terça-feira, 6 de novembro de 2012

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Capítulo 22





— CAPÍTULO VINTE E DOIS —
AS RELÍQUIAS DA MORTE



HARRY CAIU, arquejando no capim, e se levantou depressa. Pareciam ter aparatado no canto de um campo ao anoitecer, Hermione já estava correndo em círculo à volta deles, gesticulando com a varinha.
— Protego totalum... Salvio hexia...
— Aquele parasita traiçoeiro! — arfou Rony, saindo debaixo da Capa da Invisibilidade e atirando-a para Harry — Hermione, você é um gênio, um gênio completo, nem acredito que nos safamos!
— Cave inimicum... eu não disse que era chifre de erumpente? Não disse? Agora a casa dele explodiu!
— Bem feito — comentou Rony, examinando o jeans rasgado e os cortes nas pernas — Que acha que farão com ele?
— Ah, espero que não o matem! — gemeu Hermione — Foi por isso que eu quis que os Comensais da Morte vissem o Harry antes de sairmos, para saberem que o Xenófilo não estava mentindo!
— Mas por que me esconder? — perguntou Rony.
— Porque acham que você está de cama com sarapintose, Rony! Eles sequestraram Luna porque o pai apoiava Harry! Que aconteceria com a sua família se soubessem que você está com ele?
— Mas e os seus pais?
— Estão na Austrália — respondeu Hermione — Devem estar bem. Não sabem de nada.
— Você é um gênio — repetiu Rony, assombrado.
— E é mesmo, Hermione — concordou Harry, com fervor — Não sei o que faríamos sem você.
Seu rosto se iluminou sorridente, mas imediatamente ficou sério.
— E a Luna?
— Bem, se eles estiverem dizendo a verdade e ela ainda estiver viva... — começou Rony.
— Não diga isso, não diga isso! — guinchou Hermione — Ela precisa estar viva, precisa!
— Então estará em Azkaban, suponho — disse Rony — Mas, se vai sobreviver à prisão... muita gente não...
— Vai sobreviver — afirmou Harry. Ele não suportaria pensar na alternativa — Ela é durona, a Luna, muito mais do que se imaginaria. Provavelmente está ensinando aos companheiros de prisão tudo a respeito de zonzóbulos e narguilés.
— Espero que você tenha razão — disse Hermione. E passou as mãos pelos olhos — Eu teria tanta pena de Xenófilo se...
—... se não tivesse acabado de tentar nos vender para os Comensais da Morte, sim — completou Rony.
Os garotos armaram a barraca e se retiraram para o seu interior, onde Rony preparou o chá para todos. Depois de se salvarem por um triz, a barraca fria e bolorenta parecia um lar, seguro, familiar e amigo.
— Ah, por que fomos lá? — gemeu Hermione, depois de alguns minutos de silêncio — Harry estava certo, foi uma repetição de Godric’s Hollow, uma completa perda de tempo! As Relíquias da Morte... quanta besteira... embora... — um pensamento repentino parecia ter lhe ocorrido — Aquilo possa ser tudo invenção dele, não? Provavelmente não acredita nem um pouco nessas Relíquias, só queria nos dar corda até os Comensais da Morte chegarem!
— Acho que não — disse Rony — É muito mais difícil inventar histórias quando se está sob pressão do que vocês imaginam. Descobri isso quando os sequestradores me pegaram. Foi muito mais fácil fingir que era Lalau, porque eu conhecia alguma coisa sobre ele, do que inventar alguém inteiramente novo. O velho Lovegood estava sob uma baita pressão, tentando garantir que não fôssemos embora. Acho que nos contou a verdade, ou o que ele pensa que seja a verdade, só para sustentar a conversa.
— Bem, suponho que não faça diferença — suspirou Hermione — Mesmo que estivesse sendo sincero, nunca ouvi tanto absurdo na minha vida.
— Mas calma aí — replicou Rony — Também disseram que a Câmara Secreta era um mito, não foi?
— Mas as Relíquias da Morte não podem existir, Rony!
— Você não para de dizer isso, mas uma delas pode. A Capa da Invisibilidade do Harry...
— “O conto dos três irmãos” é uma história — disse Hermione, com firmeza — Uma história sobre o medo que os seres humanos têm da morte. Se sobreviver fosse tão simples quanto se esconder sob a Capa da Invisibilidade, já teríamos tudo de que precisamos!
