— CAPÍTULO ONZE —
O Clube Dos Duelos
HARRY ACORDOU NO DOMINGO
DE MANHÃ e deparou com o dormitório iluminado pela luz do sol de inverno e seu
braço curado, embora ainda muito duro. Sentou-se depressa e olhou para a cama
de Colin, mas tinham-na escondido com a cortina alta por trás da qual Harry
trocara de roupa no dia anterior.
Ao
ver que o paciente acordara, Madame Pomfrey entrou apressada, trazendo uma
bandeja com o café da manhã e então começou a dobrar e a esticar o braço e os
dedos dele.
—
Tudo em ordem — disse enquanto ele comia mingau, desajeitado, com a mão
esquerda — Quando terminar de comer pode ir.
Harry
se vestiu o mais rápido que pôde e correu a Torre da Grifinória, doido para
contar a Rony e Hermione o que acontecera com Colin e Dobby, mas não os
encontrou lá. Saiu de novo a procurá-los, imaginando aonde poderiam ter
precisado ir, e se sentindo um pouco magoado que os amigos não estivessem interessado
se ele recuperara ou não os ossos.
Quando
passou pela porta da biblioteca, Percy Weasley ia saindo, com a cara muito mais
animada do que na última vez que tinham se encontrado.
— Ah,
alô, Harry. Vôo excelente ontem, realmente excelente. Grifinória acabou de
assumir a liderança na disputa da Taça das Casas, você marcou cinqüenta pontos!
—
Você não viu o Rony ou a Mione, viu? — perguntou Harry.
— Não
— respondeu Percy, o sorriso desaparecendo do rosto — Espero que Rony não
esteja metido em outro banheiro de meninas...
Harry
forçou uma risada, esperou Percy desaparecer de vista e em seguida rumou direto
para o banheiro de Murta Que Geme. Não conseguindo entender por que Rony e
Hermione estariam lá de novo e, depois de se certificar que nem Filch nem
outros monitores andavam por ali, abriu a porta e ouviu vozes que vinham de um
boxe trancado.
— Sou
eu — disse, fechando a porta.
Ouviu
um estrépito, água se espalhando e uma exclamação no interior de um boxe e
vislumbrou os olhos de Mione espiando pelo buraco da fechadura.
—
Harry, você nos deu um baita susto, entre, como está o seu braço?
—
Ótimo — respondeu Harry espremendo-se dentro do boxe.
Havia
um velho caldeirão encarrapitado em cima do vaso e uma série de estalos
informaram a Harry que os amigos tinham acendido um fogo embaixo. Conjurar
fogos portáteis, à prova de água, era uma especialidade de Hermione.
—
Pretendíamos ir ao seu encontro, mas decidimos começar a Poção Polissuco —
explicou Rony enquanto Harry, com dificuldade, tornava a trancar o boxe —
Decidimos que este era o lugar mais seguro para escondê-la.
Harry
começou a contar aos dois o que acontecera com Colin, mas Hermione o
interrompeu.
— Já
sabemos, ouvimos a Profª. McGonagall contar ao Prof. Flitwick hoje de manhã.
Foi por isso que decidimos começar...
—
Quanto mais cedo a gente obtiver uma confissão de Draco, melhor — rosnou Rony —
Sabem o que é que eu penso? Ele estava tão furioso depois do jogo de Quadribol,
que descontou no Colin.
— Mas
há outra coisa — disse Harry, observando Hermione picar feixes de sanguinárias
e jogá-los na poção — Dobby veio me visitar no meio da noite.
Rony
e Hermione ergueram a cabeça, espantados. Harry contou tudo que Dobby
dissera... ou deixara de contar a ele. Os dois escutaram boquiabertos.
— A
Câmara Secreta já foi aberta antes? — exclamou Hermione.
—
Isso esclarece tudo — disse Rony em tom triunfante — Lúcio Malfoy deve ter
aberto a Câmara quando esteve aqui na escola e agora ensinou ao nosso querido
Draco como fazer o mesmo. É óbvio. Mas eu bem gostaria que Dobby tivesse lhe
dito que tipo de monstro tem lá dentro. Quero saber como é que ninguém reparou
nele rondando a escola.
—
Talvez ele consiga ficar invisível — disse Hermione, empurrando as sanguessugas
para o fundo do caldeirão — Ou talvez possa se disfarçar, fingir que é uma
armadura ou uma coisa qualquer, já li a respeito de vampiros-camaleões...
—
Você lê demais, Hermione — disse Rony, despejando os hemeróbios mortos por cima
das sanguessugas.
Amassou
o saco vazio e olhou para Harry.
—
Então o Dobby impediu a gente de pegar o trem e quebrou o seu braço... — ele
abanou a cabeça — Sabe de uma coisa, Harry? Se ele não parar de tentar salvar a
sua vida, vai acabar matando você.
A
notícia de que Colin Creevey fora atacado e agora se achava deitado como morto
na Ala Hospitalar espalhou-se pela escola inteira até a manhã de Domingo. A
atmosfera carregou-se de boatos e suspeitas. Os alunos do primeiro ano agora
andavam pelo castelo em grupos unidos, como se tivessem medo de ser atacados,
caso se aventurassem a andar sozinhos.
