quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Conde de Monte Cristo - Capítulo 92



XCII

O SUICÍDIO




E
ntretanto, Monte Cristo também regressara à cidade com Emmanuel e Maximilien. O regresso foi alegre. Emmanuel não escondia a satisfação que lhe causava ver suceder a paz à guerra e confessava em voz alta as suas preferências filantrópicas. Morrel, a um canto da carruagem, deixava a alegria do cunhado evaporar-se em palavras e guardava para si uma alegria não menos sincera, mas que brilhava apenas no seu olhar.
Na Barreira do Trono encontraram Bertuccio, que esperava, imóvel como uma sentinela no seu posto.
Monte Cristo deitou a cabeça fora da portinhola, trocou com ele algumas palavras em voz baixa e o intendente desapareceu.
— Sr. Conde — pediu Emmanuel quando chegaram às imediações da Praça Royale — Peço-lhe que me deixe ficar à minha porta, para que a minha mulher não tenha um só momento de inquietação nem pelo senhor nem por mim.
— Se não fosse ridículo exibir o seu triunfo, convidaria o Sr. Conde a entrar em nossa casa — disse Morrel — Mas o Sr. Conde também tem, sem dúvida, corações trêmulos a tranqüilizar. Chegamos, Emmanuel, cumprimentemos o nosso amigo e deixemo-lo continuar o seu caminho.
— Um momento, não me prive assim de uma assentada dos meus dois companheiros — pediu Monte Cristo — Entre o senhor, Emmanuel, vá ter com a sua encantadora esposa à qual o encarrego de apresentar os meus cumprimentos, e acompanhe-me o senhor aos Champs-Élysées, Morrel.
— Perfeitamente — respondeu Maximilien — Tanto mais que tenho que fazer no seu bairro, Conde.
— O esperamos para almoçar? — perguntou Emmanuel.
— Não — respondeu o rapaz.
A portinhola fechou-se e a carruagem continuou o seu caminho.
— Como vê, dei-lhe sorte — observou Morrel quando ficou sozinho com o Conde — Ainda não tinha pensado nisso?
— Certamente — respondeu Monte Cristo — E por isso gostaria de tê-lo sempre junto de mim.
— É miraculoso! — continuou Morrel, respondendo ao seu próprio pensamento.
— O quê? — perguntou Monte Cristo.
— O que acaba de acontecer.
— Sim — concordou o Conde com um sorriso — Disse a palavra exata, Morrel: é miraculoso!
— Porque, enfim — prosseguiu Morrel — Albert é corajoso.
— Muito corajoso — acrescentou Monte Cristo — Vi-o dormir com o punhal suspenso sobre a sua cabeça.
— E eu sei que se bateu duas vezes, e muito bem batido — declarou Morrel — Concilie isso com o seu comportamento desta manhã.
— Mais uma vez a sua influência — insinuou Monte Cristo sorrindo.
— Ainda bem que Albert não é soldado — disse Morrel.
— Por quê?
— Desculpas no campo da honra!... — exclamou o jovem capitão, abanando a cabeça.
— Então, espero que não vá cair nos preconceitos dos homens vulgares, Morrel... — observou o Conde com suavidade — Não chegou à conclusão de que, uma vez que Albert é corajoso, não pode ser covarde? Que devia ter algum motivo para proceder como procedeu esta manhã e que, portanto a sua conduta foi mais heróica do que outra coisa?
— Sem dúvida, sem dúvida — respondeu Morrel — Mas é caso para dizer como o espanhol, foi menos corajoso hoje do que ontem.
— Almoça comigo, não é verdade, Morrel? — perguntou Monte Cristo para mudar de assunto.
— Não, deixo-o às dez horas.
— O seu encontro é então para almoçar?...
Morrel sorriu e abanou a cabeça.
— Mas, enfim, com certeza tem de almoçar em algum lado...
— E se eu não tiver fome? — observou o rapaz.
— Oh, só conheço dois sentimentos que cortam assim o apetite: a dor, e como, felizmente, o vejo contentíssimo, não se trata disso, e o amor! Ora, depois do que me disse a propósito do seu coração, é-me permitido supor...