— Não sei. Uma varinha invencível seria de bom tamanho — disse Harry, girando entre os dedos a varinha de ameixeira-brava que tanto detestava.
— Isso não existe, Harry!
— Você disse que tem havido uma quantidade de varinhas: a Varinha da Morte ou que nome tenham...
— Tudo bem, mesmo que você queira se iludir, a Varinha das Varinhas é real, e a Pedra da Ressurreição? — ela desenhou com os dedos pontos de interrogação em torno do nome, e seu tom escorria sarcasmo — Não há magia que possa ressuscitar os mortos, e pronto!
— Quando a minha varinha entrou em contato com a de Você-Sabe-Quem, minha mãe e meu pai apareceram... e Cedrico...
— Mas não voltaram realmente do além, não é? — disse Hermione — Essas pálidas imitações não são pessoas de fato ressuscitadas.
— Mas ela, a garota da história, não voltou de verdade, voltou? A história diz que uma vez que a pessoa morre, seu lugar é junto aos mortos. Mas o segundo irmão ainda chegou a vê-la e a falar com ela, não foi? Até conviveu com ela por algum tempo...
Harry viu preocupação e outra coisa menos facilmente definível na expressão de Hermione. Então, quando a garota olhou para Rony, ele percebeu que era medo: Harry a deixara apavorada com essa conversa de viver com gente morta.
— Então, aquele tal Peverell que está enterrado em Godric’s Hollow — acrescentou, depressa, tentando parecer irredutivelmente são — Você não sabe nada dele?
— Não — respondeu Hermione, parecendo aliviada com a mudança de assunto — Procurei o nome dele depois que vi a marca no túmulo, se tivesse sido alguém famoso ou feito alguma coisa importante, estaria em um dos nossos livros. O único lugar em que consegui encontrar o nome “Peverell” foi em A Nobreza Natural: Uma Genealogia dos Bruxos. Pedi o livro emprestado a Monstro — explicou quando Rony ergueu as sobrancelhas — Lista as famílias de Sangue Puro que agora estão extintas pela linhagem masculina. Aparentemente, a família Peverell foi uma das primeiras.
— Extintas pela linhagem masculina? — repetiu Rony.
— Quero dizer que o nome morreu — explicou Hermione — Há séculos, no caso dos Peverell. Mas eles talvez ainda tenham descendentes, sob um nome diferente.
Então ocorreu a Harry, com absoluta clareza, a lembrança que fora despertada com a menção do nome Peverell: um velho imundo brandindo um feio anel na cara do funcionário do Ministério, e ele exclamou em voz alta:
— Servolo Gaunt!
— Desculpe? — disseram Rony e Hermione ao mesmo tempo.
— Servolo Gaunt! O avô de Você-Sabe-Quem! Na Penseira! Com Dumbledore! Servolo Gaunt disse que descendia dos Peverell!
Rony e Hermione pareciam perplexos.
— O anel, o anel que virou uma Horcrux, Servolo Gaunt disse que tinha o brasão dos Peverell nele! Eu o vi sacudindo o anel na cara do funcionário do Ministério, quase o enfiou no nariz do homem!
— O brasão dos Peverell? — perguntou Hermione, vivamente — Você viu como era?
— Na verdade, não — respondeu Harry, tentando lembrar — Pelo que pude ver, não tinha nenhum ornato, talvez alguns riscos. Eu só o vi realmente de perto depois de rachado.
Harry percebeu a compreensão nos olhos subitamente arregalados de Hermione. Rony olhava de um para outro, abismado.
— Caramba... vocês acham que foi o mesmo símbolo outra vez? O símbolo das Relíquias?
— Por que não? — perguntou Harry agitado — Servolo Gaunt era um babaca velho e ignorante que vivia como um porco, e só se importava com a sua ancestralidade. Se aquele anel tivesse sido legado através dos séculos, ele talvez nem conhecesse realmente o seu valor. Não havia livros naquela casa e, pode crer, ele não era do tipo que lê contos de fadas para os filhos. Teria gostado de pensar que os riscos na pedra eram um brasão porque, na cabeça dele, ter Sangue Puro transformava a pessoa praticamente em realeza.
— Sei... e isso é tudo muito interessante — disse Hermione, cautelosa — Mas, Harry, se você estiver pensando o que eu acho que está pensando...
— E por que não? Por que não? — perguntou Harry, abandonando a cautela — Era uma pedra, não era? — ele olhou para Rony em busca de apoio — E se fosse a Pedra da Ressurreição?
