terça-feira, 23 de outubro de 2012

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Capítulo 13





— CAPÍTULO TREZE —
A COMISSÃO DE REGISTRO DOS NASCIDOS TROUXAS



— AH, MAFALDA! — exclamou Umbridge, olhando para Hermione — Travers mandou-a?
— F-foi — chiou Hermione.
— Que bom, você servirá perfeitamente.
Umbridge se dirigiu ao bruxo em ouro e preto.
— Aquele problema está resolvido, Ministro, se Mafalda puder ser dispensada para secretariar a sessão, poderemos começar imediatamente — ela consultou a prancheta — Dez pessoas hoje, e uma delas mulher de um funcionário do Ministério! Tsc, tsc... até aqui, no coração do Ministério!
Umbridge entrou no elevador com Hermione, e o mesmo fizeram os dois bruxos que tinham estado atentos à conversa dela com o Ministro.
— Vamos descer direto, Mafalda, você encontrará tudo que precisa no tribunal. Bom dia, Albert, você não vai sair?
— Vou, é claro — respondeu Harry, na voz grave de Runcorn.
O garoto saiu do elevador.
As grades douradas fecharam ruidosamente às suas costas. Olhando por cima do ombro, ele viu o rosto ansioso de Hermione desaparecer de vista, um bruxo alto de cada lado dela, o laço de veludo na cabeça de Umbridge à altura do seu ombro.
— O que o traz aqui em cima, Runcorn? — perguntou o novo Ministro da Magia. Seus longos cabelos e barba negros eram raiados de fios prateados e a grande testa proeminente sombreava seus olhos brilhantes, lembrando a Harry um caranguejo espiando debaixo de uma pedra.
— Precisava dar uma palavrinha com... — Harry hesitou por uma fração de segundo — Arthur Weasley. Alguém me informou que ele estaria aqui no Nível Um.
— Ah — disse Pio Thicknesse — Apanharam-no contatando um Indesejável?
— Não — respondeu Harry, com a garganta seca — Não, nada disso.
— Ah. É só uma questão de tempo — comentou Thicknesse — Se quer a minha opinião, os traidores do sangue são tão nocivos quanto os sangues-ruins. Bom dia, Runcorn.
— Bom dia, Ministro.
Harry observou o bruxo se afastar pelo espesso carpete do corredor. No momento em que ele desapareceu, o garoto puxou a Capa da Invisibilidade de sob a pesada capa preta, atirou-a sobre o corpo e saiu em direção oposta a do Ministro. Runcorn era tão alto que Harry foi forçado a se curvar para garantir que seus enormes pés ficassem cobertos.
O pânico vibrava na boca do seu estômago. Ao passar pela sequência de portas de madeira envernizadas, cada uma com uma plaquinha indicando o nome do ocupante e a respectiva função, o poder do Ministério, sua complexidade, sua impenetrabilidade, pareceram esmagá-lo, fazendo com que o plano que estivera cuidadosamente preparando com Rony e Hermione, nas últimas quatro semanas, parecesse risivelmente infantil.
Tinham concentrado todos os seus esforços na tática para entrar sem serem pegos: não tinham dedicado um instante sequer a pensar no que fariam se fossem obrigados a se separar. Agora Hermione estava presa em uma sessão do tribunal, que, sem dúvida, demoraria horas, Rony estava se esfalfando para fazer uma mágica, que, Harry tinha certeza, estava acima de sua capacidade, e, possivelmente, a liberdade de uma mulher dependia do resultado que obtivesse e ele, Harry, estava vagueando pelo último andar, sabendo perfeitamente que sua presa acabara de descer no elevador.
Ele parou de caminhar, encostou-se na parede e tentou resolver o que fazer. O silêncio o oprimiu: ali não havia movimento, nem conversas, nem passos apressados, os corredores acarpetados de roxo eram silenciosos como se um Abaffiato tivesse sido lançado sobre o local.
A sala dela deve ser aqui em cima, pensou Harry.
Era muito improvável que Umbridge guardasse as joias em sua sala, por outro lado, parecia tolice não dar uma busca para se certificar. O garoto, portanto, recomeçou a andar pelo corredor, sem encontrar ninguém, exceto um bruxo de testa franzida, murmurando instruções para uma pena que flutuava à sua frente, escrevendo em um longo pergaminho.
Agora, prestando atenção aos nomes nas portas, Harry virou um canto. Na metade do corredor seguinte, desembocou em um espaço aberto, onde uma dúzia de bruxos e bruxas estavam sentados a pequenas escrivaninhas enfileiradas que lembravam as da escola, embora muito mais lustrosas e sem rabiscos. Harry parou para observá-los, porque o efeito era hipnotizante.
