quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Harry Potter e o Enigma do Príncipe - Capítulo 22






— CAPÍTULO VINTE E DOIS —
Depois do Enterro



RETALHOS DE CÉU MUITO AZUL estavam começando a aparecer sobre as torres do castelo, mas estes indícios da aproximação do verão não melhoraram o humor de Harry. Ele se frustrara tanto nas tentativas de descobrir o que fazia Malfoy quanto em seus esforços para iniciar uma conversa com Slughorn que pudesse levar o professor a lhe entregar a lembrança que aparentemente vinha reprimindo havia muitas décadas.
— Pela última vez, esquece o Malfoy — disse Hermione a Harry com firmeza.
Os três amigos estavam sentados a um canto ensolarado do pátio depois do almoço. Hermione e Rony seguravam um panfleto do Ministério da Magia: Como evitar erros comuns em Aparatação, porque iam fazer o teste naquela tarde, mas, em geral, os panfletos não tinham se mostrado eficazes para acalmar os nervos. Rony assustou-se e tentou se esconder atrás de Hermione ao ver uma garota entrar no pátio.
— Não é a Lilá — disse Hermione, impaciente.
— Ah, bom — exclamou Rony relaxando.
— Harry Potter? — perguntou a garota — Me pediram para lhe entregar isso.
— Obrigado...
Harry sentiu-se apreensivo ao receber o rolinho de pergaminho. Quando a garota se distanciou, ele comentou:
— Dumbledore disse que não teríamos mais aulas até eu conseguir a lembrança!
— Talvez ele queira saber como você está indo? — arriscou Hermione, enquanto Harry desenrolava o pergaminho.
Mas, em vez da letra longa, fina e inclinada de Dumbledore, ele deparou com uma caligrafia irregular e espalhada, muito difícil de se ler devido à presença de grandes borrões nos lugares em que a tinta escorrera.

Caros Harry, Rony e Hermione,
Aragogue morreu ontem à noite. Harry e Rony, vocês o conheceram, e sabem como ele era especial. Hermione, eu sei que você teria gostado dele. Significaria muito para mim se vocês dessem uma passada aqui mais tarde para o enterro. Pretendo fazer isso ao crepúsculo, que era a hora do dia que ele mais gostava. Sei que é proibido saírem tão tarde, mas podem usar a Capa. Eu não pediria se pudesse enfrentar esse momento sozinho.

Hagrid

— Dá uma olhada nisso — disse Harry, entregando o bilhete a Hermione.
— Ah, pelo amor de Deus — exclamou ela, correndo os olhos pelo bilhete e passando-o a Rony, que o leu com uma expressão de crescente incredulidade.
— Ele é maluco! — exclamou furioso — Aquela coisa mandou a turma dele nos devorar! Disse para se servirem! E agora Hagrid espera que a gente vá lá embaixo chorar por aquele defunto peludo!
— E não é só isso — acrescentou Hermione — Ele está nos pedindo para sair do castelo à noite, sabendo que a segurança está mil vezes mais rigorosa e que nos meteríamos era uma baita encrenca se fôssemos apanhados.
— Já descemos para ver Hagrid à noite antes — lembrou Harry.
— Mas por um motivo desse? — replicou Hermione — Já nos arriscamos muito para ajudar o Hagrid, afinal o Aragogue morreu. Se fosse uma questão de salvar a vida dele...
— Eu teria ainda menos vontade de ir — interpôs Rony com firmeza — Você não o conheceu, Hermione. Pode acreditar, morto ele deve estar bem melhor.
Harry recolheu o bilhete e olhou para os borrões de tinta. Sem dúvida, tinham caído lágrimas no pergaminho, grossas e sucessivas...
— Harry, você não pode estar pensando em ir — falou Hermione — Não tem o menor sentido pegar uma detenção por uma coisa dessas.
Harry suspirou.
— É, sei disso. Presumo que o Hagrid vá ter de enterrar Aragogue sem a nossa presença.
— Vai — disse Hermione aliviada — Olhem, a aula de Poções vai estar quase vazia hoje à tarde, todos estaremos fazendo os testes... aproveite para amaciar o Slughorn um pouco!
— Sorte na quinquagésima sétima vez, é isso? — perguntou Harry amargurado.
— Sorte — exclamou Rony de repente — Harry, é isso aí: mude a sorte!
— Como assim?
— Use a sua poção da sorte!
— Rony, é isso... isso aí! — concordou Hermione, com voz de espanto — Claro! Por que não pensei nisso antes?
Harry encarou os dois.
— Felix Felicis? Não sei... estava meio que guardando...
— Para quê? — indagou Rony, incrédulo.
— Que pode ser mais importante do que essa lembrança, Harry? — perguntou Hermione.
