domingo, 11 de março de 2012

O PODEROSO CHEFÃO - CAPÍTULO 28



CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS



CAPÍTULO
28




N
A VIAGEM DE VOLTA de avião para Nova York, Michael Corleone recostou-se à vontade no assento e tentou dormir. Foi inútil. O período mais terrível de sua vida estava se aproximando, talvez mesmo a hora fatal. Não podia mais ser adiado. Tudo estava pronto, todas as precauções tinham sido tomadas, dois anos de precauções. Não podia mais haver prorrogação. Na semana anterior, quando o Don anunciara formalmente o seu afastamento definitivo aos caporegimes e outros membros da Família Corleone, Michael sabia que isso era o meio escolhido por seu pai para dizer-lhe que a hora tinha chegado.
Já fazia agora quase três anos que ele voltara para casa e mais de dois que casara com Kay. Ele levara esses três anos aprendendo o negócio da Família. Passava longas horas com Tom Hagen, longas horas com o Don. Ficou espantado ao ver como era verdadeiramente rica e poderosa a Família Corleone. Possuía imóveis imensamente valiosos no centro de Nova York, edifícios inteiros de escritórios. Tinha, através de testas-de-ferro, sociedade em duas casas de corretagem de Wall Street, partes de bancos em Long lsland, sociedade em algumas firmas centrais de roupas feitas, além das operações ilegais no jogo.
A coisa mais interessante que Michael Corleone soube, ao ser informado sobre as transações retrospectivas da Família Corleone, foi que a Família recebera certa renda de proteção, logo depois da guerra, de um grupo de falsificadores de discos. Os falsificadores reproduziam e vendiam discos de artistas famosos, fazendo tudo com tanta habilidade que nunca foram apanhados. Naturalmente, nos discos que eles vendiam às lojas, os artistas e a companhia da produção original não recebiam um níquel sequer. Michael Corleone notou que Johnny Fontane perdera um bocado de dinheiro devido a essa falsificação porque, na época, exatamente antes de ele perder a voz, os seus discos eram os mais populares do país.
Michael perguntou a Tom Hagen como podia ter acontecido aquilo. Por que é que o Don permitira que os falsificadores tapeassem a seu afilhado? Hagen deu de ombros. Negócio era negócio. Além disso, Johnny não estava nas boas graças do Don, Johnny tinha-se divorciado de sua namorada de infância para casar com Margot Ashton. Isso desgostara imensamente o Don.
— Como é que esses sujeitos pararam com o negócio? — perguntou Michael — A polícia os apanhou?
Hagen balançou a cabeça.
— O Don retirou a sua proteção. Isso foi logo depois do casamento de Connie.
Era uma dessas coisas que ele passaria a ver freqüentemente, o Don ajudando àqueles que tinham caído em desgraça, desgraça esta que ele em parte criara. Talvez não por astúcia ou premeditação, mas devido á sua variedade de interesses ou talvez devido à natureza do universo, o entrelaçamento do bem e do mal, coisa natural nesse mesmo universo.
Michael casara com Kay lá na Nova Inglaterra, um casamento tranqüilo, com a presença apenas dos parentes e de algumas amigas da noiva. Depois se mudaram para uma das casas da alameda em Long Beach. Michael ficou surpreso com a facilidade com que Kay fez amizade com seus pais e as outras pessoas que moravam na alameda. E naturalmente ela ficou logo grávida, como se podia esperar de uma boa esposa italiana à moda antiga, e isso ajudou. O segundo filho a caminho, em dois anos, era também uma ótima coisa.
Kay estaria esperando por ele no aeroporto, ela sempre vinha encontrá-lo, ficava contente de verdade quando Michael regressava de uma viagem. E ele também. Mas não agora. Pois o fim dessa viagem significava que.afinal teria de assumir o encargo para o qual ele vinha sendo preparado nos últimos três anos. O Don estaria esperando por ele. Os caporegimes estariam esperando por ele. E ele, Michael Corleone, teria de dar as ordens, tomar as decisões que determinariam o seu destino e também o destino da Família.
Diariamente, quando Kay Adams Corleone se levantava para preparar a primeira alimentação do bebê, via a mamãe Corleone, a mulher do Don, ser levada de carro para fora da alameda, por um dos seus guarda-costas, para retornar uma hora depois. Kay logo soube que a sogra ia à igreja toda manhã. Às vezes, ao regressar, a velha senhora dava uma paradinha ali para tomar o café da manhã e ver o seu novo neto.
A Sra. Corleone sempre perguntava por que Kay não pensava em se tornar católica, ignorando o fato de que o filho de Kay já tinha sido batizado como protestante. Assim, Kay sentia ser apropriado perguntar à velha senhora se ela ia à igreja todas as manhãs, por ser uma parte necessária do credo católico. Pensando que isso pudesse impedir Kay de se converter ao catolicismo, a Sra. Corleone respondeu:
— Oh, não, não, alguns católicos só vão à igreja na Páscoa e no Natal. A pessoa vai quando tem vontade de ir.
