— CAPÍTULO TRINTA E TRÊS —
Luta e Fuga
HARRY NÃO FAZIA IDÉIA do
que Hermione estava planejando, nem mesmo se teria um plano. Manteve-se meio
passo atrás dela enquanto seguiam pelo corredor da sala de Umbridge, sabendo
que pareceria muito suspeito se ele desse a impressão de não saber aonde iam.
Não se atreveu a falar com a amiga, Umbridge estava tão colada às suas costas
que era possível ouvir sua respiração descompassada.
Hermione,
à frente, desceu as escadas para o Saguão de Entrada, o vozerio e o estrépito
dos talheres nos pratos ecoavam pelas portas abertas do Salão Principal,
parecia a Harry inacreditável que a uns seis metros de distância as pessoas
saboreassem o jantar, comemorando o fim dos exames, sem a menor preocupação...
Hermione
passou direto do saguão para os degraus de pedra e o ar cálido da noite. O sol
agora estava se pondo em direção às copas das árvores na Floresta Proibida e,
enquanto Hermione atravessava deliberadamente o gramado, Umbridge quase
correndo para acompanhá-la, suas sombras escuras, longas como capas, ondulavam
pela grama à sua passagem.
—
Está escondida na cabana de Hagrid? — perguntou Umbridge ansiosa ao ouvido de
Harry.
—
Claro que não — respondeu Hermione em tom irônico — Hagrid poderia dispará-la
sem querer.
— É
mesmo — concordou Umbridge, cuja excitação parecia crescer — Ele teria feito
isso, é claro, o mestiço retardado.
Ela
riu.
Harry
sentiu um forte impulso de se virar e agarrá-la pelo pescoço, mas resistiu. Sua
cicatriz latejava no ar ameno da noite, mas ainda não queimara em brasa, como
sabia que iria acontecer quando Voldemort se preparasse para atacar.
— Então...
onde está? — perguntou Umbridge, com um quê de incerteza na voz, pois Hermione
continuava a rumar decidida para a Floresta.
— Lá
dentro, é claro — respondeu a garota, apontando para as árvores escuras — Tinha
de ficar em algum lugar onde os estudantes não a encontrassem por acaso, não é
mesmo?
—
Naturalmente — concordou Umbridge, embora parecesse agora um pouco apreensiva —
Naturalmente... muito bem então... vocês dois se mantenham à minha frente.
—
Podemos ficar com a sua varinha, então, se vamos na frente? — perguntou Harry.
—
Não, acho que não, Sr. Potter — respondeu ela meigamente, espetando as costas
do garoto com a varinha — Receio que o Ministério dê mais valor à minha vida do
que à sua.
Quando
alcançaram a sombra fresca das primeiras árvores, Harry tentou captar a atenção
de Hermione, caminhar pela Floresta sem varinhas parecia-lhe a coisa mais
imprudente que eles já tinham feito até aquela noite. Ela, no entanto, apenas
lançou um olhar desdenhoso a Umbridge e mergulhou entre as árvores, andando com
tanta rapidez que a professora, com suas pernas mais curtas, teve dificuldade
em acompanhá-la.
— É
muito para dentro? — perguntou Umbridge a Hermione, quando suas vestes se
prenderam e rasgaram em um espinheiro.
— Ah,
é, está muito bem escondida.
As apreensões
de Harry aumentaram. Hermione não tomou a trilha que haviam seguido para
visitar Grope, mas a que ele tomara três anos antes para ir à toca do monstro
Aragogue. A amiga não estava em sua companhia na ocasião, e ele duvidou que
Hermione tivesse idéia do perigo que os aguardava no fim da trilha.
—
Ah... você tem certeza de que estamos no caminho certo? — perguntou Umbridge
incisivamente.
— Ah,
tenho — respondeu a garota com firmeza, pisando no mato rasteiro e produzindo o
que ele julgou ser um barulho desnecessário.
Atrás
deles, Umbridge tropeçou numa arvoreta caída. Nenhum dos dois parou para
ajudá-la a se levantar, Hermione meramente continuou o caminho, avisando em voz
alta por cima do ombro.
— É
um pouco mais adiante!
—
Hermione fale baixo — murmurou Harry, apressando o passo para alcançá-la —
Qualquer coisa poderia estar nos ouvindo aqui.
—
Quero que nos ouçam — respondeu ela em voz baixa, enquanto Umbridge corria com
estardalhaço atrás deles — Você vai ver...