Em sincronia, eles gesticulavam com as varinhas fazendo quadrados de papel colorido voarem em todas as direções como pequenas pipas cor-de-rosa. Após alguns segundos, Harry percebeu que havia ritmo nessa coreografia, que os papéis formavam o mesmo desenho, e, em seguida, percebeu que a cena que observava era a produção de panfletos, que os quadrados de papel eram folhas que, quando reunidas, dobradas e baixadas magicamente, caíam em pilhas ordenadas ao lado de cada funcionário.
Harry se aproximou, embora os funcionários estivessem tão concentrados naquele serviço que ele duvidava que notassem passos abafados pelo tapete, e fez deslizar um panfleto pronto da pilha de uma jovem bruxa. Examinou-o por baixo da Capa da Invisibilidade. A capa cor-de-rosa do panfleto estava adornada com um título dourado:

SANGUES-RUINS
e os perigos que oferecem
a uma sociedade pacífica de Sangues-Puros

Sob o título, havia a foto de uma rosa vermelha, e, entre suas pétalas, um rosto afetando um sorriso estrangulado por uma erva verde com presas e aspecto feroz. Não havia nome de autor no panfleto, mas as cicatrizes no dorso de sua mão direita pareceram novamente formigar quando ele o examinou. Então, a jovem bruxa ao seu lado confirmou suas suspeitas ao perguntar, ainda acenando e girando a varinha:
— Alguém sabe dizer se a bruxa velha vai passar o dia inteiro interrogando sangues-ruins?
— Cuidado — disse o bruxo mais próximo, olhando nervoso para os lados, uma de suas folhas escorregou e caiu no chão.
— Será que agora, além do olho, ela tem orelhas mágicas também?
A bruxa olhou para a lustrosa porta de mogno defronte ao espaço que ocupavam, Harry acompanhou seu olhar, e a raiva se ergueu em seu peito como uma serpente armando o bote.
No lugar em que haveria um olho mágico na porta de uma casa trouxa, fora embutido, na madeira, um grande olho redondo com uma brilhante íris azul: um olho escandalosamente familiar a quem tivesse conhecido Alastor Moody. Por uma fração de segundo, Harry esqueceu quem era e o que estava fazendo ali: esqueceu até que estava invisível. Dirigiu-se à porta para examinar o olho. Estava imóvel: virado para o alto, congelado.
Na placa, sob o olho, lia-se:

Dolores Umbridge
Subsecretária Sênior do Ministro

Abaixo, uma plaqueta nova um pouco mais reluzente informava:

Chefe da Comissão de Registro dos Nascidos Trouxas

Harry se virou para olhar o grupo de produtores de panfletos: embora concentrados no que faziam, eles dificilmente deixariam de notar se a porta de um escritório vazio se abrisse à sua frente.
Por isso, apanhou em um bolso interno um estranho objeto com perninhas que sacudiam e um chifre bulboso de borracha à guisa de corpo. Agachando-se sob a capa, colocou o Detonador-Chamariz no chão. No mesmo instante, o objeto saiu correndo entre as pernas dos bruxos na sala. Depois, enquanto Harry aguardava com a mão na maçaneta, ouviu-se um forte estampido e elevou-se uma nuvem de fumaça acre e escura a um canto. A jovem bruxa na primeira fila soltou um grito: folhas cor-de-rosa voaram para os lados quando todos, sobressaltados, procuravam à volta a origem do tumulto. Harry girou a maçaneta, entrou na sala de Umbridge e fechou a porta.
Teve a sensação de regredir no tempo.
A sala era exatamente igual ao escritório da bruxa em Hogwarts: cortinas de renda, paninhos bordados e flores secas cobriam todas as superfícies disponíveis. As paredes exibiam os mesmos pratos ornamentais, cada um deles com um gato muito colorido e laçarote de fita, aos saltos e cambalhotas, enjoativamente bonitinho. Sobre a escrivaninha, havia uma toalha florida arrematada com babados. Por trás do olho de Olho-Tonto, um acessório telescópico permitia a Umbridge espionar os funcionários do outro lado da porta.
Harry deu uma olhada e viu que ainda rodeavam o Detonador-Chamariz. Ele arrancou o telescópio da porta, deixando um buraco, soltou o olho e guardou-o no bolso. Tornou, então, a se virar para a sala, ergueu a varinha e murmurou:
— Accio medalhão!
Nada aconteceu, mas ele não esperara que acontecesse, sem dúvida, Umbridge conhecia todos os feitiços de proteção que havia. Portanto, correu à escrivaninha e começou a abrir as gavetas. Viu penas, cadernos e magidesivo, clipes encantados que serpeavam para fora da gaveta feito cobras e só voltavam a tapa, uma caixinha de renda contendo laçarotes e presilhas para os cabelos, mas nem sinal de medalhão.
Havia um arquivo atrás da escrivaninha: Harry começou a revistá-lo.