O garoto não respondeu. A ideia daquele frasquinho dourado tinha pairado na periferia de sua imaginação por um bom tempo, planos vagos e não formulados que envolviam Gina romper o namoro com Dino, e Rony se alegrar de vê-la com um novo namorado, tinham fermentado nas profundezas do seu cérebro, inconfessados exceto em sonhos ou durante a sonolência que antecede o sono e o despertar...
— Harry? Você ainda está com a gente? — perguntou Hermione.
— Quê...? Claro — respondeu ele, voltando ao presente — Bem... ok, se eu não conseguir fazer Slughorn falar hoje à tarde, vou tomar um pouco da Felix e tentar novamente à noite.
— Está decidido, então — aprovou Hermione com energia, ficando em pé e executando uma graciosa pirueta — Destinação... determinação... deliberação — murmurou.
— Ah, pode parar — pediu Rony a ela — Eu já estou até nauseado... rápido, me esconde!
— Não é a Lilá! — disse Hermione, impaciente, quando mais duas garotas chegaram ao pátio e Rony mergulhou atrás dela.
— Legal — disse o garoto, espiando por cima do ombro de Hermione para verificar — Caramba, elas não parecem nada felizes, não é?
— São as irmãs Montgomery, e é claro que não estão nada felizes, você não soube o que aconteceu com o irmãozinho delas? — perguntou Hermione.
— Para ser sincero, já perdi a conta do que está acontecendo com os parentes de todo o mundo — disse Rony.
— Bem, o irmão delas foi atacado por um lobisomem. Corre o boato de que a mãe se recusou a ajudar os Comensais da Morte. O garoto só tinha cinco anos e morreu no St. Mungus, não conseguiram salvá-lo.
— Morreu? — repetiu Harry, chocado — Mas com certeza os lobisomens não matam, só transformam a pessoa em um deles.
— Às vezes matam — disse Rony, que parecia anormalmente sério agora — Ouvi falar que isso acontece quando o lobisomem se empolga.
— Qual era o nome do lobisomem? — perguntou Harry imediatamente.
— Bem, dizem que foi o Lobo Greyback — disse Hermione.
— Eu sabia: o maníaco que gosta de atacar crianças, o Lupin me falou dele! — comentou Harry com indignação.
Hermione olhou-o triste.
— Harry, você precisa obter aquela lembrança. Vai servir para paralisar o Voldemort, não é? Essas coisas horrendas que estão acontecendo são culpa dele...
A sineta tocou no castelo, e Hermione e Rony se ergueram de um salto com um ar apavorado.
— Vocês vão se sair bem — disse Harry aos dois quando se dirigiam ao Saguão de Entrada para se reunir aos outros alunos que iam fazer o teste de Aparatação — Boa sorte!
— E para você também! — disse Hermione com um olhar expressivo quando Harry tomou a direção das masmorras.
Só havia três alunos na sala de Poções aquela tarde: Harry, Ernesto e Draco Malfoy.
— Todos jovens demais para aparatar? — perguntou Slughorn cordialmente — Ainda não fizeram dezessete anos?
Eles sacudiram a cabeça.
— Ah, bem — disse Slughorn animado — Como somos tão poucos, vamos nos divertir. Quero que vocês preparem alguma coisa engraçada!
— Parece uma boa ideia, senhor — bajulou Ernesto, esfregando as mãos.
Malfoy, por sua vez, nem ao menos sorriu.
— Que é que o senhor quer dizer com alguma coisa “engraçada”? — perguntou com irritação.
— Ah, me façam uma surpresa — respondeu Slughorn, despreocupado.
Malfoy abriu seu exemplar de Estudos Avançados no Preparo de Poções de mau humor. Não podia ser mais evidente que, em sua opinião, a aula seria um desperdício de tempo.
Sem dúvida, pensou Harry, observando-o por cima do próprio livro, Malfoy estava cedendo de má vontade o tempo que poderia gastar na Sala Precisa.
Era sua imaginação ou Malfoy, como Tonks, parecia mais magro? Com certeza, estava mais pálido, sua pele conservava aquele tom acinzentado, provavelmente porque nos últimos tempos era raro ele ver a luz do dia.
Mas não havia presunção, nem excitação, nem superioridade em seu rosto, tampouco a segurança que aparentara no Expresso de Hogwarts, quando se gabara abertamente da missão que tinha recebido de Voldemort... só podia haver uma conclusão, na opinião de Harry: a missão, qualquer que fosse, não estava indo bem.
Animado por este pensamento, correu os olhos pelo seu exemplar de Estudos Avançados no Preparo de Poções e descobriu uma versão do Elixir para Induzir Euforia cheia de anotações do Príncipe, que parecia não somente corresponder às instruções de Slughorn, como também (e o coração de Harry deu um salto só de pensar) deixaria o professor tão bem-humorado que ele ficaria no ponto de entregar a lembrança, se Harry o persuadisse a provar um pouquinho da poção...
