segunda-feira, 30 de abril de 2012

Harry Potter e a Câmara Secreta - Capítulo 17






— CAPÍTULO DEZESSETE —
O Herdeiro De Slytherin



HARRY SE VIU PARADO NO FIM de uma câmara muito comprida e mal iluminada. Altas colunas de pedra entrelaçadas com cobras em relevo sustentavam um teto que se perdia na escuridão, projetando longas sombras negras na luz estranha e esverdeada que iluminava o lugar.
O coração batendo muito depressa, Harry ficou escutando o silêncio hostil. Será que o basilisco estaria à espreita num canto sombrio, atrás de uma coluna? E onde estaria Gina? Ele puxou a varinha e avançou por entre as colunas serpentinas. Cada passo cauteloso ecoava alto nas paredes sombreadas. Manteve os olhos semicerrados, pronto para fechá-los depressa ao menor sinal de movimento. As órbitas ocas das cobras de pedra pareciam segui-lo. Mais de uma vez, com um aperto no estômago, ele pensou ter surpreendido uma delas se mexendo.
Então, quando emparelhou com o último par de colunas, uma estátua alta como a própria Câmara apareceu contra a parede do fundo. Harry teve que esticar o pescoço para ver o rosto gigantesco lá no alto. Era antigo e simiesco, com uma barba longa e rala que caía quase até a barra das vestes esvoaçantes de um bruxo de pedra, onde havia dois pés cinzentos enormes apoiados no chão liso da Câmara. E entre os pés, de bruços, jazia um pequeno vulto de cabelos flamejantes vestido de negro.
— Gina! — murmurou Harry, correndo para ela e se ajoelhando — Gina... não esteja morta... por favor, não esteja morta... — ele largou a varinha de lado, segurou Gina pelos ombros e virou-a. Seu rosto estava branco e frio como o mármore, mas tinha os olhos fechados, portanto não estava petrificada. Então devia estar... — Gina, por favor, acorde — murmurou Harry desesperado, sacudindo-a.
A cabeça de Gina balançou desamparada de um lado para o outro.
— Ela não vai acordar — disse uma voz indulgente.
Harry se sobressaltou e se virou ainda de joelhos.
Um garoto alto, de cabelos negros, o observava encostado à coluna mais próxima. Tinha os contornos estranhamente borrados, como se Harry o estivesse vendo através de uma janela embaçada. Mas não havia como se enganar...
— Tom... Tom Riddle?
Riddle confirmou com a cabeça, sem tirar os olhos do rosto de Harry.
— Que é que você quer dizer com “ela não vai acordar”? — perguntou desesperado — Ela não está... não está...?
— Ainda está viva — disse Riddle — Mas por um fio.
Harry arregalou os olhos para ele. Tom Riddle estivera em Hogwarts cinqüenta anos atrás, contudo achava-se ali parado, envolto por uma luz estranha e enevoada, com os seus exatos dezesseis anos.
— Você é um fantasma? — perguntou Harry incerto.
— Uma lembrança — disse Riddle com suavidade — Conservada em um diário durante cinquenta anos.
E apontou para o chão perto dos enormes pés da estátua. Caído ali encontrava-se o pequeno livro preto que Harry encontrara no banheiro da Murta Que Geme. Por um segundo, ele se perguntou como aquilo chegara ali, mas havia assuntos mais urgentes a tratar.
— Você tem que me ajudar, Tom — disse Harry, levantando a cabeça de Gina outra vez — Temos que tirá-la daqui. Tem um basilisco... não sei onde está, mas pode chegar a qualquer momento... por favor, me ajude...
Riddle não se mexeu.
Harry, suando, conseguiu levantar metade do corpo de Gina do chão e se curvou para apanhar de novo sua varinha. Mas a varinha desaparecera.
— Você viu...
Ele ergueu a cabeça. Riddle continuava a observá-lo, girava a varinha de Harry entre os dedos compridos.
— Obrigado — disse Harry, estendendo a mão para a varinha.
Um sorriso encrespou os cantos da boca de Riddle. Continuava a encarar Harry, girando distraidamente a varinha.
— Escute aqui — disse Harry com urgência, seus joelhos cedendo sob o peso morto de Gina — Temos que ir embora! Se o basilisco chegar.
— Ele não virá até ser chamado — disse Riddle calmamente.
Harry depositou Gina outra vez no chão, incapaz de continuar a sustentá-la.
— Que quer dizer? Olhe me dê a minha varinha, posso precisar dela...
O sorriso de Riddle se alargou.
— Você não vai precisar dela.
Harry encarou-o.
— Que é que você quer dizer, não vou...?
— Esperei muito tempo por isto, Harry Potter. Por uma chance de vê-lo. De lhe falar.
— Olhe — disse Harry perdendo a paciência — Acho que você não está entendendo. Estamos na Câmara Secreta. Podemos conversar depois...
— Vamos conversar agora — disse Riddle, ainda sorrindo, e guardando a varinha no bolso.
Harry encarou-o. Havia alguma coisa muito estranha acontecendo ali...
— Como foi que Gina ficou assim? — perguntou com a voz lenta.
— Bom, essa é uma pergunta interessante — disse Riddle em tom agradável — É uma história bastante comprida. Suponho que a razão de Gina Weasley estar assim é porque abriu o coração e contou todos os seus segredos para um estranho invisível.
— Do que é que você está falando?
— Do diário. Do meu diário. A pequena Gina anda escrevendo nele há meses, me contou suas tristes, preocupações e mágoas, como os irmãos implicavam com ela, como teve que vir para a escola com vestes e livros de segunda mão, como... — os olhos de Riddle brilharam — Como achava que o bom, o famoso, o importante Harry Potter jamais iria gostar dela...
Todo o tempo que falava, os olhos de Riddle não desgrudavam do rosto de Harry. Havia neles uma expressão quase faminta.
— É muito chato ter que ouvir os probleminhas bobos de uma garota de onze anos. Mas fui paciente. Respondi. Fui simpático, gentil. Gina simplesmente me adorou. “Ninguém nunca me compreendeu como você; Tom... é uma alegria ter este diário para fazer confidências... é como ter um amigo portátil que se leva para todo lado no bolso...”
Riddle deu uma risada aguda e fria que não combinava com ele. Fez os cabelos na nuca de Harry se arrepiarem.
— Ainda que seja eu a dizer, Harry, sempre fui capaz de encantar as pessoas de quem precisei. Então Gina me revelou sua alma, e por acaso essa alma era exatamente o que eu queria... fui ficando cada vez mais forte com a dieta dos seus medos mais arraigados e segredos mais íntimos. Fiquei poderoso, muito mais poderoso do que a pequena Srta. Weasley. Suficientemente poderoso para começar a alimentá-la com alguns dos meus segredos, e começar a instilar nela um pouco da minha alma...
— Do que é que você está falando? — perguntou Harry, que sentia boca muito seca.
— Você ainda não adivinhou, Harry Potter? — disse Riddle baixinho — Gina Weasley abriu a Câmara Secreta. Ela estrangulou os galos da escola e escreveu mensagens ameaçadoras nas paredes. Ela açulou a serpente de Slytherin contra quatro sangues-ruins e a gata daquela aberração do Filch.
— Não — sussurrou Harry.
— Sim — confirmou Riddle calmamente — É claro que ela não sabia o que estava fazendo no inicio. Era muito divertido. Eu gostaria que você tivesse visto as anotações que a garota fez no diário depois... ficaram muito mais interessantes... “Querido Tom” — recitou ele, observando a expressão horrorizada de Harry — “Acho que estou perdendo a memória. Tem penas de galos nas minhas vestes e não sei como foram parar lá. Querido Tom, não me lembro do que fiz na noite das Bruxas, mas um gato foi atacado e a frente da minha roupa está suja de tinta. Querido Tom, Percy me diz o tempo todo que estou pálida e que estou diferente do que era. Acho que ele suspeita de mim... houve outro ataque hoje e não sei onde é que eu estava. Tom, que é que eu vou fazer? Acho que estou ficando maluca... acho que sou a pessoa que está atacando todo mundo, Tom!”
Os punhos de Harry se fecharam, as unhas se enterraram nas palmas das mãos.
— Levou muito tempo para a burrinha da Gina parar de confiar no diário — continuou Riddle — Mas ela finalmente desconfiou e tentou jogá-lo fora. E foi aí que você entrou, Harry. Você o encontrou e eu não poderia ter me sentido mais satisfeito. De todas as pessoas que podiam tê-lo apanhado, foi você, exatamente a pessoa que eu estava mais ansioso para conhecer...
— E para que você queria me conhecer? — perguntou Harry.
A raiva corria pelas veias dele, e precisou de muito esforço para manter a voz firme.
— Bem, veja, Gina me contou tudo sobre você, Harry. Toda a sua história fascinante — os olhos de Riddle percorreram a cicatriz em forma de raio na testa de Harry e sua expressão se tornou mais voraz — Senti que precisava descobrir mais a seu respeito, conversar com você, conhecer você, se pudesse. Então, decidi lhe mostrar a minha famosa captura daquele bobalhão do Hagrid para ganhar sua confiança...
— Hagrid é meu amigo — disse Harry, a voz trêmula — E foi você que o incriminou, não foi? Pensei que você tivesse se enganado, mas...
Riddle deu aquela risada aguda outra vez.
— Foi a minha palavra contra a de Hagrid, Harry. Bem, você pode imaginar o que pareceu ao velho Armando Dippet. De um lado, Tom Riddle, pobre, mas brilhante, órfão, mas muito corajoso, monitor, aluno modelo... do outro lado, o trapalhão do Hagrid, que vivia se metendo em encrencas, tentava criar filhotes de lobisomens debaixo da cama, fugia para a Floresta Proibida para brigar com trasgos... mas admito que até eu mesmo fiquei surpreso que o plano tivesse funcionado tão bem. Achei que alguém devia perceber que Hagrid não poderia ser o Herdeiro de Slytherin. Eu gastara cinco anos inteiros para descobrir tudo que podia sobre a Câmara Secreta e encontrar a entrada... como se Hagrid tivesse cabeça, ou poder para tanto! Só o professor de Transfiguração, Dumbledore, pareceu pensar que Hagrid era inocente. E convenceu Dippet a conservar Hagrid aqui e treiná-lo para guarda-caça. E, acho que ele talvez tivesse adivinhado... Dumbledore nunca pareceu gostar de mim tanto quanto os outros professores...
— Aposto que Dumbledore não se deixou enganar por você — disse Harry com os dentes cerrados.
— Bem, não há dúvida de que ele ficou me vigiando de maneira incômoda depois que Hagrid foi expulso — disse Riddle indiferente — Percebi que não seria seguro tornar a abrir a Câmara enquanto ainda estivesse na escola. Mas não ia desperdiçar os longos anos que passei procurando por ela. Resolvi deixar aqui um diário, preservando o meu eu de dezesseis anos em suas páginas, de modo que um dia, com sorte, eu pudesse conduzir alguém pelas minhas pegadas e terminar a nobre tarefa de Salazar Slytherin.
— Bem, você não a terminou — disse Harry em tom de vitória — Desta vez ninguém morreu, nem mesmo a gata. Dentro de algumas horas a Poção de Mandrágoras estará pronta e todos que foram petrificados voltarão à normalidade outra vez...
— Acho que ainda não lhe disse — falou Riddle em voz baixa — Que matar sangues ruins não me interessa mais. Há muitos meses agora, meu novo alvo tem sido... você.
Harry encarou-o.
— Imagine a raiva que tive quando na vez seguinte que alguém abriu o meu diário, era a Gina que estava me escrevendo e não você. Ela o viu com o diário, sabe, e entrou em pânico. E se você descobrisse como usá-lo, e eu repetisse todos os segredos dela para você? E se, o que seria pior, eu contasse a você quem tinha andado estrangulando os galos? Então a boba da pirralha esperou o seu dormitório ficar deserto e roubou o diário. Mas eu sabia o que precisava fazer. Tinha ficado claro para mim que você estava na pista do Herdeiro de Slytherin. Por tudo que Gina tinha me contado, eu sabia que você não mediria esforços para solucionar o mistério, principalmente se um dos seus melhores amigos fosse atacado. E Gina tinha me contado que a escola inteira estava alvoroçada porque você sabia falar a Língua das Cobras... enfim, fiz Gina escrever o bilhete de adeus na parede e descer aqui para esperar. Ela resistiu, chorou e ficou muito chateada. Mas não resta nela muita vida... ela transferiu muita força para o diário, para mim. O suficiente para eu poder finalmente deixar aquelas páginas... estive esperando você aparecer desde que chegamos aqui. Sabia que você viria. Tenho muitas perguntas a lhe fazer, Harry Potter.
— Por exemplo? — disse Harry com rispidez, os punhos ainda fechados.
— Bem — disse Riddle, dando um sorriso agradável — Como foi que você, um garoto magricela, sem nenhum talento mágico excepcional, conseguiu derrotar o maior bruxo de todos os tempos? Como foi que você escapou apenas com uma cicatriz, enquanto os poderes do Lord Voldemort foram destruídos?
Surgia agora em seus olhos vorazes um brilho estranho e avermelhado.
— Que lhe interessa como escapei? — perguntou Harry lentamente — Voldemort foi depois do seu tempo...
— Voldemort — disse Riddle com indulgência — É o meu passado, presente e futuro, Harry Potter...
E, tirando a varinha de Harry do bolso, ele escreveu no ar três palavras cintilantes:

TOM SERVOLO RIDDLE

Em seguida, agitou a varinha uma vez e as letras do seu nome se rearrumaram:

EIS LORD VOLDEMORT

— Entendeu? Era um nome que eu já estava usando em Hogwarts, só para os meus amigos mais íntimos, é claro. Você acha que eu ia usar o nome nojento do meu pai trouxa para sempre? Eu, em cujas veias corre o sangue do próprio Salazar Slytherin, pelo lado de minha mãe? Eu, conservar o nome de um trouxa sujo e comum, que me abandonou mesmo antes de eu nascer, só porque descobriu que minha mãe era bruxa? Não, Harry, criei para mim um nome novo, um nome que eu sabia que os bruxos de todo o mundo um dia teriam medo de pronunciar, quando eu me tornasse o maior bruxo do mundo.
O cérebro de Harry parecia ter enguiçado. Chocado, ele fixava Riddle, o garoto órfão que crescera para assassinar seus pais e tantos outros...
Finalmente forçou-se a falar.
— Não é — sua voz baixa cheia de ódio.
— Não é o quê? — perguntou Riddle com rispidez.
— Não é o maior bruxo do mundo — disse Harry, respirando depressa — Desculpe desapontá-lo, e tudo o mais, mas o maior bruxo do mundo é Alvo Dumbledore. Todos dizem isso. Mesmo quando você era poderoso, você não se atreveu a tentar dominar Hogwarts. Dumbledore viu através de você quando frequentou a escola e ainda o amedronta hoje, onde quer que você se esconda...
O sorriso desaparecera da cara de Riddle, substituído por um olhar muito sinistro.
— Dumbledore foi afastado do castelo meramente pela minha lembrança — sibilou.
— Ele não está tão afastado quanto você poderia pensar! — retorquiu Harry. Falava sem pensar, querendo apavorar Riddle, desejando mais, do que acreditando que o que dizia fosse verdade...
Riddle abriu a boca, mas congelou. Ouviram uma música vinda de algum lugar.
Riddle se virou para percorrer com os olhos a câmara vazia. A música se tornava cada vez mais alta. Era misteriosa, de dar arrepios, sobrenatural, fez os cabelos de Harry ficarem em pé e o seu coração parecer inchar até dobrar de tamanho. Então a música atingiu tal volume que Harry a sentiu vibrar dentro do peito, e chamas irromperam no alto da coluna mais próxima.
Um pássaro vermelho do tamanho de um cisne apareceu, cantando aquela música esquisita para a abóbada do teto. Tinha uma cauda dourada e faiscante, comprida como a de um pavio e garras douradas e reluzentes que seguravam um embrulho esfarrapado. Um segundo depois, o pássaro voava direto para Harry. Deixou cair a seus pés o embrulho que carregava, depois pousou pesadamente em seu ombro. Quando fechou as asas enormes, Harry ergueu os olhos e viu que tinha um bico dourado, longo e afiado e olhos redondos e escuros.
O pássaro parou de cantar. Sentou-se imóvel e cálido junto à bochecha de Harry, olhando com firmeza para Riddle.
— É uma fênix... — disse Riddle, encarando-o de volta com um olhar astuto.
— Fawkes? — sussurrou Harry, e sentiu as garras douradas do pássaro apertarem gentilmente seu ombro.
— E isso — disse Riddle, agora examinando o embrulho esfarrapado que Fawkes deixara cair — Seria o velho Chapéu Seletor...
E era. Remendado, esfiapado, sujo, o chapéu jazia imóvel aos pés de Harry.
Riddle começou a rir outra vez. Riu tanto que a Câmara ecoou com o seu riso, como se dez Riddles estivessem rindo ao mesmo tempo...
— Isto é o que Dumbledore manda ao seu defensor! Um pássaro canoro e um velho chapéu! Você se sente cheio de coragem, Harry Potter? Sente-se seguro agora?
Harry não respondeu. Talvez não entendesse qual era a utilidade de Fawkes ou do Chapéu Seletor, mas já não estava sozinho e esperou com crescente coragem Riddle parar de rir.
— Aos negócios, Harry — falou Riddle, ainda com um largo sorriso — Duas vezes, no seu passado, ou no meu futuro, nós nos encontramos. E duas vezes não consegui matá-lo. Como foi que você sobreviveu? Conte-me tudo. Quanto mais tempo falar — acrescentou brandamente — Mais tempo continuará vivo.
Harry começou a pensar depressa, avaliando suas chances. Riddle tinha a varinha. Ele, Harry, tinha Fawkes e o Chapéu Seletor, nenhum dos quais adiantaria muito em um duelo. A situação parecia ruim, não havia dúvida... mas quanto mais tempo Riddle ficasse ali, mais depressa a vida de Gina se esgotava... entrementes, Harry reparou de repente que os contornos de Riddle estavam ficando mais nítidos, mais sólidos... se tinha que haver uma luta entre ele e Riddle, quanto mais cedo melhor.
— Ninguém sabe por que você perdeu seus poderes ao me atacar — disse Harry abruptamente — Nem mesmo eu sei. Mas sei por que você não pôde me matar. Foi porque minha mãe morreu para me salvar. Minha mãe trouxa e comum — acrescentou, sacudindo-se de raiva reprimida — Ela impediu você de me matar. E eu vi o seu eu verdadeiro. Vi no ano passado. Você está uma ruína. Mal se mantém vivo. Foi isso que você ganhou com todo o seu poder. Você vive escondido. Você é feio, você é nojento...
O rosto de Riddle se contorceu. Então ele deu um horrível sorriso amarelo.
— Então, sua mãe morreu para salvar você. É, isso é um contrafeitiço poderoso. Estou entendendo agora... afinal de contas você não tem nada especial. Há uma estranha semelhança entre nós. Até você deve ter notado. Nós dois somos mestiços, órfãos, criados por trouxas. Provavelmente, desde o grande Slytherin, somos os dois falantes da Língua das Cobras a frequentar Hogwarts. E até nos parecemos fisicamente... mas no final, foi um simples acaso que salvou você de mim. Era só o que eu queria saber.
Harry esperou tenso que Riddle erguesse a varinha. Mas o sorriso enviesado de Riddle voltou a se alargar.
— Agora, Harry, vou lhe dar uma liçãozinha. Vamos medir os poderes do Lord Voldemort, Herdeiro de Slytherin, com os do famoso Harry Potter, e as melhores armas que Dumbledore pôde lhe dar...
Ele lançou um olhar divertido a Fawkes e ao Chapéu Seletor, em seguida se afastou.
Harry, o medo se espalhando pelas pernas dormentes, observou Riddle parar entre as altas colunas e olhar para o rosto de pedra de Slytherin, muito acima dele na obscuridade.
Riddle abriu bem a boca e sibilou, mas Harry entendeu o que ele estava dizendo:
— Fale comigo, Slytherin, o Maior dos Quatro de Hogwarts.
Harry se virou para olhar a estátua, Fawkes balançava em seu ombro.
O gigantesco rosto de pedra de Slytherin se mexeu. Aterrorizado, Harry viu sua boca abrir, cada vez mais, e formar um enorme buraco negro. E alguma coisa estava se mexendo dentro da boca da estátua. Alguma coisa começava a escorregar para fora de suas profundezas.
Harry recuou até bater na escura parede da Câmara e, ao fechar os olhos com força, sentiu a asa de Fawkes roçar sua bochecha quando o pássaro levantou voo. Harry queria gritar “Não me deixe!”, mas que chance tinha uma fênix contra o rei das serpentes?
Algo descomunal bateu no piso de pedra da Câmara. Harry sentiu-o trepidar, ele sabia o que estava acontecendo, sentia, podia quase ver a cobra gigantesca se desenrolar para fora da boca de Slytherin. Então ouviu a voz sibilante de Riddle:
— Mate ele.
O basilisco estava vindo em sua direção, ele ouviu aquele corpo gigantesco deslizar pesadamente pelo chão empoeirado.
Com os olhos ainda fechados, Harry começou a correr as cegas para os lados, as mãos estendidas à frente, tateando o caminho, Voldemort dava risadas... Harry tropeçou. Caiu com força no chão e sentiu gosto de sangue, a cobra estava a uma pequena distância, ele a ouviu se aproximar...
Logo acima dele houve um som alto, explosivo e aquoso e então alguma coisa pesada bateu em Harry com tanto ímpeto que o esmagou contra a parede. Esperando ter o corpo atravessado por presas ele ouviu mais sibilos raivosos, alguma coisa irrompendo por entre os pilares... ele não agüentou, abriu os olhos o suficiente para espreitar o que estava acontecendo.
A enorme cobra, de um verde luzidio e venenoso, grossa como um tronco de carvalho, erguia-se no ar e sua enorme cabeça chanfrada balançava bêbeda entre as colunas. Trêmulo e pronto a fechar os olhos se a cobra se virasse, Harry viu o que distraíra a cobra. Fawkes sobrevoava sua cabeça e o basilisco tentava abocanhá-la, furioso, com as presas finas como sabres...
Fawkes mergulhou. Seu longo bico dourado desapareceu de vista e uma chuva repentina de sangue escuro salpicou o chão. O rabo da cobra chicoteou, errando Harry por pouco e, antes que o garoto pudesse fechar os olhos, ela se virou, o garoto olhou direto para a sua cara e viu que os olhos, os dois olhos bulbosos e amarelos, tinham sido furados pela fênix; o sangue escorria no chão e a cobra espumava de dor.
— NÃO! — Harry ouviu Riddle gritar — DEIXE O PÁSSARO! DEIXE O PÁSSARO! O GAROTO ESTÁ ATRÁS DE VOCÊ! VOCÊ AINDA PODE FAREJÁ-LO! MATE-O!
A cobra cega balançou, confusa, ainda letal. Fawkes descrevia círculos em volta de sua cabeça, cantando aquela música estranha, atacando aqui e ali o nariz escamoso da cobra, enquanto o sangue jorrava dos seus olhos destruídos.
— Me ajudem, me ajudem — murmurou Harry — Alguém, qualquer um...
O rabo da cobra voltou a chicotear o chão. Harry se abaixou. Uma coisa macia bateu em seu rosto. O basilisco varrera o Chapéu Seletor para os braços de Harry. O garoto agarrou-o. Era só o que lhe restava, sua única chance. Enfiou-o na cabeça e se atirou ao comprido no chão quando o rabo do basilisco tornou a golpear passando por cima dele.
“Me ajudem, me ajudem”, pensou Harry, os olhos bem fechados sob o chapéu, “Por favor me ajudem...”
Nenhuma voz lhe respondeu.
Em lugar disso, o chapéu encolheu, como se uma mão invisível o apertasse com força. Uma coisa dura e pesada bateu na cabeça de Harry com força, deixando-o quase desacordado. Com estrelas piscando diante dos seus olhos, ele agarrou a ponta do chapéu com firmeza para tirá-lo e sentiu uma coisa comprida e dura em seu interior.
Uma refulgente espada de prata aparecera dentro do chapéu, o punho cravejado de rubis rutilantes do tamanho de ovos.
— MATE O GAROTO! DEIXE O PÁSSARO! O GAROTO ESTÁ A TRÁS DE VOCÊ! FAREJE, FAREJE!