— Palavra, Conde, que não o desminto! — replicou alegremente Morrel.
— E não me dizia nada, Maximilien? — notou o Conde, num tom tão vivo que deixava transparecer o interesse que tinha em conhecer o segredo.
— Mostrei-lhe esta manhã que tinha um coração, não é verdade, Conde?
Como única resposta, Monte Cristo estendeu a mão ao jovem.
— Pois bem — continuou este — Desde que esse coração já não está com o senhor no Bosque de Vincennes, será em outro lado que terei de o procurar...
— Vá — disse lentamente o Conde — Vá, querido amigo, mas, por favor, se esbarrar com algum obstáculo, lembre-se de que tenho algum poder neste mundo, que tenho prazer em empregar esse poder em proveito das pessoas que estimo... e que o estimo, Morrel.
— Me lembrarei disso como os filhos egoístas se lembram dos pais quando precisam deles — declarou Morrel — Quando precisar do senhor, e talvez esse momento surja, recorrerei ao senhor, Conde.
— Fico com a sua palavra. Adeus.
— Até breve.
Tinham chegado à porta da casa da Champs-Élysées. Monte Cristo abriu a portinhola e Morrel saltou para a calçada.
Bertuccio, esperava na escadaria.
Morrel meteu pela Avenida de Marigny e Monte Cristo dirigiu-se vivamente ao encontro de Bertuccio.
— Então? — perguntou.
— Ela vai deixar a casa — respondeu o intendente.
— E o filho?
— Florentin, seu criado de quarto, pensa que vai fazer o mesmo.
— Venha.
Monte Cristo levou Bertuccio para o seu gabinete, escreveu a carta que vimos e entregou-a ao intendente.
— Vá depressa. A propósito, mande prevenir Haydée de que já voltei.
— Aqui estou — anunciou-se a jovem, que descera ao ouvir o ruído da carruagem e cujo rosto estava radiante de alegria por ver o Conde são e salvo.
Bertuccio saiu.
Haydée experimentou nos primeiros instantes daquele regresso esperado por ela com tanta impaciência todos os transportes de uma filha ao rever o pai querido e todos os delírios de uma amante ao rever o amante adorado.
Claro que, por ser menos expansiva, a alegria de Monte Cristo não era mais pequena. Para os corações que sofreram longamente, a alegria é como o orvalho para as terras ressequidas pelo sol. Coração e terra absorvem essa chuva benfazeja que cai sobre eles e nada aparece de fora. Havia alguns dias que Monte Cristo descobrira uma coisa em que há muito tempo não ousava acreditar: que existiam duas Mercedes no mundo e que ainda poderia ser feliz.
O seu olhar ardente de felicidade mergulhava com avidez nos olhos úmidos de Haydée quando de súbito a porta se abriu.
O Conde franziu o sobrolho.
— O Sr. de Morcerf! — anunciou Baptistin, como se este nome encerrasse a sua desculpa.
Com efeito, o rosto do Conde desanuviou-se.
— Qual, o visconde ou o conde? — perguntou.
— O conde.
— Meu Deus! — exclamou Haydée. — Então isto ainda não acabou?
— Não sei se acabou, minha filha bem-amada — respondeu Monte Cristo, pegando nas mãos da jovem — Mas o que sei é que não tem nada a temer.
— Oh, mas é o miserável...
— Esse homem não pode nada contra mim, Haydée — tranqüilizou-a Monte Cristo — Quando o caso era com o filho é que havia motivo para receios.
— Por isso nunca saberá o que sofri, meu senhor — declarou a jovem.
Monte Cristo sorriu.
— Pela sepultura do meu pai — disse Monte Cristo, estendendo a mão sobre a cabeça da moça — Juro que se acontecer alguma desgraça não será a mim.
— Acredito-te, meu senhor, como se Deus me falasse — respondeu Haydée, estendendo a fronte ao Conde.
Monte Cristo depositou naquela fronte tão pura e tão bela um beijo, que fez bater simultaneamente dois corações, um com violência e o outro surdamente.
— Oh, meu Deus, permiti que eu possa amar ainda!... — murmurou o Conde — Mande entrar o Sr. Conde de Morcerf para a sala — disse a Baptistin, enquanto conduzia a bela grega para uma escada oculta.