Gina
Weasley, que se sentava ao lado de Colin Creevey na aula de Feitiços, parecia
atormentada, mas Harry achou que era porque Fred e Jorge estavam tentando
animá-la do jeito errado. Revezavam-se para assaltá-la pelas costas, cheios de
pêlos e pústulas. Só pararam quando Percy, apoplético, ameaçou escrever a Sra.
Weasley e contar que Gina estava tendo pesadelos.
Nesse
meio tempo, escondido dos professores, assolava a escola um próspero comércio
de talismãs, amuletos e outras mandingas protetoras. Neville Longbottom já
comprara um cebolão verde e malcheiroso, um cristal pontiagudo e púrpura e um
rabo podre de lagarto, quando os outros alunos da Grifinória lhe lembraram que
ele não corria perigo: era puro sangue e, portanto, uma vítima pouco provável.
—
Eles foram atrás de Filch primeiro — disse Neville, seu rosto redondo cheio de
medo — E todo mundo sabe que sou quase uma aberração.
Na
segunda semana de Dezembro a Profª. McGonagall veio, como sempre fazia, anotar
os nomes dos alunos que continuariam na escola durante as festas de Natal.
Harry, Rony e Hermione assinaram a lista. Ouviram dizer que Draco ia ficar
também, o que acharam muito suspeito. As festas seriam o momento perfeito para
usar a Poção Polissuco e tentar extrair do garoto uma confissão.
Infelizmente
a poção ainda estava na metade. Precisavam do chifre de bicórnio e da pele de
ararambóia, e o único lugar onde poderiam obtê-los era no estoque particular de
Snape. Pessoalmente Harry achava que era preferível encarar o monstro lendário
da Sonserina a deixar Snape apanhá-lo assaltando sua sala.
— O
que precisamos — disse Hermione, eficiente, quando se aproximava a aula dupla
de Poções na quinta-feira à tarde — É de uma distração. Então um de nós pode
entrar escondido na sala de Snape e tirar o que for preciso.
Harry
e Rony olharam para ela, nervosos.
—
Acho que é melhor eu fazer o roubo propriamente dito — continuou Hermione num
tom trivial — Vocês dois vão ser expulsos caso se metam em mais uma encrenca,
mas eu tenho a ficha limpa. Então só o que têm a fazer é causar bastante
confusão para distrair Snape por uns cinco minutos.
Harry
deu um leve sorriso. Provocar confusão na aula de Poções de Snape era quase tão
seguro quando espetar o olho de um dragão adormecido.
A
aula de Poções era dada em uma das masmorras maiores. A de Quinta-Feira à tarde
transcorreu como sempre. Vinte caldeirões fumegavam entre as carteiras de
madeira, sobre as quais havia balanças e frascos de ingredientes. Snape andava
por entre os vapores, fazendo comentários mordazes sobre o trabalho dos alunos
da Grifinória, enquanto os da Sonserina davam risadinhas de aprovação. Draco
Malfoy, que era o aluno favorito de Snape, não parava de mostrar olhos de peixe
baiacu para Rony e Harry, que sabiam que se revidassem receberiam uma detenção
mais rápido do que conseguiriam dizer “injustiça”.
A
Solução para Fazer Inchar que Harry preparou ficou muito rala, mas ele tinha
coisas mais importantes em que pensar. Estava à espera do sinal de Hermione, e
mal ouviu quando Snape parou para caçoar do ponto de sua poção. Quando Snape
deu as costas para implicar com Neville, Hermione olhou para Harry e fez um
aceno com a cabeça.
Harry
se abaixou depressa por trás do próprio caldeirão, tirou do bolso um dos fogos
Filibusteiro de Fred e deu-lhe um leve toque com a varinha. O fogo começou a
borbulhar e a queimar. Sabendo que só dispunha de segundos, Harry se levantou,
mirou e atirou o fogo no ar. Ele caiu dentro do caldeirão de Goyle.
A
poção de Goyle explodiu, chovendo sobre a classe inteira. Os alunos gritaram
quando os borrifos da Solução para Fazer Inchar caiu neles. Draco ficou com a
cara coberta de poção e seu nariz começou a inchar como um balão. Goyle saiu
esbarrando nas coisas, as mãos cobrindo os olhos, que tinham inchado até
atingir o tamanho de um prato. Snape tentava restaurar a calma e descobrir o
que estava acontecendo. Na confusão, Harry viu Hermione entrar discretamente na
sala do professor.
—
Silêncio! SILÊNCIO! — rugiu Snape — Os que receberam borrifos, venham aqui
tomar uma Poção para Fazer Desinchar, quando eu descobrir quem foi o autor
disso...
Harry
procurou não rir ao ver Draco correr para frente da sala, a cabeça pendurada
por causa do peso de um nariz do tamanho de um melão. Enquanto metade da classe
se arrastava até a mesa de Snape, alguns sobrecarregados com braços grossos
como bastões, outros com os lábios tão inchados que não conseguiam falar, Harry
viu Hermione tornar a entrar, sorrateiramente, na masmorra, com a frente das
vestes estufada.
Depois
que todos tomaram uma dose do antídoto e seus inchaços murcharam, Snape foi até
o caldeirão de Goyle e pescou os restos retorcidos e negros do fogo de
artifício.
