quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Senhor dos Anéis - As Duas Torres - Capítulo 6



— Capítulo VI —
O Rei Do Palácio Dourado




CONTINUARAM CAVALGANDO ao longo da tarde, do crepúsculo e do início da noite. Quando finalmente pararam e desmontaram, até mesmo Aragorn sentia o corpo enrijecido e cansado. Gandalf só permitiu algumas horas de descanso.
Legolas e Gimli dormiram, e Aragorn ficou deitado de costas, esticado no chão, mas Gandalf ficou de pé, apoiando-se em seu cajado, olhando para dentro da escuridão, a Leste e a Oeste. Estava tudo em silêncio, e não havia sinal ou som de qualquer ser vivo. A noite estava coberta por longas nuvens, carregadas por um vento gelado. Quando acordaram de novo, sob a fria lua eles continuaram mais uma vez, com a mesma rapidez da cavalgada à luz do dia.
As horas se passavam e eles ainda iam cavalgando. Gimli cochilava, e teria caído do cavalo se Gandalf não o tivesse agarrado e chacoalhado.
Hasufel e Arod, exaustos, mas altivos, seguiam seu líder incansável, uma sombra cinza diante deles, que mal se podia ver. As milhas passavam. A lua crescente mergulhou no Oeste nebuloso. Um frio cortante veio pelo ar. Lentamente, no Leste, a escuridão foi dando lugar a um cinza frio. Raios vermelhos de luz saltaram por sobre as muralhas negras dos Emyn Muil, adiante e à esquerda deles. A aurora chegou clara e brilhante, um vento varria o caminho, correndo através da relva inclinada.
De repente Scadufax parou e relinchou.
Gandalf apontou à frente.
— Olhem — gritou ele, e os outros levantaram os olhos cansados.
Diante deles se erguiam as montanhas do sul: cobertas de branco e riscadas de preto. A planície coberta de relva ondulava contra as colinas amontoadas aos seus pés, e fluía cobrindo muitos vales ainda apagados e escuros, intocados pela luz da aurora, descrevendo sinuosos caminhos para o coração das grandes montanhas. Imediatamente à frente dos viajantes, o mais amplo desses vales se abria como um golfo comprido entre as colinas.
Mais para dentro eles vislumbraram uma massa montanhosa disforme, com um único pico alto, na entrada do vale erguia-se qual sentinela uma montanha solitária. Aos pés dela corria, como um fio de prata, o rio que saía do vale; sobre seu pico eles viram, ainda bem distante, o faiscar do sol que nascia, um cintilar de ouro.
— Fale, Legolas! — disse Gandalf — Conte-nos o que você está vendo à nossa frente!
Legolas olhou adiante, protegendo os olhos dos raios quase horizontais do sol recém-nascido.
— Vejo um rio branco que desce da neve — disse ele — No ponto onde ele sai da sombra do vale, uma colina verde se ergue sobre o Leste. Um fosso, uma poderosa muralha e uma cerca-viva de espinhos a contornam. Lá dentro se erguem os telhados de casas, e no meio, sobre uma plataforma verde, ergue-se imponente uma grande casa de homens. E parece aos meus olhos que o teto é de ouro. A luz dele brilha por sobre toda a região. Dourados, também, são os batentes das portas. Ali diviso homens vestidos em malhas metálicas brilhantes, mas todos os outros dentro dos pátios ainda estão dormindo.
— Esses pátios são chamados Edoras — disse Gandalf — E Meduseld é aquele palácio dourado. Ali mora Théoden, filho de Thengel, Rei da Terra de Rohan. Chegamos com o nascer do dia. Agora é fácil ver a estrada. Mas devemos cavalgar com mais cautela, pois a guerra se espalha e os rohirrim, Senhores dos Cavalos, não dormem, mesmo que de longe se tenha essa impressão. Não saquem nenhuma arma, nem pronunciem palavras arrogantes, aconselho a todos vocês, até que cheguemos diante do trono de Théoden.
O dia estava claro e brilhante, e pássaros cantavam, quando os viajantes atingiram o rio, que corria rapidamente para dentro da planície. Além do pé das colinas distanciava-se da estrada numa curva larga, correndo para o Leste para alimentar o Entágua lá adiante, em trechos repletos de juncos. A paisagem era verde: nas campinas úmidas e ao longo das bordas gramadas do rio cresciam vários salgueiros. Naquela região ao Sul, essas árvores já estavam ficando com as pontas dos dedos avermelhadas, sentindo a primavera se aproximar. No rio havia um vau entre margens baixas, muito repisadas pela passagem de cavalos. Os cavaleiros atravessaram e atingiram uma trilha larga e sulcada, que conduzia às terras mais altas.
Ao pé da colina protegida por muralhas, o caminho passava sob a sombra de muitos montículos, altos e verdes. Na face Oeste destes a grama era branca, como se estivesse borrifada de neve: pequenas flores nasciam como inúmeras estrelas por entre a turfa.
— Olhem! — disse Gandalf — Como são belos os olhos claros em meio à relva! São chamadas de Sempre-em-mente, simbelmyne, nesta terra de homens, pois elas florescem em todas as estações do ano, e crescem onde os mortos descansam. Olhem! Chegamos aos grandes túmulos onde dormem os antepassados de Théoden.
— Sete montículos à esquerda, e nove à direita — disse Aragorn — O palácio dourado foi construído há muitas longas vidas de homem.
— Quinhentas vezes as folhas vermelhas caíram na Floresta das Trevas, o meu lar, desde essa época — disse Legolas — E temos a impressão de que faz pouco tempo.
  

[FIG. 05] EDORAS



— Mas para os Cavaleiros de Rohan parece tanto tempo — disse Aragorn — Que a construção dessa casa é apenas uma lembrança nas canções, e os anos precedentes estão perdidos nas névoas do tempo. Agora chamam esta terra de sua casa, seu lugar, e sua fala se diferencia de sua parente do Norte.
Então começou a cantar baixinho numa língua lenta, desconhecida pelo elfo e pelo anão, mesmo assim eles escutavam, pois a melodia era forte.
— Essa, eu acho, é a língua dos rohirrim — disse Legolas — Pois é parecida com a própria terra, em parte rica e suave, mas ao mesmo tempo dura e austera como as montanhas. Mas não consigo adivinhar o significado das palavras, embora perceba que estão carregadas com a tristeza dos Homens Mortais.
— A canção fica assim na Língua Geral — disse Aragorn — Do jeito mais próximo que consigo traduzi-la.

Onde estão cavalo e dono?
Onde está a trompa que ecoava?
Onde estão elmo e gibão e o cabelo que esvoaçante brilhava?
Onde está a mão sobre a harpa e do fogo o rubro tremer?
A primavera e a colheita onde estão e o trigo alto a crescer?
Como a chuva da montanha passaram, como um vento no prado;
Os dias no poente desceram atrás do monte ensombreado.
A fumaça da brasa que morre quem a irá guardar?
E os anos do Mar refluindo quem os irá contemplar?

— Assim falou um poeta esquecido há muito tempo em Rohan, relembrando como era alto e belo, Eorl, o Jovem, que veio cavalgando do Norte, e havia asas nas patas de seu corcel, Felaróf, pai dos cavalos. Assim ainda cantam os homens ao anoitecer.
Com essas palavras, os viajantes passaram pelos montículos silenciosos.