Tal como o arquivo de Filch, em Hogwarts, estava cheio de pastas, cada uma com um nome na etiqueta. Somente quando Harry chegou à última gaveta, viu algo que o distraiu de sua busca: a pasta do Sr. Weasley.
Puxou-a para fora e abriu-a.

ARTHUR WEASLEY
Registro Sanguíneo
Sangue-Puro, mas com inaceitáveis inclinações pró-trouxas.
Membro notório da Ordem da Fênix.
Família
Mulher (sangue-puro), sete filhos, os dois menores em Hogwarts.

NB: O filho mais jovem no momento em casa acamado com grave doença, confirmada por inspetores do Ministério.
Segurança
RASTREADO.
Todos os seus movimentos estão sendo monitorados. Forte probabilidade que Indesejável nº 1 o contate (hospedou-se com a família Weasley anteriormente).

— Indesejável Número Um — murmurou Harry com seus botões, ao repor a pasta do Sr. Weasley e fechar a gaveta.
Tinha ideia de que sabia quem seria e, com efeito, ao se erguer e correr o olhar pela sala à procura de outros esconderijos, viu na parede um pôster com sua imagem e as palavras INDESEJÁVEL N° 1 gravadas no peito. Nele havia preso um bilhetinho rosa com um gatinho no canto. Harry aproximou-se para lê-lo e viu que Umbridge tinha escrito “A ser punido”.
Mais enraivecido que nunca, começou a apalpar os fundos dos vasos e das cestas de flores secas, mas não se surpreendeu que o medalhão não estivesse ali. Deu uma última olhada na sala, e seu coração parou de bater por um segundo.
Dumbledore o fitava de um pequeno espelho retangular, apoiado em uma estante de livros ao lado da escrivaninha.
Harry atravessou a sala correndo e agarrou-o, mas percebeu, no momento em que seus dedos o tocaram, que não era um espelho. Dumbledore sorria melancolicamente da capa acetinada de um livro. Harry não notara imediatamente o rebuscado título em verde sobre seu chapéu: A Vida e as Mentiras de Alvo Dumbledorenem nos dizeres ligeiramente menores sobre o seu peitode Rita Skeeter, autora do best-seller “Armando Dippet: prócer ou palerma?”.
Harry abriu o livro a esmo e viu uma foto de página inteira de dois adolescentes abraçados, às gargalhadas. Dumbledore, então com os cabelos na altura dos cotovelos, tinha deixado crescer uma barba rala que lembrava a de Krum, que tanto irritara Rony. O garoto que gargalhava em silêncio ao lado de Dumbledore tinha um ar alegre e rebelde. Seus cabelos louros caíam em cachos sobre os ombros. Harry ficou imaginando se seria o jovem Doge, mas, antes que pudesse ler a legenda, a porta do escritório se abriu.
Se Thicknesse não estivesse espiando por cima do ombro ao entrar, Harry não teria tido tempo de se cobrir com a Capa da Invisibilidade. Nas circunstâncias, pareceu-lhe que o Ministro talvez tivesse percebido algum movimento, porque por um momento o bruxo parou muito quieto, observando, curioso, o lugar onde Harry acabara de sumir. Concluindo, talvez, que tivesse visto apenas Dumbledore coçando o nariz na capa do livro que Harry repusera rapidamente na prateleira, o bruxo finalmente foi até a escrivaninha e apontou a varinha para a pena mergulhada no tinteiro. A pena saltou e começou a escrever um bilhete para Umbridge. Muito devagar, mal se atrevendo a respirar, Harry foi recuando para fora da sala, de volta ao espaço aberto em frente.
Os produtores de panfletos continuavam agrupados em torno dos restos do Detonador-Chamariz, ainda apitando fracamente e soltando fumaça. Harry correu pelo corredor e ouviu a bruxa jovem comentar:
— Aposto que veio, sem ninguém saber, dos Feitiços Experimentais, eles são tão descuidados, lembram aquele pato venenoso?
Na corrida para os elevadores, Harry reviu suas opções. Sempre fora improvável que o medalhão estivesse no Ministério, e não havia esperança de descobrir, por magia, o seu paradeiro, enquanto Umbridge estivesse sentada em um tribunal lotado. A prioridade deles agora era sair do Ministério antes que os descobrissem e tentar novamente em outro dia.
O primeiro passo era encontrar Rony, então poderiam combinar um modo de tirar Hermione do tribunal. O elevador estava vazio quando chegou. Harry entrou rápido e tirou a Capa da Invisibilidade quando o veículo começou a descer. Para seu imenso alívio, quando o elevador parou aos trancos no Nível Dois, entrou um Rony encharcado e de olhos arregalados.
— Dia — gaguejou para Harry, quando o elevador tornou a se pôr em movimento.
— Rony, sou eu, Harry!
— Harry! Caramba, esqueci a sua cara... por que Hermione não está com você?
— Teve que ir ao tribunal com a Umbridge, não pôde recusar e...
