CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS
CAPÍTULO
27
M
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ICHAEL
CORLEONE chegou naquela noite e, por sua própria ordem, não foi recebido
no aeroporto. Apenas dois homens o acompanhavam:
Tom Hagen e um novo guarda-costas chamado Albert Neri. O apartamento
mais luxuoso do hotel havia sido reservado para ele e seus acompanhantes. À sua
espera estavam as pessoas que seria necessário que Michael visse.
Freddie recebeu o
irmão com um caloroso abraço. Freddie estava mais forte, com aspecto mais
favorável, alegre e elegantemente trajado.
Usava uma roupa de seda cinza esquisitamente talhada e acessórios que
combinavam com ela. O seu cabelo era cortado a navalha e arrumado tão
cuidadosamente quanto o de um galã de cinema, o seu rosto brilhava de tão
cuidadosamente barbeado e suas mãos tinham sido devidamente tratadas por
uma manicura. Era um homem completamente diferente daquele que embarcara em
Nova York quatro anos antes.
Freddie recostou-se na
cadeira e examinou Michael carinhosamente.
— Você parece bastante
melhor agora que consertou a cara. Sua mulher finalmente conseguiu convencê-lo,
hem? Como vai Kay? Quando virá aqui nos visitar?
Michael sorriu para o
irmão.
— Você também está com
uma ótima aparência. Kay teria vindo desta vez, mas tem um bebê para cuidar e
está esperando outro. Além disso, estou aqui a negócio, Freddie, preciso voltar
amanhã à noite ou na manhã seguinte.
— Você precisa comer
alguma coisa primeiro — disse Freddie — Temos um grande chefe de cozinha no
hotel, você vai saborear a melhor comida que já comeu na sua vida. Vá tomar um
banho de chuveiro, mudar de roupa e tudo se acertará depois aqui. Tenho todo o
pessoal que você quer à sua disposição, todos eles estarão esperando quando
você estiver pronto, terei apenas de chamá-los.
— Vamos deixar Moe
Greene para o fim, está bem? — Michael falou prazenteiramente — Convide Johnny
Fontane e Nino para virem comer conosco. E também Lucy e seu doutor. Podemos
falar enquanto comemos — em seguida, voltou-se para Hagen e perguntou — Quer acrescentar
mais alguém, Tom?
Hagen balançou a
cabeça. Freddie recebera-o menos afetuosamente do que a Michael, mas Hagen
compreendia. Freddie estava na lista negra do pai e culpava o consigliori de não procurar ajeitar as
coisas. Hagen teria feito isso prazerosamente, mas não sabia por que Freddie
não estava nas boas graças do pai. Don Corleone não expressara queixas
específicas. Apenas dera a perceber o seu desagrado.
Já passava da
meia-noite quando se reuniram em torno da mesa especial de jantar posta no apartamento
de Michael. Lucy beijou Michael e não fez qualquer comentário sobre o fato de
seu rosto parecer bem melhor depois da operação. Jules Segal estudou
ousadamente o osso malar consertado e disse a Michael:
— Um bom trabalho.
Está bem unido. E o problema do nariz?
— Já foi resolvido —
respondeu Michael — Obrigado por ter ajudado.
As atenções
focalizaram-se em Michael à proporção que eles comiam. Todos notaram a sua
semelhança com Don Corleone nas maneiras e no modo de falar. De um modo um
tanto curioso, ele inspirava o mesmo respeito, a mesma admiração, contudo ele
era perfeitamente natural, esforçando-se para deixar todos à vontade. Hagen,
como de hábito, ficava em plano secundário. Albert Neri era também muito
tranqüilo e discreto. Alegara que não estava com fome e sentara-se numa
poltrona perto da porta lendo um jornal local. Depois que terminaram o jantar,
mandaram os garçons embora.
Michael falou com
Johnny Fontane:
— Ouvi dizer que você
recuperou a voz e está cantando tão bem como nunca; você reconquistou todos os
fãs. Parabéns.
— Obrigado — respondeu
Johnny.
O ator estava curioso
para saber exatamente por que Michael queria vê-lo. Que favor lhe pediria?