Kay deu uma gargalhada e perguntou:
— Então por que a senhora vai toda manhã?
De um modo completamente natural, mamãe Corleone respondeu:
— Eu vou por meu marido — ela apontou para o chão — Para que ele não vá para lá — fez uma pausa e acrescentou — Faço orações pela alma dele todo dia para que ele vá lá para cima — e apontou o céu.
Ela disse isso com um sorriso meio malicioso, como se estivesse contrariando de alguma forma a vontade do marido, ou como se fosse uma coisa perdida. Disse-o quase brincando, à maneira horrível de velha italiana. E, como sempre, quando o marido não estava presente, havia uma atitude de desrespeito para com o grande Don.
— Como tem passado o seu marido? — perguntou Kay delicadamente.
A Sra. Corleone deu de ombros.
— Ele não é mais o mesmo homem desde que o balearam. Deixa Michael fazer todo o trabalho, apenas perde tempo com seu jardim, seus pimentões, seus tomates. Como se ainda fosse camponês. Mas os homens são sempre assim.
Mais tarde, naquela manhã, Connie atravessaria a alameda com seus dois filhos para fazer uma visita a Kay e bater um papo. Kay gostava de Connie, de sua vivacidade, de seu amor evidente pelo irmão Michael. Connie ensinara Kay a cozinhar alguns pratos italianos, mas às vezes trazia os seus próprios preparados, mais bem-feitos, para Michael saborear.
Agora, naquela manhã, como sempre fazia, ela perguntava a Kay o que Michael pensava de seu marido, Carlo. Será que Michael realmente gostava de Carlo, como dava a entender? Carlo sempre tivera um pouco de complicação com a Família, mas agora nos últimos anos ele se corrigira. Estava realmente indo muito bem com o sindicato trabalhista, mas tinha de trabalhar arduamente, durante muitas horas. Carlo realmente gostava de Michael, Connie sempre dizia. Mas então, todos gostavam de Michael, como gostavam de seu pai. Michael era exatamente igual ao Don em tudo. A melhor coisa mesmo era que Michael ia dirigir o negócio de azeite da Família.
Kay observara antes que quando Connie falava a respeito do marido em relação com a Família, ficava sempre ansiosa por ouvir alguma palavra de aprovação a Carlo. Kay seria estúpida se não tivesse notado o interesse quase aterrador que Connie tinha em saber se Michael gostava de Carlo ou não. Uma noite ela falou com Michael sobre isso e mencionou o fato de que ninguém jamais falava em Sonny Corleone, ninguém nem mesmo se referia a ele, pelo menos não na presença dela. Kay tentara uma vez expressar suas condolências ao Don e sua mulher, e eles a ouviram com um silêncio quase rude e depois não falaram no assunto. Ela tentara fazer Connie falar sobre o irmão mais velho, mas não tivera êxito.
A mulher de Sonny, Sandra, mudara-se com os filhos para a Flórida, onde os seus pais moravam agora. Fizeram-se certos arranjos financeiros para que ela e os filhos ficassem bem, mas Sonny não deixara imóveis.
Michael relutantemente explicou o que acontecera na noite em que Sonny foi assassinado. Que Carlo batera na mulher e que Connie telefonara para a alameda, Sonny atendera ao telefonema e correra para a casa dela numa fúria cega. Assim, naturalmente, Connie e Carlo estavam sempre nervosos, receando que o resto da Família a culpasse por ter indiretamente causado a morte de Sonny. Ou culpasse o marido dela, Carlo. Mas não era esse o caso. A prova era que deram a Connie e Carlo uma casa na própria alameda e promoveram Carlo a uma função importante na organização dos sindicatos trabalhistas. E Carlo se corrigira, parara de beber, parara de andar com prostitutas, parara de querer bancar o espertinho. A Família se sentia satisfeita com o trabalho e a atitude dele durante os últimos dois anos. Ninguém o culpava pelo que tinha acontecido.
— Então, por que você não os convida para vir aqui uma noite e tranqüiliza a sua irmã? — perguntou Kay a Michael — A pobrezinha anda sempre tão nervosa a respeito do que você pensa do marido dela. Diga a ela. E diga também para tirar da cabeça essas preocupações bobas.
Não posso fazer isso — respondeu ele — Não falamos nessas coisas na nossa família.
— Você quer que eu diga a ela o que você acaba de me contar? — perguntou Kay.
Ela ficou embaraçada porque Michael levou um tempo enorme pensando numa sugestão que era obviamente a coisa apropriada a ser feita. Finalmente, ele respondeu:
— Acho que você não deve fazer isso, Kay. Acho que isso não adiantará nada. Ela ficará preocupada, de qualquer modo. É uma coisa pela qual ninguém pode fazer nada.
Kay ficou espantada. Ela percebera que Michael era sempre um pouco mais frio para a sua irmã Connie do que para qualquer outra pessoa, apesar da afeição demonstrada por Connie.
— Certamente você não culpa Connie pelo assassinato de Sonny, não é verdade? — perguntou ela.