Fez-se
um silêncio repentino.
— Se
eu um dia descobrir quem jogou isso — sussurrou Snape — Vou garantir que esse
aluno seja expulso.
Harry
tomou o cuidado de fazer cara de espanto. Snape olhava diretamente para ele, e
a sineta que tocou dez minutos depois não poderia ter sido mais bem-vinda.
— Ele
sabia que fui eu — disse Harry a Rony e a Hermione enquanto corriam para o
banheiro da Murta Que Geme — Eu senti.
Hermione
jogou os novos ingredientes no caldeirão e começou a misturá-los febrilmente.
— Vai
ficar pronto daqui a duas semanas — anunciou alegremente.
—
Snape não pode provar que foi você — disse Rony tranqüilizando Harry — Que é
que ele pode fazer?
—
Conhecendo Snape, uma maldade — disse Harry, enquanto a poção espumava e
borbulhava.
* * *
Uma semana mais tarde,
Harry, Rony e Hermione iam atravessando o Saguão de Entrada quando viram uma
pequena aglomeração em torno do Quadro de Avisos, os alunos liam um pergaminho
que acabara de ser afixado. Simas Finnigan e Dino Thomas fizeram sinal para
eles se aproximarem, com ar excitado.
— Vão
reabrir o Clube dos Duelos! — disse Simas — A primeira reunião é hoje à noite!
Eu não me importaria de tomar aulas de duelo, poderiam vir a calhar um dia
desses...
—
Quê, você acha que o monstro da Sonserina sabe duelar? — perguntou Rony, mas
também leu o aviso com interesse — Poderia vir a calhar — disse ele a Harry e
Hermione quando entraram para jantar — Vamos?
Harry
e Hermione foram a favor do clube. Assim, às oito horas daquela noite os três
voltaram correndo para o Salão Principal.
As
longas mesas de jantar tinham desaparecido e surgira um palco dourado encostado
a uma parede, cuja iluminação era produzida por milhares de velas que flutuavam
no alto. O teto voltara a ser um veludo negro, e a maior parte da escola
parecia estar reunida sob ele, as varinhas na mão e as caras animadas.
—
Quem será que vai ser o professor? — disse Hermione enquanto se reuniam aos
alunos que tagarelavam sem parar — Alguém me disse que Flitwick foi campeão de
duelos quando era moço, talvez seja ele.
—
Desde que não seja... — Harry começou, mas terminou com um gemido.
Gilderoy
Lockhart vinha entrando no palco, resplandecente em suas vestes ameixa-escuras,
acompanhado por ninguém mais do que Snape, em sua roupa preta habitual.
Lockhart acenou um braço pedindo silêncio e disse em voz alta:
—
Aproximem-se, aproximem-se! Todos estão me vendo? Todos estão me ouvindo?
Excelente! O Prof. Dumbledore me deu permissão para começar um pequeno clube de
duelos, para treiná-los, caso um dia precisem se defender, como eu próprio já
precisei fazer em inúmeras ocasiões, quem quiser conhecer os detalhes, leia os
livros que publiquei. Deixem-me apresentar a vocês o meu assistente, Prof.
Snape — disse Lockhart, dando um largo sorriso — Ele me conta que sabe alguma
coisa de duelos e desportivamente concordou em me ajudar a fazer uma breve
demonstração antes de começarmos. Agora, não quero que nenhum de vocês se
preocupe, continuarão a ter o seu professor de Poções mesmo depois de eu o
derrotar, não precisam ter medo!
— Não
seria bom se os dois acabassem um com o outro? — cochichou Rony ao ouvido de
Harry.
O
lábio superior de Snape crispou-se. Harry ficou imaginando por que Lockhart
continuava a sorrir. Se Snape estivesse olhando para ele daquele jeito, Harry
já estaria correndo o mais depressa que pudesse na direção oposta.
Lockhart
e Snape se viraram um para o outro e se cumprimentaram com uma reverência. Pelo
menos, Lockhart cumprimentou com muitos meneios, enquanto Snape curvou a
cabeça, irritado. Em seguida, os dois ergueram as varinhas como se empunhassem
espadas.
—
Como vocês vêem, estamos segurando nossas varinhas na posição de combate
normalmente adotada — disse Lockhart aos alunos em silêncio — Quando contarmos
três, lançaremos os primeiros feitiços. Nenhum de nós está pretendendo matar, é
claro.
— Eu
não teria certeza disso — murmurou Harry, observando Snape arreganhar os dentes.
—
Um... dois... três...
Os
dois ergueram as varinhas acima da cabeça e as apontaram para o oponente. Snape
exclamou:
—
Expelliarmus! — viram um lampejo vermelho ofuscante e Lockhart foi lançado para
o alto: voou para os fundos do palco, colidiu com a parede, foi escorregando e
acabou estatelado no chão.
Draco
e outros alunos da Sonserina deram vivas.
Hermione
dançava nas pontas dos dedos para ver melhor.
—
Vocês acham que ele está bem? — guinchou tampando a boca com a mão.
—
Quem se importa? — responderam Harry e Rony juntos.
Lockhart
foi-se levantando tonto. Seu chapéu caíra e os cabelos ondulados estavam em pé.
