sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Conde de Monte Cristo - Capitulo 1


O CONDE DE MONTE CRISTO



U
m romance do Destino. Vítima e vingador, Edmond Dantés, o personagem central, encarna ele próprio, o Destino. A história de um homem bom a quem roubam a liberdade e o amor. No cativeiro trava amizade com o Abade Faria, que lhe oferece ajuda para a fuga. Um homem que regressará coberto de riquezas, vingador impiedoso, para além de toda a lei humana ou divina.

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I

MARSELHA — A CHEGADA




E
m 24 de Fevereiro de 1815, o vigia de Nossa Senhora da Guarda assinalou o três mastros Pharaon, vindo de Esmirna, Trieste e Nápoles.
Como de costume, um piloto costeiro largou imediatamente do porto, passou rente ao Castelo d’If e abordou o navio entre o cabo de Morgion e a Ilha de Rion. Também como de costume, a plataforma do Forte de S. João encheu-se imediatamente de curiosos. Porque em Marselha a chegada de um navio era sempre um grande acontecimento, sobretudo quando esse navio, como no caso do Pharaon, fora construído, aparelhado e estivado nos estaleiros da velha Phocée e pertencia a um armador da cidade.
Entretanto, o navio aproximava-se. Transpusera sem dificuldade o estreito que alguma erupção vulcânica abrira entre a Ilha de Calasareigne e a Ilha de Jaros, deixara para trás Pomêgue e avançava com os seus três mastros, a sua bojarrona e a sua bergantina, mas tão devagar e com um ar tão triste que os curiosos, com esse instinto que pressente a desgraça, perguntavam a si mesmos que acidente teria acontecido a bordo. No entanto, os entendidos em navegação reconheciam que, se houvera algum acidente, não se dera com o próprio navio, pois este aproximava-se com todas as condições de um navio perfeitamente governado, a âncora prestes a ser largada e os cabos gurupés soltos; e junto do piloto, que se preparava para dirigir o Pharaon através da entrada estreita do porto de Marselha, encontrava-se um jovem desembaraçado e de olhar atento, que vigiava cada movimento do navio e repetia cada ordem do piloto.
A vaga inquietação que pairava sobre a multidão atingira especialmente um dos espectadores da esplanada de S. João, e de tal modo que não lhe permitiu esperar a entrada do navio no porto. Saltou para um barquinho e mandou remar ao encontro do Pharaon, que alcançou defronte da enseada da Reserve.
Ao ver aproximar-se aquele homem, o jovem marinheiro deixou o seu lugar ao pé do piloto e, de chapéu na mão, encostou-se à amurada do navio.
Era um rapaz de dezoito a vinte anos, alto, esbelto, de belos olhos negros e cabelo cor de ébano. Havia em toda a sua pessoa esse ar calmo e resoluto característico dos homens habituados desde a infância a enfrentar o perigo.
— Ah, é você, Dantés! — gritou o homem do barco — Que aconteceu, a que se deve esse ar de tristeza que paira a bordo?
— Uma grande desgraça, Sr. Morrel! — respondeu o jovem — Uma grande desgraça, sobretudo para mim. Por alturas de Civita-Vecchia perdemos o nosso querido Comandante Leclére.
— E a carga? — perguntou vivamente o armador.
— Chegou a bom porto, Sr. Morrel, e creio que a esse respeito ficará contente; mas o pobre Comandante Leclére...
— Que lhe aconteceu? — perguntou o armador com ar visivelmente aliviado — Que aconteceu a esse digno comandante?
— Morreu.
— Caiu ao mar?
— Não, senhor. Morreu de febre cerebral, no meio de horríveis sofrimentos.
Depois, virando-se para os seus homens:
— Olá, eh! — gritou — Todos a postos para a ancoragem!
A tripulação obedeceu. Ato contínuo, os oito ou dez marinheiros que a compunham correram uns para as escotas, outros para os braços, outros para as adriças, outros para os cutelos e finalmente outros para as carregadeiras das velas.