— Naturalmente não — respondeu ele — Ela é minha irmã caçula e eu gosto muito dela. Tenho pena dela. Carlo se corrigiu, mas continua a ser o tipo do marido errado. É uma dessas coisas. Vamos esquecer o assunto.
Não era da natureza de Kay insistir num tema desagradável; deu o assunto por encerrado. Também ela aprendera que Michael não era um homem fácil de se convencer, que ele poderia se tornar frio e irritado. Ela sabia que era a única pessoa no mundo que podia dobrar a vontade dele, mas sabia também que fazer isso freqüentemente seria destruir esse poder. E viver com ele aqueles dois últimos anos fizera-a amá-lo ainda mais.
Kay amava o marido porque ele era sempre cordato. Uma coisa rara. Mas era sempre cordato com todas as pessoas que o cercavam, nunca era arbitrário nem nas menores coisas. Ela observara que ele agora era um homem muito poderoso, pessoas vinham à sua casa conferenciar com ele e pedir favores, tratando-o com deferência e respeito, mas uma coisa o elevara no conceito dela mais do que tudo.
Desde que Michael regressara da Sicília com a cara quebrada, todo mundo na Família procurara fazê-lo submeter-se à cirurgia corretiva. A Sra. Corleone dava em cima dele constantemente; num jantar de domingo, quando todos os Corleone estavam reunidos na alameda, ela gritou para Michael:
— Você parece um gangster do cinema, mande consertar a sua cara pelo amor de Jesus Cristo e de sua pobre mulher. E assim o seu nariz deixará de correr como acontece com um irlandês bêbedo.
O Don, sentado na cabeceira da mesa, observando tudo, perguntou a Kay:
— Isso a incomoda?
Kay balançou a cabeça. O Don falou para a sua mulher.
Ele não está mais sob o seu domínio, isso não lhe diz respeito.
A Sra. Corleone imediatamente se calou. Não que tivesse medo do marido, mas porque seria realmente desrespeitoso discutir tal assunto perante os outros.
Mas Connie, a preferida do Don, veio da cozinha, onde estivera preparando o jantar de domingo, com o rosto vermelho do fogão, e disse:
— Acho que ele deve consertar a cara. Ele era o mais bonito da família antes de sofrer aquilo. Vamos, Mike, diga que você vai consertá-la.
Michael olhou para a irmã de maneira distraída. Parecia que não tinha ouvido coisa alguma. Ele não respondeu.
Connie veio postar-se ao lado do pai.
— Faça-o consertar a cara — pediu ela ao Don,
Depois Connie pousou as duas mãos carinhosamente nos ombros do pai e friccionou-lhe o pescoço. Ela era a única pessoa que podia tomar tal liberdade com o Don. O amor dela pelo pai era comovente. Era sincero, como o de uma menina pequena. O Don bateu numa das mãos dela e disse:
— Todos nós estamos aqui morrendo de fome. Ponha o espaguete em cima da mesa e depois tagarele.
Connie virou-se para o marido e pediu:
— Carlo, diga a Mike para consertar a cara. Talvez ele ouça você.
A sua voz insinuava que Michael e Carlo Rizzi tinham alguma relação amistosa acima de quaisquer outras pessoas.
Carlo, bastante queimado do sol, o cabelo louro apuradamente cortado e penteado, tomou um gole do seu copo de vinho caseiro e disse:
— Ninguém pode dizer a Mike o que ele deve fazer.
Carlo se tornara um homem diferente desde que se mudara para a alameda. Conhecia seu lugar na Família e se mantinha nele.
Havia alguma coisa que Kay não entendia em tudo isso, alguma coisa que não se podia realmente perceber. Como mulher, ela notava que Connie estava deliberadamente agradando o pai, embora fizesse isso decentemente e com sinceridade. Contudo, não era uma coisa espontânea. A resposta de Carlo fora uma saída masculina delicada e sem compromisso. Michael não tomou absolutamente conhecimento de nada.
Kay não se importava com a desfiguração do marido, mas se preocupava com a sua complicação do nariz que decorria disso. A correção cirúrgica resolveria o problema. Por esse motivo, ela queria que Michael se submetesse à necessária operação. Mas compreendia que, de modo curioso, ele desejava essa desfiguração. Ela tinha certeza de que o Don compreendia isso também,
Mas, depois que Kay deu à luz o primeiro filho, ficou surpresa quando Michael lhe perguntou:
— Você quer que eu endireite a cara?
Kay acenou com a cabeça.
— Você sabe como são as crianças, o seu filho se sentirá mal com a sua cara quando crescer o bastante para compreender que isso não é normal. Apenas não quero que nosso filho veja isso. Francamente, Michael, não ligo para isso.
— Está bem — retrucou ele sorrindo — Eu a consertarei.
Michael esperou que ela saísse da maternidade e fosse para casa, e então tomou as necessárias providências. A operação teve êxito. O amassamento da face era agora quase imperceptível.
Todos na Família ficaram satisfeitos, mas Connie mais do que qualquer outra pessoa. Ela visitava Michael todo dia no hospital, arrastando Carlo consigo. Quando Michael voltou para casa, ela deu-lhe um grande abraço, beijou-o, olhou para ele com admiração e disse:
— Agora você é meu irmão bonito novamente.
