terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Conde de Monte Cristo - Capítulo 103





CIII

MAXIMILIEN




V
illefort levantou-se quase envergonhado de ter sido surpreendido no meio da sua dor. A terrível função que exercia havia vinte e cinco anos acabara por fazer dele mais e menos do que um homem. O seu olhar, por momentos alucinado, fixou-se em Morrel.
— Quem é o senhor, que se esquece que se não entra assim numa casa habitada pela morte? — perguntou — Saia, senhor! Saia!
Mas Morrel continuou imóvel, sem poder desviar os olhos do espetáculo horrível daquela cama em desordem e da pálida figura nela deitada.
— Saia, ouviu?! — gritou Villefort, enquanto Avrigny se adiantava por seu turno para fazer sair Morrel.
Este olhou com ar enlouquecido o cadáver, os dois homens e todo o quarto, pareceu hesitar um instante e abriu a boca. Depois, não encontrando que dizer, apesar do imenso enxame de idéias fatais que lhe invadiam o cérebro, arrepiou caminho, metendo as mãos pelos cabelos, de tal forma que Villefort e Avrigny, distraídos por momentos das suas preocupações, trocaram, depois de o seguir com a vista, um olhar que queria dizer: “É louco!”
Mas ainda não tinham passado cinco minutos ouviram-se gemer os degraus da escada debaixo de um peso considerável e viu-se Morrel carregar com força sobre-humana nos braços a poltrona de Noirtier e chegar com o velho ao primeiro andar da casa. Chegado ao cimo da escada, Morrel pousou a poltrona no chão e empurrou-a rapidamente até ao quarto de Valentine.
Toda esta manobra foi executada com força decuplicada pela exaltação frenética do rapaz. Mas o que mais impressionava era a figura de Noirtier ao dirigir-se para a cama de Valentine empurrado por Morrel; sim, a figura de Noirtier, em que a inteligência desenvolvia todos os seus recursos e cujos olhos congregavam todo o seu poder para suprir as restantes faculdades. Por isso, aquele rosto pálido, de olhar incendiado, foi para Villefort uma temerosa aparição.
Todas as vezes que se encontrara com o pai passara-se sempre algo terrível.
— Veja o que fizeram! — gritou Morrel, com uma das mãos ainda apoiada nas costas da poltrona que acabava de empurrar até à cama e com a outra estendida para Valentine — Veja, meu pai, veja!
Villefort recuou um passo e olhou com espanto aquele rapaz que lhe era quase desconhecido e que chamava pai a Noirtier.
Naquele momento toda a alma do velho pareceu refletir-se-lhe nos olhos, que se injetaram de sangue; depois, as veias do pescoço incharam-lhe e uma cor arroxeada como a que invade a pele dos epilépticos cobriu-lhe o pescoço, as faces e as têmporas. Àquela explosão interior de todo um ser só faltava um grito. Esse grito saiu por assim dizer de todos os poros, no seu mutismo, pungente no seu silêncio. Avrigny precipitou-se para o velho e fê-lo respirar um forte revulsivo.
— Senhor — gritou então Morrel, pegando na mão inerte do paralítico — Não me pergunte quem sou e que direito tenho de estar aqui! Meu Deus, vós que o sabeis dizei-lho, dizei-lho!
E a voz do rapaz extinguiu-se em soluços.
Quanto ao velho, a respiração arquejante sacudia-lhe o peito. Dir-se-ia dominá-lo uma dessas agitações que precedem a agonia. Por fim, as lágrimas brotaram dos olhos de Noirtier, mais feliz do que o jovem, que soluçava sem chorar. Como não podia inclinar a cabeça, fechou os olhos.
— Diga-lhe — continuou Morrel em voz estrangulada — Diga-lhe que era seu noivo; diga-lhe que ela era a minha nobre amiga, o meu único amor na Terra; diga-lhe... diga-lhe que este cadáver me pertence!
E o jovem, dando o terrível espetáculo de uma grande força que se quebra, caiu pesadamente de joelhos diante daquela cama, que os seus dedos crispados apertaram com violência. Aquela dor era tão pungente que Avrigny se virou para ocultar a sua emoção e Villefort, sem pedir mais explicações, atraído pelo magnetismo que nos impele para aqueles que amaram os que choramos, estendeu a mão ao jovem. Mas Morrel não via nada. Pegara na mão, gelada de Valentine, e como não conseguia chorar, mordia os lençóis rugindo.