Uma palavra de explicação acerca desta visita, talvez esperada pelo Conde de Monte Cristo, mas inesperada, sem dúvida, para os nossos leitores.
Enquanto Mercedes fazia, como dissemos, nos seus aposentos, a espécie de inventário que Albert fizera nos seus; enquanto ela arrumava as suas jóias, fechava as suas gavetas e reunia as suas chaves a fim de deixar tudo numa ordem perfeita, não notara que um rosto pálido e sinistro aparecera atrás dos vidros de uma porta que deixava entrar a luz no corredor. Daí não só se podia ver como também se podia ouvir. Quem assim olhava, muito provavelmente sem ser visto nem ouvido, viu e ouviu, portanto tudo o que se passava nos aposentos da Sra. de Morcerf.
Da porta envidraçada, o homem de rosto pálido dirigiu-se para o quarto de cama do Conde de Morcerf e, chegado lá, ergueu com mão contraída a cortina de uma janela que dava para o pátio. Permaneceu ai dez minutos, imóvel, mudo, escutando as pulsações do seu próprio coração. Para ele, dez minutos era muito tempo. Foi então que Albert, regressando do local do duelo, viu o pai, que espreitava o seu regresso atrás da cortina, e virou a cabeça.
O conde arregalou os olhos. Sabia que o insulto de Albert a Monte Cristo fora terrível e que semelhante insulto provocava em todos os países do mundo um duelo de morte. Ora, Albert regressava são e salvo; portanto, o conde estava vingado. Um clarão de indizível alegria iluminou aquele rosto lúgubre, como acontece com o último raio de Sol antes de desaparecer nas nuvens, que parecem menos a cama do que o túmulo do astro-rei.
Mas, como já dissemos, esperou em vão que o jovem subisse aos seus aposentos para lhe dar conta do seu triunfo. Que o filho, antes do combate, não tivesse querido ver o pai, cuja honra ia vingar, compreendia-se; mas uma vez a honra do pai vingada, porque não vinha esse filho lançar-se nos braços?
Foi então que o conde, não podendo ver Albert, mandara chamar o seu criado. Sabemos que Albert o autorizou a nada ocultar ao Conde.
Dez minutos depois, viu-se aparecer na escadaria da entrada o general de Morcerf, de sobrecasaca preta com gola militar, calças e luvas também pretas. Dera, ao que parece, ordens anteriores, pois assim que pôs o pé no último degrau da escadaria, a sua carruagem, completamente atrelada, saiu da cocheira e veio parar diante dele.
O seu criado de quarto veio então depositar na carruagem um capote militar, que envolvia duas espadas. Em seguida fechou a portinhola e sentou-se ao lado do cocheiro. O cocheiro inclinou-se diante do coche para pedir ordens.
— A Champs-Élysées, a casa do Conde de Monte Cristo — ordenou o general — Depressa!
Os cavalos saltaram debaixo do chicote; cinco minutos depois paravam diante da casa do Conde. O Sr. de Morcerf abriu pessoalmente a portinhola, com a carruagem ainda a rodar, e saltou como um rapaz na alameda lateral, tocou e desapareceu na porta escancarada com o seu criado.
Um segundo mais tarde, Baptistin anunciava ao Sr. de Monte Cristo o Conde de Morcerf, e Monte Cristo, fazendo sair Haydée, ordenou que mandassem entrar na sala o Conde de Morcerf.
O general media pela terceira vez a sala em todo o seu comprimento quando, virando-se, viu Monte Cristo de pé no limiar.
— Ah, é o Sr. de Morcerf! — disse tranquilamente Monte Cristo — Julgava ter ouvido mal.
— Sim, sou eu — perguntou o conde, com uma horrível contração de lábios que o impedia de articular claramente.
— Só me resta, portanto saber agora — disse Monte Cristo — O motivo que me proporciona o prazer de ver o Sr. Conde de Morcerf tão cedo.
— Teve esta manhã um duelo com o meu filho, senhor? — perguntou o general.
— Sabe disso? — respondeu o Conde.