Harry estava de pé, pronto. A cabeça do basilisco foi baixando, o corpo se enroscando, batendo nas colunas ao se torcer para atacá-lo de frente. Harry viu o corpo imenso, as órbitas ensanguentadas, a boca escancarada, grande suficiente para engoli-lo inteiro, cheia de dentes compridos como a sua espada, pontiagudos, faiscantes, venenosos...
A cobra atacou às cegas... Harry evitou-a e bateu na parede da Câmara. Ela atacou de novo, e sua língua bifurcada golpeou o lado de Harry. Ele ergueu a espada com as duas mãos... o basilisco tornou a atacar, e desta vez na direção certa... Harry pôs todo o seu peso na espada e enfiou-o até a bainha no céu da boca da cobra...
Mas quando o sangue quente encharcou os braços de Harry, ele sentiu uma dor excruciante logo acima do cotovelo. Uma presa comprida e venenosa estava se enterrando cada vez mais fundo em seu braço e se partiu quando o basilisco tombou para o lado e caiu, estrebuchando no chão.
Harry escorregou pela parede. Agarrou a presa que espalhava veneno pelo seu corpo e arrancou-a do braço. Mas percebeu que era tarde demais. Uma dor terrível se irradiava do ferimento de modo lento e contínuo.
Na hora em que deixou cair a presa e viu o próprio sangue empapar suas vestes, sua visão se embaçou. A Câmara se dissolveu num rodamoinho de cores opacas. Uma nesga de vermelho passou por ele, e Harry ouviu unhas baterem ao seu lado suavemente.
— Fawkes — disse com a voz engrolada — Você foi fantástico, Fawkes... — ele sentiu o pássaro deitar a bela cabeça no lugar em que a presa da serpente o furara. Ouviu ecoarem passos e depois uma sombra escura passar à sua frente.
— Você está morto, Harry Potter — disse a voz de Riddle do alto — Morto. Até o pássaro de Dumbledore sabe disso. Você está vendo o que ele está fazendo, Potter? Está chorando.
Harry piscou os olhos. A cabeça de Fawkes entrava e saía de foco. Lágrimas grossas e peroladas escorriam por suas penas de cetim.
— Vou me sentar aqui e apreciar você morrer, Harry Potter. Pode demorar à vontade. Não tenho pressa.
Harry se sentiu sonolento. Tudo à sua volta parecia estar girando.
— Assim termina o famoso Harry Potter — disse a voz distante de Riddle — Sozinho na Câmara Secreta, abandonado pelos amigos, finalmente derrotado pelo Lorde das Trevas que ele tão insensatamente desafiou. Você vai voltar para a sua querida mãe de sangue-ruim em breve, Harry... ela comprou para você mais doze anos de vida... mas Lord Voldemort acabou por vencê-lo, como você sabia que ele faria...
Se isto for morrer, pensou Harry, Não é tão mau assim. Até mesmo a dor abandonou-o aos poucos... Mas será que isto era morrer?
Em vez de escurecer a Câmara parecia estar voltando a entrar em foco. Harry fez um pequeno movimento com a cabeça e lá estava Fawkes, ainda descansando a cabeça em seu braço. Uma pocinha de lágrimas peroladas brilhava em torno do ferimento, só que não havia ferimento...
— Afaste-se dele, pássaro — disse a voz de Riddle inesperadamente — Afaste-se dele, eu falei, afaste-se...
Harry levantou a cabeça. Riddle estava apontando a varinha de Harry para Fawkes, ouviu-se um estampido como o de um revólver e Fawkes levantou voo outra vez num redemoinho dourado e vermelho.
— Lágrimas de fênix... — disse Riddle baixinho, olhando o braço de Harry — É claro... poderes curativos... me esqueci... — ele olhou para o rosto de Harry — Mas não faz diferença. Na realidade, prefiro assim. Só você e eu, Harry Potter... você e eu...
E ergueu a varinha.
Então num farfalhar de penas, Fawkes sobrevoou os dois e uma coisa caiu no colo de Harry... o diário.
Por uma fração de segundo, Harry e Riddle, a varinha ainda erguida, olharam para o diário. Então, sem pensar, sem raciocinar, como se tivesse pretendido fazer isso o tempo todo, Harry agarrou a presa do basilisco no chão ao lado dele e enterrou-a direto no centro do livro. Ouviu-se um grito longo e cortante. Um rio de tinta jorrou do diário, escorreu pelas mãos de Harry, inundou o chão. Riddle estrebuchava e se contorcia, gritando e se debatendo e então...
Desapareceu.
A varinha de Harry caiu no chão com estrépito e em seguida fez-se silêncio. Silêncio, exceto pelo pinga-pinga da tinta que ainda escorria do diário. O veneno do basilisco abrira a fogo um buraco no livro.
O corpo inteiro tremendo, Harry se levantou. Sua cabeça rodava como se tivesse acabado de viajar quilômetros com o Pó de Flu. Lentamente, recolheu a varinha e o Chapéu Seletor e, com um violento puxão, retirou a espada faiscante do céu da boca do basilisco.
Então chegou aos seus ouvidos um gemido fraco lá do fundo da Câmara. Gina estava se mexendo. Enquanto Harry corria para a garota, ela se sentou. Seus olhos espantados ziguezaguearam do enorme vulto do basilisco morto para Harry, com as vestes encharcadas de sangue, e daí para o diário em sua mão. Ela inspirou profundamente, estremecendo, e as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.
— Harry, ah, Harry, eu tentei lhe contar no café, mas não pude contar na frente do Percy... fui eu, Harry... mas... j-juro que não tive intenção... Riddle me obrigou, ele me levou até lá... e... como foi que você matou aquele... aquela coisa? Onde está Riddle? A última coisa que me lembro é dele saindo do diário.
— Tudo bem — disse Harry, levantando o diário e mostrando à Gina o furo feito pela presa — O Riddle acabou. Olhe! Ele e o basilisco. Anda Gina, vamos dar o fora daqui!
— Vou ser expulsa! — choramingou Gina enquanto Harry a ajudava, desajeitado, a ficar em pé — Sonhei em vir para Hogwarts desde que G-Gui veio e ag-gora vou ter que sair e... q-que-que papai e mamãe vão dizer?
Fawkes estava à espera deles, sobrevoando a entrada da Câmara. Harry incitava Gina a avançar; os dois saltaram por cima das voltas inertes do basilisco morto, atravessando a penumbra cheia de ecos e voltaram ao túnel. Harry ouviu as portas de pedra se fecharem às suas costas com um silvo fraco.
Depois de caminharem alguns minutos pelo túnel escuro, Harry ouviu o som distante de pedras que se deslocavam lentamente.
— Rony! — berrou, se apressando — Gina está bem! Está comigo!
Ouviram Rony soltar um viva sufocado e, ao virarem a curva seguinte, divisaram a sua carinha ansiosa espiando por uma brecha de bom tamanho, que ele conseguira abrir entre as pedras desmoronadas.
— Gina!— Rony enfiou um braço pelo buraco para puxá-la primeiro — Você está viva! Não acredito! Que aconteceu! Como... que... de onde veio o pássaro?
Fawkes mergulhou no buraco atrás de Gina.
— É do Dumbledore — respondeu Harry, espremendo-se para passar.
— Onde arranjou uma espada? — disse Rony, boquiabrindo-se ao ver a arma na mão de Harry.
— Explico quando sairmos daqui — disse Harry com um olhar de esguelha para Gina, que agora chorava mais do que antes.
— Mas...
— Mais tarde — disse Harry concisamente.
Não achou uma boa idéia naquele momento contar a Rony quem andara abrindo a Câmara, pelo menos não na frente de Gina.
— Onde anda Lockhart?
— Lá atrás — disse Rony, ainda com uma expressão intrigada, mas indicando com a cabeça o túnel na direção do cano de entrada — Está bem ruinzinho. Venha ver.
Guiados por Fawkes, cujas penas vermelhas produziam uma luminosidade dourada no escuro, eles caminharam de volta à boca do cano.
Gilderoy Lockhart estava sentado, cantarolando tranqüilamente para si mesmo.
— A memória dele desapareceu — disse Rony — O Feitiço da Memória saiu pela culatra. Atingiu ele em vez de nós. Ele não tem a menor idéia de quem é, onde está ou de quem somos. Eu o mandei vir esperar aqui. É um perigo para ele mesmo.
Lockhart mirou os garotos, bem-humorado.
— Alô — disse ele — Lugar esquisito, esse, não acham? Vocês moram aqui?
— Não — respondeu Rony, erguendo as sobrancelhas para Harry.
Harry se abaixou e espiou para dentro do cano longo e escuro.
— Você já pensou como é que vamos subir por isso para voltar? — perguntou a Rony.
Rony sacudiu a cabeça, mas Fawkes, a fênix, passara por Harry e agora esvoaçava à sua frente, seus olhos de contas brilhando no escuro. Ela acenava com as compridas penas douradas da cauda. Harry olhou-a hesitante.
— Parece que ela quer que você a agarre... — disse Rony, com um olhar perplexo — Mas você é pesado demais para um pássaro arrastá-lo por ali...
— Fawkes não é um pássaro comum — Harry se virou depressa para os outros — Temos que nos segurar uns nos outros. Gina, agarre a mão de Rony. Prof. Lockhart...
— Ele está se referindo ao senhor — disse Rony rispidamente a Lockhart.
— Segure a outra mão de Gina...
Harry prendeu a espada e o Chapéu Seletor no cinto, Rony segurou as costas das vestes de Harry e este esticou a mão e agarrou a cauda estranhamente quente de Fawkes. Uma leveza extraordinária pareceu se espalhar por todo o seu corpo e, no segundo seguinte, o grupo voava pelo cano em meio a um farfalhar de asas. Harry ouviu Lockhart, pendurado atrás dele, exclamar: “Espantoso! Espantoso! Isso parece mágica!”. O ar frio fustigava os cabelos de Harry e, antes que ele tivesse enjoado da viagem, ela terminou.
Os quatro bateram no chão molhado do banheiro da Murta Que Geme, e enquanto Lockhart endireitava o chapéu, a pia que escondera o cano voltou a se encaixar suavemente no lugar.
Murta arregalou os olhos para Harry.
— Você está vivo! — exclamou desconcertada.
— Não precisa parecer tão desapontada — disse o garoto, sério, limpando os salpicos de sangue e o limo dos óculos.
— Ah, bem... andei pensando... se você tivesse morrido, seria bem-vindo a dividir o meu boxe — disse Murta, com o rosto tingindo-se de prateado.
— Arre! — exclamou Rony ao saírem do banheiro para o corredor escuro e deserto — Harry! Acho que Murta está gostando de você! Gina, você ganhou uma concorrente!
Mas as lágrimas continuavam a escorrer silenciosamente pelo rosto de Gina.
— Onde agora? — perguntou Rony, lançando um olhar ansioso a Gina.
Harry apontou.
Fawkes tomou a frente, refulgindo ouro pelo corredor. Eles o seguiram e momentos depois se encontravam à porta da sala da Profª. McGonagall.
Harry bateu e empurrou a porta, abrindo-a.








