terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei - Capítulo 8



— Capítulo VIII —
As Casas De Cura




Uma névoa de lágrimas e cansaço cobria os olhos de Merry quando eles se aproximaram das ruínas do Portão de Minas Tirith. Pouca atenção dava ele aos escombros e sinais do massacre que se espalhavam por toda a volta. Havia fogo, fumaça e um cheiro forte no ar, muitas máquinas haviam sido incendiadas ou jogadas nas trincheiras de fogo, como também muitos dos mortos, ao passo que aqui e ali jaziam muitas carcaças dos grandes monstros dos Sulistas, semicarbonizados ou destruídos por pedras arremessadas, ou ainda alvejados no meio dos olhos pelas flechas dos valorosos arqueiros de Morthond. A rajada de chuva cessara por um tempo e o sol reluzia alto no céu, mas toda a cidade mais baixa ainda estava envolta num vapor fétido.
Homens já trabalhavam abrindo um caminho através dos destroços da batalha, agora, do Portão, chegavam algumas macas. Com toda a delicadeza, deitaram Éowyn sobre travesseiros macios, mas cobriram o corpo do rei com um grande tecido dourado, e o acompanharam carregando tochas, cujas chamas, pálidas à luz do sol, tremulavam ao vento.
Foi assim que Théoden e Éowyn chegaram á Cidade de Gondor, e todos que os viam descobriam as cabeças e faziam reverência, os dois passaram através das cinzas e da fumaça do circulo queimado, e continuaram subindo ao longo das ruas de pedra. Merry teve a impressão de que a subida durou uma eternidade, uma viagem sem sentido num sonho odioso, que avançava sempre e sempre para algum fim obscuro que a memória não pode reter.
Lentamente as luzes das tochas á sua frente bruxulearam e se extinguiram, e Merry caminhava numa escuridão, ao pensar: “Isto é um túnel que conduz a um túmulo, lá permaneceremos para sempre”. Mas de súbito, em seu devaneio, surgiu uma voz viva.
— Merry! Ainda bem que o encontrei!
Ergueu os olhos, e a névoa em seus olhos se dissipou um pouco. Lá estava Pippin! Estavam cara a cara numa passagem estreita que, a não ser pelos dois, estava vazia.
Merry esfregou os olhos.
— Onde está o rei? — disse ele — E Éowyn?
Então tropeçou e caiu sentado na soleira de uma porta, rompendo outra vez em pranto.
— Eles subiram para a Cidadela — disse Pippin — Acho que você adormeceu andando e pegou o caminho errado. Quando descobrimos que você não estava com eles, Gandalf me mandou procurá-lo. Pobre Merry! Como me alegro em vê-lo outra vez! Mas você está exausto, e não vou incomodá-lo com conversas. Mas, diga-me, está ferido ou machucado?
— Não — disse Merry — Bem, pelo menos acho que não. Mas não consigo mexer o braço direito, Pippin, desde quando o golpeei. E minha espada se consumiu em chamas, como um pedaço de madeira.
O rosto de Pippin estava aflito.
— Bem, é melhor vir comigo o mais depressa possível — disse ele — Gostaria de poder carregá-lo. Você não está em condições de continuar andando. De forma alguma deveriam ter permitido que você andasse, mas deve perdoá-los. Coisas tão terríveis aconteceram na Cidade, Merry, que um pobre hobbit retornando da batalha pode facilmente passar despercebido.
— Nem sempre é uma infelicidade passar despercebido — disse Merry — Foi o que aconteceu comigo agora há pouco, quando não fui visto pelo... não, não, não consigo falar disso. Ajude-me, Pippin! Está ficando tudo escuro outra vez, e meu braço está tão frio.
— Apóie-se em mim, Merry, meu rapaz! — disse Pippin — Vamos agora, passo a passo. Não é longe.
— Você vai me sepultar? — disse Merry.
— Claro que não! — disse Pippin, tentando parecer alegre, embora tivesse o coração angustiado pelo medo e pela pena — Não, você vai para as Casas de Cura.
Saíram do caminho que avançava por entre casas altas e a muralha externa do quarto círculo, retomando a rua principal que subia para a Cidadela. Avançaram passo a passo, enquanto Merry cambaleava e murmurava como alguém que está dormindo.
“Nunca conseguirei levá-lo até lá”, pensou Pippin. “Não há ninguém que possa me ajudar? Não posso deixá-lo aqui”.
Bem nesse momento, para a surpresa do hobbit, um menino chegou correndo às suas costas, e no instante em que passou Pippin reconheceu Bergil, o filho de Beregond.
— Olá, Bergil! — chamou ele — Aonde está indo? Fico feliz em revê-lo, e ainda vivo!
— Estou a serviço dos Curadores — disse Bergil — Não posso ficar.
— Não estou pedindo isso! — disse Pippin — Mas diga-lhes lá em cima que trago comigo um hobbit doente, um perian, veja bem, que chega do campo de batalha. Acho que ele não aguenta chegar até lá andando. Se Mithrandir estiver lá, ficará feliz em receber a mensagem.
Bergil saiu correndo.