— Ora, então, esta poção parece absolutamente maravilhosa — exclamou Slughorn batendo palmas, hora e meia depois, ao inspecionar o conteúdo amarelo-sol do caldeirão de Harry — Euforia, presumo. E que cheiro é esse que estou sentindo? Hummm... você acrescentou um galhinho de menta, não foi? Heterodoxo, mas que sopro de inspiração, Harry. Claro, poderia compensar os efeitos colaterais, as excessivas cantorias e coceiras no nariz... eu realmente não sei onde você arranja essas ideias luminosas, meu rapaz... a não ser...
Harry empurrou o livro do Príncipe com o pé, mais para dentro da mochila.
—... que sejam os genes de sua mãe se revelando em você!
— Ah... é, quem sabe — disse Harry aliviado.
Ernesto estava com um ar muito rabugento, decidido a brilhar mais que Harry ao menos uma vez, apressadamente inventara uma poção que talhara e formara uns grumos roxos no fundo do caldeirão. Malfoy já estava guardando seu material, de cara amarrada, Slughorn declarara a sua Solução dos Soluços apenas “passável”.
A sineta tocou, e Ernesto e Malfoy saíram logo.
— Senhor — começou Harry, mas Slughorn imediatamente espiou por cima do ombro do garoto, ao ver a sala vazia, exceto por ele e Harry, apressou-se o máximo que pôde — Professor... professor... o senhor não quer provar a minha po...? — chamou o garoto desesperado.
Mas Slughorn se fora.
Desapontado, Harry esvaziou o caldeirão e guardou o material, em seguida saiu da masmorra e se dirigiu lentamente à Sala Comunal.
Rony e Hermione retornaram no final da tarde.
— Harry! — exclamou Hermione ao passar pelo buraco do retrato — Harry, passei!
— Parabéns! — disse ele — E Rony?
— Ele... ele não passou por pouco — sussurrou Hermione ao ver Rony entrar na sala de ombros caídos e mal-humorado — Foi realmente falta de sorte, uma coisinha à toa, o examinador notou que ele tinha deixado metade de uma sobrancelha para trás... como foi com o Slughorn?
— Melou — respondeu Harry, quando Rony ia chegando — Você deu azar, cara, mas da próxima vez vai passar... podemos fazer o teste juntos.
— É, presumo que sim — respondeu o amigo, rabugento — Mas por meia sobrancelha! Como se isso fizesse diferença!
— Eu sei — consolou-o Hermione — Parece realmente rigoroso demais...
Os três passaram a maior parte do jantar xingando sem meias palavras o examinador de Aparatação, e Rony parecia um tantinho mais animado quando voltaram à Sala Comunal, agora discutindo o problema, ainda sem solução, de Slughorn e sua lembrança.
— Então, Harry, você vai ou não vai usar a Felix Felicis? — perguntou Rony.
— É, presumo que é o jeito. Acho que não vou precisar tomar toda, não a dose para doze horas, não pode levar a noite inteira... vou tomar só um gole. Duas ou três horas devem ser suficientes.
— É uma sensação incrível quando a gente toma — comentou Rony lembrando-se — Como se não fosse possível fazer nada errado.
— Do que é que você está falando? — perguntou Hermione rindo — Você nunca tomou!
— É, mas pensei que tinha tomado, não é? — replicou Rony como se explicasse o óbvio — Dá no mesmo...
Como tinham acabado de ver Slughorn entrar no Salão Principal e sabiam que o professor gostava de se demorar à mesa, eles fizeram uma horinha na Sala Comunal, o plano era Harry ir ao escritório de Slughorn depois de lhe darem tempo de voltar para lá.
Quando o sol poente atingiu as copas das árvores da Floresta Proibida, os garotos resolveram que chegara o momento e, depois de verificar que Neville, Dino e Simas estavam na Sala Comunal, subiram discretamente ao dormitório dos garotos. Harry tirou do fundo do malão as meias enroladas e apanhou o minúsculo frasco cintilante.
— Bom, lá vai — exclamou Harry, erguendo o frasquinho e tomando uma dose cuidadosamente medida.
— Qual é a sensação? — cochichou Hermione.
Harry não respondeu logo. Então, gradual mas inegavelmente, invadiu-o a sensação de euforia em que tudo é possível, sentiu que poderia fazer qualquer coisa, qualquer coisa no mundo... e extrair a lembrança de Slughorn pareceu de repente não apenas possível, mas decididamente fácil... ele se levantou sorrindo, transbordando confiança.
— Excelente. Realmente excelente. Certo... vou até a cabana do Hagrid.
— Quê? — exclamaram Rony e Hermione, perplexos.
— Não, Harry: você tem de ir ver o Slughorn, lembra? — disse Hermione.
— Não — respondeu ele seguro — Vou à cabana do Hagrid, este pensamento produz em mim uma sensação boa.