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domingo, 29 de abril de 2012

MUNDO DOS DINOSSAUROS - PARTE 2



O Projeto Mundo dos Dinossauros, apelidado de Projeto DINO, é um conjunto de documentários sobre uma raça de gigantes pré-históricos que viveram sobre a mesma terra nós, que beberam a mesma água que nós. Mas milhões de anos atrás eles se tornaram extintos. Eu sempre fui fascinado por eles, e fiquei ainda mais feliz, algumas semanas atrás, quando descobri que haviam vários vídeos e documentários sobre os dinossauros na internet. 

A Batalha dos Dinossauros
parte 1



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sábado, 28 de abril de 2012

Sessão Premier: A Madrasta - Capítulo 2



DIM-DOM
SÀO 19:00 HORAS
Chega agora a Sessão Premier:
A Madrasta


Maria foi condenada pelo assassinato de sua amiga Patrícia, apesar de sempre ter se dito inocente. Após Vinte Anos, Maria é libertada e agora ela quer reaver o amor de seus filhos, de quem foi afastada pelo ex-marido Estevão, julgando que a sua ex-esposa fosse mesmo uma assassina. Mas agora ela está de volta, e além de seus filhos, Maria quer encontrar o verdadeiro criminoso e limpar o seu nome. De uma bondosa mulher, Maria torna-se fria e cruel em sua cruzada para ter vingança contra os supostos amigos, amigos esses que são também os principais suspeitos da morte de Patrícia.


