sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Harry Potter e o Enigma do Príncipe - Capítulo 9






— CAPÍTULO NOVE —
O Príncipe Mestiço



NO DIA SEGUINTE, HARRY E RONY se encontraram com Hermione no Salão Comunal, antes do café da manhã. Na esperança de obter algum apoio para sua teoria, Harry não perdeu tempo e contou à amiga o que ouvira Malfoy dizer no Expresso de Hogwarts.
— Mas é óbvio que ele estava se exibindo para a Parkinson, não é? — aparteou Rony, rápido, antes que Hermione pudesse responder.
— Bem — hesitou ela — Não sei... é bem coisa do Malfoy querer parecer mais importante do que é... mas assim é exagero...
— Exatamente — disse Harry, mas não pôde argumentar porque havia muita gente querendo ouvir a conversa, sem falar naqueles que o encaravam e cochichavam cobrindo a boca com a mão.
— É falta de educação apontar — Rony ralhou com um aluno do primeiro ano particularmente pequeno quando entraram na fila para passar pelo buraco do retrato.
O garoto, que, disfarçadamente, estivera murmurando alguma coisa para o amigo, ficou escarlate e, assustado, caiu pelo buraco no corredor.
Rony deu uma risadinha.
— Adoro estar no sexto ano. E o melhor é que vamos ter tempo livre este ano. Períodos inteiros para sentar e relaxar.
— Vamos precisar desse tempo para estudar, Rony! — lembrou Hermione, quando caminhavam pelo corredor.
— É, mas não hoje — respondeu Rony — Hoje vai ser moleza pura.
— Espere aí! — exclamou Hermione, esticando o braço e fazendo parar um aluno do quarto ano, que tentava passar por ela segurando com firmeza um disco verde-limão — Os Frisbees-dentados são proibidos, me dê isso aqui — pediu com severidade.
O garoto, amarrando a cara, entregou o disco que rosnava, passou por baixo do braço de Hermione e saiu no encalço dos amigos. Rony esperou que ele desaparecesse e roubou o Frisbee da mão de Hermione.
— Ótimo, sempre quis ter um.
O protesto de Hermione foi abafado por uma risadinha alta. Pelo visto, Lilá Brown achara o comentário de Rony engraçadíssimo. E passou por ele ainda rindo, olhando-o por cima do ombro.
Rony pareceu muito satisfeito.
O teto do Salão Principal estava serenamente azul, raiado de leves farrapos de nuvens, como nos quadrados de céu que se viam pelas janelas de caixilhos. Enquanto comiam mingau de aveia e ovos com bacon, Harry e Rony contaram a Hermione a conversa constrangedora que tinham tido com Hagrid, na véspera.
— Mas ele não pode realmente pensar que continuaríamos a cursar Trato das Criaturas Mágicas! — comentou ela perturbada — Quero dizer, quando foi que algum de nós manifestou... sabe... algum entusiasmo?
— É isso aí, né? — disse Rony, engolindo um ovo frito inteiro — Nós fazíamos o maior esforço nas aulas porque gostamos do Hagrid. Mas ele achou que gostávamos daquela matéria idiota. Será que alguém vai continuar até o N.I.E.M.?
Nem Harry nem Hermione responderam, não carecia. Sabiam perfeitamente que ninguém de sua turma iria querer continuar em Trato das Criaturas Mágicas. Evitaram olhar para Hagrid e retribuíram seu aceno cordial sem animação quando o amigo deixou a mesa dos professores dez minutos depois.
Terminada a refeição, eles continuaram sentados aguardando a Profª. McGonagall descer da Mesa dos Professores. Este ano a distribuição dos horários estava mais complicada do que o normal, porque ela precisava primeiro confirmar que cada aluno tivesse obtido as notas mínimas nos N.O.M.s para continuar as matérias escolhidas nos N.I.E.M.s.
Hermione foi prontamente liberada para continuar Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas, Transfiguração, Herbologia, Aritmancia, Runas Antigas e Poções e, sem demora, partiu correndo para assistir ao primeiro período de Runas Antigas.
Os horários de Neville exigiram mais tempo para destrinchar, seu rosto redondo expressava ansiedade enquanto a professora examinava o seu pedido e consultava os resultados dos N.O.M.s.
— Herbologia pode — disse ela — A Profª. Sprout ficará encantada de ver você retomar a matéria com um “Ótimo” no N.O.M. E qualificou-se para Defesa contra as Artes das Trevas com um “Excede Expectativas”. O problema está em Transfiguração. Sinto muito, Longbottom, mas um “Aceitável” não é suficiente para continuar no nível de N.I.E.M. Acho que você não conseguiria dar conta dos deveres do curso.
Neville baixou a cabeça. A professora fitou-o através dos óculos quadrados.
— Mas por que quer continuar em Transfiguração? Você nunca me deu a impressão de gostar tanto assim da matéria.
Neville fez uma cara infeliz e murmurou alguma coisa como “minha avó quer”.