— Pensar em enterrar uma aranha gigante produz em você uma sensação boa? — perguntou Rony estarrecido.
— Produz — respondeu Harry tirando a Capa da Invisibilidade da mochila — Sinto que é o lugar onde devo estar hoje à noite, entendem o que quero dizer?
— Não — exclamaram os dois amigos ao mesmo tempo, parecendo agora positivamente alarmados.
— Isto aqui é a Felix Felicis, presumo? — perguntou Hermione, ansiosa, segurando o frasco contra a luz — Você não apanhou outro frasquinho cheio de... sei lá...
— Essência de Insanidade? — sugeriu Rony quando Harry jogou a Capa nos ombros.
Harry deu uma risada, e Rony e Hermione ficaram ainda mais alarmados.
— Confiem em mim. Sei o que estou fazendo... ou pelo menos... — ele rumou para a porta, confiante — A Felix Felicis sabe.
Ele puxou a Capa da Invisibilidade sobre a cabeça e desceu as escadas, com Rony e Hermione acompanhando-o, apressados. Ao pé da escada, Harry se esgueirou pela porta aberta.
— Que é que você estava fazendo lá em cima com ela? — guinchou Lilá Brown, sem ver Harry, encarando Rony e Hermione que emergiam juntos do dormitório dos garotos.
Harry ouviu Rony gaguejar enquanto disparava pela sala, deixando os amigos para trás. Passar pelo buraco do retrato foi simples, ao se aproximar, Gina e Dino entravam e Harry pôde sair entre os dois. Ao fazer isso, roçou sem querer em Gina.
— Não me empurra, Dino, por favor — disse a garota em tom aborrecido — Você sempre faz isso, posso perfeitamente entrar sozinha...
O retrato girou, fechando a abertura à passagem de Harry, mas não antes que ele ouvisse a resposta enraivecida de Dino... com a sensação de euforia aumentando, Harry saiu pelo castelo. Não precisou ter cautela porque não encontrou ninguém no caminho, mas isto não o surpreendeu: esta noite, ele era o indivíduo mais sortudo de Hogwarts.
Por que sabia que ir à cabana de Hagrid era a coisa certa, Harry não fazia a menor ideia. É como se a poção estivesse iluminando uns poucos passos do seu caminho de cada vez: ele não conseguia ver seu destino final, não conseguia ver onde entrava Slughorn, mas sabia que estava agindo corretamente para obter a lembrança.
Quando chegou ao Saguão de Entrada, descobriu que Filch se esquecera de trancar a porta da entrada do castelo. Sorrindo, Harry escancarou-a e inspirou o cheiro de ar puro e grama por um momento, antes de descer as escadas e sair para a noite que caía.
Foi quando chegou ao último degrau que lhe ocorreu que seria muito agradável passar pela horta a caminho da cabana de Hagrid. Não ficava exatamente no caminho, mas lhe pareceu claro que era um capricho a que devia obedecer, então dirigiu imediatamente os seus passos para a horta, e ficou satisfeito, embora não de todo surpreso, ao topar com o Prof. Slughorn conversando com a Profª. Sprout. Harry se escondeu atrás de uma mureta de pedra, sentindo-se em paz com o mundo e escutando a conversa dos dois.
—... agradeço muito por me ceder seu tempo, Pomona — dizia Slughorn educadamente — A maioria das autoridades concorda que elas são mais eficazes quando colhidas ao crepúsculo.
— Ah, concordo inteiramente — respondeu a Profª. Sprout cordial — Essas são suficientes?
— São mais do que suficientes — respondeu Slughorn, Harry viu que o professor carregava uma braçada de plantas folhosas — Dará para distribuir algumas folhas a cada aluno do terceiro ano e ainda sobrará para quem as cozinhar demais... bem, boa noite para você, e, mais uma vez, muito obrigado!
A Profª. Sprout saiu pela escuridão que se adensava em direção às suas estufas, e Slughorn foi andando para o lugar em que estava Harry, invisível. Tomado de um desejo imediato de se revelar, Harry despiu a Capa com um gesto dramático.
— Boa noite, professor.
— Pelas barbas de Merlim, você me assustou — disse Slughorn, parando de súbito, com ar cauteloso — Como foi que saiu do castelo?
— Filch deve ter esquecido de trancar as portas — respondeu Harry, animado, e ficou satisfeito de ver Slughorn amarrar a cara.
— Vou dar parte desse homem, ele se preocupa mais com bobagens do que com a verdadeira segurança, se você quer saber... mas por que está aqui fora, Harry?
— Bem, senhor, é o Hagrid — respondeu Harry, sabendo que o certo naquele momento era dizer a verdade — Ele está muito chateado... mas o senhor não vai contar a ninguém, não é professor? Não quero criar problema para ele...
Evidentemente Slughorn ficou curioso.