—
Muito bem! — disse, cambaleando de volta ao palco — Isto foi um Feitiço de
Desarmamento, como viram, perdi minha varinha, ah, muito obrigado, Srta.
Brown... sim, foi uma excelente demonstração, Prof. Snape, mas se não se
importa que eu diga, ficou muito óbvio o que o senhor ia fazer, se eu tivesse
querido detê-lo teria sido muito fácil, mas achei mais instrutivo deixá-los
ver...
Snape
tinha uma expressão assassina no rosto. Lockhart possivelmente notou porque
acrescentou:
—
Chega de demonstrações! Vou me reunir a vocês agora e separá-los aos pares.
Prof. Snape, se o senhor quiser me ajudar...
Os
dois caminharam entre os alunos, formando os pares. Lockhart juntou Neville com
Justino Finch-Fletchley, mas Snape chegou até Harry e Rony primeiro.
—
Acho que está na hora de separar a equipe dos sonhos — caçoou — Weasley você
luta com Finnigan. Potter...
Harry
virou-se automaticamente para Hermione.
— Acho
que não — disse Snape, sorrindo estranhamente — Sr. Malfoy, venha cá. Vamos ver
o que o senhor faz com o famoso Potter. E a senhorita, pode fazer par com a
Srta. Bulstrode.
Draco
se aproximou com arrogância, sorrindo. Atrás dele caminhava uma garota da
Sonserina, que lembrava a Harry uma foto que vira em Férias com Bruxas
Malvadas. Era grande e atarracada, e seu queixo pesado se projetava para a
frente, agressivamente. Hermione lhe deu um breve sorriso que ela não
retribuiu.
— De
frente para os seus parceiros! — mandou Lockhart, de volta ao tablado — E façam
uma reverência!
Harry
e Draco mal inclinaram as cabeças, e não tiraram os olhos um do outro.
—
Preparar as varinhas! — gritou Lockhart — Quando eu contar três, lancem seus
feitiços para desarmar os oponentes, apenas para desarmá-los, não queremos
acidentes, um... dois... três...
Harry
ergueu a varinha bem alto, mas Draco começara no “dois” e seu feitiço atingiu
Harry com tanta força que parecia que ele levara uma frigideirada na cabeça.
Ele cambaleou, mas tudo parecia estar em ordem, e, sem perder mais tempo, Harry
apontou a varinha direto para Draco e gritou:
— Rictusempra!
Um
jorro de luz prateada atingiu Draco no estômago e ele se dobrou, com
dificuldade de respirar.
— Eu
disse desarmar apenas! — gritou Lockhart assustado por cima das cabeças dos
combatentes, quando Draco caiu de joelhos.
Harry
o golpeara com o Feitiço das Cócegas, e ele mal conseguia se mexer de tanto
rir.
Harry
recuou, com a vaga impressão de que seria pouco esportivo enfeitiçar Draco
ainda no chão, mas isso foi um erro. Tomando fôlego, Draco apontou a varinha
para os joelhos de Harry, e disse engasgado:
— Tarantallegra! — e no segundo seguinte
as pernas de Harry começaram a sacudir descontroladas numa espécie de marcha
rápida.
— Parem!
Parem! — berrou Lockhart, mas Snape assumiu o controle.
— Finite Incantatem! — gritou ele.
Os
pés de Harry pararam de dançar. Draco parou de rir e eles puderam erguer a
cabeça.
Uma
névoa de fumaça verde pairava sobre a cena.
Neville
e Justino estavam caídos no chão, ofegantes. Rony estava segurando um Simas
branco feito papel, pedindo desculpas pelo que sua varinha quebrada pudesse ter
feito, mas Hermione e Emília Bulstrode ainda lutavam. Emilia dera uma chave de
cabeça em Hermione, que choramingava de dor. As varinhas das duas jaziam
esquecidas no chão.
Harry
deu um salto à frente e fez Emilia soltar Hermione. Foi difícil: a garota era
muito maior do que ele.
— Ai,
ai-ai, ai-ai — exclamou Lockhart, passando por entre os duelistas, para ver o
resultado das lutas — Levante, Macmillan... cuidado, Srta. Fawcett... aperte
com força, vai parar de sangrar em um segundo, Boot... acho que é melhor
ensinar aos senhores como se bloqueia feitiços hostis — disse Lockhart, parando
no meio salão. Ele olhou para Snape, cujos olhos negros brilhavam, e desviou
rápido o seu olhar — Vamos arranjar um par voluntário, Longbottom e
Finch-Fletchley, que tal vocês...
— Uma
má idéia, Prof. Lockhart — disse Snape, deslizando até ele como um enorme
morcego malévolo — Longbottom causa devastação até com o feitiço mais simples.
Vamos ter que mandar o que sobrar de Finch-Fletchley para a Ala Hospitalar em
uma caixa de fósforos.
O
rosto redondo e rosado de Neville ficou ainda mais rosado.
— Que
tal Malfoy e Potter? — sugeriu Snape com um sorriso enviesado.
—
Ótima idéia! — disse Lockhart, fazendo um gesto para Harry e Draco irem para o
meio do salão, enquanto os demais alunos se afastavam para lhes dar espaço —
Agora, Harry — disse Lockhart — Quando Draco apontar a varinha para você, você
faz isto.