— Hum — bufou a professora — Já está mais do que na hora de sua avó aprender a ter orgulho do neto que tem, em vez do neto que gostaria de ter, particularmente depois do que aconteceu no Ministério.
Neville corou fortemente e piscou atordoado, a Profª. McGonagall nunca lhe fizera um elogio antes.
— Lamento, Longbottom, não posso aceitá-lo na minha classe de N.I.E.M. Mas vejo que você recebeu um “Excede Expectativas” em Feitiços; por que não tenta um N.I.E.M. em Feitiços?
— Minha avó acha que Feitiços é uma opção muito fácil — murmurou Neville.
— Matricule-se em Feitiços — disse a professora — E vou mandar uma palavrinha a Augusta lembrando que só porque ela não passou no N.O.M. de Feitiços... não significa que a matéria seja inútil.
Com um leve sorriso ao ver a expressão de incrédula satisfação no rosto de Neville, McGonagall bateu com a ponta da varinha em um formulário em branco e entregou-o ao garoto, já impresso, com os detalhes de suas novas matérias.
Em seguida, ela se voltou para Parvati Patil, cuja primeira pergunta foi se Firenze, aquele centauro bonitão, continuaria a ensinar Adivinhação.
— Ele e a Profª. Trelawney vão dividir as turmas este ano — respondeu a Profª. McGonagall, com um quê de desaprovação na voz, todos sabiam que ela desprezava a matéria — O sexto ano ficará por conta da Profª. Trelawney.
Parvati saiu para a aula de Adivinhação cinco minutos depois, parecendo um pouco desconcertada.
— Então, Potter, Potter... — disse a professora, consultando suas anotações ao se dirigir a Harry — Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas, Herbologia, Transfiguração... tudo bem. E devo dizer que fiquei satisfeita com a sua nota na minha matéria, Potter, muito satisfeita. Mas por que não pediu para continuar em Poções? Pensei que sua ambição fosse se tornar auror.
— Era, mas a senhora me disse que eu precisava de um “Ótimo” no meu N.O.M.
— E realmente precisava quando o Prof. Snape ensinava a matéria. O Prof. Slughorn, porém, fica perfeitamente feliz em aceitar no N.I.E.M alunos que tenham obtido “Excede Expectativas” no N.O.M. Você quer continuar em Poções?
— Quero — respondeu Harry — Mas não comprei os livros nem os ingredientes, nem nada...
— Tenho certeza de que o Prof. Slughorn poderá lhe emprestar o material. Muito bem, Potter, aqui estão os seus horários. Ah, sim, vinte aspirantes já se inscreveram para a equipe de quadribol da Grifinória. Passarei a lista a você por esses dias, e poderá marcar os testes quando quiser.
Alguns minutos mais tarde, Rony foi liberado para cursar as mesmas matérias que Harry, e os dois deixaram a mesa juntos.
— Veja — exclamou Rony muito feliz, conferindo o seu horário — Temos um período livre agora... e outro depois do recreio... e depois do almoço... excelente!
Os dois voltaram à Sala Comunal, que estava vazia exceto por meia dúzia de alunos do sétimo ano, inclusive Cátia Bell, a única jogadora que restava da equipe original de quadribol da Grifinória, para a qual Harry entrara no primeiro ano.
— Achei que você ganharia isso, parabéns — disse a garota, apontando para a insígnia de capitão no peito de Harry — Me avise quando começarem os testes!
— Não seja retardada — respondeu Harry — Você não precisa de testes, há cinco anos que vejo você jogar...
— Você não pode começar assim — alertou a garota — Pelo que sei, tem gente melhor que eu fora do time. Boas equipes já acabaram mal porque os capitães simplesmente continuaram a jogar com caras conhecidos, ou deixaram os amigos entrarem...
Rony pareceu meio constrangido, e começou a jogar com o Frisbee que Hermione confiscara do aluno do quarto ano. O brinquedo voou pela Sala Comunal, rosnando e tentando morder a tapeçaria. Bichento acompanhou-o com seus olhos amarelos e bufou quando o Frisbee se aproximou demais.
Uma hora depois eles deixaram, relutantes, a sala ensolarada para assistir à aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, quatro andares abaixo. Hermione já estava na fila, carregando uma braçada de pesados livros, e com um ar de quem fora usado.
— A professora de Runas nos passou tantos deveres! — exclamou ansiosa, quando Harry e Rony se reuniram a ela — Um trabalho de quase quatro metros, duas traduções, e preciso ler tudo isto para Quarta-Feira.
— Que pena — bocejou Rony.
— Espere para ver — disse ela com raiva — Aposto como o Snape também vai passar um montão.
Quando ia dizendo isso, a porta da sala abriu e o professor saiu para o corredor, o rosto macilento emoldurado pelas eternas cortinas de cabelos pretos oleosos. A fila silenciou imediatamente.
— Para dentro — disse ele.