Somente o Don não se impressionou, dando de ombros, e observando:
— Qual é a diferença?
Mas Kay ficou grata. Ela sabia que Michael fizera isso contra todas as suas inclinações. Fizera porque ela lhe pedira, e porque ela sabia que era a única pessoa no mundo que podia fazê-lo realizar uma coisa contra a sua própria natureza.
Na tarde do regresso de Michael de Las Vegas, Rocco Lampone levou a limusine para a alameda, a fim de apanhar Kay para que ela pudesse encontrar o marido no aeroporto. Ela sempre ia ao encontro do marido quando ele voltava de alguma viagem, principalmente porque se sentia solitária sem ele, vivendo como vivia na alameda fortificada.
Ela o viu sair do avião com Tom Hagen e o novo homem que trabalhava para ele, Albert Neri. Kay não simpatizava muito com Neri, ele lembrava-lhe Luca Brasi em sua tranqüila ferocidade. Viu Néri saltar atrás de Michael e depois afastar-se para o lado, observando seu rápido olhar penetrante, enquanto seus olhos esquadrinhavam todas as pessoas nas proximidades. Foi Neri quem primeiro avistou Kay e tocou no ombro de Michael para fazê-lo olhar na direção apropriada.
Kay correu para os braços do marido e ele beijou-a rapidamente. Michael, Tom Hagen e Kay entraram na limusine e Albert Neri sumiu, Kay não percebeu que Neri entrara noutro carro com mais dois homens, seguindo-os até a alameda de Long Beach.
Kay nunca perguntava a Michael como se saía nos negócios. Até essas perguntas eram compreendidas como esquisitas, não que ele não lhe desse uma resposta igualmente delicada, mas isso lembraria a ambos o território proibido no qual o casamento deles jamais podia permitir que ela entrasse. Kay não se importava mais. Porém, quando Michael lhe disse que teria de passar a noite com o pai, a fim de relatar-lhe os resultados da viagem a Las Vegas, ela não pôde deixar de fazer uma cara de decepção.
— Lamento muito — disse Michael — Amanhã à noite iremos a Nova York assistir a um espetáculo e jantar. Está bem?
Ele bateu-lhe no ventre, ela já estava grávida há quase sete meses.
— Depois que a criança nascer — continuou ele — Você ficará presa nova mente. Diabo, você é mais italiana do que ianque. Dois filhos em dois anos.
— E você é mais ianque do que italiano — retrucou Kay mordazmente — É sua primeira noite em casa e você vai passá-la tratando de negócios.
Mas ela sorriu para ele quando disse aquilo.
— Você não vai chegar tarde em casa, vai? — perguntou ela.
— Antes de meia-noite — respondeu Michael — Não me espere acordada se você se sentir cansada.
— Esperarei acordada — retorquiu ela.
Na reunião daquela noite, na biblioteca da sala do canto da casa de Don Corleone, estavam presentes o próprio Don, Michael, Tom Hagen, Casio Rizzi e os dois caporegimes, Clemenza e Tessio.
A atmosfera da reunião não era, de forma alguma, tão cordial como nos velhos tempos. Desde que Don Corleone anunciara sua semi-aposentaria e a elevação de Michael à direção do negócio da Família, havia certa tensão. A sucessão no controle de um empreendimento como a Família não era, de forma alguma, hereditária. Em qualquer outra Família, caporegimes poderosos, tais como Clemenza e Tessio, teriam ascendido à posição do Don. Ou pelo menos teriam tido permissão para separar-se e formar a sua própria Família.
Então, também, desde que Don Corleone fizera a paz com as cinco Famílias, a força da Família Corleone declinara. A Família Barzini era agora indiscutivelmente a mais poderosa na área de Nova York; aliada como estava aos Tattaglia, ela agora mantinha a posição que a Família Corleone mantivera outrora. Também ela reduzia ardilosa e gradualmente o poder da Família Corleone, invadindo as suas áreas de jogo, experimentando as reações dos Corleone e, achando-os fracos, estabelecendo os seus próprios bookmakers.
Os Barzini e Tattaglia estavam exultantes com a aposentadoria de Don Corleone. Michael, por mais poderoso que pudesse ser, jamais esperaria ser igual a Don Corleone em astúcia e influência, pelo menos antes de decorrida uma década. A Família Corleone estava definitivamente em decadência.