Ele
ergueu a própria varinha, tentou um complicado floreio e deixou-a cair. Snape
abriu um sorriso quando Lockhart a apanhou depressa, dizendo:
—
Epa, minha varinha está um tanto excitada demais...
Snape
aproximou-se de Draco, curvou-se e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. O
garoto riu também. Harry ergueu os olhos, nervoso, para Lockhart e disse:
—
Professor, podia me mostrar outra vez como se bloqueia?
—
Apavorado? — murmurou Draco, falando baixo para Lockhart não poder ouvi-lo.
—
Querias! — respondeu Harry pelo canto da boca.
Lockhart
deu uma palmada bem-humorada no ombro de Harry.
—
Faça exatamente como fiz, Harry!
— O
quê, deixar cair a varinha?
Mas
Lockhart não estava mais escutando.
—
Três... dois... um... agora! — gritou ele.
Draco
ergueu a varinha depressa e berrou:
— Serpensortia!
A
ponta de sua varinha explodiu. Harry observou, perplexo, uma comprida cobra
preta se materializar, cair pesadamente no chão entre os dois e se erguer,
pronta para atacar. Os alunos gritaram recuando rapidamente, abrindo espaço.
— Não
se mexa, Potter — disse Snape tranquilamente, sentindo visível prazer de ver
Harry parado imóvel, cara a cara com a cobra irritada — Vou dar um fim nela...
—
Permita-me! — gritou Lockhart.
E
brandiu a varinha para a cobra, ao que se ouviu um grande baque: a cobra, em
lugar de desaparecer, voou três metros no ar e tornou a cair no chão com um
estrondo. Enraivecida, sibilando furiosamente, ela deslizou direto para Justino
Finch-Fletchley e se levantou de novo, as presas expostas, armada para o bote.
Harry
não teve certeza do que o fez agir assim. Nem ao menos teve consciência de
decidir fazer o que fez. A única coisa que soube foi que suas pernas o
impeliram para frente como se ele estivesse sobre rodinhas e que gritou
tolamente para a cobra “Deixe-o em paz!”, e milagrosamente...
inexplicavelmente... a cobra desabou no chão, dócil como uma mangueira grossa e
preta de jardim, seus olhos agora em Harry. Ele sentiu o medo dissolver-se.
Sabia que a cobra não atacaria ninguém agora, embora não pudesse explicar como
o sabia.
Harry
olhou para Justino, sorrindo, esperando o colega parecer aliviado, intrigado ou
até grato, mas certamente não zangado nem apavorado.
— De
que é que você acha que está brincando? — gritou, e antes que Harry pudesse
responder alguma coisa, Justino virou-lhe as costas e saiu do salão enfurecido.
Snape
se adiantou, acenou a varinha e a cobra desapareceu com uma pequena baforada de
fumaça preta.
Snape,
também, olhou Harry de modo inesperado: era um olhar astuto e calculista e
Harry não gostou. Teve também uma vaga consciência dos cochichos sinistros que
percorriam o salão. Então sentiu alguém puxá-lo pelas vestes.
—
Vamos — disse a voz de Rony ao seu ouvido — Mexa-se, vamos...
Rony
guiou-o para fora do salão, Hermione corria para acompanhá-los. Quando
atravessaram o portal, as pessoas de cada lado recuaram como se tivessem medo
de apanhar uma doença. Harry não tinha a menor idéia do que estava acontecendo,
e nem Rony nem Hermione explicaram nada até terem arrastado o amigo até a Sala
Comunal da Grifinória, naquele momento vazia. Então Rony empurrou Harry para
uma poltrona e disse:
—
Você é um ofidioglota. Por que não nos contou?
— Eu
sou o quê? — perguntou Harry.
— Um
ofidioglota! — disse Rony — Você é capaz de falar com as cobras!
— Eu
sei. Quero dizer, é a segunda vez que faço isso. Uma vez no zoológico açulei,
por acaso, uma jibóia contra o meu primo Duda, uma longa história... ela estava
me contando que nunca tinha estado no Brasil e eu meio que a soltei sem querer,
isso foi antes de saber que era bruxo.
— Uma
jibóia contou a você que nunca tinha ido ao Brasil? — repetiu Rony baixinho.
— E
daí? Aposto que um monte de gente aqui pode fazer isso.
— Ah,
não. De jeito nenhum. Isto não é um dom muito comum. Harry, isto não é legal.
— O
que não é legal? — disse Harry começando a ficar com muita raiva — Qual é o
problema com todo mundo? Escuta aqui, se eu não tivesse dito àquela cobra para
não atacar Justino...
— Ah,
então foi isso que você disse?
— Que
quer dizer com isso? Vocês estavam lá, vocês me ouviram...
—
Ouvi você falar esquisito — disse Rony — Língua de Cobra. Você podia ter dito
qualquer coisa, não admira que o Justino tenha entrado em pânico, parecia que
você estava convencendo a cobra a fazer alguma coisa, deu arrepios, sabe...
Harry
ficou de boca aberta.
— Eu
falei uma língua diferente? Mas, eu não percebi, como posso falar uma língua
sem saber que posso falá-la?