Harry olhou a toda volta quando entraram.
Snape já impusera sua personalidade à sala, estava mais sombria do que antes, pois ele fechara as cortinas e a iluminara com velas. Novos quadros adornavam as paredes, vários deles mostravam pessoas sofrendo com pavorosos ferimentos ou partes do corpo estranhamente torcidas. Ninguém falou enquanto os alunos se acomodavam, admirando os sinistros quadros escuros.
— Não pedi a vocês para apanharem seus livros — começou Snape, fechando a porta e virando-se para encarar a turma de sua escrivaninha.
Hermione devolveu depressa à mochila o seu exemplar de Frente ao Irreconhecível e guardou-a embaixo da cadeira.
— Quero conversar com os senhores e exijo sua total e absoluta atenção.
Seus olhos negros percorreram os rostos voltados para ele, demorando-se uma fração de segundo a mais no rosto de Harry.
— Creio que já tiveram cinco professores nesta matéria.
Você crê... como se não tivesse acompanhado todos virem e irem, Snape, na esperança de ser o próximo, pensou Harry com desprezo.
— Naturalmente, cada um teve o seu método e suas prioridades. Diante dessa confusão, é uma surpresa que tantos tenham obtido nota para passar nesta matéria. E surpresa maior será se todos conseguirem dar conta dos deveres do N.I.E.M., que serão bem mais complexos.
Snape começou a andar em volta da sala, falando agora mais baixo, os alunos esticaram o pescoço para conseguir vê-lo.
— As Artes das Trevas são muito variadas, inconstantes e eternas. Combatê-las é como combater um monstro de muitas cabeças, no qual, cada vez que cortamos uma cabeça, surge outra ainda mais feroz e inteligente do que a anterior. Vocês estão combatendo algo que é instável, mutável e indestrutível.
Harry encarou Snape. Sem dúvida, uma coisa era respeitar as Artes das Trevas como um inimigo perigoso, outra era se referir a elas como Snape estava fazendo, acariciando-as amorosamente com a voz.
— Suas defesas — disse Snape alteando a voz — Portanto, têm de ser flexíveis e inventivas como as Artes que vocês querem neutralizar. Esses quadros — ele apontou alguns à medida que passava — São uma boa representação do que acontece com quem, por exemplo, sofre a Maldição Cruciatus...
Ele fez um gesto indicando uma bruxa que visivelmente urrava de dor.
— Sente o Beijo do Dementador...
Um bruxo de olhos vidrados encolhido contra uma parede
— Ou provoca a agressão de um Inferi...
Uma massa sangrenta no chão.
— Então já foi avistado algum Inferi? — perguntou Parvati Patil com voz aguda — Então é oficial, ele está usando Inferi?
— O Lorde das Trevas usou Inferi no passado — respondeu Snape — O que significa que seria sensato presumir que pode tornar a usá-los. Agora...
Ele recomeçou a andar pelo outro lado da sala em direção à própria escrivaninha, suas vestes escuras enfunando a cada passo e, mais uma vez, a classe acompanhou-o com os olhos.
—... creio que os senhores são absolutamente novatos no uso de Feitiços Não-Verbais. Qual é a vantagem de um Feitiço Não-Verbal?
A mão de Hermione se ergueu no ar.
Snape aguardou calmamente olhando os outros alunos, certificando-se de que não tinha outra escolha, antes de dizer secamente:
— Muito bem... Srta. Granger?
— O adversário não pode prever que tipo de feitiço a pessoa vai realizar — respondeu Hermione — O que lhe dá uma fração de segundo de vantagem.
— Uma resposta decorada quase palavra por palavra do Livro Padrão de Feitiços, 6ª série — comentou Snape com menosprezo, no canto Malfoy riu — Mas correta em sua essência. Sim, aqueles que se aperfeiçoam e aprendem a usar a magia sem proferir os encantamentos, passam a contar com o elemento surpresa em sua arte. Nem todos os bruxos conseguem fazer isso, é claro, é uma questão de concentração e poder mental que alguns... — seu olhar recaiu demoradamente em Harry — Não possuem.
Harry sabia que o professor estava pensando nas desastrosas aulas de Oclumência do ano anterior. Recusou-se a baixar os olhos e encarou Snape até este desviar o olhar.
— Os senhores agora vão se dividir em pares. Um parceiro tentará enfeitiçar o outro sem falar. O outro vai tentar repelir o feitiço em igual silêncio. Comecem.
Embora Snape não soubesse, no ano anterior, Harry ensinara pelo menos à metade dos alunos (os que tinham participado da AD) como executar um Feitiço Escudo. Nenhum deles, porém, jamais realizara o feitiço sem falar. Seguiu-se uma boa dose de enrolação, muitos alunos simplesmente murmuravam o encantamento em vez de dizê-lo em voz alta. Como era de esperar, aos dez minutos de aula, Hermione conseguiu repelir o Feitiço das Pernas Bambas, murmurado por Neville, sem enunciar uma única palavra, um feito que certamente teria rendido vinte pontos à Grifinória na aula de qualquer professor justo, pensou Harry com amargura, mas Snape ignorou-o.