Ela havia, evidentemente, sofrido sérios infortúnios. Freddie provara não ser nada mais do que um hoteleiro e conquistador de mulheres, sendo que a expressão “conquistador de mulheres” era intraduzível, mas sugeria uma criança voraz sempre agarrada ao seio da mãe — em suma, um homem fraco. A morte de Sonny fora também um desastre. Ele era um homem a ser temido, não a ser tomado levianamente. De fato, cometera um erro ao mandar seu irmão mais moço, Michael, matar o turco e o capitão da polícia. Embora fosse necessário num sentido tático, numa estratégia a longo prazo isso provou ser um erro calamitoso. Forçara finalmente Don Corleone a se levantar de sua cama de enfermo. Privara Michael de dois anos de valiosa experiência e rigoroso treinamento sob a orientação do pai. E evidentemente escolher um irlandês para consigliori fora a única tolice que Don Corleone perpetrou em toda a sua carreira. Nenhum irlandês podia igualar um siciliano em astúcia. Esta era a opinião de todas as Famílias, e elas naturalmente mostravam-se mais respeitosas para com a aliança Barzini-Tattaglia do que para com os Corleone. A opinião delas a respeito de Michael era que ele não era igual a Sonny em força, embora certamente fosse mais inteligente, porém não mais inteligente do que o pai. Um sucessor medíocre e um homem que não devia ser muito temido.
Além disso, embora Don Corleone fosse geralmente admirado por sua habilidade diplomática em fazer a paz, o fato de não ter ele vingado a morte de Sonny contribuiu para que a Família perdesse grande parte de seu prestígio. Reconhecia-se que tal habilidade diplomática proviera unicamente de fraqueza.
Tudo isso era sabido pelos homens que se achavam reunidos naquela sala, e talvez até acreditado por alguns. Carlo Rizzo gostava de Michael, mas não o temia como temera Sonny. Clemenza também, embora concedesse a Michael um crédito de bravura por ter assassinado o turco e o capitão da polícia, não podia deixar de achar que Michael era muito mole para ser Don. Clemenza esperara ter permissão  para formar sua própria Família, para ter seu próprio império, separado dos Corleone. Mas o Don respondera que não concedia licença para isso, e Clemenza respeitava muito o Don e não ousava desobedecer tal decisão. A menos que a situação se tornasse de todo intolerável.
Tessio tinha uma opinião melhor de Michael. Percebia algo mais no jovem: uma força habilmente mantida oculta, um homem que procurava manter ciosamente resguardada a sua verdadeira força, seguindo o preceito de Don Corleone de que um amigo deve sempre subestimar as nossas virtudes e um inimigo sobrestimar os nossos defeitos.
O próprio Don Corleone e Tom Hagen evidentemente confiavam bastante em Michael. O Don jamais teria se aposentado, se não acreditasse inteiramente na habilidade do filho em recuperar o prestígio da Família. Hagen fora o professor de Michael durante os últimos dois anos e estava espantado com a facilidade com que Michael apreendera toda a complexidade do negócio da Família. Ele era verdadeiramente filho do pai.
Clemenza e Tessio estavam aborrecidos com Michael porque ele reduzira a força dos regimes deles e nunca reconstituíra o regime de Sonny. A Família Corleone, com efeito, tinha agora apenas duas divisões de combate com menos pessoal do que antes. Clemenza e Tessio consideravam isso um suicídio, especialmente quando os Barzini e Tattaglia invadiam vários setores do império dos Corleone. Assim esperavam agora que tais erros fossem corrigidos naquela reunião extraordinária convocada pelo Don.
Michael começou a contar-lhes a viagem a Las Vegas e a recusa de Moe Greene à proposta para vender a sua parte.
— Mas lhe faremos uma oferta que ele não poderá recusar — acrescentou ele — Vocês já sabem do projeto da Família Corleone para transferir as suas operações para o Oeste. Teremos quatro dos hotéis-cassinos na Faixa. Mas não podemos realizá-lo agora. Precisamos de tempo para acertar as coisas.
Dirigindo-se diretamente a Clemenza, falou:
— Pete, você e Tessio, quero que fiquem a meu lado durante um ano sem perguntas e sem reservas. No fim desse ano, vocês dois podem separar-se da Família Corleone e tornarem-se seus próprios chefes, ter suas próprias Famílias. Evidentemente, não preciso dizer que manteremos nossa amizade. Eu não desapontaria vocês, pois o respeito de vocês por meu pai não esqueço um instante sequer. Mas até o término desse tempo, quero que sigam a minha liderança e não se preocupem. Há negociações em andamento sobre isso que resolverão problemas que vocês consideram insolúveis. Portanto, peço apenas que sejam um pouco pacientes.
— Se Moe Greene deseja falar com o seu pai, por que não deixá-lo fazer isso? — perguntou Tessio — Don Corleone sempre conseguiu convencer qualquer pessoa, nunca houve alguém que pudesse resistir à sua argumentação.
— Estou aposentado — atalhou Don Corleone — Michael perderia o respeito de vocês, se eu interviesse no assunto. Além disso, ele é um homem com quem eu não gostaria de falar.
Tessio lembrou-se das histórias que ouvira sobre Moe Greene, que esbofeteara Freddie Corleone uma noite no hotel de Las Vegas. Começou a desconfiar de algo. Recostou-se na cadeira. Moe Greene era um homem morto, pensou ele. A Família Corleone não desejava convencê-lo.
Carlo Rizzi perguntou:
— A Família Corleone vai deixar totalmente de operar em Nova York?
Michael acenou com a cabeça afirmativamente.
