sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Harry Potter e a Ordem da Fênix - Capítulo 33






— CAPÍTULO TRINTA E TRÊS —
Luta e Fuga



HARRY NÃO FAZIA IDÉIA do que Hermione estava planejando, nem mesmo se teria um plano. Manteve-se meio passo atrás dela enquanto seguiam pelo corredor da sala de Umbridge, sabendo que pareceria muito suspeito se ele desse a impressão de não saber aonde iam. Não se atreveu a falar com a amiga, Umbridge estava tão colada às suas costas que era possível ouvir sua respiração descompassada.
Hermione, à frente, desceu as escadas para o Saguão de Entrada, o vozerio e o estrépito dos talheres nos pratos ecoavam pelas portas abertas do Salão Principal, parecia a Harry inacreditável que a uns seis metros de distância as pessoas saboreassem o jantar, comemorando o fim dos exames, sem a menor preocupação...
Hermione passou direto do saguão para os degraus de pedra e o ar cálido da noite. O sol agora estava se pondo em direção às copas das árvores na Floresta Proibida e, enquanto Hermione atravessava deliberadamente o gramado, Umbridge quase correndo para acompanhá-la, suas sombras escuras, longas como capas, ondulavam pela grama à sua passagem.
— Está escondida na cabana de Hagrid? — perguntou Umbridge ansiosa ao ouvido de Harry.
— Claro que não — respondeu Hermione em tom irônico — Hagrid poderia dispará-la sem querer.
— É mesmo — concordou Umbridge, cuja excitação parecia crescer — Ele teria feito isso, é claro, o mestiço retardado.
Ela riu.
Harry sentiu um forte impulso de se virar e agarrá-la pelo pescoço, mas resistiu. Sua cicatriz latejava no ar ameno da noite, mas ainda não queimara em brasa, como sabia que iria acontecer quando Voldemort se preparasse para atacar.
— Então... onde está? — perguntou Umbridge, com um quê de incerteza na voz, pois Hermione continuava a rumar decidida para a Floresta.
— Lá dentro, é claro — respondeu a garota, apontando para as árvores escuras — Tinha de ficar em algum lugar onde os estudantes não a encontrassem por acaso, não é mesmo?
— Naturalmente — concordou Umbridge, embora parecesse agora um pouco apreensiva — Naturalmente... muito bem então... vocês dois se mantenham à minha frente.
— Podemos ficar com a sua varinha, então, se vamos na frente? — perguntou Harry.
— Não, acho que não, Sr. Potter — respondeu ela meigamente, espetando as costas do garoto com a varinha — Receio que o Ministério dê mais valor à minha vida do que à sua.
Quando alcançaram a sombra fresca das primeiras árvores, Harry tentou captar a atenção de Hermione, caminhar pela Floresta sem varinhas parecia-lhe a coisa mais imprudente que eles já tinham feito até aquela noite. Ela, no entanto, apenas lançou um olhar desdenhoso a Umbridge e mergulhou entre as árvores, andando com tanta rapidez que a professora, com suas pernas mais curtas, teve dificuldade em acompanhá-la.
— É muito para dentro? — perguntou Umbridge a Hermione, quando suas vestes se prenderam e rasgaram em um espinheiro.
— Ah, é, está muito bem escondida.
As apreensões de Harry aumentaram. Hermione não tomou a trilha que haviam seguido para visitar Grope, mas a que ele tomara três anos antes para ir à toca do monstro Aragogue. A amiga não estava em sua companhia na ocasião, e ele duvidou que Hermione tivesse idéia do perigo que os aguardava no fim da trilha.
— Ah... você tem certeza de que estamos no caminho certo? — perguntou Umbridge incisivamente.
— Ah, tenho — respondeu a garota com firmeza, pisando no mato rasteiro e produzindo o que ele julgou ser um barulho desnecessário.
Atrás deles, Umbridge tropeçou numa arvoreta caída. Nenhum dos dois parou para ajudá-la a se levantar, Hermione meramente continuou o caminho, avisando em voz alta por cima do ombro.
— É um pouco mais adiante!
— Hermione fale baixo — murmurou Harry, apressando o passo para alcançá-la — Qualquer coisa poderia estar nos ouvindo aqui.