O jovem marinheiro deitou um olhar breve ao começo da manobra e, vendo que as suas ordens estavam sendo executadas, tornou a virar-se para o seu interlocutor.
— E como aconteceu essa desgraça? — continuou o armador, retomando o diálogo no ponto em que o jovem marinheiro o deixara.
— Meu Deus, senhor, da forma mais imprevista! Depois de uma longa conversa com o comandante do porto, o Comandante Leclére deixou Nápoles muito agitado; passadas vinte e quatro horas a febre atacou-o; três dias depois estava morto... fizemos-lhe o funeral do costume e repousa, decentemente embrulhado no pano de uma maca, com um pelouro de trinta e seis aos pés e outro à cabeça, por alturas da Ilha de El Giglio. Trazemos, para entregar à viúva, a sua Cruz de Honra e a sua espada. Valia bem a pena — continuou o jovem, com um sorriso melancólico — Andar dez anos guerreando com os Ingleses para no fim morrer na cama como toda a gente.
— Pois sim, mas que quer, Sr. Edmond — prosseguiu o armador, que parecia cada vez mais conformado — Somos todos mortais e é preciso que os mais velhos dêem lugar aos novos. Sem isso não haveria progresso; e uma vez que me garante que a carga...
—... está em bom estado, Sr. Morrel, asseguro-lhe. Aconselho-o a não negociar esta viagem com menos de 25.000 francos de lucro.
Depois, como acabaram de ultrapassar a torre redonda:
— Preparar para colher as velas da gávea, o cutelo e a bergantina! — gritou o jovem marinheiro — Vamos!
A ordem foi executada quase com tanta rapidez como num navio de guerra.
— Amainar e colher tudo!
À última ordem todas as velas desceram e o navio avançou quase insensivelmente, impelido apenas pelo impulso que trazia.
— E agora se quiser subir, Sr. Morrel — disse Dantés ao ver a impaciência do armador — Aqui tem o seu guarda-livros, Sr. Danglars, que sai do seu camarote e que lhe dará todas as informações que desejar. Quanto a mim, tenho de vigiar a ancoragem e de pôr o navio de luto.
O armador não esperou que lho dissessem duas vezes. Agarrou o cabo que lhe deitou Dantés e, com uma destreza que faria inveja a um homem do mar, subiu os degraus fixados no bojo do navio, enquanto o jovem, reassumindo o seu lugar de imediato, cedia a palavra àquele que anunciara sob o nome de Danglars e que, saindo do seu camarote, avançava efetivamente ao encontro do armador.
O recém-chegado era um homem de vinte e cinco a vinte e seis anos, de expressão bastante sombria, obsequioso para com os superiores e insolente para com os subordinados. Por isso, além do cargo de guarda-livros, sempre motivo de repulsa para os marinheiros, era geralmente tão malvisto pela tripulação quanto, pelo contrário, Edmond Dantés era estimado.
— Então, Sr. Morrel — disse Danglars — Já sabe a desgraça que nos aconteceu, não é verdade?
— Sei, sei. Pobre Comandante Leclére! Era um excelente e digno homem!
— E um bom marinheiro, sobretudo, envelhecido entre o céu e o mar, como convém a um homem encarregado dos interesses de uma casa tão importante como a Casa Morrel & Filhos — respondeu Danglars.
— Mas — disse o armador, seguindo com a vista Dantés, que procurava o seu ancoradouro — Mas parece-me que não é necessário ser tão velho marinheiro como você diz, Danglars, para um homem saber do seu ofício. Aí está o nosso amigo Edmond que me parece saber do seu como um homem que não necessita de pedir conselhos a ninguém.
— Sim — perguntou Danglars, deitando a Dantés um olhar oblíquo onde brilhou um relâmpago de ódio — Sim, é novo e por isso julga-se capaz de tudo. Mal o comandante morreu assumiu o comando sem consultar ninguém e fez-nos perder dia e meio na Ilha de Elba, em vez de rumar diretamente para Marselha.