Eles
continuaram a caminhar por um tempo aparentemente longo, até penetrarem mais
uma vez tão profundamente na Floresta que a abóbada de árvores bloqueava toda a
claridade. Harry teve a mesma sensação que já experimentara antes na Floresta,
a de que estavam sendo vigiados por olhos invisíveis.
—
Quanto falta ainda? — perguntou Umbridge, zangada.
— Não
muito agora! — gritou Hermione, ao saírem em uma clareira escura e úmida — Só
mais um pouquinho...
Uma
flecha voou pelo ar e caiu com um impacto ameaçador pouco acima da cabeça da
garota. O ar se encheu repentinamente com o ruído de cascos, Harry sentiu o
chão da Floresta tremer, Umbridge soltou um gritinho e o empurrou para a frente
dela como um escudo... ele se desvencilhou e se virou.
Uns cinquenta
centauros emergiram de todos os lados, seus arcos erguidos e armados apontando
para Harry, Hermione e Umbridge. Os três recuaram lentamente para o centro da
clareira, enquanto Umbridge balbuciava estranhos gemidos de terror. Harry olhou
de esguelha para Hermione. Ela exibia um sorriso triunfante.
— Quem
é você? — perguntou uma voz.
Harry
olhou para a esquerda. O corpo castanho do centauro chamado Magoriano
destacava-se do círculo em direção a eles, seu arco, como o dos outros, estava
erguido. A direita de Harry, Umbridge ainda gemia, sua varinha tremendo
violentamente apontada para o centauro que avançava.
— Eu
perguntei quem é você, humana — tornou a perguntar Magoriano com aspereza.
— Sou
Dolores Umbridge! — respondeu ela, em tom agudo e aterrorizado — Subsecretária
Sênior do Ministro da Magia, Diretora e Alta Inquisidora de Hogwarts!
— A
senhora é do Ministério da Magia? — confirmou Magoriano, enquanto muitos
centauros no círculo ao redor se moveram inquietos.
—
Exatamente! — disse ela, elevando a voz — Então, tenha cuidado! Pelas leis
baixadas pelo Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas
Mágicas, qualquer ataque de mestiços como vocês a um humano...
— Do
que foi que a senhora nos chamou? — gritou um centauro negro com ar feroz em
quem Harry reconheceu Agouro.
Ouviram-se
muitos murmúrios indignados e arcos esticando a toda volta.
— Não
se refira a eles assim! — disse Hermione furiosa, mas Umbridge não pareceu
tê-la ouvido.
Ainda
apontando a varinha trêmula para Magoriano, continuou:
— A
Lei Quinze B diz claramente que “Qualquer ataque de uma criatura mágica
presumivelmente dotada de inteligência quase humana, e, portanto responsável
por seus atos...”
—
Inteligência quase humana? — repetiu Magoriano, ao mesmo tempo que Agouro e os
outros rugiam de raiva e pateavam o chão — Consideramos isso uma grande ofensa,
humana! Nossa inteligência, felizmente, supera em muito a sua.
— Que
é que a senhora está fazendo em nossa Floresta? — bradou um centauro cinzento
de rosto severo, que Harry e Hermione tinham visto na última ida — Por que está
aqui?
— Sua
Floresta? — exclamou Umbridge, tremendo agora não somente de medo mas, ao que
parecia, de indignação — Gostaria de lembrar que vocês vivem aqui porque o
Ministério da Magia permite que ocupem certas áreas de terra...
Uma
flecha passou voando tão perto de sua cabeça que prendeu uns fios dos seus
cabelos cor de rato, ela soltou um berro de furar os tímpanos e levou as mãos à
cabeça, enquanto alguns centauros apoiavam o ataque aos gritos e outros riam
estridentemente. O som de suas risadas ferozes e relinchantes a ecoar pela
clareira sombria e a visão de suas patas batendo no chão eram extremamente
assustadores.
— De
quem é a Floresta agora, humana? — berrou Agouro.
—
Mestiços imundos! — gritou Umbridge, as mãos ainda apertando a cabeça — Feras!
Animais descontrolados!
—
Fique quieta! — gritou Hermione, mas foi tarde demais: Umbridge apontou a
varinha para Magoriano e ordenou: “Incarcerous!”.
Cordas
voaram pelo ar como grossas cobras, enrolando-se firmemente no tronco do
centauro e prendendo seus braços: ele soltou um grito de fúria e se empinou nas
patas traseiras, tentando se libertar, enquanto os outros centauros atacavam.
