ótimo — repetiu outra vez, encarapitou-se precariamente sobre um balde virado de boca para baixo, fez Harry sentar -se em uma caixa de papelão e fechou a porta, mergulhando-os na escuridão — Vejamos agora...
Rita abriu a bolsa de crocodilo e tirou um punhado de velas, que acendeu com um aceno da varinha, e colocou-as suspensas no ar, de modo a iluminar o que faziam.
— Você não se importa, Harry, se eu usar uma pena de repetição rápida? Assim fico livre para conversar com você normalmente...
— Uma o quê? — perguntou Harry.
O sorriso de Rita se abriu. Harry contou três dentes de ouro.
Mais uma vez ela meteu a mão na bolsa e tirou uma pena comprida verde-ácido e um rolo de pergaminho, que abriu entre os dois em cima de uma caixa de Removedor Mágico Multiuso da Sra. Skower. Ela levou a ponta da pena verde à boca, chupou-a por um instante com cara de quem estava gostando, depois colocou-a em pé sobre o pergaminho, onde a pena ficou equilibrada tremendo ligeiramente.
— Teste... meu nome é Rita Skeeter, repórter do Profeta Diário.
Harry olhou depressa para a pena. No momento em que Rita falara, ela começou a escrever, deslizando sobre o pergaminho.
— A atraente Rita Skeeter, 43 anos, cuja pena infrene já esvaziou muitas reputações infladas... beleza — disse Rita Skeeter, mais uma vez, e rasgou a parte escrita do pergaminho, amassou-a e meteu-a na bolsa.
Inclinou-se então para Harry e disse:
— Então, Harry... o que fez você decidir entrar no Torneio Tribruxo?
— Hum... — disse Harry outra vez, mas foi distraído pela pena.
Embora não estivesse falando, ela continuava a correr pelo pergaminho e seguindo-a o garoto pôde ler uma nova frase:
Uma feia cicatriz, lembrança de um passado trágico, desfigura o rosto, de outra forma encantador, de Harry Potter, cujos olhos...
— Não dê atenção à pena, Harry — disse Rita Skeeter com firmeza.
Relutante, Harry ergueu os olhos para ela.
— Agora, por que decidiu entrar para o torneio, Harry?
— Eu não entrei — disse Harry — Não sei como foi que o meu nome foi parar no Cálice de Fogo. Eu não o pus lá.
A repórter ergueu a sobrancelha fortemente delineada.
— Ora, Harry, não precisa ter medo de entrar numa fria. Todos sabemos que você não deveria ter se inscrito. Mas não se preocupe com isso. Os nossos leitores adoram rebeldias.
— Mas eu não me inscrevi — repetiu Harry — Não sei quem...
— Como é que você se sente com relação às tarefas que o aguardam? — perguntou Rita Skeeter — Excitado? Nervoso?
— Ainda não pensei realmente... é, nervoso, suponho — disse Harry.
Ao falar suas entranhas reviraram desconfortavelmente.
— Houve campeões que morreram no passado, não é? — disse Rita com eficiência  — Você chegou a pensar nisso?
— Bom... dizem que vai ser muito mais seguro este ano.
A pena correu veloz pelo pergaminho entre os dois, para frente e para trás, como se estivesse patinando.
— Naturalmente, você já viu a morte cara a cara antes, não é? — perguntou ela, observando-o atentamente. — Como você diria que isso o afetou?
— Hum — disse Harry uma terceira vez.
— Você acha que o trauma do passado o deixou desejoso de se pôr à prova? De fazer jus ao seu nome? Você acha que talvez tenha se sentido tentado a se inscrever no Torneio Tribruxo por que...
— Eu não me inscrevi — disse Harry, começando a se sentir irritado.
— Você tem alguma lembrança dos seus pais? — perguntou Rita Skeeter, abafando a resposta do garoto.
— Não.
— Como você acha que eles se sentiriam se soubessem que você ia competir no Torneio Tribruxo? Orgulhosos? Preocupados? Zangados?