— Quanto a tomar o comando do navio — disse o armador — Era o seu dever como imediato; quanto a perder dia e meio na Ilha de Elba fez mal; a menos que o navio tenha tido necessidade de reparar alguma avaria.
— O navio estava tão bem como eu estou e como desejo que esteja o Sr. Morrel. Esse dia e meio foi perdido por puro capricho, pelo prazer de ir a terra e mais nada.
— Dantés — disse o armador virando-se para o rapaz — Chegue aqui.
— Perdão, senhor — respondeu Dantés — Irei dentro de um instante.
Depois, dirigindo-se à tripulação:
— Ancorar!
A âncora caiu imediatamente e a corrente deslizou com ruído. Apesar da presença do piloto, Dantés manteve-se no seu posto até esta última manobra estar concluída. Depois:
— Descer a flâmula a meio mastro, pôr a bandeira a meia haste e cruzar as vergas!
— Como vê — disse Danglars — Já se julga comandante, como acabo de lhe dizer.
— E o é de fato — disse o armador.
— Sim, caso tenha o seu acordo e o do seu sócio, Sr. Morrel.
— E porque lhe não daríamos o lugar? — replicou o armador — É novo, bem sei, mas parece-me capaz de desempenhar perfeitamente o cargo.
Passou uma nuvem pela testa de Danglars.
— Perdão, Sr. Morrel — disse Dantés, aproximando-se — Agora que o navio já está ancorado, estou às suas ordens. Chamou-me, não é verdade?
Danglars deu um passo atrás.
— Queria perguntar-lhe por que motivo se detiveram na Ilha de Elba — respondeu Morrel.
—Ignoro-o, senhor. Cumpri apenas a última ordem do Comandante Leclére, que ao morrer me entregou um pacote para o grande marechal Bertrand.
— Viu-o, portanto, Edmond?
— Quem?
— O grande marechal.
— Vi.
Morrel olhou à sua volta e puxou Dantés à parte.
— E como está o Imperador? — perguntou vivamente.
— Bem, tanto quanto me foi dado julgar pelos meus olhos.
— Quer dizer que também viu o Imperador?
— Entrou em casa do marechal quando me encontrava lá.
— E você falou-lhe?
— Bom, quem me falou foi ele, senhor — respondeu Dantés, sorrindo.
— E que lhe disse?
— Interrogou-me acerca do navio, de quando partia para Marselha, da rota seguida e da carga que transportava. Creio que se estivesse vazio e fosse meu a sua intenção seria comprá-lo. Mas disse-lhe que não passava de um simples imediato e que o navio pertencia à Casa Morrel & Filhos. “Ah! Ah!, conheço-a!”, exclamou, “Os Morrel’s são armadores de pais para filhos e houve um Morrel que serviu no mesmo regimento que eu quando estive de guarnição em Valence”.
— Por Deus, é verdade! — exclamou o armador, contentíssimo — Era Policar Morrel, meu tio, que foi capitão. Dantés, se disser ao meu tio que o Imperador se lembrou dele, verá como o velho resmungão desata a chorar. Pronto, pronto — prosseguiu o armador, batendo amistosamente no ombro do rapaz — Fez bem, Dantés, em seguir as instruções do Comandante Leclére e escalar a Ilha de Elba, embora se se soubesse que entregou um pacote ao marechal e conversou com o Imperador, isso o pudesse comprometer.
— Em que quer o senhor que isso me comprometa — redargüiu Dantes — Se nem sequer sei o que continha o pacote e o Imperador só me interrogou acerca de coisas que perguntaria ao primeiro que lhe aparecesse? Mas, perdão — prosseguiu Dantés — Aí estão a sanidade e a alfândega. Dá-me licença, não é verdade?
— Claro, claro, meu caro Dantés.
O jovem afastou-se e, como ele se afastasse, Danglars tomou a aproximar-se.
— Então, parece que lhe deu boas razões acerca da sua escala em Porto Ferraio...
— Excelentes, meu caro Sr. Danglars.
— Ah, tanto melhor! — exclamou este — Porque é sempre desagradável ver um companheiro não cumprir o seu dever.