“É melhor esperar aqui”, pensou Pippin. Então colocou Merry suavemente na calçada, num trecho ensolarado, sentando-se ao lado e deitando no colo a cabeça do amigo. Apalpou seu corpo e suas pernas com delicadeza, e segurou-lhe as mãos entre as suas.
A direita estava fria como gelo.
Não demorou muito para que Gandalf em pessoa viesse ao encontro deles. Abaixou-se sobre Merry e acariciou-lhe a fronte, então ergueu-o cuidadosamente.
— Ele deveria ter sido carregado com todas as honras para esta cidade — disse ele — Sem dúvida correspondeu à minha confiança, se Elrond não tivesse cedido à minha solicitação, nenhum de vocês dois teria partido, então os males deste dia teriam sido muito mais lamentáveis.
O mago suspirou.
— Apesar disso, tenho um outro encargo em minhas mãos, e durante todo esse tempo a batalha permanece indecisa.
Finalmente Faramir, Éowyn e Meriadoc foram colocados em leitos nas Casas de Cura e lá foram bem cuidados. Pois, embora naqueles últimos tempos todo o conhecimento tivesse decaído em relação aos Dias Antigos, a arte de cura de Gondor ainda era competente, habilidosa nos cuidados com os feridos, e no trato de todas as doenças que pudessem acometer os homens mortais a Leste do Mar. Exceto a idade avançada. Para isso não haviam encontrado cura, de fato a longevidade daquele povo diminuíra, ficando pouco maior que a dos outros homens, eram poucos os que ultrapassavam com vigor a conta de cinco vintenas de anos, a não ser nas casas de sangue mais puro. Mas agora sua arte e seu conhecimento se quedavam perplexos, pois havia muitos doentes de uma enfermidade que não podia ser curada, chamavam-na de Sombra Negra, pois vinha dos Nazgûl. Aqueles acometidos por ela caiam lentamente num sonho cada vez mais profundo, entrando então no silêncio e numa frieza mortal, e assim morriam.
Parecia aos que cuidavam dos feridos que essa enfermidade se manifestara de maneira grave no Pequeno e na Senhora de Rohan. Ainda algumas vezes, no final da manhã, eles chegaram a falar alguma coisa, murmurando em seus sonhos, os que cuidavam deles escutavam tudo o que diziam, na esperança de talvez aprender alguma coisa que lhes possibilitasse entender-lhes os ferimentos. Mas logo começaram a cair na escuridão, e quando o sol se aproximava do Oeste uma sombra cinzenta cobriu os rostos dos doentes. Mas Faramir queimava numa febre que não cedia.
Gandalf ia de um leito para o outro cheio de preocupação, e os atendentes lhe contavam tudo o que tinham conseguido escutar. Assim passou-se o dia, enquanto a grande batalha continuava lá fora em meio a esperanças inconstantes e estranhas noticias, e Gandalf ainda esperava e vigiava, sem sair de perto.
Finalmente um ocaso rubro cobriu todo o céu, e a luz que vinha das janelas bateu nos rostos cinzentos dos enfermos. Então os que estavam por perto tiveram a impressão de que naquela luz um rubor espalhou-se nos rostos, como se a saúde estivesse retornando, mas aquilo era apenas um arremedo de esperança.
Então uma senhora idosa, Ioreth, a mais velha das mulheres que trabalhavam naquela casa, olhando no belo rosto de Faramir, chorou, pois todo o povo o amava. E ela disse:
— Ai de nós se ele morrer! Ah, se houvesse reis em Gondor, como contam que havia outrora! Pois diz a sabedoria que as mãos dos reis são sempre as mãos de um curador. Dessa maneira sempre se sabia quem era o verdadeiro rei.
E Gandalf, que estava ao lado, disse:
— Talvez os homens se recordem de suas palavras por muito tempo, Ioreth! Pois nelas há esperança. Talvez um rei realmente tenha retornado a Gondor, ou será que você não ouviu as estranhas noticias que chegaram à Cidade?
— Tenho estado por demais ocupada com uma coisa e outra para dar atenção a todos os gritos e clamores — respondeu ela — Tudo o que espero é que esses demônios assassinos não venham até esta Casa perturbar os enfermos.
Então Gandalf saiu apressado, e o fogo no céu já estava se extinguindo, e as colinas em brasa se apagavam, enquanto uma noite de cinzas cobria os campos.
Agora que o sol se punha, Aragorn, Éomer e Imrahíl se aproximavam da Cidade com seus capitães e cavaleiros, quando chegaram diante do Portão, Aragorn disse:
— Vejam o sol que se põe num grande fogo! Isto é o sinal do fim e da queda de muitas coisas, e de uma mudança nas marés do mundo. Mas esta Cidade e este reino permaneceram por muitos longos anos nas mãos dos Regentes, e receio que, entrando sem ser convidado, eu desperte dúvidas e controvérsias, que não deveriam surgir enquanto durar a guerra. Não entrarei, nem farei qualquer reivindicação, até que se saiba quem será o vencedor, nós ou Mordor. Os homens devem montar minhas tendas no campo, e aqui aguardarei as boas-vindas do Senhor da Cidade.
Mas Éomer disse:
— Você já ergueu a bandeira dos Reis e exibiu os símbolos da casa de Elendil. Vai permitir que sejam contestados?
