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MIGUEL TEVEL É
TRANSMITIDO PELA TELEVISÃO
Ao ver a barra de chocolate ser transmitida pela
TV, Miguel Tevel ficou mais entusiasmado ainda do que Vovô José.
— Mas, Sr. Wonka, dá para mandar outras coisas
pelo ar, desse mesmo jeito? Cereais para o café da manhã, por exemplo?
— Ah, minha santa tia! Não fale dessa comida
nojenta na minha frente. Sabe do que são feitos esses cereais? Daquelas
raspinhas de madeira que se formam quando a gente aponta lápis.
— Mas, se a gente quisesse, daria para mandar pela
TV, como o chocolate? — perguntou Miguel Tevel.
— Claro que daria!
— E gente? Dá para mandar uma pessoa viva de um
lugar para o outro, do mesmo jeito?
— Uma pessoal Ficou maluco? — exclamou o
Sr. Wonka.
— Mas daria para fazer isso?
— Nossa, menino! Nem sei... Pode ser... É... acho
que sim... é claro que sim. Mas eu não arriscaria. Poderia ser desastroso...
Mas Miguel Tevel já tinha saído correndo. Assim
que ouviu o Sr. Wonka dizer “acho que sim”, virou-se e saiu correndo em direção
à câmera:
— Olhem só para mim! Vou ser a primeira pessoa a
ser “transmitida” pela TV!
— Não, não, não! — gritou o Sr. Wonka.
— Miguel! Pare! Volte! Você vai virar picadinho!
— gritou a Sra. Tevel.
Mas não dava mais para segurar o Miguel Tevel. O
maluco correu direto para a alavanca da câmera, abrindo caminho entre os
umpa-lumpas, aos empurrões.
— Até logo mais, minha gente! — ele gritou. E,
empurrando a alavanca para baixo, mergulhou na luz brilhante das lentes
poderosas.
Um raio ofuscante iluminou a sala. Depois,
silêncio.
A Sra. Tevel avançou correndo... mas parou no
meio da sala, olhando, estatelada, para o lugar onde o filho tinha estado...
escancarou a boca enorme e vermelha e gritou:
— Ele sumiu! Ele sumiu!
— Puxa vida, ele sumiu mesmo — exclamou o Sr.
Tevel.
O Sr. Wonka colocou a mão no ombro da Sra. Tevel.
— Vamos esperar pelo melhor — disse ele — Vamos
rezar para o menino sair inteiro do outro lado da coisa.
— Miguel! — gritou a Sra. Tevel, levando as mãos
à cabeça — Onde está você?
— Posso lhe dizer onde ele está — prontificou-se
o Sr. Wonka — Voando por cima das nossas cabeças, dividido em milhões de
pedacinhos!
— Não fale assim! — choramingou a Sra. Tevel.
— Precisamos assistir à televisão. Ele pode
aparecer a qualquer momento — animou o Sr. Wonka.
O Sr. e a Sra. Tevel, o Vovô José e Charlie
reuniram-se na frente da TV, ansiosos. Na tela não havia nada.
— Está demorando muito para voltar — disse o Sr.
Tevel, enxugando o suor da testa.
— Ai, ai, ai, tomara que não fique faltando
nenhuma parte dele — disse o Sr. Wonka.
— O que está querendo dizer? — perguntou o Sr.
Tevel, zangado.
— Não quero alarmá-los, mas pode acontecer que só
a metade dos pedacinhos seja transmitida ao televisor. Aconteceu na semana
passada. Não sei por que, mas só a metade de um tablete apareceu no vídeo.
A Sra. Tevel soltou um grito de horror:
— Então pode ser que só meio Miguel volte para
nós?
— Esperemos que seja, pelo menos, a metade de
cima — disse o Sr. Tevel.
— Parem! Olhem a tela! Alguma coisa está
acontecendo! — exclamou o Sr. Wonka.
A tela começou a piscar. Apareceram algumas
ondas.
O Sr. Wonka ajustou um dos botões e as ondas
sumiram. Devagar, muito devagar, a tela foi ficando cada vez mais brilhante.
— Está chegando! — urrou o Sr. Wonka. — É ele
mesmo!
— Está inteiro? — perguntou a Sra. Tevel.
— Não tenho certeza. Ainda é cedo para dizer —
respondeu o Sr. Wonka.
Meio embaçado, no começo, mas tornando-se cada
vez mais nítido, Miguel Tevel apareceu na tela. Estava de pé, acenando para o
público, e com um sorriso que ia de uma orelha à outra.
— Mas ele virou anão! — exclamou o Sr. Tevel.
— Miguel! — gritou a Sra. Tevel — você está bem?
Inteirinho?
— Ele não vai crescer? — perguntou o Sr. Tevel.
— Fale comigo, Miguel. Diga alguma coisa! Diga
que está bem! — pediu a Sra. Tevel.
Da tela saiu uma voz fininha, baixinha como um
chiado de rato.
— Oi mãe, oi pai! Olhem só! A primeira pessoa
transmitida pela televisão!
— Agarrem-no! — ordenou o Sr. Wonka — Depressa!
A Sra. Tevel estendeu a mão e puxou para fora da
tela a figurinha de Miguel Tevel.
— Viva — gritou o Sr. Wonka — Está inteiro! Não
aconteceu nada!
— O senhor chama isso de inteiro? —
zangou-se a Sra. Tevel, olhando o garoto do tamanho de um dedo que corria pela
palma da sua mão, brandindo seus revólveres. Não tinha mais do que 2,5 cm de
altura.