Durante algum tempo só se ouviu no quarto a luta dos soluços, das imprecações e das preces. E, no entanto um ruído dominava todos eles: a respiração rouca e dilacerante, que parecia, a cada tomada de ar, quebrar um dos órgãos vitais do peito de Noirtier.
Por fim, Villefort, o mais senhor de si de todos, depois de ter por assim dizer, cedido durante algum tempo o seu lugar a Maximilien, tomou a palavra.
— Senhor, diz que amava Valentine, que era seu noivo. Ignorava esse amor, assim como ignorava esse compromisso. E, no entanto, eu, seu pai, perdôo-lhe, pois vejo que a sua dor é grande, real, verdadeira. Aliás, em minha casa a dor é demasiado grande para que sobre no meu coração lugar para a cólera. Mas, como vê, o anjo em que depositava as suas esperanças deixou a Terra; já só pode ser alvo da adoração dos homens, ela que a esta hora adora o Senhor. Faça, pois as suas despedidas, senhor, ao pobre despojo que ela esqueceu entre nós, pegue-lhe pela última vez na mão que esperava e separe-se dela para sempre. Agora, Valentine só precisa do padre que deve abençoá-la.
— Engana-se, senhor! — gritou Morrel, levantando-se num joelho, com o coração traspassado por uma dor mais aguda do que todas as que experimentara até ali — Engana-se: Valentine, morta como está, precisa não apenas de um padre, mas também de um vingador. Sr. de Villefort, mande buscar o padre; eu serei o vingador.
— Que quer dizer, senhor? — murmurou Villefort, tremendo perante esta nova inspiração do delírio de Morrel.
— Quero dizer — continuou Morrel — Que há dois homens em si, senhor. O pai já chorou o bastante; agora é a vez de o Procurador Régio assumir as suas funções.
Os olhos de Noirtier cintilaram e Avrigny aproximou-se.
— Senhor — continuou o rapaz, recolhendo com os olhos todos os sentimentos que se revelavam no rosto dos presentes — Sei o que digo e o senhor sabe tão bem como eu o que vou dizer: Valentine morreu assassinada!
Villefort baixou a cabeça; Avrigny deu mais um passo; Noirtier disse “sim” com os olhos.
— Ora, senhor — continuou Morrel — No tempo em que vivemos, uma pessoa, mesmo que não fosse jovem, bela e adorável como era Valentine, não desaparece violentamente do mundo sem que se peçam contas do seu desaparecimento. Vamos, Sr. Procurador régio — acrescentou Morrel com crescente veemência — Nada de piedade! Denuncio-lhe o crime, procure o assassino!
E o seu olhar implacável interrogava Villefort, que, por sua vez, apelava com o olhar ora para Noirtier, ora para Avrigny. Mas em vez de encontrar auxílio no pai ou no médico, Villefort só encontrou neles um olhar tão inflexível como o de Morrel.
— Sim — pestanejou o velho.
— Sem dúvida! — disse Avrigny.
— Senhor — replicou Villefort, procurando lutar contra aquela tripla vontade e contra a sua própria emoção — Senhor, está enganado, não se cometem crimes em minha casa. A fatalidade persegue-me, Deus põe-me à prova. É horrível pensar semelhante coisa, mas não se assassina ninguém!
Os olhos de Noirtier chamejaram e Avrigny abriu a boca para falar. Morrel estendeu o braço pedindo silêncio.
— E eu digo-lhe que se mata aqui! — replicou Morrel em voz baixa, mas que nada perdeu da sua vibração terrível — Digo-lhe que esta é a quarta vítima em quatro meses. Digo-lhe que já uma vez, há quatro dias, tentaram envenenar Valentine, e que só o não conseguiram devido às precauções tomadas pelo Sr. Noirtier! Digo-lhe que duplicaram a dose ou mudaram de veneno, e que desta vez triunfaram! Digo-lhe que o senhor sabe tudo isto tão bem como eu, pois aquele senhor preveniu-o como médico e como amigo.