Passeava imponente enquanto os alunos praticavam, parecendo mais do que nunca um morcego exageradamente grande, detendo-se a observar Harry e Rony se esfalfarem para cumprir a tarefa.
Rony, que devia enfeitiçar Harry, tinha o rosto púrpura, os lábios fortemente comprimidos para não cair na tentação de murmurar o encantamento. Harry mantinha a varinha erguida, aguardando, aflito, para repelir um feitiço que provavelmente jamais viria.
— Patético, Weasley — comentou Snape depois de algum tempo — Deixe-me mostrar a você...
Snape virou a varinha para Harry tão ligeiro que este reagiu instintivamente; esqueceu a recomendação de não pronunciar o feitiço e gritou: “Protego!”
Seu Feitiço Escudo foi tão forte que o professor se desequilibrou e bateu em uma carteira. A classe inteira tinha virado a cabeça e agora observava Snape se levantar de cara amarrada.
— Você está lembrado que eu disse para praticar feitiços não-verbais, Potter?
— Sim — respondeu Harry, inflexivelmente.
— Sim, senhor.
— Não é preciso me chamar de “senhor”, professor.
As palavras escaparam de sua boca antes que soubesse o que estava dizendo. Vários alunos ofegaram, inclusive Hermione. Às costas de Snape, no entanto, Rony, Dino e Simas riram aprovadoramente.
— Detenção, Sábado à noite, meu escritório — disse Snape — Não admito atrevimento de ninguém, Potter... nem mesmo do Eleito.
— Foi genial, Harry! — disse Rony às gargalhadas, quando já estavam bem longe, a caminho do recreio, pouco depois.
— Você realmente não devia ter dito aquilo — comentou Hermione, franzindo a testa para Harry — Por que disse?
— Ele tentou me lançar um feitiço, caso você não tenha reparado! — irritou-se Harry — Me enchi disso nas aulas de Oclumência! Por que ele não usa um porquinho-da-índia para variar? Afinal, que é que o Dumbledore está querendo para deixar o Snape ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas? Você ouviu bem o que ele disse? Ele adora essas artes! Todo aquele papo de instável, indestrutível...
— Bem — contestou Hermione — Achei que lembrava um pouco você falando.
— Eu?
— É, quando estava nos contando como era enfrentar Voldemort. Você disse que não era uma questão de decorar um monte de feitiços, disse que era apenas você e seu cérebro e sua coragem... bem, não era isso que Snape estava dizendo? Que a arte se resumia em ter bravura e agilidade mental?
Harry se sentiu tão desarmado ante a amiga que achava que suas palavras mereciam ser memorizadas como as do Livro Padrão de Feitiços que não discutiu.
— Harry! Ei, Harry!
Harry olhou para os lados, Jucá Sloper, um dos batedores da equipe de quadribol da Grifinória no ano anterior, vinha correndo em sua direção com um pergaminho na mão.
— Para você — ofegou Sloper — Escute, soube que é o novo capitão. Quando vai fazer os testes?
— Ainda não tenho certeza — respondeu Harry, pensando que Sloper teria muita sorte se voltasse à equipe — Aviso você.
— Ah, certo. Eu tinha esperança de que fosse neste fim de semana...
Mas Harry não estava escutando, acabara de reconhecer a caligrafia fina e inclinada no pergaminho. Deixou Sloper no meio da frase e se afastou depressa com Rony e Hermione, desenrolando o pergaminho enquanto andava.

Caro Harry,
Gostaria de começar as nossas aulas particulares no Sábado. Por favor, venha ao meu escritório às oito horas da noite. Espero que esteja apreciando o seu primeiro dia de escola.
Atenciosamente.

Alvo Dumbledore

P.S. Gosto de Acidinhas.

— Ele gosta de Acidinhas? — estranhou Rony, que leu o bilhete por cima do ombro do amigo, perplexo.
— É a senha para passar pela gárgula na porta da sala dele — respondeu Harry em voz baixa — Ah! Snape não vai gostar... não vou poder cumprir a detenção!
Ele, Rony e Hermione passaram todo o recreio especulando o que Dumbledore iria ensinar. Rony achou mais provável que fossem feitiços e azarações desconhecidos dos Comensais da Morte. Hermione argumentou que isso era ilegal, e achou mais provável que Dumbledore quisesse ensinar a Harry magia defensiva avançada.
Terminado o recreio, ela seguiu para a aula de Aritmancia enquanto Harry e Rony voltavam à Sala Comunal, onde, de má vontade, começaram a fazer os deveres passados por Snape. Eram tão complexos que ainda não tinham terminado quando Hermione foi encontrá-los para o período livre depois do almoço (embora ela tivesse ajudado a acelerar bastante o processo). Mal concluíram os deveres, tocou a sineta para a aula dupla de Poções e eles fizeram o já conhecido trajeto para a sala na masmorra que, durante tanto tempo, pertencera a Snape.