— Ele encolheu! — disse o Sr. Tevel.
— Claro que encolheu — respondeu o Sr. Wonka — O
que o senhor esperava?
— Mas é horrível! — chorava a Sra. Tevel — O que
vamos fazer agora?
— Ele não pode voltar à escola. Vai ser esmagado!
— soluçou o Sr. Tevel.
— Não vai conseguir fazer nada! — gritou a
Sra. Tevel.
— Ah, posso sim! — disse a vozinha esganiçada do
Miguel — Ainda posso assistir à televisão!
— Nunca mais! — berrou o Sr. Tevel — Vou
jogar o televisor pela janela assim que chegar em casa. Chega de televisão!
Ao escutar isso, Miguel Tevel começou a ter um
ataque de birra. Pulava na palma da mão da mãe, gritando e se esgoelando,
tentando morder os dedos dela.
— Eu quero assistir TV! — guinchava ele — Quero
assistir TV! Eu quero! eu quero!
— Espere. Deixe esse pirralho comigo! — disse o
Sr. Tevel. Pegou o garoto, enfiou-o no bolso do paletó e colocou o lenço por
cima. Do bolso saíam gritos e guinchos, e ele se mexia furiosamente enquanto o
prisioneiro tentava fugir.
— Ah, Sr. Wonka — implorou a Sra. Tevel — o que
vamos fazer para ele crescer?
O Sr. Wonka passou a mão pela barba, olhando
pensativamente para o teto:
— Na verdade, acho que não vai ser fácil. Mas
meninos pequenos são muito maleáveis e elásticos. Têm uma capacidade enorme de
esticar. Podemos colocá-lo na máquina especial de testar a elasticidade do
chiclete. Talvez ele volte ao tamanho normal.
— Obrigada, obrigada! — exclamou a Sra. Tevel.
— De nada, de nada, minha senhora.
— Quanto o senhor acha que ele vai esticar? —
perguntou o Sr. Tevel.
— Talvez alguns quilômetros. Quem sabe? Mas vai
ficar muito magrinho. Todo mundo fica magrinho quando estica —
respondeu o Sr. Wonka.
— Como chiclete? — perguntou o Sr. Tevel.
— Exatamente.
— Quanto ele vai pesar? — perguntou a Sra. Tevel,
ansiosa.
— Não tenho a menor idéia. Mas na verdade não
importa, porque vai ser fácil engordá-lo de novo. É só ele tomar uma dose
tripla do meu Chocolate Super-vitaminado. O Chocolate Super-vitaminado contém
muita vitamina A e B. E também vitamina C, vitamina D, vitamina E, vitamina F,
vitamina G, vitamina I, vitamina J, vitamina K, vitamina L, vitamina M,
vitamina N, vitamina O, vitamina P, vitamina Q, vitamina R, vitamina T,
vitamina U, vitamina V, vitamina W, vitamina X, vitamina Y, e, acredite ou não,
vitamina Z. Só não tem vitamina S, que dá enjôo, e vitamina H, que faz crescer
chifres na testa, como um touro. Mas tem uma quantidade bem pequena da
vitamina mais rara e mais mágica de todas, a vitamina Wonka.
— E o que essa vitamina vai fazer com ele? —
perguntou o Sr. Tevel, muito aflito.
— Vai fazer os dedos dos pés ficarem do tamanho
dos dedos das mãos...
— Ah, não! — choramingou a Sra. Tevel.
— Não seja boba. Isso é ótimo. Ele vai poder
tocar piano com os pés — esclareceu o Sr. Wonka.
— Mas, Sr. Wonka...
— Chega de discussão, por favor —
irritou-se o Sr. Wonka. Afastou-se e estalou os dedos três vezes no ar.
Imediatamente um umpa-lumpa perfilou-se ao seu lado — Siga estas instruções —
disse o Sr. Wonka, entregando ao umpa-lumpa um pedaço de papel — O menino está
no bolso do pai. Podem ir! Até logo, Sr. Tevel! Até logo, Sra. Tevel! E não
fiquem tão preocupados! Tudo vai acabar bem, tudo...
Na extremidade da sala os umpa-lumpas à volta da
câmera gigante já batiam seus pequenos tambores e começavam a dançar ao ritmo
da música.
— Já vão começar de novo. Acho que não vamos
conseguir fazê-los parar de cantar — disse o Sr. Wonka.
Charlie pegou a mão do Vovô José e os dois
ficaram ao lado do Sr. Wonka, no meio da sala comprida e brilhante, escutando
os umpa-lumpas. E eles cantaram:
Era e não era, que história maluca,
Será uma aventura ou uma arapuca?
Dos cinco do início da história
Só um vai obter a vitória.
Três já tomaram chá de sumiço.
Falta só um pra acabar o serviço.
Pois tem um sujeito que é um grande palhaço
E sempre se acha o bom do pedaço.
O tonto se chama Miguel Tevel,
Tem rima no nome e é um grande pastel.
Não lê, mal conversa, não pinta, não borda,
Não brinca de pique e nem pula corda.
O tonto só tem uma grande paixão,
Só pensa e só fala em televisão.
Deixa a TV o dia todo ligada
E nem vê o que presta, só vê patacoada.
Papo com ele não dá pra levar,
Por falta de assunto já vou terminar.
O cara é um chato, não tem outro jeito,
Vai ter que ir pro ar, e eu acho bem-feito.
continua...