— Bem, não posso lhe prometer isso — respondeu com impaciência — Mas sei que Dumbledore confia em Hagrid até a medula dos ossos, por isso tenho certeza de que não pode estar fazendo nada muito ruim...
— Bem, é uma aranha gigante que ele tinha há anos... vivia na Floresta... falava e tudo...
— Ouvi rumores de que havia acromântulas na Floresta — comentou Slughorn baixinho, olhando para a massa de árvores escuras — É verdade, então?
— É. Mas a tal, Aragogue, a primeira que Hagrid conseguiu, morreu ontem à noite. Ele está arrasado. Quer companhia para fazer o enterro, e eu disse que iria.
— Comovente, comovente — disse Slughorn distraído, seus grandes olhos de pálpebras enrugadas fixos nas luzes distantes da cabana de Hagrid — Mas o veneno da acromântula é muito valioso... se o artrópode acabou de morrer, talvez ainda não tenha secado... claro, eu não gostaria de fazer nada desrespeitoso se Hagrid está perturbado... mas se houvesse algum meio de obter algum... quero dizer, é quase impossível obter veneno de uma acromântula viva...
Slughorn parecia estar falando mais para si do que para Harry.
—... parece um terrível desperdício não recolhê-lo... pode chegar a alcançar cem galeões por meio litro... para ser franco, o meu salário não é alto...
E Harry viu claramente o que precisava fazer.
— Bem — disse ele, hesitando de modo convincente — Bem, se o senhor quiser ir, professor, Hagrid provavelmente ficaria muito satisfeito... fazer uma despedida melhor, entende...
— Claro — exclamou Slughorn, seus olhos agora faiscando de entusiasmo — Faremos o seguinte, Harry, encontro você lá embaixo com umas duas garrafas... beberemos... não à saúde da pobre criatura... bem... mas, em todo caso, faremos uma despedida em grande estilo, depois do enterro. E vou trocar a minha gravata, esta é um pouco berrante para a ocasião...
Ele voltou ligeiro para o castelo, e Harry correu para a cabana de Hagrid, satisfeitíssimo.
— Você veio — exclamou Hagrid rouco, quando abriu a porta e viu à sua frente Harry, emergindo da Capa da Invisibilidade.
— É... mas Rony e Hermione não puderam vir — disse Harry — Eles realmente lamentam.
— Não faz... não faz mal... ele teria ficado sensibilizado por você ter vindo, Harry...
Hagrid deixou escapar um grande soluço. Tinha feito uma braçadeira preta, que parecia uma tira de pano mergulhada em graxa de sapato, e seus olhos estavam inchados e vermelhos. Harry consolou-o com palmadinhas no cotovelo, que era a altura máxima do amigo que ele conseguia atingir sem esforço.
— Onde vamos enterrá-lo? — perguntou — Na Floresta?
— Caramba, não — protestou Hagrid, enxugando os olhos que não paravam de lacrimejar com a fralda da camisa. — As outras aranhas não me deixarão nem chegar perto das teias, agora que Aragogue partiu. Fiquei sabendo que só as ordens dele evitavam que me comessem. Dá para acreditar, Harry?
A resposta sincera seria “sim”, Harry lembrou, sem dificuldade, a cena em que ele e Rony se viram cara a cara com a acromântula: ficara bem evidente que Aragogue era a única coisa que as impedia de devorar Hagrid.
— Nunca teve antes uma área da Floresta a que eu não pudesse ir — comentou Hagrid balançando a cabeça — Não foi nada fácil tirar o cadáver de Aragogue de lá, acredite... elas costumam comer os mortos, entende... mas eu queria dar a ele um enterro decente... uma despedida digna...
Ele desatou a soluçar, e Harry recomeçou a afagar seu cotovelo, dizendo (porque a poção parecia indicar que era o que devia ser feito) ao mesmo tempo:
— O Prof. Slughorn me encontrou quando eu ia descendo, Hagrid.
— Você não se encrencou, não? — perguntou Hagrid, alarmado — Não devia estar fora do castelo à noite, eu sei, a culpa é minha...
— Não, não, quando ele soube aonde eu ia, disse que também gostaria de vir prestar as últimas homenagens a Aragogue. Ele foi vestir uma roupa mais apropriada, acho... e disse que traria umas garrafas para podermos beber à memória de Aragogue...
— Verdade? — exclamou Hagrid, parecendo ao mesmo tempo espantado e comovido — É... é muita bondade dele, é sim, e também não entregar você. Eu nunca tive realmente muito contato com Horácio Slughorn antes... mas ele vem se despedir do velho Aragogue, eh? Bem... ele teria gostado disso, o Aragogue...
Harry pensou com seus botões que o que Aragogue teria gostado mais em Slughorn era a fartura de carne comestível que ele oferecia, mas limitou-se a ir até a janela dos fundos da cabana de Hagrid, de onde teve a sinistra visão da enorme aranha que jazia de costas com as pernas encolhidas e entrelaçadas.