— Quero que nos ouçam — respondeu ela em voz baixa, enquanto Umbridge corria com estardalhaço atrás deles — Você vai ver...
Eles continuaram a caminhar por um tempo aparentemente longo, até penetrarem mais uma vez tão profundamente na Floresta que a abóbada de árvores bloqueava toda a claridade. Harry teve a mesma sensação que já experimentara antes na Floresta, a de que estavam sendo vigiados por olhos invisíveis.
— Quanto falta ainda? — perguntou Umbridge, zangada.
— Não muito agora! — gritou Hermione, ao saírem em uma clareira escura e úmida — Só mais um pouquinho...
Uma flecha voou pelo ar e caiu com um impacto ameaçador pouco acima da cabeça da garota. O ar se encheu repentinamente com o ruído de cascos, Harry sentiu o chão da Floresta tremer, Umbridge soltou um gritinho e o empurrou para a frente dela como um escudo... ele se desvencilhou e se virou.
Uns cinquenta centauros emergiram de todos os lados, seus arcos erguidos e armados apontando para Harry, Hermione e Umbridge. Os três recuaram lentamente para o centro da clareira, enquanto Umbridge balbuciava estranhos gemidos de terror. Harry olhou de esguelha para Hermione. Ela exibia um sorriso triunfante.
— Quem é você? — perguntou uma voz.
Harry olhou para a esquerda. O corpo castanho do centauro chamado Magoriano destacava-se do círculo em direção a eles, seu arco, como o dos outros, estava erguido. A direita de Harry, Umbridge ainda gemia, sua varinha tremendo violentamente apontada para o centauro que avançava.
— Eu perguntei quem é você, humana — tornou a perguntar Magoriano com aspereza.
— Sou Dolores Umbridge! — respondeu ela, em tom agudo e aterrorizado — Subsecretária Sênior do Ministro da Magia, Diretora e Alta Inquisidora de Hogwarts!
— A senhora é do Ministério da Magia? — confirmou Magoriano, enquanto muitos centauros no círculo ao redor se moveram inquietos.
— Exatamente! — disse ela, elevando a voz — Então, tenha cuidado! Pelas leis baixadas pelo Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, qualquer ataque de mestiços como vocês a um humano...
— Do que foi que a senhora nos chamou? — gritou um centauro negro com ar feroz em quem Harry reconheceu Agouro.
Ouviram-se muitos murmúrios indignados e arcos esticando a toda volta.
— Não se refira a eles assim! — disse Hermione furiosa, mas Umbridge não pareceu tê-la ouvido.
Ainda apontando a varinha trêmula para Magoriano, continuou:
— A Lei Quinze B diz claramente que “Qualquer ataque de uma criatura mágica presumivelmente dotada de inteligência quase humana, e, portanto responsável por seus atos...”
— Inteligência quase humana? — repetiu Magoriano, ao mesmo tempo que Agouro e os outros rugiam de raiva e pateavam o chão — Consideramos isso uma grande ofensa, humana! Nossa inteligência, felizmente, supera em muito a sua.
— Que é que a senhora está fazendo em nossa Floresta? — bradou um centauro cinzento de rosto severo, que Harry e Hermione tinham visto na última ida — Por que está aqui?
— Sua Floresta? — exclamou Umbridge, tremendo agora não somente de medo mas, ao que parecia, de indignação — Gostaria de lembrar que vocês vivem aqui porque o Ministério da Magia permite que ocupem certas áreas de terra...
Uma flecha passou voando tão perto de sua cabeça que prendeu uns fios dos seus cabelos cor de rato, ela soltou um berro de furar os tímpanos e levou as mãos à cabeça, enquanto alguns centauros apoiavam o ataque aos gritos e outros riam estridentemente. O som de suas risadas ferozes e relinchantes a ecoar pela clareira sombria e a visão de suas patas batendo no chão eram extremamente assustadores.
— De quem é a Floresta agora, humana? — berrou Agouro.
— Mestiços imundos! — gritou Umbridge, as mãos ainda apertando a cabeça — Feras! Animais descontrolados!
— Fique quieta! — gritou Hermione, mas foi tarde demais: Umbridge apontou a varinha para Magoriano e ordenou: “Incarcerous!”.