— O senhor delira! — protestou Villefort, debatendo-se em vão no círculo onde se sentia preso.
— Deliro?! — gritou Morrel — Pois bem, recorro ao testemunho do próprio Sr. de Avrigny. Pergunte-lhe, senhor, se ainda se lembra das palavras que pronunciou no seu jardim, no jardim deste palácio, na própria noite da morte da Sra. de Saint-Méran, quando ambos, o senhor e ele, julgando-se sós, conversavam acerca dessa morte trágica, na qual essa fatalidade de que fala e Deus, que acusa injustamente, só podem ser acusados de uma coisa: terem criado o assassino de Valentine!
Villefort e Avrigny entreolharam-se.
— Sim, sim, recordem-se — prosseguiu Morrel — Porque essas palavras, que julgaram confiadas ao silêncio e à solidão, caíram nos meus ouvidos. Claro que nessa noite, ao ver a culpada complacência do Sr. de Villefort para com os seus, eu devia ter contado tudo às autoridades. Se o tivesse feito, não seria cúmplice, como sou neste momento, da sua morte, Valentine, minha querida Valentine! Mas o cúmplice se transformará em vingador. Esta quarta morte é flagrante e visível aos olhos de todos, e se o teu pai te abandonar, Valentine, serei eu, serei eu, juro-te, que perseguirei o assassino.
E desta vez, como se a natureza tivesse enfim piedade daquela vigorosa constituição prestes a ser destruída pela sua própria força, as últimas palavras de Morrel morreram-lhe na garganta, o peito desentranhou-se em soluços, as lágrimas, durante tanto tempo rebeldes, brotaram-lhe dos olhos, dobrou-se sobre si mesmo e caiu de joelhos, chorando, junto do leito de Valentine.
Foi então a vez de Avrigny.
— Também eu — disse com voz forte — Também eu me junto ao Sr. Morrel para pedir justiça contra o crime; porque o meu coração revolta-se à idéia de que a minha covarde complacência encorajou o assassino!
— Oh, meu Deus, meu Deus! — murmurou Villefort, aniquilado.
Morrel ergueu a cabeça e leu qualquer coisa nos olhos do velho, nos quais brilhava uma chama sobrenatural.
— Esperem, esperem. O Sr. Noirtier quer falar.
Sim — confirmou Noirtier, com uma expressão tanto mais terrível quanto é certo todas as faculdades do pobre velho impotente se encontrarem concentradas no seu olhar.
— Sabe quem é o assassino? — perguntou Morrel.
— Sei — respondeu Noirtier.
— E vai ajudar-nos a descobri-lo? — perguntou o jovem, alvoroçado — Ouçamos! Sr. de Avrigny, ouçamos!
Noirtier dirigiu ao pobre Morrel um sorriso melancólico, um daqueles ternos sorrisos dos olhos que tantas vezes tinham tornado Valentine feliz, e fitou-o intensamente. Depois, tendo cravado por assim dizer os olhos do seu interlocutor aos dele, virou os seus para a porta.
— Quer que eu saia, senhor? — perguntou dolorosamente Morrel.
— Quero — respondeu Noirtier.
— Então, então, senhor, tenha compaixão de mim!
Mas os olhos do velho permaneceram implacavelmente virados para a porta.
— Poderei ao menos voltar? — perguntou Morrel.
— Sim.
— Devo sair sozinho?
— Não.
— Quem devo levar comigo? O Sr. Procurador Régio?
— Não.
— O doutor?
— Sim.
— Quer ficar só com o Sr. de Villefort?
— Sim.
— E ele conseguirá compreendê-lo?
— Sim.
— Oh, esteja tranqüilo, compreendo muitíssimo bem o meu pai! — exclamou Villefort, quase alegre pela conversa se realizar à porta fechada.
Mas ao mesmo tempo que proferia estas palavras com a expressão de alegria que assinalamos, os dentes do Procurador Régio entrechocavam-se com violência. Avrigny pegou no braço de Morrel e levou o jovem para a divisão contígua.
Reinou então em toda a casa um silêncio mais profundo do que o da morte. Finalmente, passado um quarto de hora, ouviram-se passos incertos e Villefort apareceu no limiar da sala onde se encontravam Avrigny e Morrel, um absorto e o outro impaciente.
