quinta-feira, 1 de março de 2012

O PODEROSO CHEFÃO - CAPÍTULO 21



CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 ANOS



CAPÍTULO
21




M
AS TEVE DE TRANSCORRER quase outro ano para que Don Corleone pudesse arranjar que seu filho Michael voltasse clandestinamente para os Estados Unidos. Durante esse tempo, toda a Família quebrou a cabeça para arquitetar pianos adequados. Até Carlo Rizzi foi ouvido, agora que ele morava na alameda com Connie (durante esse tempo, eles tiveram um segundo filho, um menino). Mas nenhum dos planos mereceu a aprovação de Don Corleone.
Finalmente, foi a Família Bocchicchio que, através de uma infelicidade que lhe ocorreu, resolveu o problema.
Havia um Bocchicchio, um primo jovem que não tinha mais de 25 anos de idade, chamado Felix, que nascera na América e que tinha mais cabeça do que qualquer outro membro do clã jamais tivera. Ele se recusara a entrar no negócio de coleta de lixo da Família e se casara com uma distinta moça americana de ascendência inglesa, para consolidar ainda mais o seu afastamento do clã. Freqüentava a escola à noite, para se tornar advogado, e trabalhava durante o dia como funcionário dos correios. Durante esse tempo, sua mulher teve três filhos. Ela era uma administradora competente, e eles viveram do salário dela até que o marido se formou.
Agora Felix Bocchicchio, como muitos outros jovens, pensava que, tendo lutado para terminar seus estudos e dominar as ferramentas de sua profissão, a sua virtude seria automaticamente recompensada e ele levaria uma vida decente. Isso, porém, infelizmente não aconteceu. Ainda orgulhoso, ele se recusou a aceitar qualquer ajuda do clã. Mas um advogado amigo seu, um jovem bem relacionado e que estava iniciando a carreira numa grande firma de advocacia, solicitou a Felix que lhe fizesse um pequeno favor. Era uma coisa muito complicada, aparentemente legal, e tinha relação com um caso de falência fraudulenta. Tinha a possibilidade de um milhão contra um de ser descoberta. Felix Bocchicchio aceitou o risco. Já que a fraude envolvia o uso de recursos legais que ele aprendera na universidade, parecia não ser assim tão condenável e, de maneira curiosa, nem mesmo criminosa.
Para resumir a história, a fraude foi descoberta. O amigo advogado recusou-se a ajudar Felix de qualquer maneira, recusou-se até a atender os seus telefonemas. Os dois responsáveis principais pela fraude, astutos negociantes de meia-idade que atribuíram à incompetência jurídica de Felix Bocchicchio o fato de ter o plano dado mau resultado, confessaram-se culpados e colaboraram com o Estado, indicando Felix Bocchicchio como o cabeça da fraude e alegando que usara de ameaças de violência para controlar o negócio deles e forçá-los a colaborar com ele em seus planos fraudulentos. Foi provado que Felix tinha tios e sobrinhos no clã Bocchicchio que possuíam antecedentes criminais de atos de violência, e isso lhe foi ruinoso. Os dois negociantes foram condenados e obtiveram sursis. Felix Bocchicchio foi condenado a uma pena de um a cinco anos e cumpriu três deles. O clã não solicitou auxílio de qualquer das Famílias ou de Don Corleone porque Felix se recusara a pedir-lhe ajuda e precisava receber uma lição: que a misericórdia só vem da Família, que a Família é mais leal e merece mais confiança do que a sociedade.
De qualquer forma, Felix Bocchicchio foi solto depois de cumprir três anos de prisão, voltou para casa e beijou a mulher e os três filhos e viveu tranqüilamente durante um ano, e então mostrou que era do clã dos Bocchicchio afinal de contas. Sem qualquer tentativa de esconder sua culpa, arranjou uma arma, uma pistola, e atirou no seu amigo advogado, matando-o. Depois procurou os dois negociantes e calmamente atirou-lhes na cabeça quando eles saíam de uma lanchonete. Deixou os corpos estendidos na rua e entrou na lanchonete onde pediu uma xícara de café que bebeu enquanto esperava que a polícia chegasse para prendê-lo.
O seu julgamento foi rápido e a sentença impiedosa. Um membro do submundo assassinara a sangue frio testemunhas que o tinham enviado para a prisão que ele indiscutivelmente merecia. Era um escárnio flagrante à sociedade e imediatamente o público, a imprensa, a estrutura da sociedade e os humanitários de cabeça mole e de coração também mole se uniram em seu desejo de ver Felix Bocchicchio na cadeira elétrica. O governador do Estado não lhe concederia mais clemência do que os funcionários da carrocinha dispensariam a um cão danado, de acordo com as próprias palavras pronunciadas por um dos mais íntimos colaboradores do governador. O clã dos Bocchicchio naturalmente gastaria quanto dinheiro fosse necessário em apelos para as instâncias superiores; agora, sentiam-se orgulhosos dele, mas a conclusão era certa. Depois das formalidades legais, que poderiam tomar algum tempo, Felix Bocchicchio morreria na cadeira elétrica.
Foi Hagen quem trouxe esse caso à atenção de Don Corleone a pedido de um membro da Família Bocchicchio que alimentava a esperança de que alguma coisa pudesse ser feita em favor do jovem Felix. Don Corleone laconicamente se recusou. Ele não era mágico. As pessoas pediam-lhe o impossível. Mas no dia seguinte, Don Corleone chamou Hagen ao escritório e fê-lo relatar o caso com os mínimos detalhes. Quando Hagen terminou, Don Corleone disse-lhe que convidasse o chefe do clã dos Bocchicchio para uma reunião na alameda.
O que aconteceu a seguir teve a simplicidade de uma idéia genial.
Don Corleone garantiu ao chefe do clã dos Bocchicchio que a mulher e os filhos de Felix Bocchicchio seriam recompensados com uma bela pensão. O dinheiro destinado a isso seria imediatamente entregue ao clã dos Bocchicchio. Em troca, Felix devia confessar ter assassinado Sollozzo e o capitão da polícia McCluskey.
Havia muitos detalhes a serem combinados. Felix Bocchicchio teria de confessar de modo convincente, isto é, teria de conhecer alguns dos detalhes verdadeiros para relatar o crime. Também devia implicar o capitão da polícia no tráfico de entorpecentes. Depois, o garçom do Restaurante Luna deveria ser persuadido a identificar Felix Bocchicchio como o assassino. Isso exigiria muita coragem pois a descrição mudaria radicalmente, já que Felix Bocchicchio era mais baixo e robusto. Porém Don Corleone cuidaria disso. Também como o condenado era um homem que acreditava na educação secundária e superior, gostaria que seus filhos freqüentassem a faculdade. Assim, uma soma de dinheiro teria de ser paga por Don Corleone para que os filhos de Felix pudessem cursar a faculdade. Além disso, o clã dos Bocchicchio deveria ter a certeza de que não havia esperança de clemência pelos crimes realmente praticados por Felix. A nova confissão evidentemente selaria a sua condenação fatal, já quase certa.
Tudo foi devidamente combinado, o dinheiro pago e o necessário contato feito com o homem condenado, de forma que ele fosse instruído e aconselhado. Finalmente, o plano foi estabelecido e a confissão fez manchete em todos os jornais. Toda a encenação foi um autêntico sucesso. Mas Don Corleone, cauteloso como sempre, esperou que se passassem quatro meses após a execução de Felix Bocchicchio para finalmente dar a ordem de que Michael Conleone podia voltar para casa.





 Continua...






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Frase Curiosa"Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia." Jean de La Bruyère

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