Rony
sacudiu a cabeça. Tanto ele quanto Hermione faziam cara de enterro. Harry não
conseguia entender o que havia de tão horrível.
—
Querem me dizer o que há de errado em impedir uma enorme cobra de arrancar a
cabeça do Justino? Que diferença faz como foi que eu fiz isso, desde que o
Justino não precise se associar ao clube dos Caçadores Sem Cabeça?
— Faz
diferença, sim — disse Hermione, falando, afinal, num tom abafado — Porque a
capacidade de falar com cobras foi o dom que tornou Salazar Slytherin famoso. É
por isso que o símbolo da Sonserina é uma serpente.
O
queixo de Harry caiu.
—
Exatamente — confirmou Rony — E agora a escola inteira vai pensar que você é o
tetra-tetra-tetra-tetra-neto ou coisa parecida...
— Mas
eu não sou — disse Harry, sentindo um pânico que não conseguia explicar.
—
Você vai achar difícil provar isso — falou Hermione — Ele viveu há mil anos.
Pelo que se sabe, você podia muito bem ser descendente dele.
Harry
ficou horas acordado àquela noite. Por uma fresta no cortinado em volta da cama
de colunas ele observou a neve começar a cair em floquinhos diante da janela da
Torre e ficou imaginando... imaginando...
Será
que podia ser descendente de Salazar Slytherin? Afinal não sabia nada sobre a
família do seu pai. Os Dursley sempre o proibiram de fazer perguntas sobre
parentes bruxos. Silenciosamente, Harry tentou dizer alguma coisa na língua das
cobras. As palavras não saíram. Parecia que tinha de estar cara a cara com uma
cobra para isso.
Mas
eu estou na Grifinória, pensou Harry. O Chapéu Seletor não teria me posto aqui
se eu tivesse sangue de Slytherin...
Ah,
disse uma vozinha perversa em seu cérebro, Mas o Chapéu Seletor queria pôr você
na Sonserina, não se lembra?
Harry
se virou na cama. Encontraria Justino no dia seguinte na aula de Herbologia, e
explicaria que detivera a cobra e não a instigara, o que (pensou com raiva,
socando o travesseiro) qualquer idiota teria percebido.
Mas
na manhã seguinte, a neve que começara a cair de noite se transformara numa
nevasca tão densa que a última aula de Herbologia do período letivo foi
cancelada. A Profª. Sprout queria pôr meias e echarpes nas mandrágoras, uma
operação melindrosa que ela não confiaria a mais ninguém, agora que era tão
importante as mandrágoras crescerem depressa para ressuscitar Madame Nor-r-ra e
Colin Creevey.
Harry
preocupava-se com isso sentado junto à lareira na Sala Comunal da Grifinória,
enquanto Rony e Hermione aproveitavam o tempo para jogar uma partida de xadrez
de bruxo.
—
Pelo amor de Deus, Harry — disse Hermione exasperada, quando um bispo de Rony
desmontou um cavalo dela e o arrastou para fora do tabuleiro — Vá procurar o Justino
se isso é tão importante para você.
Então
Harry se levantou e saiu pelo buraco do retrato, imaginando onde Justino
poderia estar. O castelo estava mais escuro do que normalmente era durante o
dia, por causa da neve grossa e cinzenta que descia rodopiando pelo lado de
fora das janelas.
Transido
de frio, Harry passou por salas onde havia aulas, captando vislumbres do que
acontecia lá dentro. A Profª. McGonagall gritava com alguém que, pelo que
parecia, tinha transformado o colega em um texugo. Harry passou adiante,
resistindo ao impulso de espiar para dentro e, lembrando que Justino talvez
estivesse usando o tempo livre para tirar o atraso em alguma matéria, decidiu
verificar primeiro na Biblioteca.
Vários
alunos da Lufa-Lufa que deviam estar na aula de Herbologia se achavam de fato
sentados no fundo da biblioteca, mas não pareciam estar trabalhando. Entre as
longas fileiras de estantes, Harry podia ver que suas cabeças estavam muito
juntas e que aparentemente mantinham uma conversa absorvente. Não conseguia ver
se Justino estava no grupo. Foi andando em direção a eles e, quando começou a
ouvir alguma coisa do que diziam, parou para escutar melhor, escondido na Seção
da Invisibilidade.
—
Então, em todo o caso — falava um menino forte — Eu disse ao Justino para se
esconder no nosso dormitório. Quero dizer, se Potter o escolheu para sua
próxima vítima, é melhor ele ficar pouco visível por uns tempos.
— É
claro que o Justino estava esperando uma coisa dessas acontecer desde que
deixou escapar para o Potter que vinha de família trouxa. Justino chegou até a
contar que os pais tinham feito reserva para ele em Eton. Isto não é o tipo de
coisa que se fale assim, com o Herdeiro de Slytherin à solta, não é mesmo?
—
Então decididamente você acha que é o Potter, Ernesto? — perguntou, ansiosa,
uma menina loura de marias-chiquinhas.
— Ana
— disse o garoto forte, solenemente — Ele é um ofidioglota. Todo mundo sabe que
isso é a marca do bruxo das trevas. Você já ouviu falar de um bruxo decente que
soubesse falar com cobras? Chamavam o próprio Slytherin de língua de serpente.