— Não — disse Aragorn — Mas acho que ainda é cedo, e não desejo disputas, a não ser com nosso Inimigo e seus servidores.
E o Príncipe Imrahíl disse:
— Se alguém que é parente do Senhor Denethor puder aconselhá-lo nesta questão, digo-lhe, senhor, que suas palavras são sábias. Ele é um homem obstinado e altivo, mas também é velho, sua disposição tem estado estranha desde que o filho foi atacado. Apesar disso, não gostaria que ficasse como um mendigo na porta.
— Não como um mendigo — disse Aragorn — Diga como um capitão dos guardiões, que não estão acostumados a cidades e casas de pedra.
Ordenou então que sua bandeira fosse recolhida, e retirou a Estrela do Reino do Norte, deixando-a aos cuidados dos filhos de Elrond.
Então o Príncipe Imrahíl e Éomer de Rohan o deixaram, atravessando a Cidade e o tumulto do povo, subindo para a Cidadela, chegaram ao Salão da Torre, procurando o Regente. Mas encontraram vazia a sua cadeira, e diante do estrado jazia em câmara ardente Théoden, Senhor da Terra dos Cavaleiros, doze tochas erguiam-se ao redor de seu corpo, e doze homens o guardavam, cavaleiros de Rohan e de Gondor. Os ornamentos do leito de morte eram verdes e brancos, mas o rei fora coberto até o peito com um grande tecido dourado, sobre o qual repousava a espada desembainhada, e aos pés estava o escudo. A luz das tochas reluzia em seus cabelos brancos como o sol contra o jato de uma fonte, mas o rosto era belo e jovem, apesar disso, expressava uma paz além do alcance da juventude, o rei parecia estar dormindo.
Após terem ficado em silêncio por um tempo ao lado dele, Imrahíl disse:
— Onde está o Regente? E onde está Mithrandir?
Um dos guardas respondeu:
— O Regente de Gondor está nas Casas de Cura.
Mas Éomer disse:
— Onde está a Senhora Éowyn, minha irmã? Certamente deveria estar deitada ao lado do rei, merecendo as mesmas honras. Onde a puseram?
E Imrahíl disse:
— Mas a Senhora Éowyn ainda estava viva quando a trouxeram para cá. Você não sabia?
Um alento inesperado chegou tão de repente ao coração de Éomer, e com ele a fisgada da preocupação e do medo renovados, que ele não disse mais nada, e deixou apressado o salão. O Príncipe o seguiu. Quando saíram, a noite já caíra e viam-se muitas estrelas no céu. E lá vinha Gandalf a pé, acompanhado de alguém envolto numa capa cinzenta, encontraram-se diante das portas das Casas de Cura.
Saudaram Gandalf e disseram:
— Estamos á procura do Regente, e disseram que ele está nesta Casa. Ele está ferido? E a Senhora Éowyn, onde está ela?
Gandalf respondeu:
— Ela está lá dentro e ainda está viva, mas ás portas da morte. Mas o Senhor Faramir foi ferido por uma flecha maligna, como ouviram falar, e ele agora é o Regente. Denethor partiu, e de sua casa só restam cinzas.
Os dois se encheram de surpresa e dor ao ouvir tal relato.
Mas Imrahíl disse:
— Então a vitória carece de alegria, e pagamos por ela um preço amargo, se num só dia Gondor e Rohan ficaram privadas de seus senhores. Éomer governa os rohirrim. Quem deverá governar a Cidade enquanto isso? Não devemos agora mandar chamar o Senhor Aragorn?
O homem coberto com a capa disse:
— Ele já chegou.
Então os outros perceberam, no momento em que ele se aproximou da luz da lamparina perto da porta, que se tratava de Aragorn, envolto na capa cinzenta de Lórien que cobria sua armadura, trazendo como insígnia apenas a pedra verde de Galadriel.
— Vim porque Gandalf me pediu — disse ele — Mas por enquanto sou apenas o Capitão dos Dúnedain de Anor, e o Senhor de Dol Amroth deverá governar a Cidade até que Faramir desperte. Mas tenho a opinião de que Gandalf deveria nos governar a todos nos dias que se seguirem em nossas negociações com o inimigo.
Todos concordaram com isso.
Então Gandalf disse:
— Não fiquemos parados aqui na porta, pois o tempo urge. Vamos entrar! Pois só com a chegada de Aragorn haverá esperança para os enfermos que jazem na Casa. Pois assim falou Ioreth, mulher sábia de Gondor: As mãos do rei são as mãos de um curador, e dessa forma o verdadeiro rei será conhecido.
Aragorn entrou primeiro e os outros o seguiram. À porta estavam dois guardas, vestidos com o uniforme da Cidadela: um era alto, mas o outro mal atingia a altura de um menino, este último, quando os viu, gritou de alegria e surpresa.
— Passolargo! Esplêndido! Sabe, achei que era você nos navios negros. Mas estavam todos gritando corsários, e não quiseram me ouvir. Como fez aquilo?
Aragorn riu e segurou a mão do hobbit.
— É realmente bom encontrá-lo! — disse ele — Mas ainda não é hora de contar histórias de viajantes.