Seguindo a trilha tortuosa que subia as encostas verdes das colinas, chegaram finalmente às amplas muralhas varridas pelo vento, e aos portões de Edoras. Ali estavam sentados muitos homens em malhas reluzentes, que logo saltaram de pé e bloquearam o caminho com lanças.
— Parem, forasteiros desconhecidos! — gritaram eles na língua da Terra dos Cavaleiros, perguntando os nomes e a missão dos forasteiros. Via-se surpresa, mas pouca simpatia nos olhos deles, que lançavam olhares oblíquos para Gandalf.
— Entendo bem o que dizem — respondeu ele na mesma língua — Apesar disso, poucos forasteiros entendem. Por que então não falam na Língua Geral, como é costume do Oeste, se querem respostas às suas perguntas?
— É a vontade de Théoden que ninguém penetre seus portões, exceto aqueles que conhecem nossa língua e são nossos amigos — respondeu um dos guardas — Ninguém é bem-vindo aqui, em tempo de guerra, a não ser nosso próprio povo, e aqueles que vêm de Mundburg, na Terra de Gondor. Quem são vocês, que chegam sem avisar através da planície, vestidos de forma tão estranha, montando cavalos parecidos com os nossos? Estamos montando guarda aqui há muito tempo, e temos observado vocês à distância. Nunca vimos outros cavaleiros tão estranhos, nem um cavalo mais altivo do que um desses que carregam vocês. Ele é um dos Mearas, a não ser que nossos olhos estejam sendo enganados por algum feitiço. Diga, você não é um mago, algum espião de Saruman, ou serão todos aparições produzidas por ele? Fale agora e seja rápido!
— Não somos aparições — disse Aragorn — Nem seus olhos o enganam. Pois realmente estes sãos seus próprios cavalos, como você bem sabia antes de perguntar, eu suponho. Mas é raro que um ladrão volte para o estábulo. Aqui estão Hasufel e Arod, que Éomer, Terceiro Marechal da Terra dos Cavaleiros, nos emprestou, há apenas dois dias. Trazemos agora os animais de volta, como prometemos a ele. Então Éomer não retornou, nem anunciou a nossa vinda?
Uma expressão preocupada cobriu os olhos do guarda.
— Sobre Éomer, não tenho nada a dizer — respondeu ele — Se o que fala é verdade, então, sem dúvida, Théoden já sabe disso. Talvez sua vinda não seja totalmente inesperada. Faz duas noites que Língua de Cobra veio até nós e disse que era vontade de Théoden que nenhum forasteiro atravessasse estes portões.
— Língua de Cobra? — disse Gandalf, lançando um olhar agudo para o guarda — Não diga mais nada. Minha mensagem não é para Língua de Cobra, mas para o Senhor da Terra dos Cavaleiros em pessoa. Tenho pressa. Você não pode ir ou mandar dizer que chegamos?
Seus olhos faiscavam sob as grossas sobrancelhas quando lançou o olhar sobre o homem.
— Sim, irei — respondeu ele lentamente — Mas que nomes devo anunciar? E que devo dizer sobre vocês? Você agora parece velho e cansado, e apesar disso no fundo é altivo e austero, julgo eu.
— Você vê e fala bem — disse o mago — Pois sou Gandalf Eu voltei. E olhe! Eu também trago de volta um cavalo. Aqui está Scadufax, o Grande, animal que nenhuma outra mão consegue domar. E aqui ao meu lado está Aragorn, filho de Arathorn, o herdeiro dos Reis, e é para Mundburg que ele vai. Aqui também estão Legolas, o elfo, e Gimli, o anão, nossos companheiros. Vá agora e diga ao seu mestre que estamos aos seus portões e queremos falar com ele, se nos for permitido entrar em seu palácio.
— São nomes realmente estranhos! Mas vou transmiti-los como me pede, e saber qual é a vontade de meu senhor — disse o guarda — Esperem um pouco aqui, e lhes trarei a resposta que ele julgar melhor. Não esperem muita coisa! Estes são tempos sombrios.
Foi-se depressa, deixando os forasteiros sob os olhos vigilantes dos outros guardas. Depois de um tempo retornou.
— Sigam-me — disse ele — Théoden lhes dá permissão para entrarem, mas qualquer arma que tiverem, mesmo que seja só um cajado, devem deixá-la na entrada. Sentinelas tomarão conta delas.
Os portões escuros foram abertos. Os viajantes entraram, andando em fila atrás de seu guia. Encontraram uma trilha larga, pavimentada com pedras cortadas, que em certos trechos subia em rampa, e em outros por meio de curtos lances de degraus bem construídos. Passaram por muitas casas de madeira e muitas portas escuras. Ao lado da trilha, num canal de pedra, um riacho de água límpida corria, brilhando e tagarelando.
Finalmente atingiram o topo da montanha. Ali ficava uma alta plataforma, sobre um planalto verde, ao pé do qual um riacho cristalino jorrava de uma pedra esculpida na forma de uma cabeça de cavalo, embaixo via-se uma grande bacia, da qual a água extravasava, alimentando a correnteza que descia. Subindo o planalto verde havia uma escada de pedra, alta e larga, e em cada um dos lados do degrau mais alto estavam cadeiras esculpidas na pedra. Ali estavam sentados outros guardas, com espadas depositadas sobre os joelhos. Os cabelos dourados caíam-lhes em tranças sobre os ombros, seus escudos verdes ostentavam o sol, os longos corseletes reluziam, e quando se levantavam pareciam mais altos que os homens mortais.
— Ali adiante estão as portas — disse o guia — Devo agora retornar ao meu dever junto ao portão. Até logo! E que o Senhor dos Cavaleiros seja gentil para com vocês!
Virou-se e retornou depressa pela estrada. Os outros subiram a longa escada sob os olhos das altas sentinelas. Já no alto, permaneceram em silêncio, e não disseram uma palavra, até que Gandalf pisou no terraço pavimentado, na cabeceira da escada. Então, de repente, com vozes claras, pronunciaram em sua própria língua um cumprimento cortês.
— Saudações, viajantes que vêm de longe! — disseram eles, voltando os punhos de suas espadas na direção dos viajantes, em sinal de paz. Pedras verdes faiscaram à luz do sol.
Então um dos guardas deu um passo à frente e falou na Língua Geral.
— Sou a Sentinela de Théoden — disse ele — Háma é o meu nome. Aqui preciso pedir que deixem de lado suas armas antes de entrarem.
Então Legolas entregou na mão dele sua faca com punho de prata, sua aljava e seu arco.
— Tome conta deles — disse ele — Pois essas armas vêm da Floresta Dourada, e me foram ofertadas pela Senhora Galadriel.
Os olhos do homem se encheram de surpresa, e ele logo as colocou perto da parede, como se tivesse medo de manuseá-las.
— Nenhum homem irá tocá-las, eu lhe prometo — disse ele.
Aragorn hesitou por um instante.
— Não é meu desejo — disse ele — Separar-me de minha espada ou entregar Andúril nas mãos de qualquer outro homem.
— É o desejo de Théoden — disse Háma.
— Não está claro para mim que o desejo de Théoden, filho de Thengel, mesmo que ele seja o senhor da Terra dos Cavaleiros, deva prevalecer sobre o desejo de Aragorn, filho de Arathorn, herdeiro de Elendil, de Gondor.
— Esta é a casa de Théoden, não de Aragorn, mesmo que ele fosse o Rei de Gondor e ocupasse o trono de Denethor — disse Háma, avançando rápido até a porta e bloqueando o caminho. Segurava agora a espada com a ponta na direção dos forasteiros.