Harry
agarrou Hermione e puxou-a para o chão, de cara no chão da Floresta, ele
conheceu um momento de terror enquanto os cascos estrondavam ao seu redor, mas
os centauros saltavam por cima e em volta dos garotos, berrando e gritando
encolerizados.
—
Naããããão! — ele ouviu Umbridge gritar — Nãããããão... sou subsecretária sênior...
vocês não podem: me larguem, seus animais... nããããão!
Harry
viu um lampejo vermelho e percebeu que ela tentara estuporar um deles, então
Umbridge gritou muito alto.
Erguendo
a cabeça alguns centímetros, Harry viu que fora agarrada por trás por Agouro e
guindada para o alto, esperneando e gritando de medo. Sua varinha caiu no chão,
e o coração de Harry deu um salto. Se ao menos pudesse alcançá-la...
Mas,
quando esticou a mão para a varinha, o casco de um centauro desceu sobre o
objeto e partiu-o exatamente no meio.
—
Agora! — rugiu uma voz no ouvido de Harry, e um braço grosso e peludo o pôs em
pé.
Hermione
também foi levantada. Por cima das costas e cabeças coloridas dos centauros que
arremetiam, Harry viu Umbridge ser carregada entre as árvores por Agouro.
Gritando sem parar, sua voz foi se distanciando até que já não podiam ouvi-la
com o barulho dos cascos na clareira.
— E
esses aqui? — perguntou o centauro cinzento de expressão dura que segurava
Hermione.
— São
jovens — disse uma voz lenta e pesarosa atrás de Harry — Não atacamos filhotes.
—
Eles a trouxeram aqui, Ronan — replicou o centauro que segurava Harry
firmemente — E não são tão filhotes... é quase adulto, este aqui.
Ele
sacudiu Harry pelo colarinho das vestes.
— Por
favor — pediu Hermione sem fôlego — Não nos ataquem, não pensamos como ela, não
somos funcionários do Ministério da Magia! Só viemos para cá porque tínhamos
esperança de que vocês a afugentassem.
Harry
percebeu imediatamente, pela expressão no rosto do centauro cinzento que
segurava Hermione, que ela cometera um terrível engano ao dizer isso. O
centauro cinzento jogou a cabeça para trás, as pernas traseiras bateram
furiosamente, e ele bradou:
—
Está vendo, Ronan? Eles já têm a arrogância da espécie! Então era para nós
fazermos o seu trabalho sujo, era, menina humana? Era para agirmos como seus criados,
afugentarmos seus inimigos como cães obedientes?
—
Não! — negou Hermione com um guincho de terror — Por favor... não quis dizer
isso! Só tive esperança que vocês talvez pudessem nos... ajudar.
Mas
ela parecia estar indo de mal a pior.
— Não
ajudamos humanos! — vociferou o centauro que segurava Harry, apertando-o e ao
mesmo tempo empinando um pouco, fazendo os pés do garoto saírem momentaneamente
do chão — Somos uma raça à parte e temos orgulho disso. Não iremos permitir que
vocês saiam daqui se gabando que cumprimos suas ordens!
— Não
vamos dizer nada disso! — gritou Harry — Sabemos que não fizeram o que fizeram
porque queríamos que fizessem...
Mas
ninguém parecia escutá-lo.
Um
centauro barbudo mais ao fundo da aglomeração gritou:
—
Eles vieram sem ser convidados, precisam arcar com as conseqüências!
Suas
palavras foram recebidas com um rugido de aprovação, e um centauro pardo
gritou:
—
Eles podem se juntar à mulher!
—
Vocês disseram que não feriam inocentes! — gritou Hermione, lágrimas
verdadeiras agora escorrendo pelo rosto — Não fizemos nada para agredi-los, não
usamos varinhas nem ameaças, só queremos voltar para a escola, por favor nos
deixem ir...
— Não
somos todos como o traidor Firenze, menina humana! — gritou o centauro
cinzento, recebendo mais aplausos dos companheiros — Talvez você achasse que
éramos belos cavalos falantes? Somos um povo antigo que não vai tolerar
invasões nem insultos de bruxos! Não reconhecemos suas leis, não aceitamos sua
superioridade, somos...