Michael dirigiu-se a
todos em geral:
— A Família Corleone
está pensando em se mudar aqui para Lãs Vegas. Venderemos todos os nossos
interesses no negócio de azeite e nos estabeleceremos aqui. Don Corleone, Tom
Hagen e eu conversamos muito sobre o assunto e pensamos que aqui é que está o
futuro da Família. Isso não quer dizer agora mesmo ou no próximo ano. Pode
levar dois, três ou até quatro anos para se acertarem todas as coisas. Mas esse
é o plano geral. Alguns amigos nossos possuem uma boa percentagem deste hotel e
cassino, de modo que isto será a nossa base fundamental. Moe Greene nos venderá
sua participação de modo que toda a organização passará à propriedade total dos
amigos de Don Corleone.
O rosto redondo de
Freddie mostrava certa ansiedade.
— Mike, você tem
certeza de que Moe Greene venderá a sua parte? Ele nunca mencionou nada disso a
mim e adora o negócio. Realmente não acredito que ele venderá.
— Far-lhe-ei uma
oferta que ele não poderá recusar — respondeu Michael tranqüilamente.
As palavras foram
ditas com uma voz normal, embora o efeito fosse enregelante, talvez por ser uma
frase preferida de Don Corleone. Michael voltou-se para Johnny Fontane e disse:
— Don Corleone está
contando com você para nos ajudar a começar. Já nos explicaram que a diversão
será o grande fator para atrair jogadores. Esperamos que você assine um
contrato para aparecer cinco vezes por ano, um compromisso que talvez dure uma
semana. Esperamos que os seus amigos do cinema façam o mesmo. Você fez um
bocado de favores a eles, agora é a sua vez de cobrar.
— Certamente —
respondeu Johnny — Farei tudo pelo meu Padrinho, você sabe disso, Mike.
Mas havia uma fraca
sombra de dúvida em sua voz.
— Você não perderá
dinheiro no negócio nem tampouco seus amigos — disse Michael sorrindo — Você
adquirirá ações do hotel, e se houver mais alguém que você ache suficientemente
importante poderá também adquirir ações. Talvez você não acredite em mim, portanto quero esclarecer que estou falando em
nome de Don Corleone.
— Eu acredito em você,
Mike — respondeu Johnny apressadamente — Mas há mais de dez hotéis e cassinos
que estão na Faixa agora mesmo. Quando vocês chegarem, o mercado talvez esteja
abarrotado, talvez vocês venham muito tarde com toda a concorrência que já
existe por aqui.
— A Família Corleone
tem amigos que estão financiando três desses hotéis — esclareceu Tom Hagen.
Johnny compreendeu
imediatamente que ele queria dizer que a Família Corleone era dona dos três
hotéis, com seus cassinos. E que haveria um grande número de ações a serem
distribuídas.
— Vou começar a
trabalhar nisso — disse Johnny.
Michael voltou-se para
Lucy e Jules Segal.
— Devo muito a você —
disse ele a Jules — Ouvi dizer que você quer voltar a cortar gente e que os
hospitais não querem deixar que você use as suas instalações e equipamentos por
causa daquele velho negócio do aborto. Quero saber de sua própria boca, é isso
o que você quer?
Jules sorriu.
— Acho que sim. Mas
você não conhece a organização médica. Seja qual for o poder que você tenha,
isso nada significa para eles. Receio que você não poderá ajudar-me nisso.
Michael acenou com a
cabeça distraidamente.
— Certamente, você tem
razão. Mas alguns amigos meus, gente muito conhecida, vão construir um grande
hospital em Las Vegas. A cidade precisará dele da maneira que está crescendo e
da maneira que está projetada para crescer. Talvez aceitem você na sala de operações
se se conversar direitinho com eles. Diabo, quantos cirurgiões tão bons quanto
você podem querer vir para este deserto? Ou quase tão bons? Faremos um favor ao
hospital. Assim, você pode contar com isso. Ouvi dizer que você e Lucy vão
casar, não é verdade?
Jules deu de ombros.
— Assim que eu vir que
tenho algum futuro.
— Mike, se você não
construir esse hospital, morrerei solteirona — atalhou Lucy em tom de
brincadeira.
Todos riram. Todos
menos Jules. Este disse a Michael:
— Se eu aceitar tal
emprego não me serão impostas quaisquer condições?
— Nada de condições —
respondeu Michael friamente — Tenho uma dívida com você e quero saldá-la.
— Mike, não fique
magoado — pediu Lucy brandamente.