— Essa conversa não leva a nada — disse Gandalf — Desnecessário é o pedido de Théoden, mas é inútil recusá-lo. Um rei será respeitado em seu próprio palácio, sejam suas ordens tolas ou sábias.
— É verdade — disse Aragorn — E eu faria como o senhor da casa me pede, mesmo que esta fosse apenas a cabana de um lenhador, se estivesse carregando agora qualquer outra espada que não Andúril.
— Qualquer que seja o nome — disse Háma — Aqui irá colocá-la, se não quiser lutar sozinho contra todos os homens de Edoras.
— Sozinho não! — disse Gimli, alisando a lâmina de seu machado, dirigindo ao guarda um olhar ameaçador, como se ele fosse uma árvore jovem que Gimli quisesse cortar — Sozinho não!
— Vamos, vamos! — disse Gandalf — Somos todos amigos aqui. Ou deveríamos ser, pois as gargalhadas de Mordor serão nossa única recompensa se discutirmos. Minha mensagem é urgente. Aqui, pelo menos, está a minha espada, meu bom Háma. Tome conta dela. Glamdring é seu nome, pois os elfos a fizeram há muito tempo. Agora, deixe-me passar. Venha, Aragorn!
Lentamente Aragorn desafivelou o cinto e colocou ele mesmo sua espada de pé contra a parede.
— Aqui a coloco — disse ele — Mas ordeno que não a toquem, nem permitam que qualquer outra pessoa ponha as mãos nela. Nesta bainha élfica está a Espada Que Foi Quebrada, e foi forjada de novo. A morte virá para qualquer um que brandir a espada de Elendil, a não ser o seu herdeiro.
O guarda deu um passo para trás e olhou espantado para Aragorn.
— Ao que parece, você chegou nas asas da canção, vindo de dias esquecidos — disse ele — Será, senhor, como ordena.
— Bem — disse Gimli — Se tem Andúril para lhe fazer companhia, meu machado pode ficar aqui, também, sem embaraço — e colocou-o no chão.
— Agora, então, se tudo está como deseja, deixe-nos ir falar com seu mestre.
O guarda ainda hesitou.
— Seu cajado — disse ele a Gandalf — Desculpe-me, mas ele também deve ser deixado na entrada.
— Tolice! — disse Gandalf — Prudência é uma coisa, descortesia é outra. Sou velho. Se não puder me apoiar em meu cajado para ir até lá, então ficarei aqui fora, até que seja do agrado do próprio Théoden vir mancando até aqui, para falar comigo.
Aragorn riu.
— Todo homem tem algo que preza demais para confiar a outro homem. Mas você separaria um velho de seu apoio? Vamos lá, não vai nos deixar entrar?
— Um cajado na mão de um mago pode ser mais que um apoio para a velhice — disse Háma. Olhou firme para o cajado cinzento no qual se apoiava Gandalf — Mas, na dúvida, um homem valoroso confiará em sua própria sabedoria. Acredito que vocês são amigos, e pessoas dignas de honra, que não têm propósitos malignos. Podem entrar.
Os guardas então ergueram as pesadas barras das portas, que se abriram lentamente, resmungando em suas grandes dobradiças. Os viajantes entraram. O interior parecia escuro e quente, depois do ar claro sobre a colina.
O salão era comprido e largo, e cheio de sombras e meias-luzes, pilares poderosos sustentavam o teto alto. Mas em alguns pontos a luz do sol caía em raios bruxuleantes das janelas orientais, altas sob os profundos beirais. Através das gelosias do teto, sobre os fios tênues de fumaça que subiam, o céu se mostrava claro e azul. Conforme desviaram os olhos, os viajantes perceberam que o chão era pavimentado com pedras de várias tonalidades, runas trabalhadas e estranhos objetos se entrelaçavam sob seus pés. Viram nesse momento que os pilares eram ricamente entalhados, reluzindo veladamente em ouro e cores meio imperceptíveis. Muitas estampas tecidas pendiam das paredes, e sobre seus amplos espaços marchavam figuras de lendas antigas, algumas apagadas pelos anos algumas escurecidas pela sombra. Mas sobre uma das formas a luz do sol batia: um jovem sobre um cavalo branco. Tocava uma grande corneta, e seus cabelos dourados esvoaçavam ao vento. A cabeça do cavalo estava erguida, e as narinas se abriam vermelhas enquanto relinchava, sentindo o cheiro da batalha à sua frente. Águas espumantes, brancas e verdes, corriam e se encrespavam aos seus joelhos.
— Eis aqui Eorl, o Jovem — disse Aragorn — Assim veio ele cavalgando do Norte, para a Batalha do Campo de Celebrant.
Os quatro companheiros avançaram, passando pela chama viva que ardia sobre a longa lareira no meio do salão. Então pararam. Na outra extremidade da casa, além da lareira e virado para o Norte na direção das portas, estava um estrado com três degraus, no meio do estrado havia uma grande cadeira dourada. Nela sentava-se um homem tão curvado pela idade que quase parecia um anão, mas seus longos cabelos eram brancos e grossos, caindo em grandes tranças que surgiam de um fino diadema de ouro que lhe cingia a fronte. No centro da testa, brilhava um único diamante branco. A barba caía-lhe sobre os joelhos como neve, mas em seus olhos ainda queimava uma luz clara, que faiscou quando olharam para os forasteiros.
Atrás de sua cadeira estava uma mulher vestida de branco, de pé. Nos degraus aos pés do rei sentava-se a figura mirrada de um homem, com um rosto pálido e sábio e pálpebras caídas.
Estavam em silêncio.
O velho não se mexia na cadeira.
Finalmente, Gandalf falou.
— Salve, Théoden, filho de Thengel! Eu retornei. Pois, veja, a tempestade se aproxima, e agora todos os amigos devem se reunir, para que não sejam destruídos um a um.
Lentamente o velho se levantou, apoiando-se muito num bastão curto e preto, com um cabo de osso branco, agora os forasteiros viam que, embora ele estivesse curvado, ainda era alto e, quando jovem, devia ter sido realmente grande e imponente.
— Cumprimento-o — disse ele — E talvez você espere minhas boas-vindas. Mas para falar a verdade duvidamos que seja bem-vindo aqui, Mestre Gandalf. Você sempre foi um arauto do pesar. Os problemas o seguem como corvos, e, quanto maior a frequência, tanto pior. Não vou enganá-lo: quando ouvi que Scadufax tinha retornado sem seu cavaleiro, fiquei feliz com a volta do cavalo, e ainda mais com a falta do cavaleiro, e quando Éomer trouxe a notícia de que você tinha partido para sua última morada, eu não lamentei. Mas a notícia que vem de longe raramente é verdadeira. Aí está você de novo! E com você chegam males ainda piores que os anteriores, como se pode esperar. Por que deveria dar-lhe boas-vindas, Gandalf, Corvo da Tempestade? Diga-me.
Lentamente sentou-se de novo na cadeira.
