quarta-feira, 7 de março de 2012

O PODEROSO CHEFÃO - CAPÍTULO 24



CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS



CAPÍTULO
24




O
 SOL SICILIANO, COR DE LIMÃO invadiu o quarto de Michael. Ele acordou e, sentindo o corpo acetinado de Apollonia encostado em sua própria pele quente do sono, fê-la acordar com amor. Mesmo depois de decorridos todos aqueles meses de posse completa, ele não podia deixar de se maravilhar com a beleza e a paixão ardente da esposa.
Apollonia deixou o quarto para lavar-se e vestir-se no banheiro do andar de baixo. Michael, ainda nu, com o sol da manhã incidindo sobre o seu corpo, acendeu um cigarro e, deitado na cama, começou a pensar. Aquela era a última manhã que eles passariam na villa. Don Tommasino arranjara para que ele fosse transferido para outra cidade na costa meridional da ilha. Apollonia, em seu primeiro mês de gravidez, queria visitar e passar algumas semanas com a família, e se reuniria a ele no novo esconderijo depois da visita.
Na noite anterior, Don Tommasino sentara-se com Michael no jardim depois que Apollonia tinha ido para a cama. Don Tommasino se mostrava cansado e admitiu que estava apreensivo com a segurança de Michael.
— O casamento revelou a sua presença — disse ele a Michael — Estou surpreso como é que o seu pai não providenciou para que você fosse para outro lugar. De qualquer modo estou tendo as minhas próprias dificuldades com os jovens turcos de Palermo. Ofereci uma proposta razoável para que eles molhassem o bico mais do que merecem, mas essa ralé quer tudo. Não posso compreender a atitude deles. Tentaram algumas pequenas artimanhas, mas não sou assim tão fácil de ser morto. Devem saber que sou bastante forte para fazê-los me agüentarem de modo tão barato. Mas isso é o que acontece sempre com os jovens por mais talentosos que sejam. Não pensam nas coisas direito e querem toda a água do poço.
Em seguida, Don Tommasino declarou a Michael que os dois pastores Fabrizzio e Calo iriam com ele como guarda-costas no Alfa Romeo. Don Tommasino se despedira naquela noite, pois partiria de manhã bem cedo para resolver os seus negócios em Palermo. Outrossim, Michael não devia contar nada ao Dr. Taza a respeito da mudança, pois o médico pretendia passar a noite em Palermo e podia dar com a língua nos dentes.
Michael sabia que Don Tommasino estava em dificuldade. Guardas armados patrulhavam os muros da villa de noite e alguns pastores fiéis com suas luparas estavam sempre na casa. O próprio Don Tommasino andava bem armado e um guarda-costa pessoal o acompanhava durante todo o tempo.
O sol estava agora muito forte. Michael apagou o cigarro e pôs as calças e camisa de trabalho e o gorro de bico que a maioria dos sicilianos usava. Ainda descalço, inclinou-se na janela do quarto e olhando para fora viu Fabrizzio sentado numa das cadeiras do jardim. Fabrizzio estava preguiçosamente penteando sua basta cabeleira preta, a sua lupara negligentemente atirada na mesa do jardim. Michael assoviou e Fabrizzio olhou para a janela.
— Apanhe o carro! — gritou Michael para ele — Vou partir daqui a cinco minutos. Onde está Calo?
Fabrizzio levantou se A sua camisa estava aberta, expondo as linhas azuis e vermelhas da tatuagem em seu peito.
— Está tomando uma xícara de café na cozinha — respondeu Fabrizzio — Sua mulher vem com o senhor?
Michael olhou de lado para ele. Ocorreu-lhe que Fabrizzio estava seguindo Apollonia demasiadamente com os olhos nas últimas semanas. Não que ele ousasse sequer dirigir algum galanteio à esposa do amigo do seu Don. Na Sicília não havia caminho mais certo para a morte. Michael respondeu friamente.
— Não, ela vai primeiro visitar a família, irá reunir-se a nós em breve.
Observou Fabrizzio correr para a choupana de pedra que servia de garagem para apanhar o Alfa Romeo.
Michael desceu até o banheiro para lavar-se. Apollonia não se encontrava mais lá. Provavelmente estaria na cozinha preparando o breakfast dele pessoalmente, para penitenciar-se da culpa que sentia porque queria ver a família uma vez mais, antes de ir para tão longe, do outro lado da Sicília. Don Tommasino arranjaria transporte para levá-la até onde se encontrasse Michael.
Na cozinha, a velha Filomena trouxe-lhe o café e se despediu dele.
— Vou dar lembranças suas a meu pai — disse Michael e ela acenou com a cabeça.
Calo entrou na cozinha e disse a Michael:
— O carro está lá fora, posso apanhar a sua maleta?
— Não, eu a apanharei — respondeu Michael — Onde esta Apollonia?
O rosto de Calo abriu-se num riso divertido.
— Está sentada no lugar do motorista do carro, morrendo de vontade de pisar no acelerador. Ela vai ser uma perfeita mulher americana antes de chegar na América.
Nunca se tinha ouvido falar de uma camponesa da Sicília que tentasse dirigir um carro. Mas Michael às vezes deixava Apollonia guiar o Alfa Romeo dentro dos muros da villa, sempre, porém, ao seu lado porque ela às vezes pisava no acelerador quando devia pisar no freio.
— Apanhe Fabrizzio e espere por mim no carro — disse Michael a Calo.