O queixo de Rony despencou.
— Caramba... mas será que ainda funcionaria, se Dumbledore o rachou...
— Funcionaria? Funcionaria? Rony, nunca funcionou! Não existe Pedra da Ressurreição! — Hermione se erguera de um pulo, parecendo impaciente e zangada — Harry, você está tentando encaixar tudo na história das Relíquias...
— Encaixar tudo? Hermione, tudo se encaixa sozinho! Sei que o símbolo das Relíquias da Morte estava naquela pedra! Gaunt disse que descendia dos Peverell!
— Um minuto atrás você disse que nunca viu direito o símbolo que havia na pedra!
— Onde acha que o anel está agora? — perguntou Rony a Harry — Que foi que Dumbledore fez com ele depois que o rachou?
Mas a imaginação de Harry já voava adiante, muito além da de Rony e Hermione...
Três objetos, ou Relíquias, que, se unidas, tornarão o seu dono senhor da Morte... senhor... conquistador... vencedor... Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte...
E ele se viu possuidor das Relíquias, enfrentando Voldemort, cujas Horcruxes não eram páreo... nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... seria essa a resposta? Relíquias contra Horcruxes? Haveria afinal uma forma de garantir que ele é quem triunfaria? Se fosse o senhor das Relíquias da Morte, seria salvo?
— Harry?
Ele, porém, nem ouvia Hermione: tinha apanhado a Capa da Invisibilidade e corria os dedos por ela, o tecido maleável como água, leve como o ar. Ele nunca vira nada igual em seus quase sete anos no mundo bruxo. A capa era exatamente o que Xenófilo descrevera: uma capa que real e verdadeiramente torna o seu usuário invisível, e dura para todo o sempre, ocultando-o de forma constante e impenetrável, seja quais forem os feitiços que se lancem sobre ela.
Então, com uma exclamação, ele se lembrou...
— Dumbledore estava com a minha capa, na noite em que meus pais morreram!
Sua voz tremeu e ele sentiu o sangue afluir ao seu rosto, mas não ligou.
— Minha mãe disse a Sirius que Dumbledore tinha pedido a capa emprestada! Foi para isso! Queria examiná-la, porque achava que fosse a terceira Relíquia! Ignoto Peverell está enterrado em Godric’s Hollow... — Harry andava às cegas pela barraca, sentindo que se abriam novos horizontes de verdade para todos os lados — Ele é meu antepassado! Descendo do terceiro irmão! Tudo faz sentido!
Sentiu-se armado de certeza em sua crença nas Relíquias, como se a simples ideia de possuí-las o protegesse, e se sentia exultante quando se voltou para os outros dois.
— Harry — tornou a chamar Hermione, mas ele estava ocupado, desamarrando a bolsa ao seu pescoço, seus dedos muito trêmulos.
— Leia isso — disse à amiga, empurrando a carta da mãe nas mãos dela — Leia! Dumbledore estava com a capa, Hermione! Para que mais ele iria querê-la? Ele não precisava de uma capa, era capaz de lançar um Feitiço da Desilusão tão poderoso que se tornava completamente invisível sem vestir nada!
Alguma coisa caiu no chão e rolou, reluzindo, para baixo de uma poltrona: deslocara o pomo junto com a carta. Harry se abaixou para apanhá-lo. Então, a recém-aberta fonte de fabulosas descobertas lhe atirou mais uma dádiva, e o choque e o assombro irromperam nele, fazendo-o gritar:
— ESTÁ AQUI DENTRO! Ele me deixou o anel... está no pomo!
— Você... você acha?
Ele não conseguiu entender por que Rony parecia tão surpreso. Era tão óbvio, tão claro para Harry: tudo se encaixava, tudo... sua capa era a terceira Relíquia e, quando ele descobrisse como abrir o pomo, teria a segunda, e depois só precisaria encontrar a primeira Relíquia, a Varinha das Varinhas, e então...
Foi como se a cortina descesse sobre um palco iluminado: toda a sua excitação, toda a sua esperança e felicidade se extinguiram de um golpe, e ele ficou parado no escuro, e o glorioso encantamento se rompeu.
— É isso que ele está procurando!
A mudança no seu tom de voz fez Rony e Hermione parecerem ainda mais apavorados.
— Você-Sabe-Quem está procurando a Varinha das Varinhas.
Harry deu as costas para os rostos incrédulos e tensos dos amigos.