— Fala corretamente, meu senhor — disse o homem pálido sentado nos degraus do estrado — Ainda não faz cinco dias que chegou a triste notícia de que seu filho, Théodred foi morto nas Fronteiras Ocidentais: seu braço direito, Segundo Marechal da Terra dos Cavaleiros. Em Éomer pouco se pode confiar. Poucos homens restariam para guardar suas muralhas, se lhe fosse permitido governar. E agora mesmo sabemos por Gondor que o Senhor do Escuro se agita no Leste. É esta hora que esse andarilho escolhe para retornar. Realmente, por que devemos lhe dar boas-vindas, Mestre Corvo da Tempestade? Vou chamá-lo de Láthspell, Más-Notícias, e más notícias não fazem bons hóspedes, dizem por aí.
Soltou uma gargalhada sinistra, conforme levantou as pesadas pálpebras por um instante e lançou um olhar sombrio para os forasteiros.
— Você é considerado sábio, amigo Língua de Cobra, e sem dúvida é um grande apoio para seu mestre — respondeu Gandalf em voz baixa — Apesar disso, um homem pode acompanhar as más notícias de dois modos. Pode estar trabalhando para o mal, ou ser apenas aquele que não interfere no que está bom para não estragar, e só se apresenta para ajudar em tempos de necessidade. 
— Isso é verdade — disse Língua de Cobra — Mas existe um terceiro tipo: catadores de ossos, que se intrometem nas tristezas de outros homens, abutres que engordam à custa da guerra. Que ajuda você já trouxe, Corvo da Tempestade? E que ajuda traz agora? Foi nossa ajuda que procurou na última vez que esteve aqui. Então meu senhor ordenou que escolhesse qualquer cavalo que quisesse e partisse, e para a surpresa de todos vocês, na sua insolência, escolheu Scadufax. Meu senhor ficou muito magoado, mesmo assim, para alguns pareceu que, em troca de afastá-lo rapidamente desta terra, o preço não foi alto demais. Acho provável que aconteça o mesmo outra vez: você vai pedir ajuda e não oferecê-la. Você está trazendo homens? Está trazendo cavalos, espadas, lanças? Essas coisas eu chamaria de ajuda, e é delas que precisamos agora. Mas quem são estes que o seguem? Três andarilhos esfarrapados, vestidos de cinza, e você, o mais molambento dos quatro!
— A cortesia de seu palácio parece ter diminuído nos últimos tempos, Théoden, filho de Thengel — disse Gandalf — O mensageiro de seus portões não anunciou os nomes de meus companheiros? Raramente um Senhor de Rohan recebeu convidados assim. Deixaram armas às suas Portas que são dignas de poucos mortais, mesmo os mais poderosos. Suas vestes são cinzentas, pois os elfos os vestiram, e assim eles passaram através da sombra de muitos perigos, para chegar ao seu palácio.
— Então é verdade, como reportou Éomer, que vocês são aliados da Feiticeira da Floresta Dourada? — disse Língua de Cobra — Não é de admirar: as teias da falsidade sempre foram tecidas em Dwimordene.
Gimli deu um passo à frente, mas sentiu de súbito a mão de Gandalf agarrando-o pelo ombro, e parou, duro como uma pedra.

Em Dwimordene, em Lórien
De raro andaram pés de Homem,
Poucos mortais viram a luz
Que sempre e forte ali reluz.
Galadriel! Galadriel!
De teu poço n'água claro é o céu;
Branca é a estrela em tua branca mão;
Sem par sem mancha é folha e chão
Em Dwimordene: em Lórien,
Melhor que pensa o Mortal Homem.

Assim Gandalf cantou baixinho, e de repente mudou. Jogando para trás sua velha capa esfarrapada, levantou-se e deixou de se apoiar no cajado, falou então numa voz clara.
— Os sábios só falam do que conhecem, Gríma, filho de Gálmód. Você se transformou num verme estúpido. Portanto fique em silêncio, e mantenha sua língua bifurcada atrás dos dentes. Não passei pelo fogo e pela morte para trocar palavras distorcidas com um servidor até que caiam raios do céu.
Levantou o cajado. Ouviu-se o estrondo de um trovão. A luz do sol se apagou nas janelas do Leste, todo o salão ficou de repente escuro como a noite. O fogo diminuiu, passando a pequenas brasas. Só se via Gandalf, erguendo-se branco e altivo diante da lareira enegrecida.
Na escuridão, escutaram o chiado da voz de Língua de Cobra:
— Não o aconselhei, senhor, a proibir esse cajado? Aquele tolo, Háma, nos traiu!
Houve um clarão como se um raio tivesse fendido o teto. Depois tudo ficou em silêncio. Língua de Cobra caiu esticado no chão.
— Agora, Théoden, filho de Thengel, não vai me escutar? — disse Gandalf — Está pedindo ajuda?
Levantou o cajado e apontou para uma alta janela. Ali a escuridão pareceu se extinguir, e através de uma abertura podia-se ver, alto e distante, um pedaço de céu luminoso.
— Nem tudo está escuro, Tenha coragem, Senhor da Terra dos Cavaleiros, pois melhor ajuda não encontrará. Não tenho conselhos a dar para os que se desesperam. Mas poderia dar conselhos, e poderia lhe dizer umas palavras. Não vai me escutar? Não se destinam a qualquer ouvido. Peço que deixe o interior dessas portas e olhe lá fora. Por muito tempo você ficou sentado nas sombras e confiou em histórias distorcidas e sugestões tortuosas.
Lentamente Théoden deixou sua cadeira. Uma luz fraca se acendeu no salão de novo. A mulher correu para o lado do rei, pegando-lhe o braço, e com passos vacilantes o velho desceu do estrado e caminhou suavemente através do salão.
Língua de Cobra continuou deitado no chão.
Chegaram até as portas e Gandalf bateu.
— Abram! — gritou ele. — O Senhor da Terra dos Cavaleiros se aproxima!
As portas se abriram e um ar fresco entrou, com um assobio. Um vento soprava na colina.
— Mande que seus guardas desçam a escada — disse Gandalf — E você, senhora, deixe-o um pouco comigo. Tomarei conta dele.
— Vá, Éowyn, filha de minha irmã! — disse o velho rei — O tempo do medo acabou.
A mulher se voltou e foi lentamente para dentro da casa. Ao passar pelas portas, virou-se e olhou para trás. Seu olhar era grave e pensativo, quando se dirigiu ao rei com uma piedade calma. Muito belo era seu rosto, e seus longos cabelos eram como um rio de ouro. Era alta e esbelta em seu traje branco cingido por um cinto de prata, mas parecia forte e rígida como o aço, uma filha de reis.
Assim Aragorn, pela primeira vez em plena luz do dia, contemplou Éowyn, Senhora de Rohan, e a achou bela, bela e fria, como uma manhã pálida de primavera que ainda não atingiu a plenitude de mulher.
E ela de repente se deu conta dele: altivo herdeiro de reis, sábio após muitos invernos, coberto com um manto cinza, escondendo um poder que ela adivinhava. Por um momento, permaneceu imóvel como uma pedra, depois virando-se rapidamente, ela se foi.
— Agora, senhor — disse Gandalf — Contemple sua terra! Respire o ar livre outra vez!
Do alpendre sobre o planalto eles podiam ver além do rio os campos verdes de Rohan, sumindo num cinza distante. Cortinas de chuva açoitadas pelo vento caíam oblíquas.
O céu acima e ao Oeste ainda estava escuro e trovejava, relâmpagos piscavam distantes, em meio aos topos das colinas escondidas. Mas o vento tinha mudado para o Norte, e a tempestade que surgira no Leste já amainava, rolando em direção ao mar. De repente, através de uma brecha nas nuvens atrás deles, um raio de sol cortou o céu. A chuva que caía brilhou como prata, e na distância o rio resplandeceu como um espelho de luz trêmula.