— Vamos enterrar Aragogue aqui, Hagrid, na sua horta?
— Logo depois do canteiro de abóboras, pensei — respondeu ele com a voz embargada — Já cavei a... entende... sepultura. Para podermos dizer alguma coisa simpática sobre ele... lembranças felizes, entende...
Sua voz tremeu e falhou. Houve uma batida na porta e ele se virou para atender, assoando o nariz no grande lenço manchado. Slughorn apressou-se a entrar, trazendo várias garrafas nos braços e usando um sóbrio lenço preto ao pescoço.
— Hagrid — disse ele com voz grave e profunda — Lamento muito a sua perda.
— É muita gentileza sua — respondeu Hagrid — Muito obrigado. E muito obrigado por não dar uma detenção a Harry...
— Eu nem sonharia. Noite triste, noite triste... onde está o coitado?
— Lá fora — informou Hagrid com a voz trêmula — Vamos... vamos começar, então?
Os três saíram para o quintal. A lua brilhava palidamente entre as árvores e sua claridade se misturava à luz que saía da janela de Hagrid para iluminar o cadáver de Aragogue, à beira de uma enorme cova ladeada por um monte de terra recém-cavada, de três metros.
— Magnífico — disse Slughorn, aproximando-se da cabeça da aranha, onde oito olhos leitosos contemplavam inutilmente o céu e duas enormes pinças curvas brilhavam imóveis ao luar.
Harry pensou ouvir o tinido de frascos quando Slughorn se curvou para as pinças, aparentemente examinando a enorme cabeça peluda.
— Não é todo o mundo que sabe apreciar como elas são bonitas — comentou Hagrid às costas de Slughorn, as lágrimas escorrendo dos seus olhos enrugados — Eu não sabia que você tinha interesse em criaturas como o Aragogue, Horácio.
— Interesse? Meu caro Hagrid, tenho veneração por elas — respondeu o professor, afastando-se do corpo.
Harry viu o reflexo de um frasco desaparecer sob sua capa, embora Hagrid, secando os olhos mais uma vez, não notasse nada.
— Agora... vamos prosseguir com o enterro?
Hagrid acenou a cabeça concordando, e se adiantou. Ergueu a gigantesca aranha nos braços e, com um enorme gemido, derrubou-a na cova escura. O corpo bateu no fundo, com um baque feio e triturante. Hagrid recomeçou a chorar.
— Claro, é difícil para você que o conhecia melhor — disse Slughorn, que, como Harry, só conseguia alcançar o cotovelo de Hagrid, mas deu-lhe umas palmadinhas assim mesmo — Que tal eu dizer umas palavrinhas?
Ele devia ter retirado muito veneno de boa qualidade de Aragogue, pensou Harry, porque tinha um ar satisfeito quando se aproximou da cova e disse, em voz lenta e comovente:
— Adeus, Aragogue, rei dos aracnídeos, cuja longa e fiel amizade os que o conheceram jamais esquecerão! Embora o seu corpo se desintegre, o seu espírito permanecerá nas teias tranquilas de sua Floresta natal. Que os seus descendentes multioculares prosperem e seus amigos humanos encontrem consolo pela perda que sofreram.
— Foi... foi... lindo! — berrou Hagrid, desmontando em cima da estrumeira aos prantos.
— Vamos, vamos — disse Slughorn, e acenou com a varinha, fazendo uma grande quantidade de terra se elevar e cair com um ruído abafado sobre a aranha morta, formando um monte liso — Vamos entrar e beber alguma coisa. Pegue do outro lado dele, Harry... isso... em pé, Hagrid... muito bem...
Eles sentaram Hagrid em uma cadeira à mesa. Canino, que estivera escondido em seu cesto durante o enterro, agora veio pisando macio até eles e descansou a pesada cabeça no colo de Harry, como sempre fazia. Slughorn desarrolhou uma das garrafas de vinho que trouxera.
— Testei todas à procura de veneno — garantiu ele a Harry, servindo a primeira garrafa quase toda em uma das canecas tamanho-balde de Hagrid e entregando-a a ele — Mandei um elfo doméstico provar cada garrafa depois do que aconteceu ao coitado do seu amigo Rupert.
Harry imaginou a expressão de Hermione se algum dia ela viesse a saber deste abuso contra elfos domésticos, e decidiu que jamais o mencionaria à amiga.
— Uma para Harry... — disse Slughorn, dividindo uma segunda garrafa em duas canecas —... E uma para mim. Bem — ele ergueu a caneca — Ao Aragogue!
— Aragogue — repetiram juntos, Harry e Hagrid.
Slughorn e Hagrid tomaram um grande gole. Harry, porém, com o seu próximo passo iluminado pela Felix Felicis, percebeu que não devia beber, então fingiu apenas tomar um gole e em seguida devolveu a caneca à mesa.