Antes que Harry pudesse terminar a frase, o elevador tornara a parar: as portas se abriram e o Sr. Weasley entrou, conversando com uma velha bruxa, cujos cabelos louros estavam tão eriçados para o alto que lembravam um formigueiro.
—... entendo bem o que está dizendo, Wakanda, mas acho que não poderei me envolver com...
O Sr. Weasley parou de falar, reparara em Harry. Era muito esquisito ver o Sr. Weasley olhar para ele com tanta antipatia. As portas do elevador se fecharam e os quatro recomeçaram a descer.
— Ah, olá, Reg — disse o Sr. Weasley, virando-se ao ouvir a água escorrendo sem parar das vestes de Rony — Sua mulher não veio ao Ministério hoje para o interrogatório? Ah... que aconteceu com você? Por que está tão molhado?
— Está chovendo na sala de Yaxley — respondeu ele em direção ao ombro do Sr. Weasley, e Harry entendeu que o amigo receava que o pai pudesse reconhecê-lo se os seus olhos se encontrassem — Não consegui estancar, então me mandaram buscar Bernie... Pillsworth, acho que foi esse o nome...
— Ultimamente tem chovido em muitos escritórios — disse o Sr. Weasley — Você experimentou o meteolojinx recanto? Funcionou na sala do Bletchley.
— Meteolojinx recanto? — sussurrou Rony — Não, não experimentei. Obrigado, p..., quero dizer, Arthur.
As portas do elevador abriram: a velha bruxa com o penteado de formigueiro saiu, e Rony disparou atrás dela e desapareceu de vista.
Harry fez menção de segui-lo, mas viu seu caminho bloqueado pela entrada de Percy Weasley, de nariz enterrado em uns papéis que estava lendo. Só depois que as portas fecharam foi que Percy percebeu que estava no elevador com o pai. Ergueu os olhos, viu o Sr. Weasley, ficou vermelho como um pimentão e desembarcou no instante em que as portas reabriram. Pela segunda vez, Harry tentou sair, mas, agora, sua saída foi bloqueada pelo braço do Sr. Weasley.
— Um momento, Runcorn.
Quando as portas do elevador fecharam e eles desceram, sacudindo, mais um andar, o Sr. Weasley falou:
— Ouvi dizer que você denunciou Dirk Cresswell.
Harry teve a impressão de que o breve encontro com Percy não diminuíra a ira do Sr. Weasley. Concluiu que sua melhor chance era se fazer de desentendido.
— Desculpe?
— Não finja, Runcorn — retorquiu o Sr. Weasley, com ferocidade — Você capturou o bruxo que falsificou a árvore genealógica dele, não foi?
— Eu... e se capturei? — desafiou Harry.
— Dirk Cresswell é dez vezes mais bruxo que você — disse o Sr. Weasley em voz baixa, enquanto o elevador continuava a descer — E, se sobreviver a Azkaban, você terá contas a prestar a ele, isso sem falar à mulher, aos filhos e aos amigos...
— Arthur — Harry interrompeu-o — Você sabe que está sendo monitorado, não sabe?
— Isso é uma ameaça, Runcorn? — interpelou-o o Sr. Weasley.
— Não — disse Harry — É um fato! Estão vigiando todos os seus movimentos...
As portas do elevador abriram. Tinham chegado ao Átrio.
O Sr. Weasley lançou a Harry um olhar fulminante e saiu rápido do elevador. Harry ficou ali, tremendo. Gostaria de ter assumido o papel de outro bruxo que não Runcorn... as portas do elevador fecharam com o fragor habitual.
Harry apanhou a Capa da Invisibilidade e vestiu-a. Tentaria livrar Hermione sozinho, enquanto Rony resolvia o problema da sala em que chovia. Quando as portas reabriram, ele desembarcou em um corredor com piso de pedra, iluminado por archotes, muito diferente dos corredores com painéis de madeira e carpetes, nos níveis acima.
Quando o elevador partiu chocalhando, Harry sentiu um leve arrepio ao avistar, ao longe, a porta preta que assinalava a entrada para o Departamento de Mistérios.
Ele foi andando, seu destino não era a porta preta, mas o portal à esquerda, que, segundo lembrava, levava à escada e às câmaras dos tribunais. Ao descer, debateu mentalmente suas possibilidades: ainda tinha uns dois Detonadores-Chamarizes, mas talvez fosse melhor bater na porta do tribunal, entrar como Runcorn e pedir para dar uma palavrinha rápida com Mafalda. Naturalmente, ele ignorava se o bruxo seria suficientemente importante para agir assim, e mesmo que ele, Harry, fosse bem-sucedido, a prolongada ausência de Hermione poderia desencadear uma busca, antes que pudessem deixar o Ministério...