— Venderemos o negócio de azeite. Tudo o que pudermos passaremos para Tessio e Clemenza. Mas, Carlo, não quero que você se preocupe com o seu emprego. Você foi criado em Nevada, você conhece o Estado, conhece o povo. Estou contando com você para ser meu braço direito quando a gente se mudar para lá.
Carlo recostou-se na sua cadeira, com o rosto vermelho de satisfação. A sua hora estava chegando, ele se empolgava com o aceno do poder.
—Tom Hagen não é mais o consigliori — prosseguiu Michael — Vai ser nosso advogado em Las Vegas. Daqui a uns dois meses, ele se mudará para lá, em caráter permanente, com a família. Exclusivamente como advogado. Ninguém lhe apresentará qualquer outro assunto a partir de agora, deste instante. Ele é advogado, e só isso. Nada tenho de desabonador contra Tom, apenas quero a coisa assim. Além disso, se precisar de conselho, alguma vez, quem pode ser melhor conselheiro do que meu pai?
Todos riram. Mas compreenderam bem a mensagem, apesar da piada. Tom Hagen estava fora do negócio, não mais exercia qualquer poder. Todos relancearam um olhar para Hagen, a fim de ver a sua reação, mas o seu rosto se mantinha impassível.
Clemenza perguntou com a sua voz ofegante de homem gordo:
— Então, daqui a um ano estaremos por nossa própria conta, não é isso?
— Talvez até em menos tempo — respondeu Michael amavelmente — Evidentemente, vocês podem continuar sempre a fazer parte da Família, cabe a vocês mesmos escolher. Mas a maior parte de nossa força estará lá no Oeste e talvez vocês prefiram organizar-se por sua própria conta.
— Nesse caso — atalhou Tessio — Penso que devemos ter permissão para arranjar mais homens para nossos regimes. Esses salafrários dos Barzini continuam a se meter em meu território. Acho que seria aconselhável dar-lhes uma pequena lição de boas maneiras.
Michael balançou a cabeça.
— Não. Não é bom. Continue quieto. Tudo isso vai ser negociado, tudo vai ser arranjado antes de irmos embora.
Tessio não se satisfez tão facilmente. Falou com o Don diretamente, arriscando-se a contrariar a vontade de Michael.
— Perdoe-me, Padrinho, que os nossos anos de amizade me sirvam de desculpa. Mas acho que você e seu filho estão completamente enganados a respeito do negócio de Nevada. Como podem vocês esperar ter êxito lá sem a sua força aqui para apoiá-los? As duas coisas andam de braços dados. E, estando vocês longe daqui, os Barzini e os Tattaglia serão muito fortes para nós. Eu e Pete teremos complicações, ficaremos sob o domínio deles mais cedo ou mais tarde. E Barzini é um homem que não me agrada. O que digo é que a Família Corleone deve dar um passo com base em sua força, não em sua fraqueza. Devemos reforçar os nossos regimes e retomar os nossos territórios perdidos em Staten Island pelo menos.
Don Corleone balançou a cabeça.
— Fiz a paz, lembre-se, não posso deixar de cumprir a minha palavra.
Tessio se recusou a calar.
— Todos sabem que Barzini tem provocado você desde então. E, além disso, se Michael é o novo chefe da Família Corleone, por que impedir que ele tome qualquer atitude que achar conveniente? Ele não é obrigado a cumprir rigorosamente a sua palavra.
Michael interrompeu-o abruptamente. Disse a Tessio, bem compenetrado de que era o chefe agora:
— Há coisas que estão sendo negociadas que responderão às suas perguntas e acabarão com as suas dúvidas. Se a minha palavra não basta para você, pergunte ao Don.
Mas Tessio compreendeu finalmente que tinha ido muito longe. Se ele se atrevesse a perguntar ao Don, tornaria Michael seu inimigo. Assim deu de ombros e arrematou:
— Falei para o bem da Família, não para o meu próprio. Posso cuidar de mim.
Michael riu amavelmente para ele.
— Tessio, nunca duvidei de você de forma alguma. Nunca. Mas confie em mim. Evidentemente não sou igual a você e a Pete nessas coisas, mas afinal de contas meu pai me orientou. Não agirei tão mal assim, todos nos sairemos muito bem.
A reunião estava terminada. A grande notícia fora que Clemenza e Tessio teriam permissão para formar suas próprias Famílias com base em seus regimes. Tessio controlaria o jogo e as docas no Brooklyn, e Clemenza ficaria com o jogo em Manhattan e os contatos da Família nos hipódromos de Long Island.
Os dois caporegimes partiram não muito satisfeitos, ainda um pouco inquietos. Carlo Rizzi continuou por uns momentos a pensar que tinha chegado a hora de ser finalmente tratado como um membro da Família, mas logo percebeu que Michael não tinha isso em mente. Deixou o Don, Tom Hagen e Michael a sós na sala da biblioteca. Albert Neri acompanhou-o até a porta da casa e Carlo notou que Neri ficou no vão da porta observando-o atravessar a alameda iluminada.