Mas
eles não ouviram o que mais seriam os centauros, pois naquele momento ouviu-se
um estrondo na orla da clareira tão poderoso que todos, Harry e Hermione e os
cinqüenta e tantos centauros que ali estavam se viraram. O centauro de Harry
deixou-o cair no chão e suas mãos voaram para o arco e a aljava de flechas.
Hermione fora largada também, e Harry correu para a amiga na hora em que dois
grossos troncos se afastaram sinistramente e pela abertura surgia a figura
monstruosa de Grope, o gigante.
Os
centauros mais próximos dele recuaram para junto dos que estavam mais atrás, a
clareira agora era uma floresta de arcos e flechas preparados para disparar,
todas apontando para a cara acinzentada que agora assomava no alto sob a densa
abóbada de ramos. A boca torta de Grope abria-se tolamente, eles viam seus
dentes amarelos semelhantes a tijolos brilhando na penumbra, seus olhos opacos
cor de lama apertados, tentando enxergar as criaturas aos seus pés. Cordas
partidas caíam dos seus tornozelos. Ele abriu ainda mais a boca.
—
Hagger.
Harry
não sabia o que “hagger” significava, ou a que língua pertencia, nem estava
muito interessado, observava os pés de Grope, quase tão longos quanto o corpo
todo do garoto. Hermione agarrou seu braço com força, os centauros estavam
muito silenciosos, observando o gigante, cuja cabeça enorme se movia de um lado
para outro, ainda espiando entre eles como se procurasse alguma coisa que
tivesse deixado cair.
—
Hagger! — chamou outra vez, com maior insistência.
—
Saia daqui, gigante! — gritou Magoriano — Você não é bem-vindo entre nós!
Aparentemente,
essas palavras não causaram impressão alguma em Grope. Ele se curvou um pouco
(os braços dos centauros se retesaram nos arcos), e tornou a berrar:
—
HAGGER!
Alguns
centauros agora pareceram preocupados.
Hermione,
no entanto, ofegou.
—
Harry! — sussurrou ela — Acho que ele está tentando dizer “Hagrid”!
Neste
exato momento Grope os avistou, os únicos humanos em um mar de centauros.
Baixou a cabeça mais um pouco, examinando-os com atenção. Harry sentiu Hermione
tremer quando o gigante tornou a escancarar a boca e a dizer, numa voz trêmula
e grave:
—
Hermi.
—
Nossa — exclamou Hermione, apertando o braço de Harry com tanta força que o
deixava dormente, e parecendo prestes a desmaiar — Ele... ele se lembrou!
—
HERMI! — rugiu Grope — ONDE HAGGER?
— Não
sei! — esganiçou-se Hermione, aterrorizada — Desculpe, Grope, não sei!
—
GROPE QUER HAGGER!
O
gigante baixou uma das mãos maciças. Hermione deixou escapar um grito muito
alto, correu uns passos para trás e caiu. Sem varinha, Harry se preparou para
socar, chutar, morder e o que fosse preciso, quando a mão mergulhou em sua
direção e derrubou um centauro branco.
Era o
que os centauros estavam esperando: os dedos esticados de Grope estavam a menos
de meio metro de Harry quando cinquenta flechas voaram pelo ar em direção ao
gigante, pontilhando sua caraça, fazendo-o uivar de dor e raiva e aprumar o
corpo, esfregando a cara com as manzorras, partindo a haste das flechas mas
empurrando as pontas mais fundo. Ele berrou e bateu os pés no chão, e os
centauros saíram de sua frente correndo, gotas de sangue do tamanho de seixos
choveram sobre Harry enquanto ele ajudava Hermione a se levantar, e os dois
correram o mais depressa que puderam para o abrigo das árvores.
Olharam
uma vez para trás, Grope tentava agarrar os agressores às cegas, o sangue
escorrendo de seu rosto, os centauros bateram em retirada desordenadamente,
afastando-se a galope entre as árvores do lado oposto da clareira. Harry e
Hermione viram Grope dar outro urro de fúria e mergulhar atrás dos centauros,
derrubando mais árvores em seu caminho.
— Ah,
não — exclamou Hermione, tremendo tanto que seus joelhos cederam — Ah, que
coisa horrível. E ele talvez mate todos.
—
Para ser sincero, não estou tão preocupado assim — disse Harry com amargura.
O
ruído dos cascos dos centauros a galope e o do gigante às cegas foram se
distanciando. Enquanto Harry procurava ouvi-los, sua cicatriz latejou com força
e uma onda de terror o envolveu.