Absorto em seus pensamentos, ele não registrou imediatamente o frio anormal que começou a envolvê-lo como se penetrasse um nevoeiro. E foi se tornando mais forte a cada passo que dava: um frio que entrava por sua garganta e forçava seus pulmões. Então sobreveio aquela sensação sub-reptícia de desespero, uma desesperança que foi se expandindo dentro dele...
Dementadores, pensou.
Quando alcançou o pé da escada e virou à direita, deparou com uma cena pavorosa. O corredor escuro ao longo das câmaras judiciais estava repleto de vultos altos e encapuzados, seus rostos completamente ocultos, sua respiração entrecortada o único som que se ouvia.
Paralisados de terror, os nascidos trouxas trazidos para interrogatório tremiam apertados nos bancos duros de madeira. A maioria escondia os rostos nas mãos, num gesto instintivo para se proteger das bocas vorazes dos dementadores.
Alguns estavam em companhia da família, outros sentavam-se sozinhos. Os dementadores deslizavam de um lado para outro diante deles, e o frio e a desesperança que impregnavam o local atingiram Harry como uma maldição...
Resista, disse a si mesmo, mas sabia que não poderia conjurar um Patrono ali, sem revelar instantaneamente sua identidade. Então, continuou avançando, o mais silenciosamente que pôde, e, a cada passo, a dormência parecia se apoderar furtivamente do seu cérebro. Ele fazia um esforço para pensar em Hermione e Rony, que precisavam dele. Caminhar entre os altos vultos negros era aterrador: os rostos sem olhos, ocultos sob os capuzes, se viraram quando ele passou, dando-lhe a certeza de que o sentiam, sentiam talvez uma presença humana que ainda possuía esperança, resistência...
Então, de modo abrupto e chocante, no silêncio gelado, uma das portas da masmorra, à esquerda, abriu-se violentamente, deixando ecoar os gritos em seu interior.
— Não, não, sou mestiço, sou mestiço, estou lhes dizendo! Meu pai era bruxo, era, verifiquem, Arkie Alderton, um conhecido projetista de vassouras, verifiquem, estou lhes dizendo, tirem as mãos de mim, tirem as mãos de...
— Este é o seu último aviso — ouviu-se a voz suave de Umbridge, magicamente amplificada de modo a se sobrepor com clareza aos gritos desesperados do homem — Se resistir, será submetido ao beijo do dementador.
Os gritos do homem cessaram, mas seus soluços secos continuaram a ecoar pelo corredor.
— Levem-no — ordenou Umbridge.
Dois dementadores apareceram à porta da câmara, suas mãos podres e encrostadas apertando os braços do bruxo que parecia desfalecer. Deslizaram pelo corredor com o prisioneiro, e a escuridão que deixaram em seu rastro engoliu o homem fazendo-o desaparecer.
— Próximo: Maria Cattermole — chamou Umbridge.
Uma mulher miúda se ergueu, tremia da cabeça aos pés. Seus cabelos negros estavam puxados para trás em um coque e ela usava vestes longas e simples. Seu rosto estava completamente exangue. Ao passar pelos dementadores, Harry a viu estremecer. Ele agiu instintivamente, sem plano formado, porque detestou vê-la entrar sozinha na masmorra: quando a porta começou a se fechar, escorregou para dentro do recinto.
Não era a mesma sala em que fora interrogado por uso impróprio da magia. Era bem menor, embora o teto tivesse igual altura, deu-lhe a sensação claustrofóbica de estar preso no fundo de um comprido poço. Havia outros dementadores ali, cobrindo o local com sua aura congelante, estavam postados como sentinelas sem rosto nos cantos mais afastados da imponente plataforma.
Ali, atrás de uma balaustrada, sentava-se Umbridge com Yaxley, de um lado, e Hermione, com o rosto quase tão lívido quanto o da Sra. Cattermole, do outro. Ao pé da plataforma, um gato de pelos longos e prateados andava de um lado para outro, e Harry percebeu que sua função era proteger os promotores do desespero que emanava dos dementadores: aquilo era para afetar os acusados e não os acusadores.
— Sente-se — disse Umbridge, com sua voz suave e sedosa.
A Sra. Cattermole encaminhou-se aos tropeços para o único assento no centro da sala abaixo da plataforma. No momento em que se sentou, as correntes tilintaram nos braços da cadeira e a prenderam.
— Você é Maria Elizabeth Cattermole? — indagou Umbridge.
A mulher acenou uma única vez com a cabeça trêmula.
— É casada com Reginald Cattermole, do Departamento de Manutenção Mágica?
A Sra. Cattermole caiu no choro.
— Não sei onde ele está, devia ter vindo se encontrar comigo aqui!
Umbridge ignorou-a.
— E mãe de Maisie, Eliah e Alfred Cattermole?
A mulher soluçou ainda mais.
— Eles estão apavorados, acham que eu talvez não volte para casa...
— Poupe-nos — disse Yaxley, com rispidez — Os pirralhos dos sangues-ruins não nos inspiram simpatia.