Michael sorriu para
ela e respondeu:
— Não estou magoado —
voltou-se para Jules e falou — Você disse uma grande bobagem. A Família
Corleone tem mexido os pauzinhos em seu benefício. Você acha que sou tão
estúpido para pedir que você faça coisas que detesta? Mas se eu o pedisse, que
é que tinha? Quem diabo jamais moveu um dedo para lhe ajudar quando você estava
em dificuldade? Quando ouvi dizer que você queria voltar a trabalhar como um
verdadeiro cirurgião, perdi um bocado de tempo para descobrir se eu podia
ajudá-lo. Não lhe estou pedindo coisa alguma. Mas pelo menos pode considerar
nossas relações como amistosas, e suponho que faria por mim o mesmo que faria
por qualquer bom amigo. Esta é a minha condição. Mas você pode recusá-la.
Tom Hagen baixou a
cabeça e sorriu. Nem mesmo o próprio Don Corleone faria isso melhor.
Jules ficou vermelho.
— Mike, eu não quis
dizer absolutamente isso. Sou muito grato a você e a seu pai. Esqueça o que eu
disse.
Michael acenou coma
cabeça e respondeu:
— Ótimo. Até o
hospital ser construído e começar a funcionar, você será diretor do serviço
médico dos quatro hotéis. Forme a sua equipe. O seu salário vai subir também,
mas você deve discutir com Tom mais tarde. E, Lucy, quero que você faça uma
coisa mais importante. Talvez coordenar todas as lojas que serão abertas nas
galerias dos hotéis. O lado financeiro delas. Ou talvez contratando as garotas
de que precisarmos para trabalhar nos cassinos, algo como isso. Assim, se Jules
não a desposar, você poderá ser uma solteirona rica.
Freddie, enquanto
isso, fumava o seu charuto, zangado. Michael virou-se para ele e disse
brandamente:
— Sou apenas o moço de
recados de Don, Freddie. A sua tarefa ele mesmo lhe dirá, naturalmente, mas
tenho certeza de que vai fazer algo muito grande para torná-lo feliz. Todos
comentam o serviço formidável que você está fazendo aqui.
— Então por que ele
está aborrecido comigo? — perguntou Freddie queixosamente — Só porque o cassino
está perdendo dinheiro? Eu não controlo esse setor, ele está a cargo de Moe
Greene. Que diabo quer o velho de mim?
— Não se preocupe com
isso — respondeu Michael.
Voltando-se para
Johnny Fontane, Michael perguntou.
— Onde está Nino? Eu
esperava vê-lo novamente.
Johnny deu de ombros.
— Nino está muito
doente. Uma enfermeira está cuidando dele no quarto. Mas o doutor aqui diz que
ele precisava ser internado, que ele está procurando se matar.
Michael comentou
pensativamente, demonstrando realmente surpresa:
— Nino sempre foi um
sujeito verdadeiramente bom. Eu nunca soube que ele tivesse feito alguma coisa
repugnante, isto é, alguma coisa para prejudicar alguém. Ele nunca ligou para
nada. A não ser para a bebida.
— É verdade —
confirmou Johnny — O dinheiro está rolando, ele poderia arranjar um bocado de
trabalho, cantando ou representando nos filmes. Pode conseguir agora cinqüenta
mil dólares por filme, e ele rejeita isso. Não dá a mínima importância ao fato
de ser famoso. Durante todos os anos em que temos sido companheiros, nunca
soube que ele tivesse feito alguma coisa condenável. E o filho da puta está
bebendo para morrer!
Jules estava a ponto
de dizer algo, quando bateram na porta do apartamento. Ficou surpreso quando o
homem sentado na poltrona, mais próximo da porta, não atendeu, mas continuou a
ler o seu jornal. Hagen é que foi abri-la. E quase foi jogado para o lado
quando Moe Greene entrou a passos largos na sala seguido de dois guarda-costas.
Moe Greene era um
bandido bonitão que se tomara famoso como pistoleiro do sindicato do crime no
Brooklyn. Entrara no ramo do jogo e fora para o Oeste em busca de fortuna;
tinha sido uma das primeiras pessoas a ver as possibilidades de Las Vegas e
construíra um dos primeiros cassinos da Faixa. Ainda tinha acessos de fúria
homicida e era temido por todo mundo do hotel, não se excluindo Freddie, Lucy e
Jules Segal. Sempre ficavam longe dele, quando era possível.
O seu rosto bem
talhado estava horrendo agora. Ele disse para Michael Corleone:
— Estive esperando aí
para falar com você, Mike. Tenho um monte de coisas para fazer amanhã, por isso
pensei que pudesse conversar com você esta noite. Que tal?