Harry estava se sentindo realmente aborrecido agora. Como é que ele ia saber o que seus pais estariam sentindo se fossem vivos? Percebeu que a jornalista o observava muito atentamente. De cara amarrada, ele evitou seu olhar e baixou os olhos para as palavras que a pena acabara de escrever:
As lágrimas marejaram aqueles olhos espantosamente verdes quando a nossa conversa se voltou para os pais de quem ele mal se lembra.
— Eu NÃO estou com lágrimas nos olhos! — disse Harry em voz alta.
Antes que Rita Skeeter pudesse dizer uma palavra, a porta do armário de vassouras se escancarou. Harry olhou à volta, piscando para a claridade.
Alvo Dumbledore estava parado ali, contemplando os dois apertados no armário.
— Dumbledore!— exclamou Rita Skeeter, parecendo encantada, mas Harry reparou que a pena e o pergaminho tinham repentinamente desaparecido da caixa de Removedor Mágico e os dedos da jornalista com garras nas pontas fechavam apressadamente a bolsa de crocodilo — Como vai? — disse ela, erguendo-se e estendendo uma das mãos grandes e masculinas a Dumbledore — Espero que tenha visto o meu artigo durante o verão sobre a conferência da Confederação Internacional dos Bruxos?
— Encantadoramente maldoso — respondeu o diretor com os olhos cintilantes — Gostei principalmente da descrição que fez de mim como um debilóide ultrapassado.
A repórter não pareceu sequer remotamente desconcertada.
— Eu só estava tentando mostrar que algumas de suas idéias são um tanto antiquadas, Dumbledore, e que muitos bruxos nas ruas...
— Ficarei encantado de ouvir o raciocínio que fundamentou a grosseria, Rita — disse Dumbledore, com uma reverência cortês e um sorriso — Mas receio que tenhamos de discutir esse assunto mais tarde. A Pesagem das Varinhas vai começar e não pode ser realizada se um dos campeões estiver escondido em um armário de vassouras.
Satisfeitíssimo de se afastar de Rita Skeeter, Harry correu de volta à sala.
Os outros campeões estavam agora nas cadeiras junto à porta, e ele se sentou depressa ao lado de Cedrico, com os olhos na mesa coberta de veludo, onde agora havia quatro dos cinco juízes: o Prof. Karkaroff, Madame Maxime, o Sr. Crouch e Ludo Bagman.
Rita Skeeter se acomodou a um canto, Harry a viu tirar discretamente o pergaminho da bolsa, abri-lo sobre um joelho, chupar a ponta da pena de repetição rápida e equilibrá-la mais uma vez sobre o pergaminho.
— Gostaria de lhes apresentar o Sr. Olivaras — disse Dumbledore, ocupando seu lugar à mesa dos juízes, e se dirigindo aos campeões — Ele vai verificar suas varinhas para garantir que estejam em boas condições antes do torneio.
Harry olhou para os lados e, com um choque de surpresa, viu um velho bruxo com grandes olhos azul-claros parado discretamente à janela. Harry já encontrara o Sr. Olivaras antes, era o fabricante de quem Harry comprara a própria varinha, havia mais de três anos no Beco Diagonal.
— Mademoiselle Delacour, poderia vir até aqui primeiro, por favor? — disse o Sr. Olivaras postando-se no espaço vazio no centro da sala.
Fleur Delacour fez o que o bruxo pedia e lhe entregou a varinha.
— Humm... — disse ele.
O Sr. Olivaras girou a varinha entre os dedos longos como se fosse um bastão, e ela emitiu várias faíscas rosas e douradas. Depois aproximou-a dos olhos e a examinou atentamente.
— É — disse baixinho — Vinte e quatro centímetros... inflexível... Jacarandá... e contém... Meu Deus...
Um fio de cabelos de Veela — disse Fleur — Uma das minhas avós.
Então Fleur era em parte Veela, pensou Harry, anotando a informação mentalmente para contar a Rony... depois se lembrou de que Rony não estava falando com ele.