Mas Imrahíl disse a Éomer:
— É assim que dirigimos a palavra a nossos reis? Mas talvez ele assuma a coroa sob um outro nome!
E Aragorn, ouvindo aquilo, voltou-se e disse:
— Realmente, pois na língua nobre de antigamente sou Elessar, a Pedra Élfica, e Envinyatar, o Renovador — ergueu então a pedra que repousava sobre o peito — Mas “Passolargo” será o nome de minha casa, se esta vier a se estabelecer. Na língua nobre, o nome não soará tão mal, e serei Telcontar, assim como todos os herdeiros de meu corpo.
Com isso entraram na Casa e, enquanto iam em direção aos quartos onde os enfermos estavam sendo cuidados, Gandalf contou os feitos de Éowyn e Meriadoc.
— Pois — disse ele — Fiquei um longo tempo ao lado deles, e no inicio falavam muito em seus sonhos, antes de mergulharem na escuridão mortal. Além disso, foi-me concedido o poder de ver muitas coisas distantes.
Aragorn foi primeiro ver Faramir, depois a Senhora Éowyn e por último Merry. Após olhar os rostos dos enfermos e examinar seus ferimentos, suspirou.
— Aqui devo exercer todo o poder e a habilidade que me foram concedidos — disse ele — Como queria que Elrond estivesse conosco, pois ele é o mais velho de nossa raça, e possui os maiores poderes.
E Éomer, vendo como ele estava infeliz e cansado, disse:
— Primeiro precisa descansar, com certeza, e no mínimo comer alguma coisa.
Mas Aragorn respondeu:
— Não, pois para estas três pessoas, principalmente para Faramir, o tempo está se esgotando. Precisamos de toda a rapidez.
Então chamou Ioreth e disse:
— Há nesta Casa algum estoque das ervas de cura?
— Sim, senhor — respondeu ela — Mas acho que não temos o suficiente para todos os que necessitam. Mas não tenho ideia de onde poderemos encontrar mais, falta tudo nestes dias terríveis, por causa dos fogos e incêndios, do reduzido número de meninos mensageiros, e das estradas bloqueadas. Já faz dias sem conta que um transportador que um transportador veio de Lossarnach com provisões! Mas fazemos o possível nesta Casa com o que possuímos, como tenho certeza que Vossa Senhoria verá.
— Julgarei quando vir — disse Aragorn — Uma coisa também está escassa, tempo para conversas. Você tem athelas?
— Essa eu não conheço, senhor — respondeu ela — Pelo menos não por esse nome. Vou perguntar ao nosso mestre-de-ervas, ele conhece todos os nomes antigos.
— Também é chamada folha-do-rei — disse Aragorn — Talvez você a conheça por esse nome, pois assim as pessoas do campo a chamam nestes últimos tempos.
— Ah, essa! — disse Ioreth — Bem, se Vossa Senhoria tivesse mencionado esse nome primeiro, eu poderia ter-lhe dito antes. Não, não temos nem um pouco, com certeza. Ora, nunca ouvi dizer que essa erva tivesse grandes poderes de cura, na verdade disse várias vezes a minhas irmãs quando a encontrávamos na floresta: “Folha-do-rei”, dizia eu, “Nome esquisito, e fico pensando o motivo desse nome, pois, se eu fosse um rei, teria plantas mais belas em meu jardim”. Mas ela exala um cheiro doce quando é esmagada, não é mesmo? Se “doce” for a palavra certa: talvez seja mais correto dizer “saudável”.
— Realmente saudável — disse Aragorn — E agora, dama, se você ama o Senhor Faramir, vá com a mesma agilidade de sua língua e me traga folha-do-rei, nem que haja uma só folha na Cidade.
— E se não houver — disse Gandalf — Vou a Lossarnach a cavalo com Ioreth na garupa, e ela me levará até a floresta, mas não até as irmãs dela. E Scadufax poderá ensinar-lhe o que significa pressa.
Depois que Ioreth partiu, Aragorn pediu que as outras mulheres providenciassem água quente. Então tomou a mão de Faramir nas suas, e pousou a outra mão na fronte do enfermo. Estava molhada de suor, mas Faramir não se moveu nem fez qualquer sinal; mal parecia estar respirando.
— Ele está quase morto — disse Aragorn voltando-se para Gandalf — Mas não é por causa do ferimento. Veja! Está cicatrizando. Se Faramir tivesse sido golpeado por algum dardo dos Nazgûl, como você pensou, teria morrido na mesma noite. Esse ferimento foi feito por alguma flecha dos Sulistas, suponho eu. Quem a retirou? Ela foi guardada?
— Eu a retirei — disse Imrahíl — E estanquei o sangue. Mas não guardei a flecha, pois tínhamos muito a fazer. Pelo que recordo, era um dardo do tipo usado pelos Sulistas. Mas achei que tinha vindo das Sombras do alto, pois caso contrário não haveria como entender a doença e a febre, já que o ferimento não foi profundo nem mortal. Como então interpreta o fato?
— Cansaço, tristeza pela disposição do pai, um ferimento, e acima de tudo o Hálito Negro — disse Aragorn — Faramir é um homem de vontade firme, pois já chegara perto da Sombra antes mesmo de partir para a batalha nas muralhas externas. A escuridão deve ter-se apossado lentamente dele, no momento em que lutava e se esforçava para proteger seu posto avançado. Ah, se eu pudesse ter chegado aqui mais cedo!