Sabia que era verdade. Tudo fazia sentido. Voldemort não estava procurando uma nova varinha, estava procurando uma velha varinha, de fato muito velha.
Harry se encaminhou para a entrada da barraca, esquecido de Rony e Hermione, e contemplou a noite, refletindo...
Voldemort fora criado em um orfanato trouxa. Ninguém teria lhe falado sobre Os Contos de Beedle, o Bardo quando era criança, da mesma forma que Harry nunca ouvira falar deles. Poucos bruxos acreditavam nas Relíquias da Morte. Seria provável que Voldemort soubesse de sua existência?
Harry perscrutou a escuridão... se Voldemort tivesse sabido das Relíquias da Morte, certamente as teria procurado, e feito qualquer coisa para possuí-las: três objetos que tornavam o seu dono senhor da Morte? Se tivesse ouvido falar das Relíquias, talvez nem tivesse precisado das Horcruxes para começar. Será que o simples fato de ter pego uma Relíquia para transformá-la em uma Horcrux não demonstrava que ele não conhecia esse grande segredo do mundo bruxo? Isto significava que Voldemort estava procurando a Varinha das Varinhas sem compreender o seu total poder, sem saber que era uma das três... pois a varinha era uma Relíquia que não poderia ser escondida, cuja existência era a que se conhecia melhor... o rastro sangrento da Varinha das Varinhas mancha as páginas da História da Magia.
Harry fitou o céu nublado, curvas de prata e cinza-enfumaçado deslizando pela face branca da lua. Sentiu-se delirante de assombro com as suas descobertas.
Tornou a entrar na barraca. Foi um choque ver Rony e Hermione parados exatamente onde os deixara, Hermione ainda segurando a carta de Lílian, Rony a seu lado, ligeiramente ansioso. Será que não percebiam o quanto tinham avançado nos últimos minutos?
— E isso aí — anunciou Harry, tentando atraí-los para o fulgor de sua espantosa certeza — Isto explica tudo. As Relíquias da Morte são reais, e tenho uma... talvez duas...
Ele mostrou o pomo.
—... e Você-Sabe-Quem está procurando a terceira, mas ele não sabe... acha que é apenas uma varinha poderosa...
— Harry — disse Hermione, aproximando-se dele e devolvendo a carta de Lílian — Lamento, mas acho que você entendeu errado, tudo errado.
— Mas você não está vendo? Tudo se encaixa...
— Não, não se encaixa. Não se encaixa, Harry, você está se deixando levar por seu entusiasmo. Por favor — disse Hermione, quando ele começou a falar — Por favor, me responda apenas uma coisa. Se as Relíquias da Morte realmente existissem e Dumbledore soubesse disso, soubesse que a pessoa que possuísse as três seria o senhor da Morte... Harry, por que não lhe teria dito isso? Por quê?
Ele tinha a resposta.
— Foi você quem disse, Hermione! Tenho que encontrar as Relíquias sozinho! É uma busca!
— Mas eu só disse isso para convencer você a procurar os Lovegood! — exclamou Hermione, exasperada — Não acreditava realmente em Relíquias!
Harry não lhe deu atenção.
— Dumbledore normalmente me deixava descobrir as coisas sozinho. Ele me deixava experimentar a minha força, correr riscos. Isso me parece o tipo de coisa que ele faria.
— Harry, isso não é um jogo, não é um treino! É para valer, e Dumbledore lhe deixou instruções claras: encontre e destrua as Horcruxes! O símbolo não significa nada, esqueça as Relíquias da Morte, não podemos nos desviar...
Harry mal a escutava. Virava e revirava o pomo nas mãos, em uma semi-expectativa de que o objeto se abrisse, revelasse a Pedra da Ressurreição, provasse à Hermione que ele tinha razão, que as Relíquias da Morte eram reais.
Ela apelou para Rony.
— Você não acredita nisso, acredita?
Harry ergueu a cabeça.
Rony hesitou.
— Não sei... quero dizer... tem umas coisinhas que se encaixam — respondeu ele, sem graça — Mas quando examinamos o conjunto... — ele inspirou profundamente — Acho que temos que nos livrar das Horcruxes, Harry. Foi o que Dumbledore nos disse para fazer. Talvez... talvez a gente deva esquecer essa história de Relíquias.
— Obrigada, Rony — disse Hermione — Farei a primeira vigia.