Cordas voaram pelo ar como grossas cobras, enrolando-se firmemente no tronco do centauro e prendendo seus braços: ele soltou um grito de fúria e se empinou nas patas traseiras, tentando se libertar, enquanto os outros centauros atacavam.
Harry agarrou Hermione e puxou-a para o chão, de cara no chão da Floresta, ele conheceu um momento de terror enquanto os cascos estrondavam ao seu redor, mas os centauros saltavam por cima e em volta dos garotos, berrando e gritando encolerizados.
— Naããããão! — ele ouviu Umbridge gritar — Nãããããão... sou subsecretária sênior... vocês não podem: me larguem, seus animais... nããããão!
Harry viu um lampejo vermelho e percebeu que ela tentara estuporar um deles, então Umbridge gritou muito alto.
Erguendo a cabeça alguns centímetros, Harry viu que fora agarrada por trás por Agouro e guindada para o alto, esperneando e gritando de medo. Sua varinha caiu no chão, e o coração de Harry deu um salto. Se ao menos pudesse alcançá-la...
Mas, quando esticou a mão para a varinha, o casco de um centauro desceu sobre o objeto e partiu-o exatamente no meio.
— Agora! — rugiu uma voz no ouvido de Harry, e um braço grosso e peludo o pôs em pé.
Hermione também foi levantada. Por cima das costas e cabeças coloridas dos centauros que arremetiam, Harry viu Umbridge ser carregada entre as árvores por Agouro. Gritando sem parar, sua voz foi se distanciando até que já não podiam ouvi-la com o barulho dos cascos na clareira.
— E esses aqui? — perguntou o centauro cinzento de expressão dura que segurava Hermione.
— São jovens — disse uma voz lenta e pesarosa atrás de Harry — Não atacamos filhotes.
— Eles a trouxeram aqui, Ronan — replicou o centauro que segurava Harry firmemente — E não são tão filhotes... é quase adulto, este aqui.
Ele sacudiu Harry pelo colarinho das vestes.
— Por favor — pediu Hermione sem fôlego — Não nos ataquem, não pensamos como ela, não somos funcionários do Ministério da Magia! Só viemos para cá porque tínhamos esperança de que vocês a afugentassem.
Harry percebeu imediatamente, pela expressão no rosto do centauro cinzento que segurava Hermione, que ela cometera um terrível engano ao dizer isso. O centauro cinzento jogou a cabeça para trás, as pernas traseiras bateram furiosamente, e ele bradou:
— Está vendo, Ronan? Eles já têm a arrogância da espécie! Então era para nós fazermos o seu trabalho sujo, era, menina humana? Era para agirmos como seus criados, afugentarmos seus inimigos como cães obedientes?
— Não! — negou Hermione com um guincho de terror — Por favor... não quis dizer isso! Só tive esperança que vocês talvez pudessem nos... ajudar.
Mas ela parecia estar indo de mal a pior.
— Não ajudamos humanos! — vociferou o centauro que segurava Harry, apertando-o e ao mesmo tempo empinando um pouco, fazendo os pés do garoto saírem momentaneamente do chão — Somos uma raça à parte e temos orgulho disso. Não iremos permitir que vocês saiam daqui se gabando que cumprimos suas ordens!
— Não vamos dizer nada disso! — gritou Harry — Sabemos que não fizeram o que fizeram porque queríamos que fizessem...
Mas ninguém parecia escutá-lo.
Um centauro barbudo mais ao fundo da aglomeração gritou:
— Eles vieram sem ser convidados, precisam arcar com as conseqüências!
Suas palavras foram recebidas com um rugido de aprovação, e um centauro pardo gritou:
— Eles podem se juntar à mulher!
— Vocês disseram que não feriam inocentes! — gritou Hermione, lágrimas verdadeiras agora escorrendo pelo rosto — Não fizemos nada para agredi-los, não usamos varinhas nem ameaças, só queremos voltar para a escola, por favor nos deixem ir...
— Não somos todos como o traidor Firenze, menina humana! — gritou o centauro cinzento, recebendo mais aplausos dos companheiros — Talvez você achasse que éramos belos cavalos falantes? Somos um povo antigo que não vai tolerar invasões nem insultos de bruxos! Não reconhecemos suas leis, não aceitamos sua superioridade, somos...