— Não está tão escuro aqui — disse Théoden.
— Não — disse Gandalf. — Nem a idade pesa tanto em seus ombros, como alguns querem fazê-lo pensar. Jogue fora seu apoio!
Das mãos do rei, o bastão negro caiu, batendo sobre as pedras. Ele esticou o corpo, lentamente, como um homem que se sente enrijecido após ficar um longo período curvado sobre alguma tarefa enfadonha. Agora erguia-se alto e ereto, e seus olhos azuis contemplavam o céu que se abria.
— Escuros têm sido meus sonhos nos últimos tempos — disse ele — Mas sinto-me como alguém que acabou de despertar. Desejaria agora que você tivesse vindo antes, Gandalf, pois receio que já tenha chegado tarde demais, apenas para ver os últimos dias de minha casa. Não por muito tempo deverá resistir o alto palácio que Brego, filho de Eorl, construiu. O fogo devorará o alto trono. Que se pode fazer?
— Muito — disse Gandalf — Mas primeiro mande chamar Éomer. Não estou certo, supondo que você o mantém prisioneiro, por conselho de Gríma, aquele que todos menos você chamam de Língua de Cobra?
— É verdade — disse Théoden — Ele se rebelou contra minhas ordens, e ameaçou Gríma de morte em meu palácio.
— Um homem pode amá-lo, mas não amar Língua de Cobra ou os conselhos dele — disse Gandalf.
— Isso pode ser. Farei como me pede. Chame Háma, diga que venha até mim. Já que ele provou ser uma sentinela não confiável, que agora se torne um transmissor de recados. Os culpados devem trazer os culpados ao julgamento — disse Théoden, e sua voz era grave, apesar disso olhou para Gandalf e sorriu, e quando fez isso muitas rugas de preocupação desapareceram de seu rosto, para não voltar mais.
Depois que Háma se apresentara e já saíra, Gandalf conduziu Théoden até a cadeira de pedra, e então sentou-se diante do rei sobre o degrau mais alto da escada.
Aragorn e seus companheiros ficaram por perto.
— Não há tempo para lhe contar tudo o que precisa ouvir — disse Gandalf — Mas se minha esperança não estiver enganada, chegará um tempo, dentro em breve, quando poderei falar de modo mais completo. Olhe! Você corre um perigo maior até do que aqueles que a habilidade de Língua de Cobra poderia ter introduzido em seus sonhos! Mas veja! Você não está mais sonhando. Você está vivo. Gondor e Rohan não estão sozinhas. O inimigo é mais forte do que podemos imaginar, apesar disso temos uma esperança que ele ainda não imagina.
Gandalf agora falava rápido. Sua voz era baixa e confidencial, e ninguém a não ser o rei ouvia o que ele dizia. Mas a cada palavra do mago aumentava o brilho nos olhos de Théoden, e finalmente ele se levantou de seu assento em toda a sua imponência, tendo Gandalf ao lado dele, e juntos lá do alto eles olharam na direção do Leste.
— Realmente! — disse Gandalf, agora numa voz alta, forte e clara — Naquela direção está nossa esperança, lá onde está nosso maior medo. O destino ainda está por um fio. Mas ainda há esperança, se conseguirmos resistir imbatíveis por um tempo.
Os outros agora também olhavam para o Leste. Por sobre léguas de terras que se estendiam, lá adiante eles divisavam o horizonte, e a esperança e o medo ainda faziam seus pensamentos avançarem mais, além das escuras montanhas, para a Terra da Sombra.
Onde estaria agora o Portador do Anel? Como era fino o fio do qual pendia o destino!
Legolas teve a impressão, ao forçar os olhos poderosos, de ver de relance um brilho branco: na distância, talvez o sol piscasse num pináculo da Torre de Guarda. E mais além ainda, infinitamente remoto e, no entanto uma ameaça presente, havia uma fina língua de fogo.
Lentamente Théoden se sentou de novo, como se o cansaço ainda lutasse para dominá-lo, contra a vontade de Gandalf. Virou-se e olhou para seu grande palácio.
— É pena — disse ele — Que esses dias tristes devam ser meus, e que venham em minha velhice, no lugar da paz que eu conquistei. Sinto pena por Boromir, o bravo! Os jovens perecem e os velhos permanecem, fenecendo.
Segurou os joelhos com suas mãos enrugadas.
— Seus dedos se recordariam melhor da velha força se segurassem o punho de uma espada — disse Gandalf.
Théoden se levantou e colocou a mão do lado do corpo, mas não havia espada alguma em seu cinto.
— Onde Gríma a escondeu? — disse ele num sussurro.
— Tome esta, querido senhor — disse uma voz límpida — Ela sempre esteve a seu serviço.
Dois homens tinham subido em silêncio a escada, e agora estavam parados, a poucos passos do topo. Éomer estava lá. Sem elmo sobre a cabeça, sem malha sobre o peito, mas na mão segurava uma espada, ajoelhando-se, ofereceu o punho ao seu mestre.
— Que significa isso? — disse Théoden severo.
Voltou-se para Éomer e os homens ficaram surpresos ao vê-lo, erguendo-se agora altivo e ereto. Onde estava o velho que tinham deixado curvado em seu trono, ou apoiado em seu cajado?
— A responsabilidade é minha, senhor — disse Háma, tremendo — Entendi que Éomer deveria ser libertado. Tamanha alegria dominou meu coração que talvez eu tenha cometido um erro. No entanto, uma vez que ele estava livre de novo, e sendo ele um Marechal da Terra dos Cavaleiros, trouxe-lhe a espada como ele me pediu.
— Para depositá-la aos seus pés, meu senhor — disse Éomer.
Por um instante de silêncio, Théoden ficou olhando para Éomer, que ainda estava ajoelhado a seus pés. Nenhum dos dois se mexeu.
— Não vai pegar a espada? — perguntou Gandalf.
Lentamente Théoden estendeu a mão. Quando seus dedos tocaram o punho, pareceu aos que olhavam que a força e a firmeza retornavam ao seu braço. De repente ergueu a lâmina e a brandiu, reluzente e assobiando no ar. Então soltou um forte grito. Sua voz soava clara enquanto cantava, na língua de Rohan, um chamado às armas.
— De pé já, de pé, Cavaleiros de Théoden! Duros feitos despertam, a Leste já escurece. A sela do cavalo, o som à trombeta! Avante, Eorlingas!
Os guardas, julgando que estavam sendo convocados, subiram correndo a escada. Olharam seu senhor com surpresa, e depois, como se fossem um só homem, puxaram suas espadas e colocaram-nas aos pés dele.
— Comande-nos — disseram eles.
— Westu Théoden hál! — gritou Éomer — É uma alegria para nós vê-lo voltar a ser o que era. Nunca mais alguém dirá, Gandalf, que você só vem trazendo tristeza!
— Pegue de volta sua espada, Éomer, filho de minha irmã! — disse o rei — Vá, Háma, e procure minha própria espada! Está em poder de Gríma. Traga-o a mim também. Agora, Gandalf, você disse que tinha conselhos a dar, se eu quisesse escutá-los. Qual é o seu conselho?