Os soluços da Sra. Cattermole mascararam os passos de Harry, que se dirigia cautelosamente aos degraus da plataforma. No momento em que ele passou pelo lugar que o gato-Patrono patrulhava, sentiu a mudança de temperatura: ali era cálido e confortável. O Patrono certamente era de Umbridge, e brilhava intensamente, porque a bruxa estava muito feliz, em seu elemento, aplicando leis deturpadas que ela própria ajudara a redigir.
Lenta, mas cuidadosamente, Harry contornou a plataforma por trás de Umbridge, Yaxley e Hermione, e se sentou às costas da amiga. Estava preocupado em não sobressaltá-la. Pensou em lançar um Abaffiato em Umbridge e Yaxley, mas até mesmo o murmúrio do encantamento poderia fazer Hermione se assustar. Então Umbridge alteou a voz para se dirigir à Sra. Cattermole, e Harry aproveitou a oportunidade.
— Estou atrás de você — sussurrou ao ouvido de Hermione.
Conforme previra, ela levou um susto tão violento que quase derrubou o tinteiro que devia usar para registrar o interrogatório, mas os dois bruxos estavam concentrados na Sra. Cattermole e o movimento brusco lhes passou despercebido.
— A varinha que tinha em seu poder quando chegou hoje ao Ministério, Sra. Cattermole, foi confiscada — ia dizendo Umbridge — Vinte e dois centímetros e dois décimos, cerejeira, núcleo de pelo de unicórnio. Reconhece a descrição?
A Sra. Cattermole assentiu, enxugando os olhos na manga.
— Pode, por favor, nos dizer de que bruxa ou bruxo tirou essa varinha?
— T-tirei? — soluçou a Sra. Cattermole — Não t-tirei de ninguém. Comprei-a aos onze anos de idade. Ela... ela... ela me escolheu.
E chorou ainda mais.
Umbridge deu uma risadinha suave e infantil que fez Harry ter vontade de atacá-la. Inclinou-se para o balaústre, para melhor observar sua vítima, e um objeto dourado balançou para frente e ficou flutuando no espaço: o medalhão.
Hermione o viu e deixou escapar um gritinho, mas Umbridge e Yaxley, ainda atentos à sua presa, estavam surdos a todo o resto.
— Não — replicou Umbridge — Não, acho que não, Sra. Cattermole. Varinhas só escolhem bruxos. A senhora não é bruxa. Tenho aqui as respostas ao questionário que lhe foi enviado, Mafalda, passe-as para mim.
Umbridge estendeu a mão pequena: ela parecia tão batráquia naquele momento que Harry se surpreendeu com a ausência de membranas entre seus dedos curtos. As mãos de Hermione tremiam de espanto. Ela procurou em uma pilha de documentos equilibrados em uma cadeira ao seu lado, e, por fim, retirou um rolo de pergaminho com o nome da Sra. Cattermole.
— Que... que bonito, Dolores — comentou Hermione, apontando para o medalhão que brilhava entre os babados da blusa de Umbridge.
— Quê? — exclamou Umbridge abruptamente, baixando os olhos — Ah, sim: uma velha herança de família — disse, levando a mão ao medalhão sobre o busto avantajado — O “S” é de Selwyn... sou parenta dos Selwyn... na verdade, há poucas famílias de sangue-puro com quem eu não seja aparentada... uma pena... — continuou ela em voz mais alta, folheando o questionário da Sra. Cattermole — Que não se possa dizer o mesmo sobre a senhora. Profissão dos pais: verdureiros.
Yaxley deu uma risada de desdém. Embaixo, o peludo gato prateado patrulhava de lá para cá, e os dementadores aguardavam postados nos cantos.
Foi a mentira de Umbridge que fez o sangue subir à cabeça de Harry e obliterar toda a sua cautela, que ela estivesse usando o medalhão que achacara de um marginalzinho para legitimar suas credenciais de sangue-puro. Ele ergueu a varinha, sem se dar o trabalho de ocultá-la sob a Capa da Invisibilidade, e ordenou:
— Estupefaça!
Houve um clarão vermelho: Umbridge desmontou e bateu com a testa na borda do balaústre, os papéis da Sra. Cattermole escorregaram do seu colo no chão e, embaixo, o gato prateado desapareceu. Um ar gélido atingiu-os como se fosse uma ventania. Yaxley, aturdido, olhou para os lados, à procura da origem do problema e viu a mão incorpórea de Harry apontando uma varinha em sua direção. Tentou sacar a própria varinha, mas tarde demais.
— Estupefaça!
Yaxley escorregou da cadeira e caiu dobrado no chão.
— Harry!
— Hermione, se você acha que eu ia ficar parado aqui vendo ela fingir...
— Harry, a Sra. Cattermole!