Na biblioteca, os três homens ficaram à vontade como somente podem ficar as pessoas que viveram anos juntas na mesma casa, na mesma família. Michael serviu um pouco de anisete a Don Corleone e uísque a Tom Hagen. Ele mesmo tomou um trago, o que raramente acontecia.
Tom Hagen falou primeiro:
— Mike, por que você está me cortando do negócio?
Michael pareceu surpreender-se.
— Você será o meu homem número um em Las Vegas. Nós estaremos cem por cento legalizados e você será o nosso elemento jurídico. Que é que pode ser mais importante do que isso?
Hagen deu um sorriso um pouco triste.
— Não estou falando nisso. Estou falando no fato de Rocco Lampone organizar um regime secreto sem o meu conhecimento. Estou falando no fato de você tratar diretamente com Neri e não por meu intermédio ou através de um caporegime. A menos que você não saiba o que Lampone está fazendo.
— Como você descobriu esse negócio do regime de Lampone? — perguntou Michael brandamente.
Hagen deu de ombros.
— Não se preocupe, nada transpirou, ninguém mais sabe. Mas na minha posição posso ver o que acontece. Você deu a Lampone um meio de vida próprio, você deu a ele um bocado de liberdade. Portanto, ele precisa de gente para ajudá-lo no seu pequeno império. Mas todo sujeito que ele arranja tem de ser comunicado a mim. E noto que todo sujeito que ele põe na folha de pagamento é um pouco bom demais para essa determinada função, ganha um pouco mais de dinheiro do que vale a atividade que ele exerce. A propósito, você pegou o homem certo quando escolheu Lampone. Ele está agindo com toda a perfeição.
Michael fez uma careta.
— Não com tanta perfeição se você chegou a perceber. De qualquer modo, o Don escolheu Lampone.
— Muito bem — anuiu Tom — Então, estou cortado do negócio?
Michael olhou fixamente para ele e, sem vacilar, respondeu-lhe diretamente:
— Tom, você não é um consigliori para o tempo de guerra. As coisas podem tornar-se duras com esse passo que pretendemos dar e talvez tenhamos de brigar. E quero manter você fora da linha de fogo também, para qualquer eventualidade.
O rosto de Hagen ficou vermelho. Se Don Corleone lhe tivesse dito a mesma coisa, ele a aceitaria humildemente Mas de onde diabo tinha saído Mike para fazer aquele julgamento inesperado?
— Muito bem — respondeu ele — Mas acontece que tenho de concordar com Tessio. Acho que você está procedendo nisso de maneira inteiramente errada. Você está querendo dar esse passo movido pela fraqueza, não pela força. Isso é sempre mau. Barzini é como um lobo, e se ele o estraçalhar totalmente, as outras Famílias não virão correndo ajudar os Corleone.
Don Corleone falou finalmente:
— Tom, a decisão não é bem de Michael. Eu o aconselhei nessas questões. Há coisas que talvez tenham de ser feitas pelas quais não quero, de forma alguma, ser responsabilizado. Isso é meu desejo, não de Michael. Nunca pensei que você fosse mau consigliori, considerei Santino um mau Don, que sua alma repouse em paz. Ele tinha um bom coração, mas não era o homem certo para dirigir a Família quando sofri a minha pequena desgraça. E quem pensaria que Fredo se tornaria um lacaio de mulheres? Portanto, não se sinta desprestigiado. Michael tem toda a minha confiança como você também tem. Por motivos que você não pode saber, você não deve tomar parte no que poderá acontecer. A propósito, eu disse a Michael que o regime secreto de Lampone não escaparia ao seu olho. Portanto, isso mostra que tenho fé em você.
Michael deu uma gargalhada.
— Sinceramente, eu não acreditava que você descobrisse isso, Tom.
Hagen compreendeu que estava sendo amolecido.
— Talvez eu possa ajudar — disse ele.
Michael balançou a cabeça decididamente.
— Você está fora do negócio, Tom.
Hagen terminou a sua bebida e antes de ir embora fez uma censura branda a Michael.
— Você é quase tão bom quanto seu pai, mas há ainda uma coisa que precisa aprender.
— Que é? — perguntou Michael delicadamente.
— A dizer “não” — respondeu Hagen.
Michael acenou com a cabeça gravemente.
— Você tem razão. Eu me lembrarei disso.
Quando Hagen partiu, Michael disse brincando para o pai:
— Assim, você me ensinou tudo o mais. Diga-me como dizer “não” às pessoas de um modo que elas gostem.
Don Corleone andou um pouco e foi sentar-se atrás da escrivaninha.
— A gente não pode dizer “não” a pessoas de quem gosta, nem sempre. Este é o segredo. E então quando a gente diz, esse “não” tem de soar como um “sim”. Ou a gente tem de fazê-las dizer “não”. Você ainda precisa de muito tempo e muito aborrecimento para aprender isso. Mas eu sou um velho antiquado, você é a geração moderna, não preste atenção ao que estou dizendo.
Michael deu uma gargalhada.
— Certo. Você concorda que Tom deve ficar de fora, entretanto, não é verdade?
O Don acenou com a cabeça.
— Ele não pode ser envolvido nisso.