Tinham
perdido tanto tempo, estavam ainda mais longe de resgatar Sirius do que quando
tivera a visão. Não somente Harry conseguira perder a varinha mas os dois se
achavam encalhados no meio da Floresta Proibida, sem meios de transporte.
—
Beleza de plano — disse com rispidez para Hermione, precisando extravasar um
pouco sua fúria. — Realmente uma beleza. Aonde vamos agora?
—
Precisamos voltar ao castelo — respondeu Hermione com a voz débil.
— Até
fazermos isso, provavelmente Sirius já estará morto! — disse Harry, chutando
com raiva uma árvore próxima.
Um
vozerio agudo irrompeu nas copas das árvores e ele olhou para cima e viu um
tronquilho flexionando os longos dedos de gravetos para ele.
—
Bom, não podemos fazer nada sem varinhas — disse Hermione, desconsolada,
recomeçando a caminhar — Mas, afinal, Harry, como era exatamente que você
estava planejando chegar a Londres?
— É,
era o que estávamos nos perguntando — disse uma voz conhecida às costas dela.
Harry
e Hermione se viraram juntos, instintivamente, e espiaram entre as árvores.
Rony
apareceu com Gina, Neville e Luna, que caminhavam apressados atrás dele. Todos
pareciam um pouco maltratados, havia compridos arranhões na bochecha de Gina,
um grande calombo roxo sobre o olho direito de Neville, o lábio de Rony
sangrava como nunca, mas pareciam muito satisfeitos com eles mesmos.
—
Então — disse Rony, afastando um ramo baixo e entregando a varinha de Harry —
Tem alguma ideia?
—
Como foi que vocês conseguiram fugir? — perguntou Harry assombrado, apanhando a
varinha estendida.
— Uns
dois Feitiços Estuporantes, outro para Desarmar, e Neville executou uma
Azaração de Impedimento lindinha — disse Rony descontraído, agora devolvendo a
varinha de Hermione — Mas Gina foi a melhor, ela pegou o Malfoy com uma
Azaração para Rebater Bicho-Papão, foi magnífica, a cara dele ficou toda coberta
de coisas enormes e esvoaçantes. Então vimos vocês pela janela andando em
direção à Floresta e viemos atrás. Que foi que vocês fizeram com a Umbridge?
— Foi
levada embora — disse Harry — Por um rebanho de centauros.
— E
eles deixaram vocês aqui? — perguntou Gina, espantada.
—
Não, foram afugentados pelo Grope — informou Harry.
—
Quem é Grope? — perguntou Luna interessada.
— O
irmãozinho de Hagrid — disse Rony prontamente — Isso não importa agora. Harry,
que foi que você descobriu na lareira? Você-Sabe-Quem pegou o Sirius ou...?
—
Pegou — disse Harry, sua cicatriz dando mais uma fisgada dolorosa — E tenho
certeza de que Sirius ainda está vivo, mas não vejo como iremos até lá
ajudá-lo.
Todos
se calaram, parecendo muito assustados, o problema que os confrontava parecia
insolúvel.
—
Bom, teremos de voar, não? — disse Luna, com o tom mais próximo do prosaico que
Harry já a vira usar.
—
Tudo bem — disse Harry irritado, virando-se para a garota — Primeiro, “nós” não
vamos fazer nada, se você está se incluindo no grupo, e, segundo, Rony é o
único que tem uma vassoura que não está guardada por um trasgo de segurança,
portanto...
— Eu
tenho vassoura! — lembrou Gina.
— É,
mas você não vai — disse Rony, zangado.
— Com
licença, mas eu me importo tanto com o que acontece a Sirius quanto vocês! —
replicou Gina, endurecendo o queixo e fazendo com que sua semelhança com Fred e
Jorge repentinamente se acentuasse.
—
Você é muito... — começou Harry, mas Gina o interrompeu com veemência.
— Sou
três anos mais velha do que você era quando enfrentou Você-Sabe-Quem pela posse
da Pedra Filosofal, e fui eu que deixei Malfoy sem ação na sala da Umbridge
atacado por papões voadores.
— É,
mas...
—
Estivemos todos juntos na AD — disse Neville em voz baixa — A idéia era
combater Você-Sabe-Quem, não? E esta é a primeira oportunidade que temos de
fazer alguma coisa de verdade, ou será que aquilo tudo foi uma brincadeira ou o
quê?
—
Não... claro que não foi... — retrucou Harry impaciente.