Michael Corleone olhou
para ele com o que parecia ser um espanto amável.
— Está bem —
respondeu.
Depois fez um sinal na
direção de Hagen e disse:
— Sirva uma bebida ao
Sr. Greene, Tom.
Jules notou que o
homem chamado Albert Neri estudava Moe Greene atentamente, não dando a mínima
atenção aos dois capangas postados na porta. Ele sabia que não havia
possibilidade de qualquer violência na cidade de Las Vegas. Isso era
rigorosamente proibido por ser fatal para o projeto inteiro de transformar Las
Vegas no refúgio legal dos jogadores americanos.
Moe Greene disse para
os seus guarda-costas:
—Distribua algumas
fichas com todas essas pessoas para que possam jogar no cassino.
Evidentemente, ele se
referia a Jules, Lucy, Johnny Fontane e o guarda-costas de Michael, Albert
Neri.
Michael acenou com a
cabeça concordando:
— É uma boa idéia.
Só então foi que Neri
se levantou de sua poltrona e se preparou para sair junto com os outros.
Depois das habituais
saudações de despedida, ficaram na sala Freddie, Tom Hagen, Moe Greene e
Michael Corleone.
Greene pôs o seu copo
de bebida em cima da mesa e falou com fúria quase descontrolada:
— Que conversa é essa
que ouvi que a Família Corleone vai comprar o que é meu? Posso comprar o que é
de vocês. Vocês não compram o que é meu.
Michael respondeu sensatamente:
— O seu cassino vem
perdendo dinheiro contra todas as probabilidades. Há alguma coisa errada na
maneira pela qual você o dirige. Talvez possamos fazer melhor.
Greene deu uma
gargalhada desagradável.
— Seus malditos
carcamanos, eu faço um favor acolhendo Freddie quando vocês estão numa situação
difícil e agora vocês querem me expulsar daqui. Isso é o que vocês pensam! Não
vou ser expulso por ninguém e tenho amigos que vão me apoiar.
Michael continuou a
argumentar com tranqüila sensatez:
— Você acolheu Freddie
porque a Família Corleone lhe deu uma soma enorme de dinheiro para acabar de
aparelhar o seu hotel. E financiou o seu cassino. E porque a Família Molinari,
da Costa, garantiu a sua segurança e lhe prestou algum serviço por você o ter
acolhido. A Família Corleone e você estão quites. Não sei qual o motivo por que
você está se melindrando. Compraremos a sua parte por qualquer preço razoável
que você estipular, que mal há nisso? Que é que há de desleal nisso? Com o seu
cassino perdendo dinheiro, estamos até fazendo um favor a você.
Greene balançou a
cabeça.
— A Família Corleone
não tem mais tamanha força. O Padrinho esta doente. Vocês estão sendo
escorraçados de Nova York pelas outras Famílias e pensam que podem apanhar umas
sobras fáceis aqui. Vou-lhe dar um conselho, Mike, não tente isso.
— É por isso que você
pensava que podia esbofetear Freddie em público? — retrucou Michael
brandamente.
Tom Hagen, espantado,
voltou sua atenção para Freddie. O rosto de Freddie Corleone estava ficando
vermelho.
— Ah, Mike, isso não
foi nada. Moe não teve qualquer má intenção. Ele perde as estribeiras de vez em
quando, mas eu e ele somos bons amigos. Não é verdade, Moe?
Greene tornou-se
cauteloso.
— É verdade, sem
dúvida. Às vezes tenho de fazer o diabo para botar isso aqui funcionando
direito. Fiquei danado com Freddie porque ele começou a trepar com todas as
garçonetes e deixou que elas relaxassem o serviço. Tivemos uma pequena
discussão e tive de dar duro nele.
O rosto de Michael
estava impassível quando ele perguntou ao irmão.
— Ele deu duro em
você, Freddie?
Freddie olhou
aborrecido para o irmão caçula. E não respondeu.
Greene deu uma
gargalhada e explicou:
— O sacana estava
levando duas delas para a cama ao mesmo tempo, para fazer aquele negócio que se
chama “sanduíche”. Freddie, devo admitir que você de fato estragou essas
zinhas. Ninguém mais conseguia fazê-las felizes depois que você andou com elas.