Seguiram-se
muitos murmúrios depois disso e Ernesto continuou:
—
Lembram o que estava escrito na parede? Inimigos do herdeiro, cuidado. Potter
teve um problema com o Filch. Logo em seguida a gata de Filch é atacada. Aquele
aluno do primeiro ano, o Creevey, estava aborrecendo Potter no jogo de
Quadribol, tirando fotos dele estirado na lama. Logo em seguida, Creevey foi
atacado.
— Mas
ele sempre pareceu tão gentil — disse Ana em dúvida — E foi quem fez Você-Sabe-Quem
desaparecer. Ele não pode ser tão ruim assim, pode?
Ernesto
baixou a voz, misterioso, os alunos da Lufa-Lufa se curvaram mais para frente,
e Harry se aproximou mais para poder captar as palavras de Ernesto.
—
Ninguém sabe como foi que ele sobreviveu àquele ataque do Você-Sabe-Quem, quero
dizer, ele era só um bebê quando a coisa toda aconteceu. Devia ter explodido em
pedacinhos. Só um mago das trevas realmente poderoso poderia ter sobrevivido a
um ataque daqueles — e baixando a voz até quase um sussurro, continuou — Vai
ver é por isso que Você-Sabe-Quem queria matá-lo para começar. Não queria outro
bruxo das trevas concorrendo com ele. Que outros poderes será que o Potter anda
escondendo?
Harry
não conseguiu aguentar mais. Pigarreando alto, saiu de trás das estantes. Se
não estivesse tão zangado, teria achado engraçada a cena que o aguardava: cada
aluno da Lufa-Lufa parecia ter se petrificado só devê-lo, e a cor foi se
esvaindo do rosto de Ernesto.
— Olá
— disse Harry — Estou procurando o Justino Finch-Fletchley.
Os
receios dos garotos da Lufa-Lufa claramente se confirmaram. Todos olharam
cheios de medo para Ernesto.
— Que
é que você quer com ele? — perguntou Ernesto com a voz trêmula.
— Eu
queria dizer a ele o que realmente aconteceu com aquela cobra no Clube dos
Duelos.
Ernesto
mordeu os lábios brancos, tomou fôlego e disse:
— Nós
estávamos todos lá. Vimos o que aconteceu.
—
Então vocês repararam que depois que falei com a cobra ela recuou? — perguntou
Harry.
— Só
o que eu vi — disse Ernesto, insistente, embora tremesse enquanto falava — Foi
você falando em língua de cobra e açulando o bicho para cima de Justino.
— Eu
não açulei a cobra para cima dele! — protestou Harry a voz trêmula de raiva — A
cobra nem encostou nele!
— Por
pouco. E caso você esteja tendo novas ideias — acrescentou depressa — É melhor
eu informá-lo que pode investigar minha família por nove gerações de bruxos, e
que o meu sangue é tão puro quanto o de qualquer outro, portanto...
— Não
ligo a mínima para o tipo de sangue que você tem! — tornou Harry furioso — Por
que eu iria querer atacar pessoas que nasceram trouxas?
—
Ouvi falar que você detesta os trouxas com quem mora — disse Ernesto na mesma
hora.
— É
impossível morar com os Dursley e não detestá-los. Eu gostaria de ver você no
meu lugar.
E
dando meia-volta, saiu furioso da Biblioteca, ganhando um olhar de reprovação
de Madame Pince, que estava lustrando a capa dourada de um grande livro de
feitiços.
Harry
saiu pelo corredor às tontas, mal reparando aonde ia, tal era a sua fúria. O
resultado foi que bateu em alguma coisa muito grande e sólida, que o derrubou
no chão.
— Ah,
olá, Hagrid — disse erguendo a cabeça.
O
rosto de Hagrid estava inteiramente oculto pelo gorro de lã esbranquiçado de
neve, mas não podia ser mais ninguém pois ele praticamente ocupava o corredor
com aquele seu casacão de pele de toupeira. Um galo morto pendia de suas
enormes mãos enluvadas.
—
Tudo bem, Harry? — perguntou ele, empurrando o gorro para trás para poder falar
— Você não está em aula?
—
Cancelada — disse Harry, levantando-se — Que é que você está fazendo aqui?
Hagrid
ergueu o galo inerte.
— É o
segundo que matam neste período letivo — explicou — Ou é raposa ou bicho-papão
e preciso permissão do Diretor para lançar um feitiço em volta do galinheiro.
Por
debaixo das sobrancelhas grossas e salpicadas de neve, ele examinou Harry com
mais atenção.
—
Você tem certeza de que está bem? Está cheio de calor e zanga...
Harry
não conseguiu se forçar a repetir o que Ernesto e o resto dos garotos da
Lufa-Lufa tinham andado dizendo.
— Não
é nada. É melhor eu ir andando, Hagrid, a próxima aula é Transfiguração e tenho
que apanhar meus livros.
Ele
se afastou, a cabeça inchada com o que Ernesto dissera a seu respeito.
Harry
subiu a escada batendo os pés e entrou em outro corredor que estava
particularmente escuro: os archotes tinham sido apagados por uma corrente de ar
forte e gelada que entrava por uma vidraça solta. Estava na metade do corredor
quando caiu estendido em cima de uma coisa que havia no chão. Virou-se para ver
melhor em cima do que caíra e sentiu o estômago derreter.