Quando chegaram ao corredor, viram que apenas uns doze alunos haviam continuado no nível de N.I.E.M. Crabbe e Goyle evidentemente não tinham obtido a nota exigida no N.O.M., mas quatro alunos da Sonserina tinham passado, inclusive Malfoy. Aguardavam também quatro alunos da Corvinal e um da Lufa-Lufa, Ernesto Macmillan, de quem Harry gostava, apesar do seu jeito pomposo.
— Harry — saudou Ernesto, auspiciosamente, estendendo a mão quando ele se aproximou — Não tive chance de falar com você hoje de manhã na Defesa Contra as Artes das Trevas. Achei uma boa aula, mas Feitiços Escudo é, obviamente, uma velharia para veteranos da AD como nós... e vocês como vão, Rony... Hermione?
Mal os dois responderam “ótimo”, a porta da masmorra se abriu e a pança de Slughorn o precedeu no corredor. Quando entraram na sala, seus enormes bigodes de leão-marinho se curvaram nos cantos da boca sorridente e ele cumprimentou Harry e Zabini com particular entusiasmo.
A masmorra estava, como nunca antes, impregnada de vapores e odores estranhos. Harry, Rony e Hermione aspiraram, interessados, ao passar por grandes caldeirões borbulhantes. Os quatro alunos da Sonserina ocuparam juntos uma das mesas, o mesmo tendo feito os da Corvinal. Sobraram, assim, Harry, Rony e Hermione para dividir a terceira mesa com Ernesto.
Escolheram a mais próxima a um caldeirão dourado que exalava um dos aromas mais fascinantes que Harry já sentira na vida: lembrava ao mesmo tempo torta de caramelo, resina de madeira em cabo de vassoura e algo floral que ele pensava ter sentido na Toca. Viu que respirava muito lenta e profundamente e que a fumaça da poção o satisfazia como uma bebida. Ele foi arrebatado por um grande contentamento, sorriu para Rony à sua frente, e o amigo retribuiu indolentemente o seu sorriso.
— Ora muito bem, ora muito bem, ora muito bem — começou Slughorn, cuja silhueta maciça parecia tremeluzir em meio aos variados vapores — Apanhem as balanças e os kits de poções e não esqueçam o manual de Estudos Avançados no Preparo de Poções...
— Senhor — disse Harry, erguendo a mão.
— Harry, meu rapaz?
— Não tenho livro, nem balança nem nada... o Rony também não... não sabíamos que poderíamos fazer o N.I.E.M., o senhor entende...
— Ah, sim, de fato a Profª. McGonagall me falou... não se preocupe, meu caro rapaz, não se preocupe. Use os ingredientes do armário hoje, e estou certo de que podemos lhe emprestar uma balança, e temos um estoque de livros usados, eles servirão até que você possa escrever para a Floreios e Borrões...
Slughorn foi até um armário de canto e instantes depois virou-se com dois exemplares muito gastos de Estudos Avançados no Preparo de Poções, de Libatius Borage, e entregou a Harry e Rony, juntamente com duas balanças oxidadas.
— Ora, muito bem — disse voltando para a frente da turma e enchendo o peito, já bastante volumoso, o que por um triz não fez os botões do seu colete saltarem — Preparei algumas poções para vocês verem, apenas pelo interesse que encerram, entendem? São o tipo de coisa que deverão ser capazes de fazer ao fim dos N.I.E.M.s. Já devem ter ouvido falar de algumas, ainda que não saibam prepará-las. Alguém pode me dizer qual é esta aqui?
O professor indicou o caldeirão mais próximo à mesa da Sonserina. Harry levantou ligeiramente da cadeira e viu algo que lhe pareceu água pura em ebulição. A mão bem treinada de Hermione subiu antes de qualquer outra, Slughorn apontou para ela.
— É Veritaserum, uma poção sem cor nem odor que força quem a bebe a dizer a verdade — respondeu Hermione.
— Muito bem, muito bem! — elogiou o professor, feliz — Agora — continuou, apontando para o caldeirão mais próximo da mesa da Corvinal — Essa outra é bem conhecida... e também apareceu em alguns folhetos do Ministério ultimamente... quem sabe...?
A mão de Hermione foi novamente a mais rápida.
— É a Poção Polissuco, senhor.
Harry também reconheceu a substância com aspecto de lama que fervia lentamente no segundo caldeirão, mas não se aborreceu que Hermione recebesse o crédito por responder à pergunta, afinal, fora ela quem conseguira preparar a poção, quando estavam no segundo ano.
— Excelente, excelente! Agora, esta outra aqui... sim, minha cara? — interrompeu-se Slughorn, parecendo ligeiramente tonto ao ver a mão de Hermione perfurar mais uma vez o ar.
— É Amortentia!