Hagen percebeu que
isso pegou Michael de surpresa. Eles se entreolharam. Este era talvez o
verdadeiro motivo por que Don Corleone estava aborrecido com Freddie. O Don era
puritano no que dizia respeito a sexo. Ele consideraria tal traquinice do seu
Freddie, duas garotas ao mesmo tempo, como uma depravação. Permitir-se ainda
ser fisicamente humilhado por um homem como Moe Greene era contribuir para
desprestigiar a Família Corleone. Isso seria um dos motivos por que ele não
estava nas boas graças do pai.
Michael, levantando-se de sua cadeira, disse em
tom de despedida:
— Tenho de voltar para
Nova York amanhã, portanto, pense no seu preço.
Greene respondeu
selvagemente:
— Seu sacana, você
pensa que pode me liquidar desse modo? Eu matei mais homens do que você antes
que eu pudesse me mover. Vou pegar o avião para Nova York e conversar
pessoalmente com Don Corleone. Vou lhe fazer uma proposta.
Freddie pediu
nervosamente a Tom Hagen:
— Tom, você é o consigliori, você pode falar com o Don e
aconselhá-lo.
Foi então que Michael
despejou todo o jato frio de sua personalidade sobre os dois homens de Las
Vegas.
— O Don está semi-aposentado
— disse — Eu dirijo agora o negócio da Família. E afastei Tom do lugar de consigliori. Ele será exclusivamente meu
advogado aqui em Las Vegas. Ele vai se mudar para cá com a família dentro de
poucos meses para dar início a todo o trabalho jurídico. Portanto, o que vocês
tiverem a dizer, digam a mim.
Ninguém respondeu.
Michael acrescentou formalmente:
— Freddie, você é meu
irmão mais velho, eu o respeito. Mas nunca mais tome partido com outra pessoa
contra a Família. Nem vou mencionar isso ao Don.
Em seguida, voltou-se
para Moe Greene e disse:
— Não insulte as
pessoas que estão procurando ajudá-lo. Seria melhor que você usasse a sua
energia para descobrir por que o cassino está perdendo dinheiro. A Família
Corleone tem uma grana alta empatada aqui e não estamos obtendo os lucros
correspondentes ao capital investido, mas não vim aqui com o propósito de
maltratá-lo. Estou me oferecendo para ajudá-lo. Bem, se você prefere cuspir na
mão que procura ajudá-lo, isso é problema seu. Não tenho mais nada a dizer.
Michael não levantou a
voz uma só vez, mas suas palavras tiveram um efeito moderador sobre Greene e
Freddie. Ele fixou o olhar em ambos, afastando-se da mesa para indicar que
esperava que os dois se retirassem. Hagen foi até a porta e abriu-a. Os dois
homens saíram sem dizer boa noite.
Na manhã seguinte,
Michael Corleone recebeu um recado de Moe Greene: ele não venderia a sua parte
do hotel por preço algum. Foi Freddie quem trouxe o recado. Michael deu de
ombros e disse para o irmão:
— Quero ver Nino antes
de voltar para Nova York.
No apartamento de Nino, encontraram Johnny Fontane
sentado no sofá tomando o seu breakfast. Jules examinava Nino atrás do reposteiro fechado do quarto de
dormir. Finalmente, o reposteiro se abriu.
Michael ficou chocado
com o aspecto de Nino. O homem estava visivelmente se desintegrando. Os olhos
estavam ofuscados, a boca mole, todos os músculos de seu rosto bambos. Michael
sentou-se na beira da cama e disse:
—Nino, foi bom
encontrá-lo. O Don sempre pergunta por você.
Nino deu um riso
sarcástico, o seu velho riso.
— Diga a ele que estou
morrendo. Diga a ele que esse negócio de trabalhar em cinema e cantar é mais
perigoso do que o negócio do azeite.
— Você ficará bom —
retrucou Michael — Se tem alguma coisa lhe aborrecendo que a Família possa
ajudar, é só dizer.
Nino balançou a
cabeça.
— Não há nada —
respondeu — Nada.
Michael conversou mais
alguns instantes e depois saiu. Freddie acompanhou o irmão e seu grupo ao
aeroporto, mas a pedido de Michael não ficou lá até a hora da partida. Quando
tomava o avião com Tom Hagen e Albert Neri, Michael virou-se para Neri e
perguntou:
— Você o marcou bem?
Neri bateu na testa e
respondeu:
— Tenho Moe Greene
gravado e numerado aqui.
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Frase Curiosa: "Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère
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