O garoto se virou, arrancando a Capa da Invisibilidade, embaixo os dementadores saíram dos seus cantos, deslizavam para a mulher acorrentada: fosse porque o Patrono desaparecera, fosse porque seus senhores não estavam mais no comando, pareciam ter abandonado o comedimento. A Sra. Cattermole deixou escapar um terrível grito de medo quando a mão pegajosa e encrostada agarrou seu queixo e empurrou sua cabeça para trás.
— EXPECTO PATRONUM!
O cervo prateado voou da ponta da varinha de Harry e avançou contra os dementadores, que recuaram e tornaram a se fundir com as sombras. A luz do cervo, mais forte e mais quente do que a proteção do gato, encheu toda a masmorra ao correr repetidamente pelo seu perímetro.
— Apanhe a Horcrux — disse Harry a Hermione.
Desceu, então, os degraus, correndo, enquanto guardava a Capa da Invisibilidade em sua pasta, e se aproximou da Sra. Cattermole.
— Você? — sussurrou ela, fitando-o no rosto — Mas... Reg disse que foi você que me denunciou para ser interrogada!
— Fiz isso? — murmurou Harry, puxando as correntes que prendiam os braços da mulher. — Bem, mudei de opinião. Diffindo!
Nada aconteceu.
— Hermione, como me livro dessas correntes?
— Espere, estou tentando uma coisa aqui em cima...
— Hermione, estamos cercados por dementadores!
— Eu sei, Harry, mas se Umbridge acordar e o medalhão tiver desaparecido... preciso fazer uma duplicata... Geminio! Pronto... isto deve enganá-la...
Hermione desceu da plataforma correndo.
—Vejamos... Relaxo!
As correntes reuniram e soltaram os braços da cadeira. A Sra. Cattermole parecia tão amedrontada quanto estivera antes.
— Não estou entendendo — sussurrou.
— A senhora vai sair daqui conosco — disse Harry erguendo-a da cadeira — Volte para casa, apanhe seus filhos e vá embora, saia do país, se for preciso. Disfarcem-se e fujam. A senhora já viu como é, aqui não terá nem meia audiência imparcial.
— Harry — perguntou Hermione — Como vamos sair daqui com todos esses dementadores no corredor?
— Patronos — respondeu o garoto, apontando a varinha para o seu próprio: o cervo parou de correr e se encaminhou, ainda brilhando intensamente, para a porta — Todos que pudermos reunir, conjure o seu, Hermione.
— Expec-expecto patronum — disse a garota.
Nada aconteceu.
— É o único feitiço com que ela sempre teve problema — disse Harry à Sra. Cattermole completamente bestificada — É realmente uma pena... anda logo Hermione...
— Expecto Patronum!
Uma lontra prateada irrompeu da ponta da varinha da garota e flutuou graciosamente no ar para se juntar ao cervo.
— Vamos — chamou ele, e conduziu Hermione e a Sra. Cattermole para a porta.
Quando os Patronos deslizaram para o corredor, ouviram-se gritos assustados das pessoas que aguardavam ali. Harry olhou: os dementadores começavam a recuar de ambos os lados, fundindo-se com a escuridão, dispersando-se ante o avanço das criaturas prateadas.
— Ficou decidido que vocês devem voltar para casa e entrar na clandestinidade com suas famílias — disse Harry aos nascidos trouxas ofuscados pelo brilho dos Patronos e ainda levemente encolhidos de medo — Vão para o exterior, se puderem. Fiquem bem longe do Ministério. Essa é... ah... a nova posição oficial. Agora, se acompanharem os Patronos, poderão sair pelo Átrio.
O grupo conseguiu subir a escada de pedra sem ser interceptado, mas, ao se aproximar dos elevadores, Harry começou a ficar apreensivo. Percebeu que, se chegassem ao Átrio com um cervo de prata, uma lontra voando a seu lado e vinte e tantas pessoas, metade delas acusadas de terem nascido trouxas, eles atrairiam uma indesejável atenção. Acabara de chegar a essa desagradável conclusão quando o elevador parou com um tranco diante deles.
— Reg! — gritou a Sra. Cattermole se atirando nos braços de Rony — Runcorn me tirou daqui, ele atacou Umbridge e Yaxley e nos disse para fugirmos do país, acho que é o melhor a fazer, Reg, acho mesmo. Vamos depressa para casa apanhar as crianças e... por que está tão molhado?
— Água — resmungou Rony, desvencilhando-se — Harry, eles sabem que há intrusos no Ministério, estão falando alguma coisa sobre um buraco na porta da Umbridge, calculo que temos cinco minutos, se tanto...
O Patrono de Hermione desapareceu com um estalo quando ela virou o rosto horrorizado para Harry.
— Harry, estamos presos aqui...!
— Não estaremos se nos mexermos depressa — ele se dirigiu às pessoas silenciosas que os acompanhavam boquiabertas — Quem tem varinha?