APRESENTANDO HOJE:
Capítulo 2 - A Namorada de Estevão






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NOVOS HORÁRIOS


Com tantas novas postagens no blog T.World, fica difícil agradar a todos quanto ao horário. Normalmente, eu publico livros e outras postagens, depois do Meio-Dia, mas as postagens especiais de fim de semana, são diferentes. A Madrasta é algo novo em comparação com o que novamente trago, afinal, pois mais diferente que seja das outras, novela é sempre novela. E o Projeto DINO é sempre interessante e ao mesmo tempo educativo. Eu julguei que os horários escolhidos seriam os melhores [19:00 horas - Sessão Premier / e 09:00 horas - Projeto DINO]. Mas se vocês assim quiserem, podem sugerir qual o melhor horário para as publicações.

Eu estarei recebendo as suas opiniões a partir de comentários, feitos em qualquer uma das postagens, ou por e-mail. Fiquem a vontade também, para comentarem o andamento do blog, se vocês estão gostando ou não.


Assinado:
Thiago Assunção Almeida


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Harry Potter e a Câmara Secreta - Capítulo 16








— CAPÍTULO DEZESSEIS —
A Câmara Secreta



— TANTAS VEZES ESTIVEMOS NAQUELE BANHEIRO, e ela ali a apenas três boxes de distância — comentou Rony amargurado à mesa do café, na manhã seguinte — E poderíamos ter perguntado a ela, e agora...
Fora bastante difícil encontrar as aranhas. Fugir dos professores o tempo suficiente para entrar escondido em um banheiro de meninas, e ainda por cima o banheiro de meninas bem ao lado da cena do primeiro ataque, ia ser quase impossível.
Mas aconteceu uma coisa logo na primeira aula, Transfiguração, que varreu a Câmara Secreta para longe dos pensamentos dos dois garotos pela primeira vez em semanas. Minutos depois de entrarem em sala, a Profª. McGonagall avisou que os exames começariam no dia primeiro de Junho, dali a uma semana.
— Exames? — gritou Simas Finnigan — E vamos ter exames?
Ouviram um estrondo atrás de Harry quando a varinha de Neville escapuliu e fez desaparecer um pé de sua carteira. A professora restaurou-a com um aceno da própria varinha e se virou de cara amarrada para Simas.
— A razão de se manter a escola aberta neste momento é vocês receberem educação — disse ela severamente — Portanto, os exames vão se realizar normalmente, e confio que vocês estejam estudando a sério.
Estudando a sério! Jamais ocorrera a Harry que haveria exames com o castelo naquela situação. Houve muitos murmúrios de protesto na sala que fizeram a professora amarrar ainda mais a cara.
— As instruções que recebi do Prof. Dumbledore foram no sentido de manter a escola funcionando o mais normalmente possível. E isto, não preciso dizer, significa descobrir o quanto os senhores aprenderam neste ano.
Harry olhou para os dois coelhos que devia transformar em chinelos. Que é que ele aprendera até ali naquele ano? Não conseguia lembrar nada que lhe pudesse ser útil em um exame. Rony parecia que tinha acabado de ser informado de que seria obrigado a ir viver na Floresta Proibida.
— Você pode me imaginar fazendo exames com isso? — perguntou ele a Harry, mostrando a varinha, que começara a assobiar alto.

* * *

Três dias antes do primeiro exame, a Profª. McGonagall deu outro aviso no café da manhã.
— Tenho boas notícias — disse, e os alunos no Salão, ao invés de se calarem, desataram a falar.
— Dumbledore vai voltar! — exclamaram de alegria vários alunos.
— Apanharam o Herdeiro de Slytherin — gritou, esganiçada, uma menina na mesa da Corvinal.
— Os jogos de Quadribol vão recomeçar! — berrou Olívio excitado.
Quando o vozerio diminuiu, a professora disse:
— A Profª. Sprout me informou que finalmente as mandrágoras estão prontas para serem colhidas. Hoje à noite, poderemos ressuscitar os alunos que foram petrificados. Não será preciso lembrar a todos que um deles talvez possa nos dizer quem ou o que os atacou. Tenho esperanças que este ano tenebroso terminará com a captura do culpado.
Houve uma explosão de vivas.
Harry olhou para a mesa da Sonserina e não ficou nem um pouco surpreso ao ver que Draco Malfoy não se alegrara. Rony, porém, parecia mais feliz do que nos últimos dias.
— Então, não vai fazer diferença nunca termos perguntado nada à Murta! — disse a Harry — Mione provavelmente terá todas as respostas quando a acordarem! E mais, vai endoidar quando descobrir que vamos ter exames dentro de três dias. Ela não estudou. Seria mais caridoso que a deixassem onde está até os exames terminarem.
Nesse instante Gina Weasley se aproximou e se sentou ao lado de Rony. Parecia tensa e nervosa e Harry reparou que torcia as mãos no colo.
— Que foi que aconteceu? — perguntou Rony, servindo-se de mais mingau.
Gina não disse nada, mas olhava de uma ponta a outra da mesa da Grifinória com uma expressão apavorada no rosto, que lembrou a Harry alguém, embora ele não conseguisse atinar quem.
— Desembucha logo — disse Rony, observando-a.
Harry de repente percebeu com quem Gina parecia. Estava se balançando para frente e para trás na cadeira, exatamente como Dobby fazia quando estava hesitando, pouco antes de revelar a informação proibida.
— Tenho que lhe contar uma coisa — murmurou Gina, tomando cuidado para não olhar para Harry.
— O quê? — perguntou Harry.
Gina fez cara de quem não consegue encontrar as palavras certas.
— Que é?— perguntou Rony.
Gina abriu a boca, mas não saiu som algum. Harry se curvou para frente e falou baixinho, de modo que somente Gina e Rony pudessem ouvir.
— É uma coisa sobre a Câmara Secreta? Você viu alguma coisa? Alguém se comportando estranhamente?
Gina tomou fôlego e, naquele exato momento, Percy Weasley apareceu, com a cara cansada e pálida.
— Se você já terminou de comer, fico com o seu lugar, Gina. Estou morto de fome. Acabei de ser liberado do serviço de vigilância.
Gina deu um pulo como se sua cadeira estivesse eletrificada, lançou a Percy um olhar rápido e amedrontado e saiu correndo, Percy se sentou e pegou uma caneca no meio da mesa.
— Percy! — disse Rony aborrecido — Ela ia começar a nos contar uma coisa importante!
A meio caminho de beber um gole de chá, Percy se engasgou.
— Que tipo de coisa? — perguntou tossindo.
— Acabei de perguntar se tinha visto alguma coisa estranha e ela começou a dizer...
— Ah, isso, não tem nada a ver com a Câmara Secreta — disse Percy na mesma hora.
— Como é que você sabe? — perguntou Rony erguendo as sobrancelhas.
— Bem, se você faz questão de saber, Gina, hum, esbarrou comigo no outro dia quando eu estava... bem, não importa, a questão é que ela me viu fazendo uma coisa e eu, hum, pedi a ela para não contar a ninguém. Devo dizer que achei que ela ia cumprir a promessa. Não é nada, verdade, só que eu preferia...
Harry nunca vira Percy tão constrangido.
— Que é que você estava fazendo, Percy — perguntou Rony rindo — Vamos, conte para a gente, não vamos rir.
Percy não retribuiu o sorriso.
— Me passa esses pães, Harry, estou morto de fome.
Harry sabia que o mistério todo poderia ser resolvido no dia seguinte sem ajuda deles, mas não ia deixar passar uma oportunidade de falar com Murta se aparecesse uma, e para sua alegria apareceu, no meio da manhã, quando a turma estava sendo levada para a aula de História da Magia por Gilderoy Lockhart.
Lockhart, que tantas vezes os tranqüilizara dizendo que o perigo passara, para em seguida provar-se o contrário, agora estava inteiramente convencido de que nem valia a pena levá-los em segurança pelos corredores. Seus cabelos não estavam tão sedosos quanto de costume, parecia que estivera acordado a maior parte da noite, vigiando o quarto andar.
— Marquem minhas palavras — disse, contornando um canto com os alunos — As primeiras palavras que aqueles coitados petrificados vão dizer serão “Foi Hagrid”. Francamente, estou pasmo que a Profª. McGonagall continue achando que todas essas medidas de segurança são necessárias.
— Concordo professor — disse Harry, fazendo Rony derrubar os livros de surpresa.
— Obrigado, Harry — disse Lockhart, gentilmente, enquanto esperavam uma longa fila de alunos da Lufa-Lufa passar — Quero dizer, nós, professores, já temos muito o que fazer sem ter que acompanhar alunos às aulas e ficar de guarda a noite inteira...
— Tem razão — disse Rony, percebendo a jogada — Por que o senhor não nos deixa aqui, só temos mais um corredor pela frente...
— Sabe, Weasley, acho que vou fazer isso. Preciso mesmo preparar a minha próxima aula...
E se afastou depressa.
— Preparar a aula — Rony caçoou quando o professor se foi — É mais provável que vá é enrolar os cabelos.
Os dois amigos deixaram o resto dos colegas da Grifinória seguirem em frente, dispararam por uma passagem lateral e correram para o banheiro da Murta Que Geme. Mas quando estavam se parabenizando pela jogada genial...
— Potter! Weasley! Que é que os senhores estão fazendo?
Era a Profª. McGonagall, e sua boca parecia um fio de linha de tão fina.
— Íamos... íamos... — gaguejou Rony — Íamos... ver...
— Mione — disse Harry. Rony e a professora olharam para ele — Não a vemos há séculos, professora — continuou Harry depressa, pisando o pé de Rony — E pensamos em entrar sem sermos vistos na Ala Hospitalar, sabe, e contar a ela que as mandrágoras já estão quase prontas e... para não se preocupar...
A Profª. McGonagall continuou a olhar fixo para ele e por um instante Harry achou que ela ia explodir, mas quando falou, tinha a voz estranhamente rouca.
— Claro — disse, e Harry, espantado, viu uma lágrima brilhar nos seus olhos de contas — Claro, compreendo que isto tenha sido mais duro para os amigos dos que foram... compreendo bem. Está bem, Potter, é claro que os senhores podem ir visitar a Srta. Granger. Vou informar ao Prof. Binns onde foram. Diga a Madame Pomfrey que têm a minha permissão.
Harry e Rony se afastaram, mal ousando acreditar que tinham evitado uma detenção. Quando dobraram o canto do corredor, ouviram distintamente a professora assoar o nariz.
— Essa — disse Rony entusiasmado — Foi a melhor história que você já inventou.
Não havia escolha agora senão ir à Ala Hospitalar e dizer à Madame Pomfrey que tinham permissão da Profª. McGonagall para visitar Mione.
Madame Pomfrey os deixou entrar, com relutância.
— Não tem sentido conversar com uma pessoa petrificada — disse ela, e os garotos tiveram que admitir que estava certa, depois de se sentarem ao lado de Mione.
Era evidente que Mione nem imaginava que tinha visitas, e que tanto fazia dizerem ao armário de cabeceira para não se preocupar, tal era o bem que a conversa poderia produzir.
— Mas eu me pergunto se ela terá visto o atacante — disse Rony, contemplando com tristeza o rosto rígido de Mione — Porque se ele chegou sem ser visto, ninguém nunca vai saber...
Mas Harry não estava olhando para o rosto de Mione. Estava mais interessado na mão direita da amiga. Estava fechada por cima das cobertas e ao chegar mais perto ele viu que havia um pedaço de papel amarrotado dentro dela. Verificando antes se Madame Pomfrey andava por perto, ele apontou o papel para Rony.
— Tente tirar — cochichou Rony, mudando a posição da cadeira de modo a esconder Harry da vista de Madame Pomfrey.
Não foi nada fácil. A mão de Mione segurava o papel com tanta força que Harry teve certeza de que ia rasgá-lo. Enquanto Rony vigiava, ele puxou e torceu e, finalmente, depois de alguns minutos tensos, o papel saiu.
Era uma página rasgada de um livro muito velho da Biblioteca. Harry alisou-a ansioso, e Rony se curvou mais para ler também.