— Eu o criei a partir de um ovo, sabem — disse Hagrid sombriamente — Uma coisinha à toa quando saiu da casca. Mais ou menos do tamanho de um pequinês.
— Que encanto — comentou Slughorn.
— Eu costumava guardar Aragogue em um armário na escola até que... bem...
Passou uma sombra pelo rosto de Hagrid, e Harry entendeu o porquê: Tom Riddle tinha tramado para Hagrid ser expulso da escola, culpado de ter aberto a Câmara Secreta. Slughorn, porém, não parecia estar ouvindo, contemplava o teto, de onde pendiam vários tachos de latão, bem como uma sedosa mecha de pelos muito brancos.
— Isso não pode ser pelo de unicórnio, Hagrid, pode?
— Ah, é — respondeu ele com indiferença — Arrancado da cauda deles, os pelos se agarram nos galhos e plantas da Floresta, entende...
— Mas, meu caro, você sabe quanto vale isso?
— Uso para prender bandagens e outras coisas, quando algum bicho se machuca — disse Hagrid sacudindo os ombros — É útil à beça... muito forte, mesmo.
Slughorn tomou mais um grande gole da caneca, seus olhos agora percorrendo a cabana atentamente, à procura, Harry percebeu, de mais tesouros que ele pudesse converter em um copioso suprimento de hidromel envelhecido em carvalho, abacaxi cristalizado e paletós de smoking de veludo. Ele tornou a encher a caneca de Hagrid e a sua própria, e interrogou-o sobre as criaturas que viviam na Floresta atualmente, e como viviam, e se ele dava conta de cuidar de todas.
Hagrid, tornando-se expansivo sob a influência da bebida e do interesse lisonjeiro de Slughorn, parou de enxugar os olhos e embarcou feliz em uma longa explicação sobre a criação de tronquilhos.
A essa altura, a Felix Felicis deu um toque em Harry, e ele reparou que o suprimento de bebida que Slughorn trouxera estava se esgotando com rapidez. Harry ainda não conseguira realizar o Feitiço de Reposição sem pronunciar o encantamento em voz alta, mas a ideia de que fosse incapaz de realizá-lo esta noite era risível: de fato, Harry riu interiormente quando, sem que Hagrid nem Slughorn (agora trocando casos sobre o comércio clandestino de ovos de dragão) o vissem, apontou a varinha por baixo da mesa para as garrafas vazias e elas imediatamente tornaram a encher.
Decorrida mais ou menos uma hora, os dois professores começaram a fazer brindes extravagantes: a Hogwarts, a Dumbledore, ao vinho dos elfos e a...
— Harry Potter! — berrou Hagrid, babando um pouco do vinho no queixo, ao esvaziar sua décima quarta caneca.
— Com certeza — exclamou Slughorn com a voz meio pastosa — Parry Otter, o Garoto Eleito Que... bem... alguma coisa assim — murmurou ele esvaziando sua caneca também.
Não demorou muito, Hagrid recomeçou a chorar e insistiu que Slughorn ficasse com a cauda do unicórnio inteira, que o professor embolsou aos gritos de “À amizade! À generosidade! A dez galeões o pelo!”.
E durante algum tempo, Hagrid e Slughorn se sentaram lado a lado, abraçados, cantando uma música lenta e triste sobre um bruxo moribundo chamado Odo.
— Arre, os bons morrem jovens — murmurou Hagrid, debruçando-se sobre a mesa, um pouco vesgo, enquanto Slughorn continuava a gorjear o refrão — Meu pai não tinha idade para morrer... nem a sua mãe nem o seu pai, Harry...
Lágrimas enormes tornaram a vazar dos cantos dos olhos enrugados de Hagrid; ele agarrou o braço de Harry e sacudiu-o.
—... melhor bruxo e bruxa da idade deles que já conheci... uma desgraça... uma desgraça...
Slughorn cantava melancolicamente:

E Odo o herói foi levado para casa
Para o lugar que jovem conhecera
E sepultado com o chapéu pelo avesso
E a varinha partida ao meio, que tristeza!

—... uma desgraça — resmungou Hagrid, e sua enorme cabeça desgrenhada rolou para o lado sobre os braços cruzados, e ele adormeceu roncando profundamente,
— Desculpe — disse Slughorn com um soluço — Não consigo cantar afinado nem para salvar a vida.
— Hagrid não estava falando do seu modo de cantar — explicou Harry em voz baixa — Estava falando da morte dos meus pais.
— Ah — exclamou Slughorn reprimindo um grande arroto — Ah, nossa. Aquilo foi... foi de fato terrível. Terrível... terrível...
Parecia não encontrar o que dizer e optou por tornar a encher as canecas.