Logo em seguida entrou o mestre-de-ervas.
— Vossa Senhoria solicitou a folha-do-rei, como os rústicos a chamam — disse ele — Ou athelas na língua nobre, ou ainda para aqueles que conhecem um pouco da língua de Valinor...
— Eu a conheço — disse Aragorn — E não quero saber se você a chama de aséaaranion ou folha-do-rei, contanto que tenha um pouco.
— Desculpe-me, senhor! — disse o homem — Percebo que é um mestre na tradição, e não simplesmente um capitão de guerra. Mas lamento, senhor, nós não guardamos essa coisa nas Casas de Cura, onde cuidamos apenas dos que estão gravemente enfermos ou feridos. Pois essa erva não possui nenhum poder que conheçamos, talvez apenas o de suavizar um ar pestilento, ou afastar alguma aflição passageira. A não ser, é claro, que se dê importância às rimas de dias antigos, que as mulheres como nossa boa Ioreth ainda repetem sem entender:

          Quando o sopro negro desce
          e a sombra da morte cresce
          e toda a luz se desfaz,
          vem athelas! vem athelas!
          Vida dos que morrendo estão,
          Que o rei detém em sua mão.

— Não passam de antigos versos mal feitos, receio eu, deturpados na memória das mulheres velhas. O significado, se realmente existir algum, deixo para que o senhor o julgue. Mas as pessoas velhas ainda usam uma infusão da erva contra dores de cabeça.
— Então, em nome do rei, vá procurar algum velho de menos tradição e mais sabedoria, que tenha um pouco da erva em sua casa! — gritou Gandalf.
Agora Aragorn estava de joelhos ao lado de Faramir, com uma mão sobre sua fronte. Os que observavam sentiam que alguma grande luta estava acontecendo. Pois o rosto de Aragorn ficou cinzento de tanto cansaço, de vez em quando, chamava o nome de Faramir, mas sua voz saia cada vez mais fraca, como se o próprio Aragorn estivesse longe dali, vagando em algum vale escuro e distante, chamando alguém que tivesse perdido.
E finalmente Bergil entrou correndo, trazendo seis folhas num pano.
— É folha-do-rei, Senhor — disse ele — Mas receio que não esteja fresca. Deve ter sido colhida no mínimo há duas semanas. Espero que sirva, Senhor.
Então, olhando para Faramir, o menino rompeu em lágrimas.
Mas Aragorn sorriu.
— Vai servir — disse ele — Agora o pior já passou. Fique e tranquilize-se!
Então, pegando duas folhas, colocou-as nas mãos e soprou nelas, amassando-as em seguida, imediatamente um frescor de vida encheu o quarto, como se o próprio ar tivesse despertado e estremecido, faiscando de alegria. Depois Aragorn jogou as folhas nas tigelas de água fumegante que lhe foram trazidas, e na mesma hora todos os corações ficaram mais leves. A fragrância que atingiu cada um era como uma lembrança de manhãs orvalhadas, de sol sem sombras, em alguma ter a cujo próprio mundo de beleza primaveril é apenas uma memória fugidia. Aragorn se levantou reconfortado, e seus olhos sorriram no momento em que aproximou a tigela do rosto dormente de Faramir.
— Veja só! Você acreditaria nisto? — disse Ioreth a uma mulher que estava ao seu lado — A erva é melhor do que eu pensava. Faz-me lembrar das rosas de Imloth Melui, quando eu era uma menina, e nenhum rei poderia exigir erva melhor.
De repente Faramir se mexeu, e abriu os olhos, fitando Aragorn que se debruçava sobre ele, uma luz de consciência e amor se acendeu em seu olhar, e ele falou numa voz baixa.
— O Senhor me chamou. Estou aqui. Qual é a ordem do rei?
— Deixe de caminhar nas sombras, e desperte! — disse Aragorn — Você está exausto. Descanse um pouco e coma alguma coisa, esteja pronto quando eu retornar.
— Farei isso, senhor — disse Faramir — Pois quem ficaria deitado sem fazer nada quando o rei está de volta?
— Então até logo! — disse Aragorn — Devo ver outros que precisam de mim.
Deixou então o quarto com Gandalf e Imrahíl, mas Beregond e o filho ficaram, incapazes de conter a alegria que sentiam.
Indo atrás de Gandalf e fechando a porta, Pippin ouviu Ioreth exclamar:
— Rei! Você ouviu isso? Que foi que eu disse? As mãos de um curador, foi isso que eu disse.
E logo da Casa propagou-se a notícia de que o rei verdadeiramente estava entre eles, e depois da guerra trouxera a cura, e as novas se espalharam pela Cidade.