— E também sei que o meu filho tinha boas razões para desejar bater-se com o senhor e fazer tudo o que pudesse para matá-lo.
— Com efeito, senhor, tinha muito boas razões para isso! Mas, como vê, apesar dessas razões, não me matou, e até nem se bateu.
— E, no entanto considerava-o a causa da desonra do pai, bem como a causa da ruína horrível em que neste momento mergulha a minha casa.
— É verdade, senhor — replicou Monte Cristo, com a sua terrível calma — Causa secundária, evidentemente, e não principal.
— Decerto lhe apresentou alguma desculpa ou deu qualquer explicação...
— Não lhe dei nenhuma explicação e foi ele quem me apresentou desculpas.
— A que atribui essa conduta?
— À convicção, provavelmente, de que havia em tudo isto um homem mais culpado do que eu.
— E quem era esse homem?
— O pai.
— Seja — admitiu o conde, empalidecendo — Mas, como sabe, o culpado não gosta de ser acusado de culpabilidade.
— Pois sei... por isso esperava o que acontece neste momento.
— O senhor esperava que o meu filho fosse um covarde?! — gritou o Conde.
— O Sr. Albert de Morcerf não é um covarde — perguntou Monte Cristo.
— Um homem que empunha uma espada, um homem que tem ao alcance dessa espada um inimigo mortal, se esse homem não se bate, é um covarde! É pena ele não estar aqui para lhe dizer!
— Senhor — respondeu friamente Monte Cristo — Presumo que não veio me procurar para me contar as suas pequenas desavenças familiares. Vá dizer isso ao Sr. Albert e talvez ele saiba responder-lhe.
— Oh, não, não, tem razão, não vim para isso! — replicou o general com um sorriso, que se esfumou tão depressa como aparecera — Vim para lhe dizer que também eu o considero meu inimigo! Vim para lhe dizer que o odeio instintivamente, que me parece que sempre o conheci e odiei! E, por último, que, uma vez que os jovens deste século já se não batem, compete-nos a nós bater-nos... não é desta opinião, senhor?
— Perfeitamente. Por isso, quando lhe disse que previra que aconteceria isto, era da honra da sua visita que queria falar.
— Tanto melhor... os seus preparativos estão feitos, então?
— Estão sempre, senhor.
— Sabe que nos bateremos até à morte de um dos dois? — perguntou o general, com os dentes apertados pela raiva.
— Até à morte de um dos dois — repetiu o Conde de Monte Cristo, acenando ligeiramente com a cabeça de cima a baixo.
— Vamos então; não necessitamos de testemunhas.
— Com efeito — disse Monte Cristo — É inútil. Conhecemo-nos tão bem!...
— Pelo contrário — perguntou o Conde — Não nos conhecemos de parte alguma.
— Ora, ora! — exclamou Monte Cristo com a mesma fleuma exasperante — Vejamos um pouco... o senhor não é o soldado Fernand que desertou na véspera da batalha de Waterloo? Não é o tenente Fernand que serviu de guia e espião ao exército francês na Espanha? Não é o coronel Fernand que traiu, vendeu e assassinou o seu benfeitor Ali? E todos estes reunidos não constituem o tenente-general Conde de Morcerf, Par de França?
— Oh! — exclamou o general, atingido por estas palavras como por um ferro em brasa — Oh, miserável, que me lembra a minha vergonha no momento em que talvez vá me matar!... Não, não disse que te era desconhecido; sei bem demônio, que penetraste na noite do passado e leste, ignoro à luz de que archote, cada página da minha vida! Mas talvez ainda haja mais honra em mim, no meu opróbrio, do que em ti, debaixo das tuas aparências pomposas. Não, não, me conheces, bem sei, mas eu não te conheço, aventureiro coberto de ouro e pedrarias! Te conheço, aventureiro coberto de ouro e pedrarias! Te apresentaste em Paris como o Conde de Monte Cristo, na Itália como Simbad. Que te pergunto, é o teu verdadeiro nome que quero saber, no meio das tuas centenas de nomes, a fim de o pronunciar no campo da luta, no momento em que te cravar a minha espada no coração.