Em seguida saiu da cozinha e subiu a escada até o quarto. Sua maleta já estava arrumada. Antes de apanhá-la, olhou pela janela e viu o carro estacionado em frente dos degraus do pórtico e não na entrada da cozinha. Apollonia havia sentado no banco da frente, com as mãos na direção como uma criança brincando. Calo estava justamente pondo a cesta de comida no assento traseiro. E então Michael ficou aborrecido ao ver Fabrizzio desaparecer pelos portões da villa para fazer alguma coisa lá fora. Que diabo estava ele fazendo? Viu Fabrizzio dar uma olhada por cima do ombro, uma olhada um tanto furtiva. Ele ia ter que corrigir aquele maldito pastor. Michael desceu a escada e resolveu passar pela cozinha para ver novamente Filomena e dar-lhe um último adeus.
— O Dr. Taza está dormindo? — perguntou à velha.
Filomena fez uma cara manhosa e respondeu:
— Galos velhos não cantam mais para saudar o sol. O doutor foi a Palermo ontem à noite.
Michael deu uma gargalhada. Saiu pela entrada da cozinha e o cheiro de florescências de limão penetrava até mesmo no seu nariz meio tapado. Viu Apollonia acenar-lhe do carro apenas a dez passos da pista de entrada da villa e então compreendeu que ela estava fazendo sinal para que ele ficasse onde estava, que ela queria dizer que dirigiria o carro até onde ele se achava. Calo sorria ao lado do carro, balançando a lupara na mão. Mas não havia ainda nem sinal de Fabrizzio.
Nesse momento, sem qualquer processo racional consciente, tudo se ligou e se esclareceu em sua mente, e Michael gritou para a moça:
— Não! Não!
Mas o seu grito foi abafado pelo estrondo da tremenda explosão que Apollonia provocou ao ligar a ignição do carro. A porta da cozinha foi reduzida a fragmentos e Michael foi jogado ao longo do muro da villa a uns três metros de distância. Pedras caídas do telhado da casa atingiram-no nos ombros, e uma delas roçou-lhe o crânio quando ele estava deitado no chão. Michael teve consciência apenas o tempo suficiente para ver que nada restava do Alfa Romeo, a não ser as quatro rodas e os eixos de aço que as uniam.
Ele voltou si num quarto que parecia muito escuro e ouviu vozes falando tão baixo que não conseguia entender as palavras. Com um instinto animal, tentou fingir que ainda estava inconsciente, mas as vozes pararam e alguém estava inclinado de uma cadeira perto de sua cama, a voz era distinta agora e dizia:
— Bem, ele está finalmente conosco.
Uma lâmpada foi acesa, a sua luz parecia um fogo branco sobre os seus globos oculares, e Michael virou a cabeça. Sentia-se pesado, entorpecido. E então pôde ver que o rosto que estava por cima de sua cama era o do Dr. Taza.
— Deixe-me olhar você um minuto e depois desligarei a luz — disse o Dr. Taza gentilmente.
Ele estava acendendo uma lanterninha tipo lápis nos olhos de Michael.
— Você vai ficar bom — disse o Dr. Taza e voltou-se para outra pessoa que se encontrava na sala — Você pode falar com ele.
Era Don Tommasino que havia sentado numa cadeira perto da cama, Michael podia vê-lo claramente agora. Don Tommasino estava dizendo:
— Michael, Michael, posso falar com você? Quer descansar?
Era mais fácil levantar a mão para fazer um gesto e Michael assim fez.
— Fabrizzio trouxe o carro da garagem? — perguntou Don Tommasino.
Michael, sem saber que ele tinha feito isso, sorriu. Era, de um modo estranho, um riso frio, de assentimento. Don Tommasino explicou:
— Fabrizzio desapareceu. Ouça-me, Michael. Você esteve inconsciente por quase uma semana. Compreende? Todo mundo pensa que você morreu, assim você está seguro agora, eles deixaram de procurá-lo. Mandei recados para o seu pai, e ele enviará instruções. Não vai demorar muito agora, você vai voltar para a América. Enquanto isso, ficará repousando aqui sossegadamente. Você está seguro aqui nas montanhas, numa casa de uma quinta de minha propriedade. O pessoal de Palermo fez as pazes comigo agora, pois pensa que você está morto, assim era atrás de você que aquela gente andava o tempo todo. Queriam matá-lo, enquanto faziam os outros pensarem que era a mim que procuravam. Isso é uma coisa que você deve saber. Quanto ao resto deixe por minha conta. Recupere a sua força e fique tranqüilo.
Michael estava se lembrando de tudo agora. Sabia que sua mulher morrera, que Calo estava morto. Pensou na velha da cozinha. Não se lembrava se ela tinha vindo para fora com ele.
— E Filomena? — murmurou.
Don Tommasino respondeu calmamente:
— Ela não está ferida, apenas com o nariz sangrando por causa da explosão. Não se preocupe com ela.
— Fabrizzio — disse Michael — Que os seus pastores saibam que aquele que me entregar Fabrizzio terá as melhores pastagens da Sicília.
Os dois homens parece que suspiraram de alívio. Don Tommasino levantou um cálice de uma mesa próxima e bebeu um líquido âmbar que o fez sacudir a cabeça para cima. O Dr. Taza sentou-se na cama e disse quase distraidamente:
— Você sabe, você é viúvo. Isso é coisa rara na Sicília.
Como se a distinção pudesse confortá-lo.
Michael fez sinal a Don Tommasino para se inclinar mais um pouco. Don Tommasino sentou-se na cama e baixou a cabeça.
— Diga a meu pai para fazer eu voltar para casa — pediu Michael — Diga a meu pai que desejo ser filho dele.
Mas ainda foi necessário um mês para que Michael se restabelecesse dos ferimentos e mais dois para que todos os documentos e arranjos estivessem prontos. Depois, ele foi enviado de avião de Palermo para Roma e de Roma para Nova York. E durante todo esse tempo não se encontrou qualquer vestígio de Fabrizzio.




Continua... 







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Frase Curiosa"Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère

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