— Suponho que você... não se lembre, não é, Harry? — perguntou ele sem jeito.
— Não... bem eu só tinha um ano quando eles morreram — respondeu Harry, seus olhos fixos na chama da vela que bruxuleava com os fortes roncos de Hagrid — Mas descobri com bastante exatidão o que aconteceu. Meu pai morreu primeiro. O senhor sabia?
— Não... não sabia — disse Slughorn com a voz abafada.
— É... Voldemort matou-o e em seguida passou por cima do cadáver dele em direção a minha mãe.
Slughorn estremeceu violentamente, mas não parecia capaz de despregar o olhar horrorizado do rosto de Harry.
— Disse a ela para sair do caminho — continuou Harry, sem piedade — Voldemort me contou que minha mãe não precisava ter morrido. Ele só queria a mim. Ela poderia ter fugido.
— Nossa — murmurou Slughorn — Ela podia ter... ela não precisava... que horror...
— Não é mesmo? — concordou Harry, num sussurro quase inaudível — Mas ela não se mexeu. Papai já estava morto, mas ela não queria que eu morresse também. Tentou suplicar ao Voldemort... mas ele apenas riu...
— Basta! — exclamou Slughorn repentinamente, erguendo a mão trêmula — Realmente, meu caro rapaz, basta... sou um velho... não preciso ouvir... não quero ouvir...
— Me esqueci — mentiu Harry, a Felix Felicis orientando-o — O senhor gostava dela, não?
— Gostava dela? — repetiu Slughorn, seus olhos tornando a se encher de lágrimas — Não consigo imaginar alguém que a conhecesse e não gostasse dela... muito corajosa... muito engraçada... foi pavoroso.
— Mas o senhor não quer ajudar o filho dela — continuou Harry — Ela deu a vida por mim, mas o senhor não quer me dar uma lembrança.
Os roncos trovejantes de Hagrid ecoavam pela cabana.
Harry encarava sem vacilar os olhos lacrimosos de Slughorn. O professor de Poções parecia incapaz de desviar o olhar.
— Não diga isso — sussurrou ele — Não é uma questão... se fosse para ajudá-lo, é claro... mas não vai adiantar nada...
— Vai — disse Harry em voz alta e clara — Dumbledore precisa de informações. Eu preciso de informações.
Ele sabia que estava seguro: a Felix lhe dizia que o professor não lembraria nada pela manhã. Olhando direto nos olhos de Slughorn, Harry se inclinou ligeiramente para ele.
— Eu sou o Eleito. Tenho de matá-lo. Preciso daquela lembrança.
Slughorn ficou mais pálido que nunca, o suor brilhava em sua testa lisa.
— Você é o Eleito?
— Claro que sou — respondeu Harry calmamente.
— Mas então... meu caro rapaz... você está me pedindo muito... você está me pedindo, de fato, que o ajude em sua tentativa de destruir...
— O senhor não quer se livrar do bruxo que matou Lílian Evans?
— Harry, Harry, claro que quero, mas...
— O senhor tem medo que ele descubra que me ajudou?
Slughorn não respondeu, estava aterrorizado.
— Seja corajoso como a minha mãe, professor...
Slughorn ergueu a mão gorducha e levou os dedos trêmulos à boca, por um instante pareceu um bebê que crescera demais.
— Não me orgulho — sussurrou ele entre os dedos — Tenho vergonha do que... do que aquela lembrança mostra... acho que eu talvez tenha causado um grande estrago naquele dia...
— O senhor compensaria o que fez me entregando aquela lembrança. Seria um ato de grande coragem e nobreza.
Hagrid, adormecido, se mexeu e continuou a roncar.
Slughorn e Harry olhavam-se fixamente por cima da vela gotejante. Fez-se um silêncio extremamente longo, mas a Felix Felicis disse a Harry que não o quebrasse, que aguardasse.
Então, muito lentamente, Slughorn levou a mão ao bolso e puxou sua varinha. Enfiou a outra mão por dentro da capa e tirou um frasquinho vazio. Ainda sustentando o olhar de Harry, Slughorn tocou a têmpora com a ponta da varinha e retirou-a, fazendo com que o longo fio prateado de lembrança saísse, também, preso na ponta da varinha. A lembrança foi se esticando, se esticando, até partir, e balançar luminosa e prateada da varinha. O professor colocou-a no frasco onde ela se enroscou, depois se expandiu espiralando como um gás. Ele arrolhou o vidro com a mão trêmula e passou-o por cima da mesa para Harry.
— Muito obrigado, professor.
— Você é um bom rapaz — disse Slughorn, com as lágrimas escorrendo pelas bochechas gordas e entrando em seus bigodes de leão-marinho — E você tem os olhos dela... só não pense muito mal de mim depois que vir...
E ele também descansou a cabeça sobre os braços, deu um profundo suspiro e adormeceu.








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