—
Então devíamos ir também — concluiu Neville com simplicidade — Queremos ajudar.
—
Certo — apoiou Luna, sorrindo feliz.
O
olhar de Rony encontrou o de Harry. Ele sabia que Rony estava pensando o mesmo
que ele: se tivesse podido escolher algum membro da AD, além dele, Rony e
Hermione para acompanhá-lo na tentativa de resgatar Sirius, ele não teria
escolhido Gina, Neville nem Luna.
—
Bom, afinal não importa — disse Harry frustrado — Porque ainda não sabemos como
iremos para lá...
—
Pensei que já tivéssemos definido isso — falou Luna de modo exasperante — Vamos
voando!
—
Olhe aqui — disse Rony, mal contendo sua contrariedade — Talvez você possa voar
sem uma vassoura, mas nós não podemos criar asas sempre que...
— Há
outras maneiras de voar além de vassouras — retorquiu Luna serenamente.
—
Suponho que vamos cavalgar no lombo do Chifre Bofudo ou que nome tenha.
—
Bufadores de Chifre Enrugado não voam — disse Luna com dignidade — Mas eles
voam, e Hagrid diz que são muito bons para encontrar os lugares que seus
cavaleiros estão procurando.
Harry
se virou. Parados entre duas árvores, os olhos brancos refulgindo
fantasmagóricos, havia dois Testrálios, escutando a conversa sussurrada como se
entendessem cada palavra.
— É
mesmo! — murmurou Harry, indo em direção aos bichos.
Eles
sacudiram a cabeça reptiliana, jogaram para trás as crinas escuras e longas, e
o garoto estendeu uma das mãos, pressuroso, e deu umas palmadinhas no pescoço
reluzente do mais próximo, como é que pôde achá-los feios?
— São
aqueles cavalos malucos? — perguntou Rony inseguro, fixando um ponto ligeiramente
à esquerda do Testrálio que Harry acariciava — Aqueles que a gente não pode ver
a não ser que alguém os fareje antes?
— É —
confirmou Harry.
—
Quantos?
— Só
dois.
—
Bom, precisamos de três — lembrou Hermione, que ainda parecia um pouco abalada,
mas ainda assim decidida.
—
Quatro, Hermione — corrigiu Gina trombuda.
—
Acho que na realidade somos seis — falou Luna calmamente, contando-os.
— Não
seja idiota, não podemos ir todos! — disse Harry zangado — Olhem, vocês três —
ele apontou para Neville, Gina e Luna — Vocês não estão metidos nisso, vocês
não...
Eles
prorromperam em mais protestos.
A
cicatriz de Harry deu outra fisgada mais dolorosa. Cada minuto de atraso era
precioso, ele não tinha tempo para discutir.
— Ok,
ótimo a escolha é sua — disse secamente — Mas, a não ser que encontremos mais
Testrálios, vocês não poderão...
— Ah,
vão aparecer mais — disse Gina confiante, que, como Rony, estava procurando
enxergar na direção oposta, aparentemente pensando que olhava para os cavalos.
— Por
que é que você acha isso?
—
Porque, caso vocês não tenham notado, você e Hermione estão cobertos de sangue
— disse ela calmamente — E sabemos que Hagrid atrai Testrálios com carne crua.
Provavelmente é por isso que esses dois apareceram.
Naquele
momento Harry sentiu um ligeiro puxão em suas vestes e, ao baixar os olhos, viu
que o Testrálio mais próximo estava lambendo sua manga úmida com o sangue de
Grope.
—
Tudo bem, então — disse ele, pois acabava de lhe ocorrer uma idéia luminosa —
Rony e eu vamos levar esses dois e ir andando, e Hermione pode ficar aqui com
vocês três e atrair mais Testrálios...
— Eu
não vou ficar para trás! — falou Hermione furiosa.
— Não
precisa — disse Luna sorrindo — Olhe, vem vindo mais agora... vocês dois devem
estar realmente fedendo...
Harry
se virou: nada menos de seis ou sete Testrálios vinham se aproximando
cautelosos entre as árvores, suas grandes asas coriáceas bem fechadas junto ao
corpo, seus olhos brilhando na escuridão. Ele não tinha mais desculpa.
—
Tudo bem — disse aborrecido — Cada um pegue o seu e vamos, então.
________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário para elogiar ou criticar o T.World. Somente com seu apoio e ajuda, o T.World pode se tornar ainda melhor.