Mas eles não ouviram o que mais seriam os centauros, pois naquele momento ouviu-se um estrondo na orla da clareira tão poderoso que todos, Harry e Hermione e os cinqüenta e tantos centauros que ali estavam se viraram. O centauro de Harry deixou-o cair no chão e suas mãos voaram para o arco e a aljava de flechas. Hermione fora largada também, e Harry correu para a amiga na hora em que dois grossos troncos se afastaram sinistramente e pela abertura surgia a figura monstruosa de Grope, o gigante.
Os centauros mais próximos dele recuaram para junto dos que estavam mais atrás, a clareira agora era uma floresta de arcos e flechas preparados para disparar, todas apontando para a cara acinzentada que agora assomava no alto sob a densa abóbada de ramos. A boca torta de Grope abria-se tolamente, eles viam seus dentes amarelos semelhantes a tijolos brilhando na penumbra, seus olhos opacos cor de lama apertados, tentando enxergar as criaturas aos seus pés. Cordas partidas caíam dos seus tornozelos. Ele abriu ainda mais a boca.
— Hagger.
Harry não sabia o que “hagger” significava, ou a que língua pertencia, nem estava muito interessado, observava os pés de Grope, quase tão longos quanto o corpo todo do garoto. Hermione agarrou seu braço com força, os centauros estavam muito silenciosos, observando o gigante, cuja cabeça enorme se movia de um lado para outro, ainda espiando entre eles como se procurasse alguma coisa que tivesse deixado cair.
— Hagger! — chamou outra vez, com maior insistência.
— Saia daqui, gigante! — gritou Magoriano — Você não é bem-vindo entre nós!
Aparentemente, essas palavras não causaram impressão alguma em Grope. Ele se curvou um pouco (os braços dos centauros se retesaram nos arcos), e tornou a berrar:
— HAGGER!
Alguns centauros agora pareceram preocupados.
Hermione, no entanto, ofegou.
— Harry! — sussurrou ela — Acho que ele está tentando dizer “Hagrid”!
Neste exato momento Grope os avistou, os únicos humanos em um mar de centauros. Baixou a cabeça mais um pouco, examinando-os com atenção. Harry sentiu Hermione tremer quando o gigante tornou a escancarar a boca e a dizer, numa voz trêmula e grave:
— Hermi.
— Nossa — exclamou Hermione, apertando o braço de Harry com tanta força que o deixava dormente, e parecendo prestes a desmaiar — Ele... ele se lembrou!
— HERMI! — rugiu Grope — ONDE HAGGER?
— Não sei! — esganiçou-se Hermione, aterrorizada — Desculpe, Grope, não sei!
— GROPE QUER HAGGER!
O gigante baixou uma das mãos maciças. Hermione deixou escapar um grito muito alto, correu uns passos para trás e caiu. Sem varinha, Harry se preparou para socar, chutar, morder e o que fosse preciso, quando a mão mergulhou em sua direção e derrubou um centauro branco.
Era o que os centauros estavam esperando: os dedos esticados de Grope estavam a menos de meio metro de Harry quando cinquenta flechas voaram pelo ar em direção ao gigante, pontilhando sua caraça, fazendo-o uivar de dor e raiva e aprumar o corpo, esfregando a cara com as manzorras, partindo a haste das flechas mas empurrando as pontas mais fundo. Ele berrou e bateu os pés no chão, e os centauros saíram de sua frente correndo, gotas de sangue do tamanho de seixos choveram sobre Harry enquanto ele ajudava Hermione a se levantar, e os dois correram o mais depressa que puderam para o abrigo das árvores.
Olharam uma vez para trás, Grope tentava agarrar os agressores às cegas, o sangue escorrendo de seu rosto, os centauros bateram em retirada desordenadamente, afastando-se a galope entre as árvores do lado oposto da clareira. Harry e Hermione viram Grope dar outro urro de fúria e mergulhar atrás dos centauros, derrubando mais árvores em seu caminho.
— Ah, não — exclamou Hermione, tremendo tanto que seus joelhos cederam — Ah, que coisa horrível. E ele talvez mate todos.
— Para ser sincero, não estou tão preocupado assim — disse Harry com amargura.
O ruído dos cascos dos centauros a galope e o do gigante às cegas foram se distanciando. Enquanto Harry procurava ouvi-los, sua cicatriz latejou com força e uma onda de terror o envolveu.