— Dantés cumpriu o seu — respondeu o armador — E não há nada a dizer.
— A propósito do Comandante Leclére, não lhe entregou uma carta dele?
— Quem?
— Dantés.
— A mim, não! Quer dizer que havia uma carta?
— Julgava que, além do pacote, o Comandante Leclére lhe confiara uma carta.
— De que pacote fala, Danglars?
— Daquele que Dantés entregou ao passar por Porto Ferraio.
— Como sabe que tinha de entregar um pacote em Porto Ferraio?
Danglars corou.
— Passava diante da porta do comandante, que estava entreaberta, e vi-o entregar o pacote e a carta a Dantés.
— Não me disse nada a esse respeito — redargüiu o armador — Mas se tem essa carta entregar-me-á.
Danglars refletiu um instante.
— Nesse caso, Sr. Morrel, peço-lhe que não diga nada disto a Dantés. Provavelmente, enganei-me.
Neste momento o jovem regressava. Danglars afastou-se.
— Então, meu caro Dantés, já está livre? — perguntou o armador.
— Estou, sim, senhor.
— Não demorou muito tempo.
— Pois não. Entreguei aos funcionários da Alfândega a lista das nossas mercadorias, e quanto à sanidade, mandara com o piloto um homem a quem entreguei os nossos documentos.
— Então já não tem mais nada que fazer aqui?
Dantés deitou um olhar rápido à sua volta.
— Não, está tudo em ordem — respondeu.
— Nesse caso, pode vir jantar conosco?
— Desculpe-me, Sr. Morrel, desculpe-me, peço-lhe, mas devo a minha primeira visita a meu pai. Mas nem por isso fico menos reconhecido pela honra que me concede.
— É justo, Dantés, é justo. Sei que é um bom filho.
— E... sabe se ele está bem... o meu pai? — perguntou Dantés, com certa hesitação.
— Creio que sim, meu caro Edmond, embora o não tenha visto.
— Sim, gosta de estar fechado no seu quartinho.
— O que prova, pelo menos, que não lhe faltou nada durante a sua ausência.
Dantés sorriu.
— Meu pai é orgulhoso, senhor. Mesmo que lhe faltasse tudo, duvido que pedisse qualquer coisa a quem quer que fosse no mundo, exceto a Deus.
— Bom, depois dessa primeira visita contamos consigo.
— Desculpe-me novamente, Sr. Morrel, mas depois desta primeira visita tenho uma segunda que me não é menos grata ao coração.
— Ah, é verdade, Dantés? Esquecia-me de que há nos Catalães alguém que o deve esperar com não menos impaciência do que o seu pai: a bela Mercedes.
Dantés sorriu.
— Ah, ah! — exclamou o armador — Agora já me não admira que ela tenha vindo três vezes pedir-me notícias do Pharaon. Apre, Edmond, escusa de se queixar, tem ali uma bonita amante!
— Não é minha amante, senhor — observou gravemente o jovem marinheiro — É minha noiva.
— É tudo a mesma coisa — comentou o armador, rindo.
— Mas não para nós, senhor — respondeu Dantés.
— Pronto, pronto, meu caro Edmond — prosseguiu o armador — Não o retenho mais. Cuidou tão bem dos meus negócios que merece que lhe dê todo o tempo de que precisar para tratar dos seus. Precisa de dinheiro?
— Não, senhor. Tenho todos os meus vencimentos de viagem, isto é, perto de três meses de soldo.
— Você é um rapaz ajuizado, Edmond.
— Acrescente que tenho um pai pobre, Sr. Morrel.
— Sim, sim, sei que é um bom filho. Pronto, vá ver o seu pai. Também tenho um filho e levaria muito a mal a quem, depois de uma viagem de três meses, o retivesse longe de mim.
— Nesse caso, se me dá licença... — disse o jovem cumprimentando.
— Dou, se não tem mais nada a dizer-me.
— Não.
— O Comandante Leclére não lhe deu, ao morrer, uma carta para mim?
— Foi-lhe impossível escrever, senhor. Mas isso recorda-me que desejo pedir-lhe quinze dias de licença.