— Você já o colocou em prática — respondeu Gandalf — Depositar sua confiança em Éomer, e não num homem de mente pervertida. Jogar fora o medo e o arrependimento. Fazer o que deve ser feito. Todo homem que pode cavalgar deve ser enviado para o Oeste imediatamente, como Éomer o aconselhou: devemos primeiro destruir a ameaça de Saruman, enquanto temos tempo. Se falharmos, seremos derrotados. Se tivermos sucesso, então enfrentaremos a próxima tarefa. Enquanto isso, aqueles do seu povo que sobrarem, as mulheres, as crianças e os velhos, devem fugir para os refúgios que vocês mantêm nas montanhas. Não foram eles preparados para um dia tão terrível como este? Deixe que levem provisões, mas que não demorem, nem carreguem na bagagem tesouros, grandes ou pequenos. É a vida deles que está em questão.
— Esse conselho me parece bom agora — disse Théoden — Que todo meu povo se apronte! Menos vocês, meus hóspedes, você estava certo, Gandalf, quando disse que a cortesia de meu palácio diminuiu. Vocês cavalgaram a noite toda e a manhã já está terminando. Vocês não dormiram nem comeram nada. Uma casa de hóspedes será preparada: ali deverão dormir, após terem comido.
— Não, senhor — disse Aragorn — Ainda não pode haver repouso para os cansados. Os homens de Rohan devem partir hoje, e nós iremos com eles, com machado, espada e arco. Não trouxemos essas armas para que ficassem descansando contra sua parede, Senhor dos Cavaleiros. E prometi a Éomer que minha espada e a dele seriam brandidas juntas.
— Agora realmente vejo esperança de vitória! — disse Éomer.
— Esperança sim — disse Gandalf — Mas Isengard é forte. E outros perigos se aproximam cada vez mais. Não demore, Théoden, quando tivermos partido. Conduza seu povo rapidamente ao Forte do Templo da Colina!
— Não, Gandalf. — disse o rei — Você não conhece seu próprio poder de cura. Não será assim. Eu mesmo irei à guerra, para cair à frente da batalha, se isso tiver de acontecer. Assim dormirei melhor.
— Nesse caso, mesmo a derrota de Rohan será gloriosa nas canções — disse Aragorn.
Os homens armados que estavam por perto bateram suas armas, gritando:
— O Senhor dos Cavaleiros irá cavalgar. Avante, Eorlingas!
— Mas seu povo não pode ficar sem armas e sem um líder ao mesmo tempo — disse Gandalf — Quem irá guiá-los e governá-los em seu lugar?
— Pensarei nisso antes de partir — respondeu Théoden — Lá vem meu conselheiro.
Nesse momento, Háma voltou do salão. Atrás dele, encolhendo-se entre dois outros homens, vinha Gríma, o Língua de Cobra. Seu rosto estava muito branco. Os olhos piscavam com a luz do sol. Háma se ajoelhou e apresentou a Théoden uma grande espada numa bainha trabalhada em ouro e adornada com pedras verdes.
— Aqui, senhor, está Hertigrim, sua antiga espada — disse ele — Foi encontrada na arca dele. A contragosto entregou as chaves. Há muitas outras coisas lá de que os homens deram falta.
— Você está mentindo — disse Língua de Cobra — E essa espada me foi confiada por seu próprio mestre.
— E agora ele a requer de volta — disse Théoden — Isso lhe desagrada?
— Certamente que não, senhor — disse Língua de Cobra — Cuido do senhor e dos seus o melhor que posso. Mas não se dê tanto trabalho, não exija demais de suas energias. Deixe que outros lidem com esses hóspedes aborrecidos. Sua carne está quase pronta para servir. Não quer prová-la?
— Quero — disse Théoden — E faça com que a comida de meus hóspedes seja servida ao meu lado na mesa. O exército cavalgará hoje. Envie os arautos! Que reúnam todos os que moram nas redondezas. Todo homem e todo rapaz bastante forte para segurar uma arma, e todos os que têm cavalos, que estejam prontos sobre as selas antes da segunda hora após o meio-dia!
— Caro senhor! — gritou Língua de Cobra — É como eu receava. Esse mago o enfeitiçou. Não vai ficar ninguém para defender o Palácio Dourado que pertenceu aos seus ancestrais, e todo o seu tesouro? Ninguém para proteger o Senhor da Terra dos Cavaleiros?
— Se isso for feitiço — disse Théoden — Parece-me mais benfazejo que seus sussurros. Sua arte de sanguessuga teria logo feito com que eu começasse a andar de quatro, como um animal. Não, ninguém ficará, nem mesmo Gríma. Gríma também cavalgará. Vá! Você ainda tem tempo para limpar a ferrugem de sua espada.
— Clemência, senhor! — choramingou Língua de Cobra, rastejando no chão — Tenha pena de alguém que se desgastou de tanto o servir. Não me mande para longe de sua companhia! Pelo menos eu ficarei ao seu lado quando todos os outros tiverem partido. Não mande seu fiel Gríma embora!
— Você tem minha compaixão — disse Théoden — E não o mandarei para longe de minha companhia. Eu mesmo irei para a guerra com meus homens. Ordeno que venha comigo e prove sua fidelidade.
Língua de Cobra olhava de rosto em rosto. Em seus olhos se via a expressão de um animal acossado, procurando uma brecha no círculo formado por seus inimigos. Lambeu os lábios com sua língua comprida e descorada.
— Pode-se esperar uma resolução dessas de um senhor da Casa de Eorl, mesmo que ele seja velho — disse ele — Mas os que realmente o amam poupariam seus últimos anos. Apesar disso, vejo que chego tarde demais. Outros, a quem talvez a morte de meu senhor entristeceria menos, já o persuadiram. Se não posso desfazer o que fizeram, escute-me pelo menos nisto, senhor! Alguém que conhece seus pensamentos e honra suas ordens deve ficar em Edoras. Nomeie um administrador fiel. Permita que seu conselheiro, Gríma, cuide de tudo até seu retorno, e espero que possamos revê-lo, embora nenhum homem sábio tenha esperanças.
Éomer riu.
— E se esse pedido não o dispensar da guerra, nobilíssimo Língua de Cobra — disse ele — Que serviço de menor honra você aceitaria? Carregar um saco de farinha para as montanhas, se alguém confiasse em você para essa tarefa?
— Não, Éomer, você não está entendendo completamente os pensamentos do Mestre Língua de Cobra — disse Gandalf, voltando o olhar agudo para este último — Ele é bravo e astuto. Agora mesmo está fazendo um jogo com o perigo e ganhou uma jogada. Já desperdiçou horas de meu precioso tempo. Ao chão, cobra! — disse ele de repente com uma voz terrível — De barriga no chão! Quanto tempo faz que Saruman o comprou? Qual foi o preço prometido? Quando todos os homens estivessem mortos, você teria uma parte no tesouro, e levaria a mulher que deseja? Há muito tempo você a tem observado com seus olhos oblíquos e perseguido seus passos.
Éomer puxou sua espada.
— Disso eu já sabia — murmurou ele — Por esse motivo já o teria matado antes, esquecendo a lei do palácio. Mas há outros motivos.
Deu um passo à frente, porém Gandalf o deteve com sua mão.
— Éowyn está a salvo agora — disse ele — Mas você, Língua de Cobra, já fez tudo o que podia por seu verdadeiro mestre. Alguma recompensa conseguiu no fim. No entanto, Saruman é capaz de ignorar as promessas que fez. Devo recomendar que vá rápido e refresque a memória dele, para que não esqueça seus fiéis serviços.
— Você está mentindo — disse Língua de Cobra.