— De fato. Parece quase tolice perguntar — comentou o professor muito impressionado — Mas presumo que você saiba que efeito produz, não?
— É a poção de amor mais poderosa do mundo! — disse a garota.
— Certo! E você a reconheceu, presumo, pelo brilho perolado?
— E o vapor subindo em espirais características — respondeu Hermione animada — E dizem que tem um cheiro diferente para cada um de nós, de acordo com o que nos atrai, e eu estou sentindo cheiro de grama recém-cortada e pergaminho e...
Mas ela corou ligeiramente e não completou a frase.
— Posso saber o seu nome, minha cara? — perguntou Slughorn, não dando atenção ao constrangimento de Hermione.
— Hermione Granger, senhor.
— Granger? Granger? Será que você é parenta de Hector Dagworth-Granger, que fundou a Mui Extraordinária Sociedade dos Preparadores de Poções?
— Não. Creio que não, senhor. Nasci trouxa, sabe.
Harry viu Malfoy se inclinar para perto de Nott e cochichar alguma coisa, os dois riram, mas Slughorn não se mostrou desapontado, pelo contrário, abriu um largo sorriso e olhou de Hermione para Harry, sentado ao seu lado.
— Oho! “Uma das minhas melhores amigas é nascida trouxa e é a melhor da nossa série!” Presumo que seja esta a amiga de quem me falou, Harry!
— É, sim, senhor.
— Ora muito bem, vinte pontos muito merecidos para a Grifinória, Srta. Granger — exclamou Slughorn cordialmente.
Malfoy tinha no rosto a mesma expressão do dia em que Hermione lhe dera um soco na cara. A garota virou-se para Harry radiante e sussurrou:
— Você realmente disse a ele que sou a melhor da série? Ah, Harry!
— Ora, grande coisa! — cochichou Rony que, por alguma razão, parecia aborrecido — Você é a melhor da série: eu teria dito isso se ele tivesse me perguntado!
Hermione sorriu, mas pediu silêncio com um gesto para poderem ouvir o que Slughorn estava dizendo. Rony pareceu um pouco desapontado.
— A Amortentia na realidade não gera o amor, é claro. É impossível produzir ou imitar o amor. Não, a poção apenas causa uma forte paixonite ou obsessão. Provavelmente é a poção mais poderosa e perigosa nesta sala. Ah, sim — confirmou solenemente com a cabeça para Malfoy e Nott, que riam descrentes — Quando vocês tiverem visto tanto da vida quanto eu, não subestimarão o poder do amor obsessivo... e agora, está na hora de começarmos a trabalhar.
— Professor, o senhor não nos disse o que tem neste aqui — lembrou Ernesto Macmillan, apontando para um pequeno caldeirão preto em cima da mesa de Slughorn.
A poção espirrava vivamente para todo o lado, era cor de ouro derretido, e dela saltavam enormes gotas como peixinhos à superfície, embora nem uma só partícula extravasasse.
— Oho — exclamou novamente o professor.
Harry tinha certeza de que o professor não esquecera a poção, mas esperou que lhe perguntassem para produzir um efeito teatral.
— Sim. Aquela. Bem, aquela ali, senhoras e senhores, é uma poçãozinha curiosa chamada Felix Felicis. E suponho — e ele se voltou sorridente para Hermione, que deixara escapar uma exclamação audível — Que a senhorita saiba o que faz a Felix Felicis, Srta. Granger?
— É sorte líquida — respondeu Hermione excitada — Faz a pessoa ter sorte!
A classe inteira pareceu sentar mais aprumada. Agora Harry só conseguia ver os cabelos louros e sedosos de Malfoy, porque finalmente ele estava prestando total atenção ao professor.
— Correto, mais dez pontos para a Grifinória. É uma poçãozinha engraçada a Felix Felicis — explicou Slughorn — Dificílima de fazer e catastrófica se errarmos. Contudo, se a prepararmos corretamente, como no caso, vocês irão descobrir que os seus esforços serão recompensados... pelo menos até passar o efeito.
— Por que as pessoas não a bebem o tempo todo, senhor? — perguntou Terêncio Boot, pressuroso.
— Porque ingerida em excesso causa tonteiras, irresponsabilidade e perigoso excesso de confiança. Tudo que é bom demais, sabe... extremamente tóxica em quantidade. Mas tomada com parcimônia e muito ocasionalmente...
— O senhor já a experimentou? — perguntou Miguel Corner muito interessado.
— Duas vezes na vida. Uma aos vinte e quatro anos e outra aos cinqüenta e sete. Duas colheres de sopa ao café da manhã. Dois dias perfeitos.
Ele deixou o olhar se perder na distância sonhadoramente.
Se estava representando ou não, pensou Harry, O efeito era bom.
— E a poção — disse Slughorn aparentemente voltando à terra — É o que vou oferecer de prêmio nesta aula.
Houve um grande silêncio em que cada borbulha e gargarejo das poções na sala pareceram se multiplicar dez vezes.