— Venham — disse.
E conduziu-os junto da poltrona de Noirtier.
Morrel olhou então atentamente para Villefort. O Procurador Régio estava lívido; grandes manchas cor de ferrugem cobriam-lhe a testa; nos dedos, uma pena torcida de mil maneiras desfazia-se aos poucos.
— Meus senhores — disse em voz estrangulada a Avrigny e Morrel — Peço-lhes a sua palavra de honra de que este horrível segredo ficará sepultado entre nós.
Os dois homens fizeram um movimento.
— Suplico-lhes!...—continuou Villefort.
— Mas... o culpado?... O envenenador?... O assassino?... — perguntou Morrel.
— Esteja tranqüilo, senhor, que a justiça será feita — respondeu Villefort — O meu pai revelou-me o nome do culpado; o meu pai tem sede de vingança como o senhor e no entanto o meu pai suplica-lhes, como eu, que guardem o segredo do crime. Não é verdade, meu pai?
— É — respondeu resolutamente Noirtier.
Morrel deixou escapar um gesto de horror e incredulidade.
— Oh, se o meu pai, o homem inflexível que conhece, lhe faz este pedido, é porque sabe que Valentine será terrivelmente vingada! — exclamou Villefort, segurando Maximilien por um braço — Não é verdade, meu pai?
O velho fez sinal que sim.
Villefort continuou:
— Ele conhece-me e foi a ele que dei a minha palavra. Tranqüilizem-se, portanto, meus senhores. Três dias, peço-lhes três dias, menos do que lhes pediria a justiça, e dentro de três dias a vingança que tirarei do assassino da minha filha fará tremer até ao fundo do coração os homens mais empedernidos. Não é verdade, meu pai?
E, ao dizer estas palavras, rangia os dentes e abanava a mão insensível do velho.
— Tudo o que foi prometido será cumprido, Sr. Noirtier? — perguntou Morrel, enquanto Avrigny interrogava com o olhar.
— Sim — respondeu Noirtier, com uma expressão de sinistra alegria.
— Jurem portanto, meus senhores — disse Villefort, juntando as mãos de Avrigny e Morrel — Jurem que terão compaixão da honra da minha casa e que me deixarão o cuidado de a vingar...
Avrigny virou-se e murmurou um “sim” muito fraco, mas Morrel arrancou a sua mão das do magistrado, precipitou-se para a cama, colou os lábios aos lábios gelados de Valentine e fugiu com o longo gemido de uma alma que se engolfa no desespero.
Dissemos que todos os criados tinham desaparecido.
O Sr. de Villefort viu-se portanto obrigado a pedir a Avrigny que se encarregasse das formalidades, tão numerosas e delicadas, que envolvem a morte nas nossas grandes cidades, e sobretudo a morte em circunstancias tão suspeitas.
Quanto a Noirtier, era qualquer coisa terrível ver aquela dor horrível, aquele desespero sem gestos, aquelas lágrimas sem voz.
Villefort regressou ao seu gabinete e Avrigny foi buscar o médico municipal, a quem competiam as funções de inspetor dos óbitos, mas que o vulgo designava com menos respeito e mais propriedade por “médico dos mortos”.
Noirtier não se quis separar da neta.
Ao cabo de meia-hora, o Sr. de Avrigny regressou com o colega. Tinham-se fechado as portas da rua e como o porteiro desaparecera com os outros criados, foi o próprio Villefort, que as abriu. Mas deteve-se no patamar; já não tinha coragem de entrar na câmara mortuária.
Os dois médicos entraram, portanto sozinhos no quarto de Valentine. Noirtier estava junto da cama, pálido como a morta, imóvel e mudo como ela.
O médico dos mortos aproximou-se com a indiferença do homem que passa metade da vida com cadáveres, levantou o lençol que cobria a jovem e entreabriu-lhe apenas os lábios.
— Oh, a pobre pequena está bem morta! — exclamou Avrigny, suspirando.
— É verdade — respondeu laconicamente o médico, deixando cair o lençol que cobria o rosto de Valentine.
Noirtier emitiu um arquejo abafado.