Metade delas levantou as mãos.
— Ok, cada um de vocês que não tem varinha precisa acompanhar alguém que tenha. Precisamos ser rápidos: antes que nos detenham. Vamos.
Eles conseguiram se apertar em dois elevadores. O Patrono de Harry montou guarda diante das grades douradas enquanto elas se fechavam, e os elevadores começavam a subir.
“Nível Oito”disse a voz tranquila da bruxa. “Átrio”.
Harry percebeu imediatamente que estavam encrencados.
O Átrio estava cheio de gente correndo de uma lareira à outra para lacrá-las.
— Harry! — guinchou Hermione — Que vamos...?
— PAREM! — trovejou Harry, e a voz potente de Runcorn ecoou pelo átrio: os bruxos que estavam lacrando as lareiras se imobilizaram — Venham comigo — sussurrou ele para os nascidos trouxas aterrorizados que se adiantaram juntos, pastoreados por Rony e Hermione.
— Que aconteceu, Albert? — perguntou o mesmo bruxo careca que saíra com Harry da lareira mais cedo.
Parecia nervoso.
— Esse pessoal precisa sair antes de vocês lacrarem as saídas — disse Harry, com toda a autoridade que conseguiu reunir.
O grupo de bruxos do Ministério se entreolhou.
— Mandaram lacrar todas as saídas e não deixar ninguém...
— Você está me contradizendo? — vociferou Harry — Quer que eu mande examinar a árvore genealógica de sua família, como fiz com a de Dirk Cresswell?
— Desculpe! — ofegou o bruxo careca, recuando — Não quis ofender, Albert, mas pensei... pensei que eles estavam aqui para ser interrogados e...
— O sangue deles é puro — disse Harry, e sua voz grave ecoou impressionantemente pelo átrio — Diria que mais puro do que o de muitos de vocês. Agora vão saindo — trovejou ele para os nascidos trouxas, que correram para as lareiras e começaram a sumir aos pares.
Os bruxos do Ministério se mantiveram afastados, alguns parecendo confusos, outros expressando medo ou raiva. Então...
— Maria!
A Sra. Cattermole olhou por cima do ombro. O verdadeiro Reg Cattermole, que parara de vomitar, mas continuava pálido e fraco, acabara de sair correndo de um elevador.
— R-Reg? — ela olhou do marido para Rony, que soltou um sonoro palavrão.
O bruxo careca ficou de boca aberta, sua cabeça girando absurdamente de um Reg Cattermole para outro.
— Ei... que está acontecendo? Que é isso?
— Lacrem as saídas! LACREM!
Yaxley irrompera de outro elevador e agora vinha correndo para o grupo junto às lareiras pelas quais os nascidos trouxas, exceto a Sra. Cattermole, haviam desaparecido. Quando o bruxo careca empunhou a varinha, Harry ergueu seu punho enorme e arremessou-o longe com um murro.
— Ele esteve ajudando os nascidos trouxas a fugir, Yaxley! — gritou Harry.
Os colegas do bruxo careca protestaram aos gritos, mas, aproveitando a confusão, Rony agarrou a Sra. Cattermole, puxou-a para dentro da lareira ainda aberta e sumiu. Aturdido, Yaxley olhava de Harry para o bruxo esmurrado, enquanto o verdadeiro Reg Cattermole berrava:
— Minha mulher! Quem era aquele com a minha mulher? Que está acontecendo?
Harry viu Yaxley girar a cabeça, e a percepção da verdade começar a se espalhar naquele rosto brutal.
— Vamos! — berrou Harry para Hermione, agarrou a mão dela e juntos pularam dentro da lareira no momento em que a maldição de Yaxley passava por cima de sua cabeça.
Os dois rodopiaram por alguns segundos antes de emergir no vaso do cubículo. Harry escancarou a porta, encontrou Rony diante das pias, ainda se debatendo com a Sra. Cattermole.
— Reg, não estou entendendo...
— Me largue, não sou o seu marido, a senhora tem que ir para casa!
Ouviu-se um barulho no cubículo às costas deles, Harry olhou: Yaxley acabara de aparecer.
— VAMOS! — berrou.
Ele agarrou Hermione pela mão e Rony pelo braço e rodopiou.
A escuridão engolfou-os ao mesmo tempo que a sensação de compressão, mas alguma coisa estava errada... a mão de Hermione parecia estar escorregando da sua... Harry pensou que ia sufocar, não conseguia respirar nem enxergar e as únicas coisas sólidas no mundo eram o braço de Rony e os dedos de Hermione, que lentamente iam lhe fugindo...
Então ele viu a porta de número doze, no Largo Grimmauld, com a aldrava em forma de serpente, mas, antes que pudesse tomar fôlego, ouviu um grito seguido de um clarão roxo, a mão de Hermione prendeu-o com firmeza e tudo escureceu.








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