Mas Aragorn aproximou-se de Éowyn e disse:
— Temos aqui um ferimento grave, foi um golpe forte. O braço quebrado foi cuidado com a devida habilidade, e vai se recuperar com o tempo, se ela tiver forças para viver. É o braço do escudo que foi ferido, mas o maior mal está no braço da espada. Parece não haver vida nele, apesar de estar inteiro. É lamentável! Ela enfrentou um inimigo acima das forças de sua mente e corpo. E aqueles que erguem uma arma contra tal inimigo devem ser mais inflexíveis que o aço, para que o próprio choque não os destrua. Foi um destino cruel que a colocou nesse caminho. Pois é uma linda donzela, a mais bela senhora de uma casa de rainhas. Apesar disso, não sei como devo falar dela. A primeira vez que a vi, percebi sua infelicidade, pareceu-me uma flor branca erguendo-se ereta e altiva, esbelta como um lírio, e mesmo assim sabia que era rígida, como se esculpida em aço por artesãos élficos. Ou será que uma geada havia transformado sua seiva em gelo, e assim ela se erguia, doce e amarga, ainda bela de se olhar, mas ferida, prestes a cair e morrer? A doença de Éowyn começou muito antes deste dia, não é, Éomer?
— Surpreende-me que me pergunte isso, senhor — respondeu ele — Pois considero-o sem culpa nesse assunto, e em tudo mais, apesar disso, não sabia que Éowyn, minha irmã, havia sido tocada por qualquer geada até a primeira vez em que o viu. Ela sentia medo e preocupação, e os partilhava comigo. Nos dias de Língua de Cobra, quando o rei estava enfeitiçado, cuidava do rei com uma preocupação crescente. Mas isso não a trouxe para este caminho!
— Meu amigo! — disse Gandalf — Você tinha cavalos, e ação armada, e campos livres, mas ela, nascida com o corpo de uma donzela, tinha um espírito e uma coragem no mínimo à altura dos seus. Apesar disso, estava fadada a servir a um velho, a quem amava como a um pai, e a observá-lo cair numa senilidade desonrosa e miserável, seu papel lhe parecia mais ignóbil do que o do bastão no qual ele se apoiava. Você acha que Língua de Cobra envenenava apenas os ouvidos de Théoden? Velho caduco! O que é a casa de Eorl a não ser um estábulo com teto de palha, onde os bandidos bebem em meio ao mau cheiro, e seus fedelhos rolam pelo chão junto com os cachorros? Nunca ouviu essas palavras antes? Quem as disse foi Saruman, o professor de Língua de Cobra. Mas não duvido que Língua de Cobra, em casa, tenha adornado seu significado com termos mais astuciosos. Meu senhor, se o amor que sua irmã lhe devotava, juntamente com sua determinação em cumprir seu dever, não lhe tivessem cerrado os lábios, você até poderia ter ouvido palavras semelhantes a essas escapando deles. Mas quem pode saber o que ela falava para a escuridão, sozinha, nas amargas vigílias noturnas, quando toda a sua vida parecia estar se contraindo, e as paredes de seu aposento se fechando à sua volta, uma gaiola para trancafiar algum ser selvagem?
Éomer ficou então em silêncio, olhando para a irmã, como se ponderasse outra vez todos os dias de sua vida que passara junto a ela.
Mas Aragorn disse:
— Eu também vi o que você viu, Éomer. Dentre todos os acasos cruéis deste mundo, poucas tristezas trariam mais amargura e vergonha para o coração de um homem do que observar o amor de uma senhora tão bela e corajosa que não pode ser correspondido. A tristeza e a pena me seguiram desde que a deixei, desesperada, no Templo da Colina e cavalguei para as Sendas dos Mortos, e nenhum temor esteve tão presente naquele caminho quanto o que eu sentia pelo que poderia acontecer a ela. Mesmo assim, Éomer, digo-lhe que ela o ama mais verdadeiramente do que a mim, pois você ela ama e conhece, mas em mim ela ama apenas uma sombra e um pensamento: uma esperança de glória e grandes feitos, e de terras distantes dos campos de Rohan. Talvez eu tenha o poder de curar-lhe o corpo, e de resgatá-la do vale escuro. Mas para o que ela despertará: para a esperança, para o esquecimento ou para o desespero, não posso saber. Se for para o desespero, então morrerá, a não ser que lhe apareça uma outra cura que não posso trazer. Lamento, pois seus feitos a colocaram entre as rainhas de grande renome.
Então Aragorn abaixou-se e olhou no rosto de Éowyn, que realmente estava branco como um lírio, frio como a geada, e rígido como se esculpido em pedra. Mas ele se inclinou e a beijou na testa, e a chamou suavemente, dizendo:
— Éowyn, filha de Éomund, desperte! Seu inimigo foi-se embora!
Ela não se mexeu, mas agora começava outra vez a respirar fundo, de modo que seu peito subia e descia sob o linho branco do lençol. Mais uma vez Aragorn esmagou duas folhas de athelas e as jogou na água fumegante, banhou então a testa da enferma com a infusão, como também o braço esquerdo, gelado e imóvel sobre a coberta.
Então, talvez porque Aragorn tivesse realmente algum esquecido poder do Ponente, talvez pelo efeito causado pelas palavras ditas sobre a Senhora Éowyn, todos os circunstantes tiveram a impressão de que, á medida que a doce influência da erva se espalhava pelo quarto, um vento penetrante soprava através da janela, sem trazer fragrância alguma, mas era um ar inteiramente fresco, limpo e jovem, como se nunca tivesse sido inspirado por qualquer criatura viva, e tivesse acabado de sair diretamente de montanhas cheias de neve, altas sob uma abóbada de estrelas, ou de praias de prata distantes, banhadas por mares de espuma.