— Essa palavra brota com muita frequência de seus lábios — disse Gandalf — Eu não estou mentindo. Veja, Théoden, aqui está uma cobra! Não pode levá-la consigo em segurança, nem deixá-la para trás. Matá-la seria justo. Mas essa criatura não foi sempre como é agora. Já foi um homem, e o serviu à sua maneira. Dê-lhe um cavalo e faça-o partir imediatamente, para onde escolher. Poderá julgá-lo por sua escolha.
— Você ouviu isso, Língua de Cobra? — disse Théoden — A escolha é sua: cavalgar comigo para a guerra, e nos deixar comprovar na batalha a sua sinceridade, ou partir agora, para onde quiser. Mas se for assim, se nos encontrarmos novamente, não terei pena.
Lentamente, Língua de Cobra se levantou. Olhou para eles com os olhos semicerrados. Por último olhou para o rosto de Théoden e abriu a boca, como se fosse falar alguma coisa. Então de repente se aprumou. As mãos se agitavam, os olhos faiscavam.
Havia tanta malícia neles que os homens recuaram.
Mostrou os dentes; e depois, com uma respiração chiada, cuspiu aos pés do rei, e, lançando-se para um lado, fugiu descendo a escada.
— Atrás dele! — disse Théoden — Cuidem para que não faça mal a ninguém, mas não o machuquem e nem impeçam que parta. Que lhe seja dado um cavalo, se ele quiser.
— Isso se algum animal o aceitar — disse Éomer.
Um dos guardas desceu a escada correndo. Um outro foi até o poço ao pé do planalto e com seu elmo retirou um pouco de água. Com ela lavou as pedras que Língua de Cobra tinha conspurcado.
— Agora venham, meus hóspedes! — disse Théoden — Venham e se reconfortem da maneira que o tempo permite.
Entraram na grande casa. Já escutavam lá embaixo os arautos gritando pela cidade e as cornetas de guerra soando. Pois o rei devia partir logo que os homens da cidade e os que moravam nas redondezas estivessem armados e reunidos.
À mesa do rei sentaram-se Éomer e os quatro hóspedes, e ali também, servindo o rei, estava a Senhora Éowyn. Comeram e beberam de pressa. Os outros ficaram em silêncio, enquanto Théoden fazia perguntas a Gandalf a respeito de Saruman.
— A quando remonta essa traição, quem pode saber? — disse Gandalf — Ele não foi sempre mau. Não duvido que já tenha sido um amigo de Rohan, e mesmo quando seu coração esfriou ele ainda o considerou útil. Mas faz tempo agora que vem planejando sua ruína, usando a máscara da amizade, até que ele estivesse pronto. Nesses anos, a tarefa de Língua de Cobra foi fácil, e tudo o que você fazia era logo relatado em Isengard, pois sua terra estava aberta, e os forasteiros entravam e saíam. E sempre o sussurro de Língua de Cobra estava em seus ouvidos, envenenando seus pensamentos, enregelando seu coração, enfraquecendo seus músculos, enquanto os outros viam tudo e não podiam dizer nada, pois sua vontade era controlada por ele. Mas quando escapei e avisei você, então a máscara foi destruída para aqueles que quisessem ver. Depois disso Língua de Cobra jogou perigosamente, sempre procurando atrasá-lo, para impedir que recobrasse todas as suas forças. Ele foi esperto: entorpecendo a astúcia dos homens e alimentando seus medos, como melhor coubesse em cada ocasião. Não lembra com que avidez ele disse que nenhum homem deveria ser desperdiçado numa busca infrutífera em direção ao Norte, quando todo o perigo estava no Oeste? Ele o persuadiu a proibir que Éomer caçasse os orcs invasores. Se Éomer não tivesse desafiado a voz de Língua de Cobra que falava através de seus lábios, aqueles orcs já teriam chegado a Isengard agora levando um grande prêmio. Na realidade, não o prêmio que Saruman deseja acima de todos os outros, mas no mínimo dois membros de minha Comitiva, que compartilham uma esperança secreta, da qual nem mesmo a você, meu rei, ainda não posso falar abertamente. Ousa pensar o quanto eles estariam sofrendo agora, ou o que Saruman poderia ter descoberto para nossa desgraça?
— Devo muito a Éomer — disse Théoden — Um coração fiel pode ter uma língua rebelde.
— Diga também — disse Gandalf — Que para olhos tortos a verdade pode ter um rosto desvirtuado.
— Realmente meus olhos estavam quase cegos — disse Théoden — Acima de tudo devo a você, meu convidado. Mais uma vez chegou a tempo. Gostaria de lhe oferecer um presente antes de partirmos, à sua escolha. Você só tem de apontar qualquer coisa que é minha. Agora só reservo minha própria espada.
— Se cheguei a tempo não podemos saber agora — disse Gandalf — Mas quanto ao presente, senhor, vou escolher um que supra minhas necessidades: rápido e seguro. Dê-me Scadufax! Antes ele só foi emprestado, se é que podemos chamar aquilo de empréstimo. Mas agora vou conduzi-lo para grandes perigos, colocando a prata contra o negro: eu não arriscaria qualquer coisa que não fosse minha. E já existe um elo de amizade entre nós.
— Você fez uma boa escolha — disse Théoden — E agora eu o passo às suas mãos alegremente. Mas é um grande presente. Não há outro como Scadufax. Nele retorna um dos poderosos animais de antigamente. Nenhum assim retornará outra vez. E a vocês, meus outros convidados, oferecerei coisas que podem ser encontradas em meu arsenal. De espadas vocês não precisam, mas há elmos e coletes de malha feitos num habilidoso trabalho com os metais, que foram dados de presente aos meus antepassados por Gondor. Escolham entre estes antes de partirmos, e que possam lhes servir bem!
Então chegaram homens trazendo vestimentas de guerra do tesouro do rei, e vestiram Aragorn e Legolas em malhas reluzentes. Escolheram também elmos, e escudos redondos: neles havia gravuras enfeitadas com ouro e pedras, verdes, vermelhas e brancas. Gandalf não pegou nenhuma armadura, e Gimli não precisava de nenhum colete de metal, mesmo que se encontrasse algum que servisse no seu tamanho, pois não havia couraça de malhas nos tesouros de Edoras de melhor qualidade do que seu pequeno corselete feito sob a Montanha do Norte. Mas escolheu uma touca de ferro e couro que serviu bem em sua cabeça redonda, e pegou também um pequeno escudo. Esta peça exibia o cavalo correndo, branco sobre verde, que era o emblema da Casa de Eorl.
— Que o proteja bem — disse Théoden — Foi feito para mim no tempo de Thengel, quando eu ainda era um menino.
Gimli fez uma reverência.
— Fico orgulhoso, Senhor dos Cavaleiros, em usar uma peça sua — disse ele — Na realidade, seria mais fácil eu carregar um cavalo do que ser carregado por um. Gosto mais dos meus pés. Mas, talvez, chegarei a algum lugar onde possa ficar de pé e lutar.
— Pode muito bem acontecer — disse Théoden.
O rei então se levantou, e imediatamente Éowyn se aproximou trazendo vinho.
— Ferthu Théoden hál! — disse ela — Tome esta taça e beba nesta hora feliz. Que a saúde o acompanhe em sua ida e em seu retorno!
Théoden bebeu da taça, e então ela a ofereceu aos convidados. Ao ficar diante de Aragorn, Éowyn parou de repente e o olhou, com um brilho nos olhos. E ele olhou o rosto dela e sorriu, mas quando pegou a taça a mão dele encontrou a dela, e Aragorn percebeu que ela tremeu àquele toque.