O Conde de Monte Cristo empalideceu terrivelmente. Os seus olhos fulvos incendiaram-se num fogo devorador. Deu um salto ao gabinete contíguo ao seu quarto de cama, e em menos de um segundo, depois de arrancar a gravata, a sobrecasaca e o colete, envergou uma blusa de marinheiro e colocou na cabeça um chapéu de embarcadiço, sob o qual se desenrolaram os seus longos cabelos negros.
Voltou assim, terrível, implacável, caminhando de braços cruzados ao encontro do general, que não compreendera a que se devera o seu desaparecimento, que o esperava e que, sentindo os dentes entrechocarem-se-lhe e as pernas vergarem-se debaixo do corpo, recuou um passo e só se deteve quando encontrou numa mesa um ponto de apoio para a sua mão crispada.
— Fernand! — gritou-lhe Monte Cristo — Dos meus cem nomes, bastaria te dizer um só para te fulminar. Mas você adivinha esse nome, não é verdade? Ou antes, o recorda. Porque apesar de todos os meus desgostos, de todas as minhas torturas, te mostro hoje um rosto que o prazer da vingança rejuvenesce, um rosto que deve ter visto muitas vezes nos teus sonhos depois do teu casamento... com Mercedes, minha noiva!
Com a cabeça inclinada para trás, as mãos estendidas e o olhar fixo, o general assistiu em silêncio ao espetáculo. Depois, procurou o apoio da parede e deslizou lentamente até à porta, pela qual saiu às arrecuas, deixando escapar apenas este grito lúgubre, lamentoso, dilacerante:
— Edmond Dantés!
Em seguida, com suspiros que não tinham nada de humanos, arrastou-se até ao peristilo da casa, atravessou o pátio como um ébrio e caiu nos braços do seu criado de quarto, murmurando apenas em voz ininteligível:
— Para o palácio! Para o palácio!
Pelo caminho, o ar fresco e a vergonha que lhe causava a atenção das pessoas puseram-no em estado de coordenar idéias. Mas o trajeto foi curto e, à medida que se aproximava de casa, o conde sentia se renovar e todos os seus sofrimentos.
A poucos passos de casa, o conde mandou parar e apeou. A porta do palácio estava escancarada. Um fiacre, cujo cocheiro ficara muito surpreendido por ser chamado àquela magnífica mansão, estava parado no meio do pátio. O conde olhou o fiacre com terror, mas não ousou interrogar ninguém e correu para os seus aposentos. Duas pessoas desceram a escada e só teve tempo de se esconder num gabinete para as evitar. Era Mercedes, apoiada no braço do filho; ambos deixavam o palácio. Passaram a curta distância do desventurado, que, oculto atrás do reposteiro de damasco, foi mesmo assim aflorado pelo vestido de seda de Mercedes e sentiu no rosto o hálito tépido destas palavras pronunciadas pelo filho:
— Coragem, minha mãe! Venha, venha, aqui já não é a nossa casa.
As palavras extinguiram-se e os passos afastaram-se. O general endireitou-se, suspenso pelas mãos crispadas no reposteiro de damasco. Comprimia o mais horrível soluço jamais saído do peito de um pai, abandonado simultaneamente pela mulher e pelo filho.
Não tardou a ouvir bater a portinhola de ferro do fiacre, em seguida a voz do cocheiro, e depois o rodar da pesada carruagem fez estremecer os vidros. Então, correu ao seu quarto de cama para ver mais uma vez tudo o que amara no mundo. Mas o fiacre partiu sem que a cabeça de Mercedes ou de Albert aparecesse à portinhola para lançar à casa solitária, ao pai e ao marido abandonado o último olhar, o adeus e o pesar, isto é, o perdão.
Por isso, no momento exato em que as rodas do fiacre faziam vibrar o pavimento da abóbada soou um tiro e um fumo escuro saiu por um dos vidros da janela do quarto de cama, quebrado pela força da explosão.



continua...




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Lei de ComimAs pessoas aceitarão sua idéia muito mais facilmente se você disser a elas que quem a criou foi Albert Einstein.
Lei de Murphy

O companheirismo é essencial à sobrevivência. Ele dá ao inimigo outra pessoa em quem atirar.

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