Justino
Finch-Fletchley jazia no chão, duro e frio, uma expressão de choque fixa no
rosto, os olhos, sem visão, voltados para o teto. E não era tudo. Ao lado dele
outro vulto, a visão mais estranha que Harry já encontrara.
Era
Nick Quase Sem Cabeça, que agora deixara de ser branco-pérola e transparente e
se tornara preto e fumegante, e que estava imóvel na horizontal, a mais de um
metro e meio do chão. Sua cabeça estava quase inteiramente solta, e seu rosto
tinha uma expressão de choque idêntica à de Justino.
Harry
ficou em pé, a respiração rápida e superficial, o coração produzindo uma
espécie de rufo de tambor em suas costelas. Fora de si, olhou para um lado do
corredor deserto e para o outro e viu uma fila de aranhas que se afastava o
mais depressa possível dos corpos. Os únicos sons que ouvia eram as vozes
abafadas dos professores nas salas de aula de cada lado. Poderia correr e
ninguém saberia que estivera ali. Mas não podia simplesmente deixá-los
caídos... tinha que procurar ajuda. Alguém acreditaria que ele não tivera nada
a ver com aquilo?
Enquanto
estava parado, cheio de pânico, uma porta se abriu com uma batida. Pirraça o
poltergeist saiu em disparada.
—
Ora, é o Potter Pirado! — zombou ele, entortando os óculos de Harry ao passar
por ele — Que é que o Potter está aprontando? Por que é que o Potter está
rondando...
Pirraça
parou no meio de uma cambalhota no ar de cabeça para baixo, deparou com Justino
e Nick Quase Sem Cabeça. Desvirou-se na mesma hora, encheu os pulmões de ar e,
antes que Harry pudesse impedi-lo, gritou:
—
ATAQUE! ATAQUE! MAIS UM ATAQUE! NEM MORTAL NEM FANTASMA ESTÃO SEGUROS! SALVEM
SUAS VIDAS! ATAAAAAQUE!
BAM –
BAM – BAM – porta atrás de porta se escancarou ao longo do corredor que foi
invadido por um mundão de gente. Durante vários minutos, a cena era de tal
confusão que Justino correu o risco de ser esmagado, e as pessoas não paravam
de passar através de Nick Quase Sem Cabeça. Harry se viu imprensado contra a
parede enquanto os professores gritavam pedindo calma.
A
Profª. McGonagall veio correndo, seguida por seus alunos em sua cola, um dos
quais ainda tinha os cabelos listrados de preto e branco. Ela usou a varinha
para produzir um alto estampido e restaurar o silêncio, e mandou todos de volta
para as salas de aula.
Nem
bem o corredor se esvaziara um pouco quando Ernesto, o garoto da Lufa-Lufa
chegou, ofegante, à cena.
—
Apanhado na cena do crime! — berrou Ernesto, o rosto lívido, apontando
dramaticamente para Harry.
—
Agora já chega, Macmillan! — disse a professora ríspida.
Pirraça
subia e descia no ar, e agora sorria malvadamente observando a cena; adorava o
caos. Enquanto os professores se curvavam sobre Justino e Nick Quase Sem
Cabeça, examinando-os, Pirraça começou a cantar:
— Ah,
Potter, podre, veja o que você fez. Matar alunos não é nada cortês...
— Já
chega, Pirraça! — vociferou a Profª. McGonagall e Pirraça saiu voando de costas
e estirando a língua para Harry.
Justino
foi levado para a Ala Hospitalar pelo Prof. Flitwick e a Profª. Sinistra, do
Departamento de Astronomia, mas ninguém sabia o que fazer com Nick Quase Sem
Cabeça. Por fim, a Profª. McGonagall conjurou um grande leque de ar, e
entregou-o a Ernesto e com instruções para abanar Nick Quase Sem Cabeça até o andar
de cima. Ernesto obedeceu e abanou Nick como se fosse um aerofólio silencioso.
Assim
Harry e a professora ficaram a sós.
— Por
aqui, Potter — falou ela.
—
Professora — disse Harry depressa — Eu juro que não...
—
Isto não está mais em minhas mãos, Potter — interrompeu ela secamente.
Os
dois caminharam em silêncio, viraram um canto e ela parou diante de uma gárgula
de pedra feíssima.
—
Gota de limão! — disse.
Era
evidentemente uma senha, porque a gárgula logo ganhou vida e afastou-se para o
lado, ao mesmo tempo que a parede atrás dela se abria em dois. Mesmo temendo o
que o aguardava, Harry não pôde deixar de se admirar. Atrás da parede havia uma
escada em caracol que subia suavemente, como uma escada rolante. Nem bem ele e
a Profª. McGonagall pisaram nela, Harry ouviu a parede fazer um barulho seco e
se fechar às costas dos dois. Subiram em círculos, cada vez mais altos, até que
por fim, ligeiramente tonto, Harry viu uma porta de carvalho reluzindo à sua
frente, com uma aldrava em forma de grifo. Soube então aonde tinha sido levado.
Ali
devia ser a residência de Dumbledore.
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