— Para se casar?
— Primeiro; depois para ir a Paris.
— Pois sim, pois sim, tome o tempo que quiser, Dantés. Levaremos bem seis semanas a descarregar o navio e não voltaremos ao mar antes de três meses... mas daqui a três meses tem de estar de volta. O Pharaon — continuou o armador, batendo no ombro do jovem marinheiro — Não poderia partir sem o seu comandante.
— Sem o seu comandante! — exclamou Dantés, com os olhos brilhantes de alegria — Veja bem o que diz, senhor, pois acaba de corresponder às mais secretas esperanças do meu coração. Será sua intenção nomear-me comandante do Pharaon?
— Se fosse sozinho, lhe estenderia a mão, meu caro Dantés, e lhe diria: “Está feito”. Mas tenho um sócio e você conhece o provérbio italiano: “Che a compàgno a padrône”. Mas pelo menos metade do caminho está andado, porque de dois votos já pode contar com um. Confie em mim para obter o outro.
— Oh, Sr. Morrel! — exclamou o jovem marinheiro com as lágrimas nos olhos, pegando nas mãos do armador — Agradeço-lhe, Sr. Morrel, em nome de meu pai e de Mercedes.
— Está bem, está bem, Edmond. há um Deus no Céu para as pessoas dignas, que diabo! Vá ver o seu pai, vá ver Mercedes e procure-me depois.
— Não quer que o leve a terra?
— Não, obrigado. Ficarei a tratar das minhas contas com Danglars. Ficou satisfeito com ele durante a viagem?
— Conforme o sentido que dê à pergunta, senhor. Se é como bom camarada, não, pois parece-me que não gosta de mim desde o dia em que cometi a tolice, depois de uma pequena discussão que tivemos, de lhe propor que nos detivéssemos dez minutos na Ilha de Monte Cristo para resolvermos a questão, proposta que não andei bem em fazer-lhe e que ele teve razão em recusar. Se é a respeito do guarda-livros que me faz a pergunta, creio não haver nada a dizer e que ter motivos para se sentir satisfeito com a forma como ele se desempenha da sua tarefa.
— Mas... vejamos, Dantés, se fosse comandante do Pharaon conservaria Danglars com prazer? — perguntou o armador.
— Comandante ou imediato, Sr. Morrel — respondeu Dantés — Terei sempre a maior consideração por aqueles que possuírem a confiança dos meus armadores.
— Está bem, está bem, Dantés, vejo que é um excelente rapaz sob todos os aspectos. Não o rebento mais; vá, pois bem vejo que está sobre brasas.
— Posso contar com a minha licença? — perguntou Dantés.
— Pois sim.
— Permite-me que me sirva do seu barco?
— À vontade.
— Adeus, Sr. Morrel, e mil vezes obrigado.
— Adeus, meu caro Edmond, felicidades!
O jovem marinheiro saltou para o barco, sentou-se à popa e mandou seguir para a Cannebiére. Dois marinheiros inclinaram-se imediatamente sobre os remos e a embarcação deslizou tão rapidamente quanto possível por entre os numerosos barcos que obstruíam a espécie de rua estreita que conduzia, através de duas filas de navios, da entrada do porto ao cais de Orleães.
O armador seguiu-o com a vista sorrindo, até Dantés alcançar a muralha, saltar para as lajes do cais e desaparecer imediatamente no meio da multidão variegada que das cinco da manhã às nove da noite enche a famosa Rua da Cannebiére, de que tanto se orgulham os fócios modernos, os quais dizem com a maior seriedade do mundo e com a pronúncia que dá tanto caráter às suas palavras: “Se Paris tivesse a Cannebiére seria uma pequena Marselha”.
Ao virar-se, o armador viu atrás de si Danglars, que aparentemente parecia esperar as suas ordens, mas que na realidade seguia também com a vista o jovem marinheiro.
Simplesmente, havia uma grande diferença na expressão do duplo olhar que seguia o mesmo homem.



continua....




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