— Um frasquinho de Felix Felicis — explicou Slughorn, tirando do bolso um minúsculo vidro com rolha e mostrando-o a todos — Suficiente para doze horas de sorte. Do amanhecer ao anoitecer, vocês terão sorte em tudo que tentarem. Agora, preciso avisar que a Felix Felicis é uma substância proibida nas competições oficiais, eventos esportivos, por exemplo, exames e eleições. Por isso quem a ganhar deve usá-la somente em um dia comum... e observar como esse dia comum se torna um dia extraordinário! Então...
Disse o professor repentinamente enérgico.
— Como irão ganhar esse prêmio fabuloso? Bem, abrindo a página dez de Estudos Avançados no Preparo de Poções. Ainda nos resta pouco mais de uma hora, que deve ser suficiente para vocês fazerem uma tentativa válida de preparar a Poção do Morto-Vivo. Sei que é mais complexa do que qualquer outra que tenham tentado antes e não espero que ninguém faça uma poção perfeita. Mas aquele que a fizer melhor ganhará a pequena Felix aqui. Podem começar!
Houve muito barulho quando os alunos arrastaram objetos e puxaram seus caldeirões para perto, e batidas estridentes à medida que acrescentavam pesos aos pratos das balanças, mas ninguém falou. A concentração na sala era quase tangível. Harry viu Malfoy folheando febrilmente seu exemplar de Estudos Avançados no Preparo de Poções. Não podia ficar mais evidente que ele realmente desejava ganhar aquele dia de sorte. Harry debruçou-se ligeiro para o exemplar esfrangalhado do livro que Slughorn lhe emprestara.
Para seu aborrecimento, viu que o antigo dono escrevera em todas as páginas, de tal modo que as margens estavam tão pretas quanto as partes impressas. Ele se curvou mais para decifrar os ingredientes (até mesmo ali o antigo dono fizera anotações e riscara palavras) e correu em seguida ao armário para procurar o que precisava. Ao voltar depressa ao seu caldeirão, viu que Malfoy estava picando raízes de valeriana o mais rápido que podia.
Todos olhavam para os lados a ver o que o resto da turma fazia. essa era ao mesmo tempo a vantagem e a desvantagem na aula de Poções: a dificuldade de trabalhar sozinho.
Em dez minutos, a sala toda se encheu de fumaça azulada. Hermione, naturalmente, parecia ter ido mais longe. Sua poção apresentava-se lisa e cor de groselha como o livro dizia ser o ideal ao chegar à metade do processo.
Ao terminar de picar as raízes, Harry debruçou-se outra vez sobre o livro. Era realmente muito irritante tentar decifrar todos os rabiscos bobos do antigo dono, que, por alguma razão, implicara com a instrução para cortar a Vagem Soporífera e anotara uma alternativa:
Amassar com o lado plano da adaga de prata faz escorrer mais seiva do que cortar.
— Professor, acho que o senhor conheceu o meu avô, Abraxas Malfoy.
Harry levantou a cabeça, Slughorn ia passando pela mesa da Sonserina.
— Conheci — confirmou o professor, sem olhar para Malfoy — Lamentei quando soube do seu falecimento, embora não tenha sido inesperado, Varíola de Dragão na idade dele...
Quando Slughorn se afastou, Harry voltou a atenção para o seu caldeirão, rindo. Compreendeu que Malfoy esperara ser tratado como ele ou Zabini, talvez até receber um tratamento privilegiado do tipo que Snape normalmente lhe dispensara. Pelo visto, Malfoy teria de depender apenas do seu talento para ganhar o frasco de Felix Felicis.
A Vagem Soporífera mostrava-se difícil de cortar. Harry virou-se para Hermione.
— Pode me emprestar a sua faca de prata?
Ela concordou impaciente, sem tirar os olhos de sua poção, que continuava muito púrpura, embora o livro dissesse que já deveria estar lilás-clara.
Harry amassou sua vagem com o lado plano da adaga. Para sua surpresa, a planta imediatamente exsudou tanta seiva que ele se admirou que uma vagem seca pudesse conter tanta umidade. Ele a raspou depressa para dentro do caldeirão e constatou, espantado, que a poção imediatamente adquiriu o exato tom lilás descrito no livro.
O seu aborrecimento com o antigo dono desapareceu na hora, Harry agora fazia força para ler a linha seguinte das instruções. Segundo o livro, ele precisava mexer o caldeirão no sentido anti-horário até que a poção ficasse clara como água. Mas, segundo a anotação do antigo dono, ele deveria dar uma mexida no sentido horário para cada sete no sentido anti-horário. Será que o dono anterior estaria mais uma vez certo?
Harry mexeu a poção no sentido anti-horário, prendeu a respiração e deu a mexida no sentido horário. O efeito foi imediato. A porção tornou-se rosa muito claro.
— Como é que você está conseguindo isso? — quis saber Hermione, o rosto muito corado e os cabelos cada vez mais volumosos com o vapor que subia do caldeirão, sua poção continuava decididamente púrpura.