— Salve, Aragorn, filho de Arathorn! — disse ela.
— Salve, Senhora de Rohan! — respondeu ele, mas agora tinha o rosto preocupado e não sorriu.
Quando todos tinham bebido, o rei atravessou o salão em direção às portas. Ali guardas esperavam por ele, e arautos também, e todos os senhores e chefes de Edoras e das redondezas estavam reunidos.
— Vejam! Vou na frente, e é provável que esta seja minha última cavalgada — disse Théoden — Não tenho filhos. Théodred, meu filho, está morto. Nomeio Éomer, filho de minha irmã, como meu herdeiro. Se nenhum de nós voltar, então escolham outro senhor. Mas a alguém devo agora confiar meu povo que abandono, para governá-lo em paz. Qual de vocês está disposto a ficar?
Ninguém disse nada.
— Não há ninguém que possam indicar? Em quem meu povo confia?
— Na Casa de Eorl — respondeu Háma.
— Mas não podemos deixar Éomer, nem ele ficaria — disse o rei, e ele é o último dessa Casa.
— Não me referi a Éomer — respondeu Háma — E ele não é o último. Há sua irmã Éowyn, filha de Éomund. Ela é corajosa e tem um coração nobre. Todos a amam. Deixe que ela faça o papel de Senhor dos Eorlingas, enquanto estivermos fora.
— Assim será — disse Théoden — Que os arautos anunciem ao povo que a Senhora Éowyn os conduzirá!
Então o rei se sentou numa cadeira diante de suas portas, e Éowyn se ajoelhou à sua frente, recebendo dele uma espada e um belo corselete.
— Até logo, filha de minha irmã! — disse ele — Escura é esta hora, mas talvez retornemos ao Palácio Dourado. Mas no Templo da Colina as pessoas poderão se defender por muito tempo, e se o final da batalha for contra nós para cá virão todos os que escaparem.
— Não fale desse modo! — respondeu ela — Suportarei um ano para cada dia que passar até seu retorno.
Mas enquanto ela falava seus olhos se dirigiram a Aragorn, que estava ao lado.
— O rei retornará — disse ele — Não tenha medo! Nosso destino nos espera no Leste e não no Oeste.
O rei então desceu a escada, com Gandalf ao seu lado. Os outros os seguiram.
Aragorn olhou para trás no momento em que passavam em direção ao portão. Sozinha, Éowyn ficou parada diante das portas do salão, no topo da escada, a espada estava de pé diante dela, e suas mãos descansavam sobre o punho. Estava agora vestida em malhas metálicas, e brilhava como prata ao sol.
Gimli foi ao lado de Legolas, com o machado sobre os ombros. 
— Bem, finalmente partimos! — disse ele — Os homens precisam de muitas palavras antes das ações. Meu machado está inquieto em minhas mãos. Contudo eu não duvido que esses rohirrim tenham mãos ferozes no momento necessário. Apesar disso, não é este o tipo de batalha que me cai bem. Como irei para a batalha? Preferia andar, e não ficar pulando como um saco na garupa de Gandalf.
— Um lugar mais seguro que muitos outros — disse Legolas — Apesar disso, Gandalf o colocará no chão de bom grado quando os golpes começarem, ou o próprio Scadufax fará isso. Um machado não é arma para um cavaleiro.
— E um anão não é um cavaleiro. São os pescoços dos orcs que eu queria cortar, e não barbear os escalpos de homens — disse Gimli, batendo no cabo do machado.
No portão encontraram um grande exército de homens, velhos e jovens, todos prontos na sela. Mais de mil estavam ali reunidos. Suas lanças eram como uma floresta irrequieta. Gritaram com muita alegria quando Théoden surgiu. Alguns seguravam o cavalo do rei, Snawmana, e outros seguravam os cavalos de Aragorn e Legolas. Gimli ficou pouco à vontade, franzindo a testa, mas Éomer veio até ele, trazendo seu cavalo.
— Salve, Gimli, filho de Gloin — gritou ele — Não tive tempo de aprender um modo gentil de falar sob sua palmatória, como me prometeu. Mas não podemos deixar de lado nossa desavença? Pelo menos não falarei mal da Senhora da Floresta outra vez.
— Vou esquecer minha ira por enquanto, Éomer, filho de Éomund — disse Gimli — Mas se algum dia você tiver a oportunidade de ver a Senhora Galadriel com seus próprios olhos então irá considerá-la a mais bela das senhoras, caso contrário, nossa amizade chegará ao fim.
— Que assim seja! — disse Éomer — Mas até esse dia me perdoe, e em sinal de perdão cavalgue comigo, eu lhe peço. Gandalf irá na frente com o Senhor dos Cavaleiros, mas Pé-de-Fogo, meu cavalo, nos levará a nós dois, se você estiver disposto.
— Agradeço-lhe imensamente — disse Gimli, muito satisfeito — Irei contente com você, se Legolas, meu companheiro, puder cavalgar ao nosso lado.
— Assim será — disse Éomer — Legolas à minha esquerda, e Aragorn à minha direita, e ninguém ousará nos enfrentar!
— Onde está Scadufax? — disse Gandalf
— Correndo solto sobre a grama — responderam eles — Não deixa que nenhum homem o pegue. Lá vai ele, lá embaixo, perto do vau, como uma sombra por entre os salgueiros.
Gandalf assobiou e chamou o nome do cavalo em voz alta, e na distância ele balançou a cabeça e relinchou, virando-se, correu na direção do exército como uma flecha.
— Se o sopro do Vento Leste tomasse a forma de um corpo visível, teria exatamente a aparência desse animal — disse Éomer, enquanto o grande cavalo subia, até parar ao lado do mago.
— Parece que o presente já está entregue — disse Théoden — Mas escutem todos! Aqui nomeio agora meu hóspede, Gandalf Capa-Cinzenta, o mais sábio dos conselheiros, o mais bem-vindo dos andarilhos, um senhor da Terra dos Cavaleiros, um líder dos Eorlingas enquanto nosso povo durar; e dou a ele Scadufax, o príncipe dos cavalos.
— Agradeço-lhe, Théoden Rei — disse Gandalf.
Então, de repente, jogou para trás a capa cinzenta, jogou de lado seu chapéu, e de um salto montou no cavalo. Não usava nem elmo nem armadura. Seus cabelos de neve voavam ao vento, as vestes brancas brilhavam ofuscantes ao sol.
— Vejam o Cavaleiro Branco — gritou Aragorn, e todos repetiram essas palavras.
— Nosso Rei e o Cavaleiro Branco! — gritaram eles — Avante, Eorlingas!
As trombetas soaram. Os cavalos empinaram e relincharam. Lanças batiam nos escudos, então o rei levantou a mão, e numa velocidade semelhante ao início de um grande vendaval o último exército de Rohan cavalgou, retumbando em direção ao Oeste.
Distante na planície, Éowyn viu o brilho de suas lanças, enquanto ficou parada, sozinha diante das portas da casa silenciosa.



 continua...




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Lei de ComimAs pessoas aceitarão sua idéia muito mais facilmente se você disser a elas que quem a criou foi Albert Einstein.
Lei de Murphy

O companheirismo é essencial à sobrevivência. Ele dá ao inimigo outra pessoa em quem atirar.

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