E ela passou por Harry a passo firme e se sentou à entrada da barraca, transformando esse ato em um veemente ponto final.
Harry, no entanto, mal dormiu aquela noite. A ideia das Relíquias da Morte tinha se apoderado dele, e não o deixou descansar porque sonhos agitados espiralavam por sua mente: a varinha, a pedra e a capa, se ao menos pudesse possuir as três...
Abro no fecho... mas o que era esse “fecho”? Por que não poderia ter a pedra agora? Se ao menos tivesse a pedra, poderia fazer essas perguntas a Dumbledore pessoalmente... e, no escuro, Harry murmurou palavras para o pomo, tentando tudo, até ofidioglossia, mas a bolinha de ouro não se abriu...
E a varinha, a Varinha das Varinhas, onde se escondia? Onde Voldemort a estaria procurando agora? Harry desejou que sua cicatriz ardesse e lhe mostrasse os pensamentos de Voldemort, porque, pela primeira vez na vida, os dois estavam unidos no mesmo desejo... Hermione, é claro, não gostaria dessa ideia... mas, por outro lado, ela não acreditava... Xenófilo de certa forma tivera razão... Limitada. A mente estreita. Fechada. A verdade é que ela estava apavorada com a ideia das Relíquias da Morte, principalmente com a Pedra da Ressurreição... e Harry tornou a comprimir a boca contra o pomo, beijando-o, quase engolindo-o, mas o frio metal não cedeu...
Já estava quase amanhecendo quando se lembrou de Luna, sozinha em uma cela em Azkaban, cercada por dementadores, e de repente sentiu-se envergonhado. Esquecera-se da amiga em sua febril contemplação das Relíquias. Se ao menos pudessem salvá-la, mas dementadores tão numerosos seriam virtualmente inatacáveis. Agora que pensava nisso, ainda não experimentara conjurar um Patrono com a varinha de ameixeira-brava... precisava fazê-lo pela manhã... se ao menos houvesse um jeito de obter uma varinha melhor...
E o desejo pela Varinha das Varinhas, a Varinha da Morte, imbatível, invencível, devorou-o mais uma vez...

* * *

Eles levantaram acampamento na manhã seguinte e continuaram viagem em meio a um monótono aguaceiro. A chuva os acompanhou até o litoral, onde acamparam aquela noite, e continuaram a semana inteira atravessando paisagens encharcadas, que Harry achou desoladas e deprimentes. Seu único pensamento eram as Relíquias da Morte. Era como se tivessem acendido uma chama dentro dele que nada, nem a categórica descrença de Hermione nem as persistentes dúvidas de Rony, conseguiria extinguir.
Contudo, quanto maior a intensidade do desejo pelas Relíquias, menos alegre ele se tornava. Harry culpava Rony e Hermione: sua decidida indiferença era tão ruim quanto a chuva incessante para aguar o seu ânimo. Nenhum deles, no entanto, conseguia corroer sua certeza, que continuava absoluta. A crença do garoto nas Relíquias e o seu desejo de possuí-las o consumiam de tal modo que ele se sentia isolado dos amigos e sua obsessão pelas Horcruxes.
— Obsessão? — exclamou Hermione, em um tom baixo e furioso, quando Harry se descuidou e usou essa palavra certa noite, depois que a amiga o censurara pela falta de interesse em localizar outras Horcruxes — Não somos nós que temos uma obsessão, Harry! Somos nós que estamos tentando fazer o que Dumbledore queria que fizéssemos!
O garoto, porém, ficou insensível à crítica velada. Dumbledore deixara o símbolo das Relíquias para Hermione decifrar e, em sua persistente convicção, deixara a Pedra da Ressurreição escondida no pomo. Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... senhor da morte... por que Rony e Hermione não entendiam?
— Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte — citou Harry, calmamente.
— Pensei que fosse Você-Sabe-Quem que devíamos estar combatendo — retorquiu Hermione, e Harry desistiu de convencê-la.
Mesmo o mistério da corça prateada, que os outros dois insistiam em discutir, parecia menos importante a Harry agora, uma atração secundária vagamente interessante. A única outra coisa que lhe importava era que sua cicatriz recomeçara a formigar, embora ele fizesse o possível para esconder o fato dos amigos. Procurava a solidão sempre que aquilo acontecia, mas ficava desapontado com o que via. A qualidade das visões que Voldemort partilhava com ele tinha se alterado, elas haviam se tornado borradas, oscilantes, como se entrassem e saíssem de foco. Harry conseguia apenas divisar as formas indistintas de um objeto que parecia um crânio, e algo como uma montanha, mais sombra do que substância.