— Confere — disse o Sr. Olivaras — Confere, eu nunca usei cabelo de Veela, naturalmente. Acho que produz varinhas temperamentais... no entanto, o seu a seu dono, se ela lhe serve...
O Sr. Olivaras correu os dedos pela varinha, aparentemente a procura de arranhões ou saliências; então murmurou “Orchideous!” e saiu um ramo de flores da ponta da varinha.
— Muito bem, muito bem, está em ótimas condições de funcionamento — disse o Sr. Olivaras, recolhendo as flores e oferecendo-as a Fleur juntamente com a varinha — Sr. Diggory, agora o senhor.
Fleur retornou delicadamente à sua cadeira e sorriu para Cedrico quando o garoto passou.
— Ah, esta é uma das minhas, não? — disse o Sr. Olivaras, com muito mais entusiasmo, quando Cedrico lhe entregou a varinha — É, lembro-me bem dela. Contém um único pelo da cauda de um unicórnio macho particularmente belo... devia ter um metro e setenta, quase me deu uma chifrada quando lhe arranquei um fio da cauda. Trinta centímetros... Freixo... agradavelmente flexível. Está em boas condições... o senhor cuida dela periodicamente?
— Lustrei-a noite passada — disse Cedrico sorrindo.
Harry olhou a própria varinha. Dava para ver marcas de dedos em toda a extensão. Ele agarrou um bocado de pano das vestes na altura dos joelhos e tentou limpá-la discretamente. Várias faíscas douradas voaram de sua ponta. Fleur Delacour lhe lançou um olhar condescendente e ele desistiu.
O Sr. Olivaras disparou uma sequência de anéis de fumaça prateada pela sala da ponta da varinha de Cedrico, declarando-se satisfeito e, em seguida, disse:
— Sr. Krum, por favor.
Vítor Krum, com o corpo curvado, os ombros redondos e os pés para fora, levantou-se e foi até o Sr. Olivaras. Entregou a varinha e ficou parado, de cara fechada e mãos nos bolsos das vestes.
— Humm — disse o Sr. Olivaras — É uma criação de Gregorovitch, a não ser que eu esteja enganado. Um excelente fabricante de varinhas, embora o estilo nunca seja bem o que eu... contudo...
Ergueu a varinha e examinou-a minuciosamente, revirando-a varias vezes diante dos olhos.
— É... Bétula e corda de coração de dragão? — perguntou a Krum, que confirmou com a cabeça — Um pouco mais grossa do que se vê normalmente... bastante rígida... vinte e seis centímetros... Avis!
A varinha de bétula produziu um estampido como o de uma pistola e um bando de passarinhos chilreantes saiu voando de sua ponta, pela janela aberta, em direção ao sol desbotado.
— Ótimo — exclamou o Sr. Olivaras, devolvendo a varinha a Krum — Resta agora... o Sr.Potter.
Harry se levantou e passou por Krum para chegar ao Sr. Olivaras. E entregou sua varinha.
— Aaah, sim — disse o perito, seus olhos azul-claros repentinamente brilhando — Sim, sim, sim. Lembro-me muito bem.
Harry se lembrava também. Lembrava-se como se tivesse sido ainda ontem... há quatro verões, no seu décimo primeiro aniversário, ele entrara na loja do Sr. Olivaras com Hagrid para comprar uma varinha. O homem tirara suas medidas e em seguida começara a lhe dar varinhas para experimentar. Harry teve a impressão de que desprezara todas as varinhas da loja, até finalmente encontrar a que lhe servia, aquela que era feita de Azevinho, vinte e oito centímetros e continha uma única pena da cauda de uma fênix. O Sr. Olivaras se mostrara muito surpreso que Harry fosse tão compatível com essa varinha.
— Curioso — dissera ele —... Curioso — somente quando o garoto perguntou o que era curioso, o bruxo explicara que a pena de fênix na varinha de Harry viera do mesmo pássaro que fornecera a alma da varinha de Lorde Voldemort.