Tinham perdido tanto tempo, estavam ainda mais longe de resgatar Sirius do que quando tivera a visão. Não somente Harry conseguira perder a varinha mas os dois se achavam encalhados no meio da Floresta Proibida, sem meios de transporte.
— Beleza de plano — disse com rispidez para Hermione, precisando extravasar um pouco sua fúria. — Realmente uma beleza. Aonde vamos agora?
— Precisamos voltar ao castelo — respondeu Hermione com a voz débil.
— Até fazermos isso, provavelmente Sirius já estará morto! — disse Harry, chutando com raiva uma árvore próxima.
Um vozerio agudo irrompeu nas copas das árvores e ele olhou para cima e viu um tronquilho flexionando os longos dedos de gravetos para ele.
— Bom, não podemos fazer nada sem varinhas — disse Hermione, desconsolada, recomeçando a caminhar — Mas, afinal, Harry, como era exatamente que você estava planejando chegar a Londres?
— É, era o que estávamos nos perguntando — disse uma voz conhecida às costas dela.
Harry e Hermione se viraram juntos, instintivamente, e espiaram entre as árvores.
Rony apareceu com Gina, Neville e Luna, que caminhavam apressados atrás dele. Todos pareciam um pouco maltratados, havia compridos arranhões na bochecha de Gina, um grande calombo roxo sobre o olho direito de Neville, o lábio de Rony sangrava como nunca, mas pareciam muito satisfeitos com eles mesmos.
— Então — disse Rony, afastando um ramo baixo e entregando a varinha de Harry — Tem alguma ideia?
— Como foi que vocês conseguiram fugir? — perguntou Harry assombrado, apanhando a varinha estendida.
— Uns dois Feitiços Estuporantes, outro para Desarmar, e Neville executou uma Azaração de Impedimento lindinha — disse Rony descontraído, agora devolvendo a varinha de Hermione — Mas Gina foi a melhor, ela pegou o Malfoy com uma Azaração para Rebater Bicho-Papão, foi magnífica, a cara dele ficou toda coberta de coisas enormes e esvoaçantes. Então vimos vocês pela janela andando em direção à Floresta e viemos atrás. Que foi que vocês fizeram com a Umbridge?
— Foi levada embora — disse Harry — Por um rebanho de centauros.
— E eles deixaram vocês aqui? — perguntou Gina, espantada.
— Não, foram afugentados pelo Grope — informou Harry.
— Quem é Grope? — perguntou Luna interessada.
— O irmãozinho de Hagrid — disse Rony prontamente — Isso não importa agora. Harry, que foi que você descobriu na lareira? Você-Sabe-Quem pegou o Sirius ou...?
— Pegou — disse Harry, sua cicatriz dando mais uma fisgada dolorosa — E tenho certeza de que Sirius ainda está vivo, mas não vejo como iremos até lá ajudá-lo.
Todos se calaram, parecendo muito assustados, o problema que os confrontava parecia insolúvel.
— Bom, teremos de voar, não? — disse Luna, com o tom mais próximo do prosaico que Harry já a vira usar.
— Tudo bem — disse Harry irritado, virando-se para a garota — Primeiro, “nós” não vamos fazer nada, se você está se incluindo no grupo, e, segundo, Rony é o único que tem uma vassoura que não está guardada por um trasgo de segurança, portanto...
— Eu tenho vassoura! — lembrou Gina.
— É, mas você não vai — disse Rony, zangado.
— Com licença, mas eu me importo tanto com o que acontece a Sirius quanto vocês! — replicou Gina, endurecendo o queixo e fazendo com que sua semelhança com Fred e Jorge repentinamente se acentuasse.
— Você é muito... — começou Harry, mas Gina o interrompeu com veemência.
— Sou três anos mais velha do que você era quando enfrentou Você-Sabe-Quem pela posse da Pedra Filosofal, e fui eu que deixei Malfoy sem ação na sala da Umbridge atacado por papões voadores.
— É, mas...
— Estivemos todos juntos na AD — disse Neville em voz baixa — A idéia era combater Você-Sabe-Quem, não? E esta é a primeira oportunidade que temos de fazer alguma coisa de verdade, ou será que aquilo tudo foi uma brincadeira ou o quê?