— Dê uma mexida no sentido horário...
— Não, não, o livro diz anti-horário! — retorquiu ela.
Harry encolheu os ombros e continuou o que estava fazendo. Sete mexidas no sentido anti-horário, uma no sentido horário, pausa... sete mexidas no sentido anti-horário, uma no sentido horário...
Do lado oposto da mesa, Rony xingava baixinho sem parar, a poção dele parecia alcaçuz líquido. Harry olhou para os lados. Aparentemente, nenhuma outra poção ficara clara como a dele. Sentiu-se eufórico, coisa que jamais lhe acontecera naquela masmorra.
— E acabou-se... o tempo! — anunciou Slughorn — Por favor, parem de mexer!
O professor caminhou lentamente entre as mesas, examinando o conteúdo dos caldeirões. Não fez comentários, mas ocasionalmente mexia ou cheirava uma das poções. Por fim, chegou à mesa onde estavam Harry, Rony, Hermione e Ernesto. Sorriu ao ver a substância densa e escura no caldeirão de Rony. Passou rapidamente pela preparação de Ernesto. Deu um aceno de aprovação à de Hermione. Então viu a de Harry, e uma expressão de prazer e incredulidade espalhou-se pelo seu rosto.
— Sem dúvida, o vencedor! — exclamou para a masmorra — Excelente, Harry! Deus do céu, é inegável que você herdou o talento de sua mãe que tinha uma mão ótima para Poções, a Lílian. Tome aqui, então, tome aqui: um frasco de Felix Felicis, conforme prometi, e use-o bem!
Harry guardou o frasquinho de líquido dourado no bolso interno das vestes, sentindo uma estranha mescla de prazer ao ver os olhares furiosos dos alunos da Sonserina e remorso frente à expressão de desapontamento de Hermione. Rony estava simplesmente estarrecido.
— Como foi que você fez aquilo? — sussurrou para o amigo, ao deixarem a masmorra.
— Tive sorte, presumo — respondeu Harry preocupado que Malfoy os ouvisse.
Uma vez, porém, refestelados à mesa da Grifinória para jantar, ele se sentiu seguro para contar aos amigos. O rosto de Hermione foi endurecendo a cada palavra que ele dizia.
— Suponho que você esteja achando que colei? — concluiu ele, incomodado com sua expressão.
— Bem, não foi exatamente trabalho seu, não é? — disse tensa.
— Ele apenas seguiu instruções diferentes das nossas — defendeu-o Rony — Poderia ter sido uma catástrofe, não é? Mas ele arriscou e se deu bem — ele suspirou — Slughorn bem podia ter dado aquele livro para mim, mas não, me deu um em que ninguém escreveu nada. Vomitou, pela aparência da página cinquenta e dois, mas...
— Calma aí — disse uma voz ao ouvido esquerdo de Harry, que sentiu a repentina presença do aroma floral que reconhecera na masmorra de Slughorn. Ele se virou e viu Gina ao lado deles — Será que ouvi direito? Você andou seguindo ordens que alguém escreveu em um livro, Harry?
Ela estava assustada e zangada.
Harry entendeu imediatamente o que passava pela cabeça da amiga.
— Não foi nada importante — tranquilizou-a, baixando a voz — Sabe, não foi como no caso do Diário de Riddle. Era só um livro-texto velho em que alguém fez anotações.
— Mas você seguiu o que estava escrito?
— Só experimentei umas dicas escritas à margem, verdade, Gina, não tem nada suspeito...
— Gina tem razão — disse Hermione, empertigando-se instantaneamente — Temos de verificar se não há nada esquisito com o livro. Quero dizer, todas aquelas instruções engraçadas, quem sabe?
— Ei! — exclamou Harry indignado, ao ver Hermione tirar o exemplar de Estudos Avançados no Preparo de Poções da mochila dele e erguer a varinha.
— Specialis revelio! — ordenou ela, dando uma pancadinha rápida na capa do livro.
Nada aconteceu.
O livro continuou imóvel, apenas velho, sujo e cheio de orelhas.
— Terminou? — perguntou Harry irritado — Ou quer esperar para ver se o livro dá umas cambalhotas?
— Parece normal — concluiu Hermione, ainda mirando o livro desconfiada — Quero dizer, parece que é realmente... um simples livro.
— Que bom. Então posso guardá-lo — concluiu Harry, apanhando na mesa o livro, que escorregou de sua mão e caiu aberto no chão.
Ninguém mais estava olhando.
Harry se abaixou para recolher o livro e, ao fazer isto, viu uma coisa escrita ao pé da quarta capa, na mesma caligrafia pequena e apertada que as instruções que tinham obtido para ele o frasco de Felix Felicis, agora guardado no malão em seu quarto, muito bem escondido dentro de um par de meias.
Este livro pertence ao Príncipe Mestiço.








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