Das muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra não há nenhum mais curioso ou mortal do que o basilisco, também conhecido como rei das serpentes. Esta cobra, que pode alcançar um tamanho gigantesco e viver centenas de anos, nasce de um ovo de galinha chocado por uma rã. Seus métodos de matar são os mais espantosos, pois além das presas letais e venenosas, o basilisco tem um olhar mortífero, e todos que são fixados pelos seus olhos sofrem morte instantânea. As aranhas fogem do basilisco, pois é seu inimigo mortal e o basilisco foge apenas do canto do galo, que lhe é fatal.

E, no pé da página, uma única palavra fora escrita numa caligrafia que Harry reconheceu ser de Mione. Canos. Era como se alguém tivesse acabado de acender uma luz em seu cérebro.
— Rony — sussurrou — É isso. Isso é a resposta. O monstro na Câmara é um basilisco, uma cobra gigantesca! E por isso que andei ouvindo a voz por todo lado, e ninguém mais ouvia. É porque entendo a Língua das Cobras...
Harry ergueu os olhos para as camas à sua volta.
— O basilisco mata as pessoas com o olhar. Mas ninguém morreu, porque ninguém o encarou. Colin viu o bicho através da lente da máquina fotográfica. O basilisco queimou o filme que havia dentro, mas Colin só ficou petrificado. Justino... Justino deve ter visto o basilisco através do Nick Quase Sem Cabeça! Nick recebeu todo o impacto, mas não podia morrer novamente... e Mione e aquela monitora da Corvinal foram encontradas com um espelho ao lado delas. Mione acabara de perceber que o monstro era um basilisco. Aposto o que você quiser que ela preveniu a primeira pessoa que encontrou para antes de virar um canto, primeiro olhar o outro lado com um espelho! E aquela garota tirou o espelho da mochila... e...
O queixo de Rony caíra.
— E Madame Nor-r-ra? — perguntou, ansioso.
Harry pensou bastante, imaginando a cena na noite da Festa das Bruxas.
— A água... — disse lentamente — A inundação do banheiro da Murta Que Geme. Aposto como Madame Nor-r-ra só viu o reflexo...
Harry examinou a página que tinha na mão, pressuroso. Quanto mais lia, mais ela fazia sentido.
“O canto do galo lhe é letal!”— leu ele em voz alta — Os galos de Hagrid foram mortos! O Herdeiro de Slytherin não queria nenhum perto do castelo quando a Câmara fosse aberta! As aranhas fogem do basilisco! Tudo se encaixa!
— Mas como é que o basilisco anda circulando pelo castelo? — perguntou Rony — Uma cobra gigantesca... alguém a teria visto...
Harry, porém, apontou para a palavra que Mione escrevera no pé da página.
— Canos. Canos... Rony, ela está usando os canos. Tenho ouvido aquela voz dentro das paredes...
Rony agarrou de repente o braço de Harry.
— A entrada para a Câmara Secreta! — disse com a voz rouca — E se for um banheiro? E se for o...
— Banheiro da Murta Que Geme — completou Harry.
Os dois ficaram sentados ali, a excitação circulando com rapidez pelo corpo, mal conseguindo acreditar.
— Isto significa — disse Harry — Que não devo ser o único a falar a Língua das Cobras na escola. O Herdeiro de Slytherin deve ser outro que fala também. É assim que ele controla o basilisco.
— Que vamos fazer? — perguntou Rony, cujos olhos faiscavam — Vamos direto à Profª. McGonagall?
— Vamos à Sala dos Professores — disse Harry, ficando de pé de um salto — Ela vai para lá dentro de dez minutos. Já está quase na hora do intervalo.
Os garotos correram para baixo. Não querendo ser encontrados perambulando por outro corredor, foram diretamente à Sala dos Professores, ainda deserta. Era um aposento amplo, as paredes forradas com painéis de madeira, as cadeiras de madeira escura. Harry e Rony ficaram andando de um lado para o outro, excitados demais para se sentar.
Mas a sineta do intervalo jamais tocou. Em vez disso, ecoando pelos corredores, ouviram a voz da Profª. McGonagall, magicamente amplificada.
— Todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas Casas. Todos os professores voltem à Sala de Professores. Imediatamente, por favor.
Harry virou-se para encarar Rony.
— Não outro ataque! Não agora!
— Que vamos fazer? — disse Rony horrorizado — Voltar ao dormitório?
— Não — disse Harry, olhando à sua volta. Havia um tipo feio de guarda-roupa à sua esquerda, onde guardavam as capas dos professores — Ali dentro. Vamos ouvir o que foi. Depois podemos contar o que descobrimos.
Os garotos se esconderam dentro do armário, escutando o barulho de centenas de pessoas andando no andar de cima e a porta da Sala de Professores se abrir e bater. Do meio das dobras mofadas das capas, observaram os professores chegarem um a um. Alguns pareciam intrigados, outros completamente apavorados.
Então chegou a Profª. McGonagall.
— Aconteceu — disse ela na sala silenciosa — Uma aluna foi levada pelo monstro. Para a Câmara.
O Prof. Flitwick deixou escapar um grito fino. A Profª. Sprout tampou a boca com as mãos. Snape agarrou com muita força o espaldar de uma cadeira e perguntou:
— Como você pode ter certeza?
— O Herdeiro de Slytherin — disse a professora muito pálida — Deixou outra mensagem. Logo abaixo da primeira.

O ESQUELETO DELA JAZERÁ
NA CÂMARA PARA SEMPRE.