Avrigny virou-se; os olhos do velho cintilavam. O bom doutor adivinhou que Noirtier exigia que lhe deixassem ver a neta. Aproximou-o da cama, e enquanto o médico dos mortos mergulhava em água cloretada os dedos que tinham tocado nos lábios da defunta, descobriu o rosto pálido e calmo que parecia de um anjo adormecido.
Uma lágrima que apareceu ao canto do olho de Noirtier foi o agradecimento que recebeu o bom doutor.
O médico dos mortos passou a sua certidão na ponta de uma mesa, no próprio quarto de Valentine, e, cumprida essa formalidade suprema, saiu acompanhado pelo doutor. Villefort, ouviu-os descer e apareceu à porta do seu gabinete. Agradeceu em poucas palavras ao médico, e, virando-se para Avrigny, disse:
— E agora o padre.
— Tem algum eclesiástico que deseje encarregar mais especialmente de rezar por Valentine? — perguntou Avrigny.
— Não, vá buscar o mais próximo — respondeu Villefort.
— O mais próximo — disse o médico — É um bom abade italiano que reside há pouco tempo na casa contígua a esta. Quer que o previna quando passar?
— Avrigny, peço-lhe o favor de acompanhar este senhor — disse Villefort — Aqui tem a chave para que possa entrar e sair à vontade. Traga o padre e encarregue-se de o instalar no quarto da minha pobre filha.
— Deseja falar-lhe, meu amigo?
— Desejo estar só. Desculpe-me, não é verdade? Um padre deve compreender todas as dores, mesmo a dor paterna.
E o Sr. de Villefort, depois de dar uma chave-mestra a Avrigny, cumprimentou pela última vez o outro médico e entrou no seu gabinete, onde se pôs a trabalhar. Para certas pessoas, o trabalho é remédio para todas as dores. No momento em que os médicos chegavam à rua, viram um homem de sotaina parado no limiar da porta vizinha.
— Aqui está o padre de quem lhe falei — disse o médico dos mortos a Avrigny.
Este dirigiu-se ao eclesiástico.
— Senhor, estaria disposto a prestar um grande favor a um pobre pai que acaba de perder a filha, ao Sr. Procurador Régio Villefort?
— Ah, senhor, bem sei que a morte lhe entrou em casa! — respondeu o padre com acentuada pronúncia italiana.
— Então não preciso de lhe dizer que espécie de favor ele ousa esperar do senhor.
— Ia-me oferecer, senhor — disse o padre — É nossa missão ir ao encontro dos nossos deveres.
— Trata-se de uma jovem.
— Sim, bem sei; soube-o pelos criados que vi fugirem de casa. Sei que se chamava Valentine e já rezei por ela.
— Obrigado, obrigado, senhor — disse Avrigny — E uma vez que já começou a exercer o seu santo ministério, digne-se continuá-lo. Venha sentar-se junto da morta e toda uma família mergulhada em luto lhe ficará muito reconhecida.
— Vou já, senhor — respondeu o abade — E ouso dizer que nunca quaisquer orações serão mais ardentes do que as minhas.
Avrigny pegou na mão do abade e, sem ver Villefort, encerrado no seu gabinete, conduziu-o ao quarto de Valentine, de quem os cangalheiros se apoderariam apenas na noite seguinte. Quando entrou no quarto, o olhar de Noirtier cruzou-se com o do abade, e sem dúvida julgou ler nele algo especial, pois nunca mais o deixou.
Avrigny recomendou ao padre não só a morta, mas também o vivo, e o padre prometeu a Avrigny dispensar as suas orações a Valentine e os seus cuidados a Noirtier.
O abade comprometeu-se a isso solenemente, e, sem dúvida para não ser incomodado nas suas preces e Noirtier perturbado na sua dor, assim que o Sr. de Avrigny deixou o quarto foi não só correr os fechos da porta por onde o médico acabava de sair, mas também os da que levava aos aposentos da Sra. de Villefort.



continua...




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Lei de ComimAs pessoas aceitarão sua idéia muito mais facilmente se você disser a elas que quem a criou foi Albert Einstein.
Lei de Murphy

O companheirismo é essencial à sobrevivência. Ele dá ao inimigo outra pessoa em quem atirar.

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