— Não... claro que não foi... — retrucou Harry impaciente.
— Então devíamos ir também — concluiu Neville com simplicidade — Queremos ajudar.
— Certo — apoiou Luna, sorrindo feliz.
O olhar de Rony encontrou o de Harry. Ele sabia que Rony estava pensando o mesmo que ele: se tivesse podido escolher algum membro da AD, além dele, Rony e Hermione para acompanhá-lo na tentativa de resgatar Sirius, ele não teria escolhido Gina, Neville nem Luna.
— Bom, afinal não importa — disse Harry frustrado — Porque ainda não sabemos como iremos para lá...
— Pensei que já tivéssemos definido isso — falou Luna de modo exasperante — Vamos voando!
— Olhe aqui — disse Rony, mal contendo sua contrariedade — Talvez você possa voar sem uma vassoura, mas nós não podemos criar asas sempre que...
— Há outras maneiras de voar além de vassouras — retorquiu Luna serenamente.
— Suponho que vamos cavalgar no lombo do Chifre Bofudo ou que nome tenha.
— Bufadores de Chifre Enrugado não voam — disse Luna com dignidade — Mas eles voam, e Hagrid diz que são muito bons para encontrar os lugares que seus cavaleiros estão procurando.
Harry se virou. Parados entre duas árvores, os olhos brancos refulgindo fantasmagóricos, havia dois Testrálios, escutando a conversa sussurrada como se entendessem cada palavra.
— É mesmo! — murmurou Harry, indo em direção aos bichos.
Eles sacudiram a cabeça reptiliana, jogaram para trás as crinas escuras e longas, e o garoto estendeu uma das mãos, pressuroso, e deu umas palmadinhas no pescoço reluzente do mais próximo, como é que pôde achá-los feios?
— São aqueles cavalos malucos? — perguntou Rony inseguro, fixando um ponto ligeiramente à esquerda do Testrálio que Harry acariciava — Aqueles que a gente não pode ver a não ser que alguém os fareje antes?
— É — confirmou Harry.
— Quantos?
— Só dois.
— Bom, precisamos de três — lembrou Hermione, que ainda parecia um pouco abalada, mas ainda assim decidida.
— Quatro, Hermione — corrigiu Gina trombuda.
— Acho que na realidade somos seis — falou Luna calmamente, contando-os.
— Não seja idiota, não podemos ir todos! — disse Harry zangado — Olhem, vocês três — ele apontou para Neville, Gina e Luna — Vocês não estão metidos nisso, vocês não...
Eles prorromperam em mais protestos.
A cicatriz de Harry deu outra fisgada mais dolorosa. Cada minuto de atraso era precioso, ele não tinha tempo para discutir.
— Ok, ótimo a escolha é sua — disse secamente — Mas, a não ser que encontremos mais Testrálios, vocês não poderão...
— Ah, vão aparecer mais — disse Gina confiante, que, como Rony, estava procurando enxergar na direção oposta, aparentemente pensando que olhava para os cavalos.
— Por que é que você acha isso?
— Porque, caso vocês não tenham notado, você e Hermione estão cobertos de sangue — disse ela calmamente — E sabemos que Hagrid atrai Testrálios com carne crua. Provavelmente é por isso que esses dois apareceram.
Naquele momento Harry sentiu um ligeiro puxão em suas vestes e, ao baixar os olhos, viu que o Testrálio mais próximo estava lambendo sua manga úmida com o sangue de Grope.
— Tudo bem, então — disse ele, pois acabava de lhe ocorrer uma idéia luminosa — Rony e eu vamos levar esses dois e ir andando, e Hermione pode ficar aqui com vocês três e atrair mais Testrálios...
— Eu não vou ficar para trás! — falou Hermione furiosa.
— Não precisa — disse Luna sorrindo — Olhe, vem vindo mais agora... vocês dois devem estar realmente fedendo...
Harry se virou: nada menos de seis ou sete Testrálios vinham se aproximando cautelosos entre as árvores, suas grandes asas coriáceas bem fechadas junto ao corpo, seus olhos brilhando na escuridão. Ele não tinha mais desculpa.
— Tudo bem — disse aborrecido — Cada um pegue o seu e vamos, então.







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