O Prof. Flitwick rompeu em lágrimas.
— Quem foi? — perguntou Madame Hooch, que afundara, com os joelhos bambos, numa cadeira — Que aluna?
— Gina Weasley — respondeu McGonagall.
Harry sentiu Rony escorregar silenciosamente para o chão do armário do lado dele.
— Teremos que mandar todos os alunos para casa amanhã — continuou ela — Isto é o fim de Hogwarts. Dumbledore sempre disse...
A porta da Sala de Professores bateu outra vez. Por um momento delirante Harry teve certeza de que seria Dumbledore.
Mas era Lockhart e ele sorria.
— Lamento muito, cochilei, que foi que perdi?
Ele não pareceu notar que os outros professores o olhavam com uma expressão muito próxima ao ódio.
Snape se adiantou.
— O homem de que precisávamos! Em pessoa! Uma menina foi seqüestrada pelo monstro, Lockhart. Levada para a Câmara Secreta. Chegou finalmente a sua vez.
Lockhart ficou lívido.
— Isto mesmo, Gilderoy — disse a Profª. Sprout — Você não estava dizendo ainda ontem à noite que sempre soube onde era à entrada da Câmara Secreta?
— Eu... bem, eu... — gaguejou Lockhart.
— É, você não me disse que tinha certeza do que havia dentro dela? — falou o Prof. Flitwick.
— D-disse? Não me lembro...
— Pois eu me lembro de você dizendo que lamentava não ter tido uma chance de enfrentar o monstro antes de Hagrid ser preso — continuou Snape — Você não disse que o caso todo foi mal conduzido e que deviam ter-lhe dado carta branca desde o começo?
Lockhart contemplou os rostos duros dos colegas à sua volta.
— Eu... eu realmente nunca... vocês devem ter entendido mal...
— Vamos deixar o problema em suas mãos, então, Gilderoy — disse a Profª. McGonagall — Hoje à noite será uma ocasião excelente para resolvê-lo. Vamos providenciar para que todos estejam fora do seu caminho. Você terá oportunidade de cuidar do monstro sozinho. Enfim, terá carta branca.
Lockhart olhou desesperado para os lados, mas ninguém veio em seu socorro. Ele não parecia mais bonitão, nem de longe. Seu lábio tremia e na ausência do sorriso costumeiro, cheio de dentes, seu queixo parecia pequeno e fraco.
— M-muito bem — disse — Estarei em minha sala me... me preparando.
E saiu.
— Muito bem — disse a Profª. McGonagall, cujas narinas tremeram — Com isso o tiramos do caminho. Os diretores das casas devem ir informar os alunos do que aconteceu. Digam que o Expresso de Hogwarts os levará para casa logo de manhã. Os demais, por favor, certifiquem-se de que nenhum aluno fique fora dos dormitórios.
Os professores se levantaram e saíram, um por um.

* * *

Foi provavelmente o pior dia da vida de Harry. Ele, Rony, Fred e Jorge se sentaram juntos a um canto da Sala Comunal da Grifinória, incapazes de dizer qualquer coisa. Percy não estava presente. Fora despachar uma coruja para o Sr. e a Sra. Weasley, depois trancou-se no dormitório.
Nenhuma tarde jamais se arrastou tanto quanto essa, nem tampouco a Torre da Grifinória esteve tão cheia e, no entanto, tão silenciosa. Próximo ao pôr-do-sol, Fred e Jorge foram se deitar, porque não conseguiam continuar sentados.
— Ela sabia alguma coisa, Harry — disse Rony, falando pela primeira vez desde que entraram no armário da Sala dos Professores — É por isso que foi seqüestrada. Não era uma bobagem sobre o Percy, nada disso. Descobriu alguma coisa sobre a Câmara Secreta. Deve ter sido por isso que foi... — Rony esfregou os olhos com força — Quero dizer, ela era puro sangue. Não pode haver nenhum outro motivo.
Harry podia ver o sol se pondo, vermelho-sangue, na linha do horizonte. Nunca se sentira pior na vida. Se ao menos houvesse alguma coisa que pudessem fazer. Qualquer coisa.
— Harry — disse Rony — Você acha que pode haver alguma chance de ela não estar... sabe...
Harry não soube o que dizer. Não conseguia ver como Gina ainda pudesse estar viva.
— Sabe de uma coisa? — falou Rony — Acho que devíamos ir ver Lockhart. Contar a ele o que sabemos. Ele vai tentar entrar na Câmara. Podemos contar onde achamos que é, e avisar que tem um basilisco lá dentro.
Porque Harry não pôde pensar em mais nada para fazer e porque queria fazer alguma coisa, ele concordou. Os alunos da Grifinória na sala estavam tão infelizes e sentiam tanta pena dos Weasley, que ninguém tentou impedi-los quando se levantaram, atravessaram a sala e saíram pelo buraco do retrato.