— Acho que é hora de eu lhe revelar — disse Michael calmamente — Que o que vou fazer não é puramente uma vingança por Apollonia e Sonny. E a coisa certa a fazer. Tessio e Tom têm razão a respeito de Barzini.
Don Corleone acenou com a cabeça.
— A vingança é um prato que sabe melhor quando frio — comentou — Eu não teria feito essa paz, se não soubesse que de outro modo você jamais voltaria vivo para casa. Estou surpreso, entretanto, que Barzini tenha ainda feito uma última tentativa para matar você. Talvez isso tivesse sido combinado antes da conversação de paz e ele não pudesse mais impedir a tentativa. Você tem certeza de que eles não estavam atrás de Don Tommasino?
— Era isso o que eles queriam que parecesse — respondeu Michael — E teria sido perfeito, mesmo que você nunca tivesse suspeitado. Exceto que eu saí vivo. Vi Fabrizzio sair pelo portão correndo. E evidentemente eu averigüei tudo desde que voltei.
— Encontraram aquele pastor? — indagou Don Corleone.
— Eu o encontrei — respondeu Michael — Eu o encontrei há coisa de um ano. Ele tem uma pequena pizzaria lá em Buffalo. Nome trocado, passaporte e identificação falsos. Ele está representando muito bem, mas é Fabrizzio, o pastor.
O Don acenou com a cabeça.
— Então não adianta nada esperar mais. Quando você vai começar?
— Assim que Kay tiver o filho — respondeu Michael — Apenas para a eventualidade de que algo corra mal. E quero Tom instalado em Las Vegas para que ele não se preocupe com o caso. Penso que daqui a um ano.
— Você preparou tudo? — perguntou o Don sem olhar para Michael.
— Você não toma parte nisso — respondeu Michael calmamente — Você não é responsável. Assumo toda a responsabilidade. Eu recusaria até que você vetasse isso. Se você tentasse isso agora, eu deixaria a Família e seguiria meu próprio caminho. Você não é responsável.
O Don permaneceu calado por muito tempo e depois suspirou. Finalmente, falou:
— Assim seja. Talvez por isso estou aposentado, talvez seja por isso que transferi tudo para você. Já cumpri minha tarefa na vida, não tenho mais coragem. E há certos deveres que o melhor dos homens não pode cumprir. Este é o caso, no momento.
Durante aquele ano, Kay Adams Corleone deu à luz o seu segundo filho, outro menino. O parto transcorreu facilmente, sem qualquer complicação, e ela, quando voltou da maternidade, foi recebida na alameda como uma princesa. Connie Corleone presenteou a criança com um enxoval de seda feito a mão na Itália, extraordinariamente caro e bonito.
— Carlo achou-o — disse ela a Kay — Ele percorreu todas as lojas de Nova York para arranjar algo especial depois que eu não consegui encontrar nada que realmente me agradasse.
Kay agradeceu sorrindo, compreendendo imediatamente que devia contar essa bela história a Michael. Ela estava a caminho de se tornar siciliana.
Também durante aquele ano, Nino Valenti morreu de hemorragia cerebral. A sua morte foi noticiada com destaque na imprensa porque o filme que Johnny Fontane tinha feito com ele estreara algumas semanas antes e estava alcançando um estupendo sucesso, consagrando Nino como um astro de primeira grandeza. Os jornais mencionavam que Johnny Fontanne estava providenciando pessoalmente as cerimônias fúnebres, que o enterro seria discreto, só comparecendo pessoas da família e amigos íntimos. Uma história sensacionalista chegava a contar que Johnny Fontane, numa entrevista, se considerava culpado pela morte do amigo, que ele o deveria ter obrigado a submeter-se a tratamento médico, mas o repórter fazia isso parecer como se fosse a auto-recriminação de um espectador sensível, mas inocente, de uma tragédia. Johnny Fontane fizera do seu amigo de infância, Nino Valenti, um astro de cinema, e que mais poderia um amigo fazer?
Nenhum membro da Família Corleone compareceu ao enterro na Califórnia a não ser Freddie. Lucy e Jules Segal estiveram presentes. O próprio Don Corleone pretendia ir à Califórnia, mas sofreu um pequeno ataque do coração que o manteve no leito por um mês. Mandou então uma enorme coroa de flores. Albert Neri foi enviado ao Oeste como o representante oficial da Família.
Dois dias depois do enterro de Nino, Moe Greene foi morto a tiros na casa de sua amante, uma artista de cinema, em Hollywood; Albert Neri só reapareceu em Nova York quase um mês depois. Tinha passado sua férias nas Antilhas e voltara ao trabalho bastante queimado de sol. Michael Corleone recebeu-o com um sorriso e algumas palavras de elogio, que incluíam a informação de que Neri receberia dali em diante uma “gratificação” extra, a renda da Família proveniente de um bookmaker da Zona Leste considerado bastante rico. Neri sentiu-se contente, satisfeito por viver num mundo que recompensava dignamente o homem que cumpria o seu dever.





Continua...






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Frase Curiosa"Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère

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