— Desperte, Éowyn, Senhora de Rohan! — disse Aragorn de novo, tomando-lhe a mão direita com a sua e sentindo-a quente, voltando á vida — Desperte! A sombra se foi e estamos livres da escuridão! — depois pousou a mão da Senhora na de Éomer e deixou o quarto — Chame-a! — disse ele e saiu do quarto em silêncio.
— Éowyn, Éowyn! — chamou Éomer em meio às lágrimas.
Mas ela abriu os olhos e disse:
— Éomer! Que ventura é esta? Pois disseram que estava morto. Mas não, essas foram apenas as vozes escuras no meu sonho. Quanto tempo fiquei sonhando?
— Não muito tempo, minha irmã — disse Éomer — Mas não pense mais nisso!
— Estou sentindo um cansaço estranho — disse ela — Preciso descansar um pouco. Mas, diga-me, o que aconteceu com o Senhor da Terra dos Cavaleiros? Ai de mim! Não me diga que foi um sonho, pois sei que não foi. Ele está morto como havia previsto.
— Ele está morto — disse Éomer — Mas me pediu que em seu nome dissesse adeus a Éowyn, a quem queria mais que a uma filha. Jaz agora com grandes honras na Cidadela de Gondor.
— Isso é triste — disse ela — No entanto, é melhor que tudo o que ousei esperar nos dias escuros, quando parecia que a Casa de Eorl tinha caído em desonra, atingindo um nível inferior ao da choupana de um pastor. E o escudeiro do rei, o Pequeno? Éomer, você deve nomeá-lo cavaleiro da Terra dos Cavaleiros, pois ele é valoroso.
— Ele repousa nesta Casa, aqui perto, e eu vou vê-lo — disse Gandalf — Éomer ficará aqui por um tempo. Mas ainda não falem de guerra ou inimigo, até que você se recupere completamente. É uma grande alegria vê-la despertar outra vez para a saúde e a esperança, você que é uma senhora tão corajosa.
— Para a saúde? — disse Éowyn — Pode ser que sim. Pelo menos enquanto houver a sela vazia de algum Cavaleiro caído que eu possa ocupar, e feitos a cumprir. Mas para a esperança? Não sei.
Gandalf e Pippin foram para o quarto de Merry, onde encontraram Aragorn em pé ao lado do leito.
— Pobre Merry! — exclamou Pippin, correndo para perto do amigo, pois teve a impressão de que ele estava pior, com um tom cinzento no rosto, como se um peso de anos de tristeza o oprimisse, de súbito foi tomado por um medo de que Merry pudesse morrer.
— Não tenha medo — disse Aragorn — Cheguei a tempo, e chamei-o de volta. Agora está cansado, e triste, além de ter sofrido um ferimento como o da Senhora Éowyn, quando ousou atacar aquela criatura mortal. Mas esses males podem ser reparados, num espírito tão forte e alegre como o dele. Não poderá se esquecer de sua tristeza, porém esse sentimento não vai escurecer o coração dele, mas trazer-lhe sabedoria.
Então Aragorn colocou a mão na cabeça de Merry e, acariciando suavemente os cachos castanhos, tocou as pálpebras. chamando-o pelo nome.
E quando a fragrância de athelas se espalhou pelo quarto, como o aroma de pomares e de urzais ao sol, cheios de abelhas, de repente Merry acordou e disse:
— Estou com fome. Que horas são?
— Já passou da hora da ceia — disse Pippin — Mas arrisco dizer que poderia lhe trazer alguma coisa, se me permitirem.
— Com certeza permitirão — disse Gandalf — E qualquer outra coisa que este Cavaleiro de Rohan possa desejar, se puder ser encontrada em Minas Tirith, onde seu nome se cobre de honra.
— Bom! — disse Merry — Então vou querer uma ceia primeiro, e depois disso um cachimbo — ao dizer isso, seu rosto ficou consternado — Não, cachimbo não. Acho que nunca vou fumar outra vez.
— Por que não? — disse Pippin.
— Bem — respondeu Merry devagar — Ele está morto. Tudo voltou à minha memória. Disse que sentia muito por nunca mais poder ter uma chance de conversar sobre a tradição das ervas comigo. Praticamente a última coisa que disse. Nunca mais conseguirei fumar de novo sem pensar nele e naquele dia, Pippin, quando ele cavalgava para Isengard e foi tão delicado.
— Então, fume, e pense nele! — disse Aragorn — Pois ele era um coração gentil e um grande rei, que cumpria seus juramentos, saiu das sombras para uma bela manhã derradeira. Embora o tempo em que o serviu tenha sido tão breve, deveria ser uma lembrança alegre e honrosa até o fim de seus dias.
Merry sorriu.
— Então está bem — disse ele — Se Passolargo providenciar o necessário, vou fumar e pensar. Eu tinha um pouco do melhor fumo de Saruman em minha mochila, mas o que foi feito dela na batalha, com certeza eu não sei.