* * *

Anoitecia quando desceram à sala de Lockhart. Parecia haver muita atividade lá dentro. Os garotos ouviram coisas sendo arrastadas, baques surdos e passos apressados. Harry bateu e fez-se um repentino silêncio na sala. Então abriu-se uma frestinha na porta e eles viram o olho de Lockhart espreitando.
— Ah... Sr. Potter... Sr. Weasley... — disse, abrindo um pouco mais a porta — Estou muito ocupado no momento, se puderem ser rápidos...
— Professor, temos umas informações para o senhor — disse Harry — Achamos que podem ajudá-lo.
— Hum... bem... não é tão... — a metade do rosto de Lockhart que podiam ver parecia muito constrangida — Quero dizer... bem... muito bem...
Ele abriu a porta e os garotos entraram.
Sua sala tinha sido quase completamente desmontada. Havia dois malões abertos no chão. Vestes verde-jade, lilás, azul-meia-noite, tinham sido apressadamente dobradas e guardadas em um deles; livros tinham sido enfiados de qualquer jeito no outro. As fotografias que cobriam as paredes agora estavam comprimidas em caixas sobre a escrivaninha.
— O senhor vai a algum lugar? — perguntou Harry.
— Hum, bem, vou — disse Lockhart, arrancando um pôster com a sua foto em tamanho natural das costas da porta, enquanto falava, e começando a enrolá-lo — Chamado urgente... inevitável... tenho que partir...
— E a minha irmã? — perguntou Rony de supetão.
— Bem, sobre isso... foi muito azar... — respondeu Lockhart, evitando encarar os garotos, enquanto puxava uma gaveta com força e começava a esvaziar o seu conteúdo em uma mochila — Ninguém lamenta mais do que eu...
— O senhor é o Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas! — exclamou Harry — Não pode ir embora agora! Não com todas essas Artes das Trevas em ação!
— Bem... devo dizer... quando aceitei o emprego... — resmungou Lockhart, agora amontoando meias por cima das vestes — Nada na descrição da função... não era de esperar...
— O senhor quer dizer que está fugindo? — disse Harry, incrédulo — Depois de tudo que fez nos seus livros...
— Os livros podem ser enganosos — disse Lockhart gentilmente.
— Mas foi o senhor quem os escreveu — gritou Harry.
— Meu caro rapaz — disse Lockhart se endireitando e amarrando a cara para Harry — Use o bom senso. Meus livros não teriam vendido nem a metade se as pessoas não achassem que eu fiz todas aquelas coisas. Ninguém quer ler histórias de um velho bruxo feio da Armênia, mesmo que tenha salvo uma cidade dos lobisomens. Ele ficaria medonho na capa. Nem sabe se vestir. E a bruxa que afugentou o espírito agourento tinha lábio leporino. Quero dizer, convenhamos...
— Então o senhor só está recebendo crédito pelo que outros bruxos e bruxas fizeram? — perguntou Harry, incrédulo.
— Harry, Harry — disse Lockhart, sacudindo a cabeça com impaciência — A coisa não é tão simples assim. Há muito trabalho envolvido. Eu tive que procurar essas pessoas. Perguntar exatamente como conseguiram fazer o que fizeram. Depois tive que lançar um Feitiço da Memória para elas esquecerem o que fizeram. Se há uma coisa de que me orgulho é do meu Feitiço da Memória. Não, foi muito trabalhoso, Harry. Não é só autografar livros e tirar fotos de publicidade, sabe. Se você quer ser famoso, tem que estar preparado para dar duro.
Ele fechou os malões com estrondo e trancou-os.
— Vejamos — disse — Acho que é só. E só falta uma coisa.
E tirou a varinha e se virou para os garotos.
— Lamento muito, rapazes, mas tenho que lançar um Feitiço da Memória em vocês agora. Não posso permitir que saiam espalhando os meus segredos por aí. Eu jamais venderia outro livro...
Harry apanhou a própria varinha bem na hora. Lockhart mal erguera a sua, quando Harry berrou:
— Expelliarmus!
Lockhart foi atirado para trás, caiu por cima do malão; a varinha voou no ar. Rony agarrou-a e atirou-a pela janela.
— O senhor não devia ter deixado o Prof. Snape nos ensinar isso — disse Harry furioso, chutando o malão de Lockhart para o lado.
Lockhart ficou olhando para ele, parecendo frágil outra vez. Harry apontava a varinha em sua direção.
— Que é que você quer que eu faça? — perguntou Lockhart com a voz fraca — Eu não sei onde fica a Câmara Secreta. Não há nada que eu possa fazer.
— O senhor está com sorte — disse Harry forçando Lockhart a se levantar com a varinha — Achamos que sabemos onde fica. E o que tem lá dentro. Vamos.
Saíram os três da sala, desceram as escadas mais próximas, e seguiram pelo corredor escuro em que as mensagens brilhavam na parede até a porta do banheiro da Murta Que Geme. Empurraram Lockhart na frente. Harry ficou satisfeito de verificar que o professor tremia.
Murta Que Geme estava sentada na caixa de água do último boxe.
— Ah, é você — disse quando viu Harry — Que é que você quer agora?
— Perguntar como foi que você morreu.
A atitude de Murta mudou na hora. Parecia que nunca alguém lhe fizera uma pergunta tão elogiosa.
— Aaaah, foi pavoroso — disse com satisfação — Aconteceu bem aqui. Morri aqui mesmo neste boxe. Me lembro tão bem! Eu tinha me escondido porque Olivia Hornby estava caçoando de mim por causa dos meus óculos. Tranquei a porta e fiquei chorando e então ouvi alguém entrar. Disseram uma coisa engraçada. Deve ter sido numa língua diferente, acho. Em todo o caso, o que me incomodou foi que era a voz de um garoto. Então destranquei a porta do boxe para mandar ele sair e ir usar o banheiro dos garotos e então...
Murta inchou fazendo-se de importante, o rosto brilhante.
— Morri...
— Como? — perguntou Harry.
— Não faço idéia — disse Murta sussurrando — Só me lembro de ter visto dois olhos grandes e amarelos. Meu corpo inteiro foi engolfado e então me afastei flutuando...
Ela olhou para Harry sonhadora.
— E então voltei. Estava decidida a assombrar Olivia Hornby, sabe. Ah, como ela lamentou ter-se rido dos meus óculos.
— Onde foi exatamente que você viu os olhos?
— Por ali — respondeu Murta apontando vagamente na direção da pia em frente ao boxe em que estava.
Harry e Rony correram para a pia. Lockhart ficou parado bem mais atrás, uma expressão de puro terror no rosto. Parecia uma pia comum. Eles examinaram cada centímetro, por dentro e por fora, inclusive os canos embaixo.
E então Harry viu: gravada ao lado de uma das torneiras de cobre havia uma cobrinha mínima.
— Essa torneira nunca funcionou — disse Murta, animada, quando ele tentou abri-la.
— Harry — disse Rony — Diga alguma coisa. Alguma coisa em Língua de Cobra.
— Mas... — Harry se esforçou.
As únicas vezes em que conseguira falar a língua das cobras foi quando estava diante de uma cobra real. Ele fixou o olhar na gravação minúscula, tentando imaginar que era real.
— Abra — mandou.
Ele olhou para Rony, que sacudiu a cabeça.
— Nossa língua.
Harry tornou a olhar para a cobra, desejando acreditar que estivesse viva. Se ele mexia a cabeça, a luz das velas fazia parecer que a cobra estava se mexendo.
— Abra — repetiu.
Só que as palavras não foram o que ele ouviu: um estranho assobio lhe escapara da boca e na mesma hora a torneira brilhou com uma luz branca e começou a girar. No segundo seguinte, a pia começou a se deslocar. A pia, na realidade, sumiu de vista, deixando um grande cano exposto, um cano largo o suficiente para um homem escorregar por dentro dele.
Harry ouviu Rony soltar uma exclamação e levantou a cabeça. Decidira o que ia fazer.
— Vou descer — anunciou.
Ele não podia deixar de descer, agora que tinham encontrado a entrada para a Câmara, não se houvesse a mais leve, mínima, imaginária chance de Gina estar viva.
— Eu também — falou Rony.
Houve uma pausa.
— Bem, parece que vocês não precisam de mim — disse Lockhart com uma sombra do seu antigo sorriso — Eu vou...
E levou a mão à maçaneta da porta, mas Rony e Harry apontaram as varinhas para ele.
— Você pode descer primeiro — rosnou Rony.
De rosto lívido e sem varinha, Lockhart se aproximou da abertura.
— Rapazes — disse com a voz fraca — Rapazes, que bem isto vai trazer?
Harry cutucou-o nas costas com a varinha.
Lockhart escorregou as pernas para dentro do cano.
— Eu não acho... — começou a dizer, mas Rony deu-lhe um empurrão, e ele desapareceu de vista.
Harry seguiu-o em silêncio. Baixou o corpo lentamente para dentro do cano e se soltou. Foi como se ele se precipitasse por um escorrega escuro, viscoso e sem fim. Viu outros canos saindo para todas as direções, mas nenhum tão largo quanto aquele, que virava e dobrava, sempre e ingrememente para baixo, e ele percebeu que estava descendo cada vez mais fundo sob a escola, para além das masmorras mais fundas. Atrás ele ouvia Rony, batendo-se ligeiramente nas curvas.
E então, quando começava a se preocupar com o que aconteceria quando chegasse ao chão, o cano nivelou e ele foi atirado pela extremidade com um baque aquoso, e aterrissou no chão úmido de um túnel de pedra às escuras, suficientemente amplo para a pessoa ficar de pé. Lockhart estava se levantando um pouco adiante, coberto de limo e branco como um fantasma. Harry afastou-se para um lado enquanto Rony também saía chispando do cano.
— Devemos estar quilômetros abaixo da escola — disse Harry sua voz ecoando no túnel escuro.
— Provavelmente debaixo do lago — sugeriu Rony, apertando os olhos para enxergar as paredes escuras e limosas.
Os três se viraram para encarar a escuridão à frente.
— Lumus! — murmurou Harry para sua varinha que acendeu — Vamos — chamou Rony e Lockhart, e lá se foram os três, seus passos chapinhando ruidosamente no chão molhado.
O túnel era tão escuro que eles só conseguiam ver uma pequena distância à frente. Suas sombras nas paredes molhadas pareciam monstruosas à luz da varinha.
— Lembrem-se — disse Harry baixinho enquanto avançavam com cautela — A qualquer sinal de movimento, fechem os olhos imediatamente...
Mas o túnel estava silencioso como um túmulo, e o primeiro som inesperado que ouviram foi o ruído de alguma coisa sendo esmagada quando Rony pisou em alguma coisa que descobriram ser um crânio de rato.
Harry baixou a varinha para olhar o chão e viu que se encontrava coalhado de ossos de pequenos animais. Tentando por tudo não imaginar que aspecto teria Gina se a encontrassem, Harry, à frente, virou uma curva escura do túnel.
— Harry... tem alguma coisa ali... — disse Rony rouco, agarrando o ombro do amigo. Eles se imobilizaram, observando.
Harry conseguia apenas ver o contorno de uma coisa enorme e curvilínea, deitada atravessada no túnel.
A coisa não se mexia.
— Talvez esteja dormindo — sussurrou, olhando para os outros dois atrás.
Lockhart tampava os olhos com as mãos.
Harry tornou a se virar para olhar a coisa, o coração batendo tão forte que chegava a doer. Muito devagarinho, com os olhos o mais apertados possível, mas ainda vendo, Harry avançou aos poucos com a varinha erguida. A luz deslizou pela pele de uma cobra gigantesca, colorida e venenosa, que se encontrava enroscada e oca no chão do túnel. O bicho que se desfizera dela devia ter no mínimo uns seis metros de comprimento.
— Droga — xingou Rony em voz baixa.
Ouviram então um movimento súbito às costas. Os joelhos de Lockhart tinham cedido.
— Levante-se — disse Rony com rispidez, apontando a varinha para Lockhart.
O professor se levantou, em seguida atirou-se contra Rony, derrubando-o no chão. Harry deu um salto à frente, mas demasiado tarde, Lockhart já se erguia, ofegante, a varinha de Rony na mão e um sorriso radioso novamente no rosto.
— A aventura termina aqui, rapazes. Vou levar um pedaço dessa pele de volta à escola, dizer que cheguei tarde demais para salvar a garota e que vocês dois enlouqueceram tragicamente ao verem o corpo dela mutilado, digam adeus às suas memórias!
Ele ergueu a varinha de Rony, emendada com fita adesiva, acima da cabeça e gritou:
Obliviate!
A varinha explodiu com a força de uma pequena bomba. Harry ergueu os braços para o alto e fugiu, escorregando nas voltas da pele de cobra, escapando do alcance dos grandes pedaços do teto do túnel que caíam com estrondo no chão. No momento seguinte, ele estava sozinho, contemplando uma parede maciça formada pelos destroços.
— RONY! — gritou — Você está bem? Rony!
— Estou aqui! — respondeu a voz abafada de Rony atrás do entulho — Estou bem, mas esse bosta aqui não está, a varinha acertou nele...
Ouviu-se uma pancada surda e um sonoro “ai!”. Parecia que Rony tinha acabado de chutar Lockhart nas canelas.
— E agora? — perguntou a voz de Rony, desesperada — Não podemos passar, vai levar séculos...
Harry olhou para o teto do túnel. Tinham aparecido nele enormes rachaduras. O garoto nunca tentara cortar, com auxílio da magia, nada tão grande como essas pedras, e agora não parecia uma boa hora para tentar, e se o túnel inteiro desabasse?
Ouviu-se mais outra pancada e mais um “ai!” por trás das pedras. Estavam perdendo tempo. Gina já fora trazida para a Câmara Secreta havia horas... Harry sabia que havia apenas uma coisa a fazer.
— Espere aí — gritou para Rony — Espere com Lockhart. Eu vou continuar... se eu não voltar dentro de uma hora...
Houve uma pausa cheia de significação.
— Vou tentar afastar umas pedras — disse Rony, que parecia estar querendo manter a voz firme — Para você poder... poder passar na volta. E, Harry...
— Vejo você daqui a pouco — disse Harry, tentando injetar alguma segurança em sua voz trêmula.
E retomou sozinho a caminhada para além da pele de cobra. Logo o som distante de Rony batalhando para retirar as pedras silenciou.
O túnel dava voltas e mais voltas. Cada nervo do corpo de Harry formigava desagradavelmente. Ele queria que o túnel terminasse, mas temia o que encontraria no fim. E então, ao dobrar mais uma curva, deparou com uma parede sólida à sua frente em que havia duas cobras entrelaçadas talhadas em pedra, os olhos engastados com duas enormes esmeraldas brilhantes.
Harry se aproximou, a garganta seca. Não havia necessidade de fingir que essas cobras de pedra eram reais, seus olhos pareciam estranhamente vivos. Ele adivinhou o que precisava fazer. Pigarreou e os olhos de esmeralda pareceram piscar.
— Abram — disse num sibilo grave e fraco.
As cobras se separaram e as paredes se afastaram, as duas metades deslizaram suavemente, desaparecendo de vista e Harry, tremendo dos pés à cabeça, entrou.










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