Harry nunca compartira essa informação com ninguém. Gostava muito de sua varinha e, por ele, a afinidade dela com a varinha de Voldemort era algo imutável, do mesmo jeito que não podia mudar o fato de ser parente da Tia Petúnia. Contudo, ele realmente desejou que o Sr. Olivaras não fosse contar isso aos presentes. Tinha a estranha sensação de que a pena de repetição rápida de Rita Skeeter poderia explodir de excitação se isso acontecesse.
O Sr. Olivaras passou mais tempo examinando a varinha de Harry do que a dos demais. Por fim, porém, fez jorrar uma fonte de vinho da varinha e devolveu-a a Harry, anunciando que o objeto continuava em perfeitas condições.
— Muito obrigado a todos — disse Dumbledore, levantando-se da mesa dos juízes — Vocês podem voltar às suas aulas agora, ou talvez seja mais rápido descerem logo para jantar, já que elas estão prestes a terminar...
Achando que finalmente alguma coisa dera certo naquele dia, Harry se levantou para sair, mas o homem com a máquina fotográfica preta deu um pulo da cadeira e pigarreou.
— Fotos, Dumbledore, fotos — exclamou Bagman, excitado — Todos os juízes e campeões. Que é que você acha, Rita?
— Hum... certo, vamos fazer essas primeiras — respondeu a repórter, cujos olhos estavam fixos em Harry outra vez — E depois talvez umas fotos individuais.
As fotos consumiram muito tempo. Madame Maxime deixava todos na sombra sempre que se levantava e o fotógrafo não conseguia recuar o suficiente para enquadrá-la, por fim, ela teve que se sentar e os demais se postarem ao seu redor. Karkaroff não parava de torcer o cavanhaque com o dedo para lhe acrescentar mais um cacho, Krum, que Harry imaginaria estar acostumado a esse tipo de coisa, procurava se esconder atrás do grupo. O fotógrafo parecia interessadíssimo em colocar Fleur na frente, mas Rita corria a toda hora e arrastava Harry para lhe dar maior destaque. Depois, ela insistiu que se fizessem fotos separadas dos campeões.
E, finalmente, todos foram liberados.
Harry desceu para jantar. Hermione não estava lá, ele supôs que a amiga continuasse na Ala Hospitalar consertando os dentes. Ele comeu sozinho na ponta da mesa, depois voltou à Torre da Grifinória, pensando em todos os deveres suplementares sobre Feitiços Convocatórios que precisava fazer.
Em cima no dormitório, encontrou Rony.
— Você recebeu uma coruja — disse ele bruscamente, no instante em que Harry entrou.
Apontou para o travesseiro do amigo. A coruja-de-igreja da escola esperava-o ali.
— Ah... certo — disse Harry.
— E temos que cumprir as detenções amanhã à noite na masmorra do Snape.
Saiu, então, do quarto sem olhar para Harry.
Por um instante o garoto refletiu se devia ir atrás do amigo, não tinha bem certeza se queria falar com ele ou lhe dar um soco, as duas opções pareciam igualmente atraentes, mas a tentação de ler a resposta de Sirius foi mais forte.
Harry aproximou-se da coruja, soltou a carta da perna da ave e abriu-a.



Harry,
Não posso dizer tudo que gostaria em uma carta, é arriscado demais se a coruja for interceptada, precisamos conversar cara a cara. Você pode dar um jeito de estar junto à lareira na Torre da Grifinória à uma hora da manhã, no dia 22 de Novembro?
Sei melhor do que ninguém que você é capaz de se cuidar e, enquanto estiver perto de Dumbledore e Moody, acho que ninguém conseguirá lhe fazer mal. Porém, parece que alguém está tendo algum sucesso. Inscrever você nesse torneio deve ter sido muito arriscado, principalmente debaixo do nariz de Dumbledore.
Fique vigilante, Harry.
Continuo querendo saber de tudo que acontecer de anormal. Mande uma resposta sobre o dia 22 de Novembro o mais cedo que puder.

Sirius








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