— Mestre Meriadoc — disse Aragorn — Se você acha que eu atravessei montanhas e o Reino de Gondor, com fogo e espada, para trazer fumo para um soldado descuidado que joga fora seus pertences, está muito enganado. Se sua mochila não for encontrada, então você deve mandar chamar o mestre de ervas desta Casa. E ele vai lhe dizer que não sabia que a erva que você deseja tinha algum poder, mas que ela é vulgarmente chamada de erva-do-homem-do-Oeste, enquanto os nobres a chamam de galenas, vai também dizer outros nomes em outras línguas mais eruditas, e depois de acrescentar algumas rimas semi-esquecidas lamentará informar que não existe dessa erva na Casa, e o deixará refletindo sobre a história das línguas.
— E é isso que preciso fazer agora. Pois não durmo num leito como este desde que parti do Templo da Colina, e também não comi nada desde a escuridão antes da aurora.
Merry apertou-lhe a mão e a beijou.
— Lamento terrivelmente — disse ele — Vá agora mesmo! Desde aquela noite em Bri, temos sido um incômodo para você. Mas é o costume de meu povo usar palavras leves em tempos como estes, dizendo menos do que sentimos. Tememos revelar demais. Quando uma brincadeira é fora de hora, faltam-nos as palavras corretas.
— Sei muito bem disso, ou não lidaria com você como faço — disse Aragorn — Que o Condado possa viver para sempre incólume!
Beijando Merry, saiu, acompanhado por Gandalf.
Pippin ficou no quarto.
— Nunca houve uma pessoa como ele — disse o hobbit — Com a exceção de Gandalf, é claro. Acho que os dois são aparentados. Meu querido asno, sua mochila está ao lado da cama, e você a trazia nas costas quando o encontrei. Ele sabia disso o tempo todo, obviamente. E, de qualquer forma, tenho um pouco do meu. Vamos lá! É Folha do Vale Comprido. Encha o cachimbo enquanto eu vou correndo buscar alguma comida. E vamos relaxar um pouco. Puxa! Nós, os Túks e Brandebuques, não conseguimos viver muito tempo nos lugares altos.
— Não mesmo — disse Merry — Eu não consigo, pelo menos ainda não. Mas no mínimo, Pippin, agora podemos vê-los e honrá-los. Acho que primeiro é melhor amar aquilo que temos condições de amar: deve-se começar em algum lugar e criar algumas raízes, e o solo do Condado é profundo. Mas ainda há coisas mais profundas e mais altas, e nenhum feitor conseguiria cuidar de seu jardim no que ele chama de paz se não fosse por elas, quer ele as conheça ou não. Fico feliz em saber sobre elas, saber um pouco. Mas não sei por que estou falando desse jeito. Onde está o fumo? E pegue o cachimbo em minha mochila, se ele não estiver quebrado.
Às portas das Casas muitos já se juntavam para ver Aragorn, e o seguiram, quando finalmente ele terminou de cear, vieram homens rogando-lhe que curasse seus parentes ou amigos da Sombra Negra. Aragorn levantou-se e saiu, mandou chamar os filhos de Elrond, e juntos trabalharam até tarde da noite. E o rumor se espalhou pela Cidade: “O Rei realmente voltou outra vez”. Chamaram-no de Pedra Élfica, por causa da pedra verde que usava, e assim o nome que ao seu nascimento previram que usaria foi escolhido para ele pelo seu próprio povo. Quando não conseguia mais trabalhar, cobriu-se com a capa e saiu sorrateiramente da Cidade, indo para sua tenda um pouco antes da aurora, para dormir um pouco. E pela manhã a bandeira de Dol Amroth, um navio branco em forma de cisne sobre águas azuis, esvoaçava no alto da Torre, e os homens erguiam os olhos e imaginavam se a chegada do Rei não passara de um sonho.
Aragorn e Gandalf foram até o Diretor das Casas de Cura e lhe disseram que Faramir e Éowyn deveriam permanecer internados e ainda inspirariam atenção por muitos dias.
— A Senhora Éowyn — disse Aragorn — Logo vai querer levantar-se e partir, mas não deve permitir que faça isso, se puder impedi-la de alguma maneira, até que pelo menos dez dias tenham se passado.
— Quanto a Faramir — disse Gandalf — Logo deverá saber que seu pai está morto. Mas a história completa sobre a loucura de Denethor não deverá chegar-lhe aos ouvidos, até que esteja bem curado e tenha tarefas a desempenhar. Cuide para que Beregond e o perian que presenciaram a cena não comentem tais coisas com ele por enquanto!
— E o outro perian, Meriadoc, que está sob meus cuidados, que me dizem dele? — perguntou o Diretor.
— É provável que amanhã esteja bom para se levantar, por um tempo curto — disse Aragorn — Permita que o faça, se ele assim quiser. Pode caminhar um pouco sob os cuidados dos amigos.
— São uma raça notável — disse o Diretor, balançando a cabeça — De fibra muito forte, julgo eu.




 continua...






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Lei de ComimAs pessoas aceitarão sua idéia muito mais facilmente se você disser a elas que quem a criou foi Albert Einstein.
Lei de Murphy

O companheirismo é essencial à sobrevivência. Ele dá ao inimigo outra pessoa em quem atirar.

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