Acostumado a imagens nítidas como a realidade, ficou desapontado com a mudança. Preocupava-se que a ligação entre ele e Voldemort tivesse se danificado, uma ligação que ambos temiam e ele valorizava, a despeito do que dissera a Hermione.
Por alguma razão, Harry vinculava essas imagens vagas e pouco satisfatórias à destruição de sua varinha, como se fosse culpa da varinha de ameixeira-brava ele não poder mais penetrar a mente de Voldemort tão bem quanto antes.
A medida que as semanas passavam imperceptíveis, Harry não pôde deixar de notar, mesmo através de sua abstração, que Rony parecia estar assumindo as responsabilidades. Talvez porque estivesse resolvido a compensar o fato de tê-los abandonado; talvez porque a apatia de Harry galvanizasse suas qualidades latentes de liderança, Rony era quem estava encorajando e exortando os amigos à ação.
— Faltam três Horcruxes — não cansava de repetir — Precisamos de um plano de ação, vamos! Onde ainda não procuramos? Vamos repassar. O orfanato...
O Beco Diagonal, Hogwarts, a Casa dos Riddle, Borgin & Burkes, Albânia, todo lugar, onde sabiam que Tom Riddle morara ou trabalhara, estivera de visita ou matara alguém, Rony e Hermione escarafunchavam, e Harry participava apenas para Hermione não aborrecê-lo. Teria se contentado em se sentar sozinho em silêncio, tentando ler os pensamentos de Voldemort, procurando descobrir mais alguma coisa sobre a Varinha das Varinhas, mas Rony simplesmente insistia em se deslocar para lugares cada vez mais improváveis, e Harry percebia que era para mantê-los em movimento.
— Nunca se sabe — era o constante refrão de Rony — Upper Flaguey é uma aldeia bruxa, ele pode ter querido morar lá. Vamos dar uma olhada.
Essas frequentes surtidas em território bruxo os levavam ocasionalmente a avistar sequestradores.
— Dizem que alguns são tão maus quanto Comensais da Morte — comentou Rony — Os que me pegaram eram meio patéticos, mas Gui acha que alguns são realmente perigosos. Disseram no Observatório Potter...
— No quê? — perguntou Harry
— Observatório Potter, não disse a vocês que esse era o nome? Do programa que estou sempre tentando sintonizar no rádio, o único que diz a verdade sobre o que está acontecendo! Quase todos os programas estão seguindo a diretriz de Você-Sabe-Quem, todos exceto o Observatório Potter. Eu realmente queria que vocês ouvissem, mas é difícil sintonizar...
Rony passou a noite usando a varinha para batucar vários ritmos na caixa do rádio, fazendo os botões girar. Ocasionalmente, pegava trechos de conselhos para tratar varíola de dragão, e uma vez, alguns compassos de “Um caldeirão de amor quente e forte”. Enquanto batucava, Rony tentava acertar a senha, murmurando sequências aleatórias de palavras.
— Normalmente, a senha é uma referência a alguma coisa da Ordem. Gui tinha realmente o dom de adivinhá-las. Vou acabar encontrando...
Somente em Março, a sorte, finalmente, favoreceu Rony. Harry estava sentado à entrada da barraca, de vigia, olhando distraidamente para uma moita de muscaris que tinham rompido o solo gelado, quando Rony gritou animadamente do interior da barraca.
— Achei, achei! A senha era “Alvo”! Entra aqui, Harry!
Despertado pela primeira vez, em dias, de sua contemplação das Relíquias da Morte, Harry entrou rápido na barraca e encontrou Rony e Hermione ajoelhados no chão ao lado do pequeno rádio. Hermione, que dava brilho na espada de Gryffindor só para se ocupar, estava sentada boquiaberta, olhando para o minúsculo objeto, que irradiava uma voz muito conhecida.
—... pedimos desculpas por nossa temporária ausência do éter, por força de várias visitas dos encantadores Comensais da Morte em nossa área.
— Nossa é o Lino Jordan! — exclamou Hermione.
— Eu sei! — confirmou Rony com um grande sorriso — Legal, não?
—... agora encontramos um novo local seguro — ia dizendo Lino — E tenho o prazer de informar que dois dos nossos colaboradores regulares estão hoje aqui conosco. Noite, rapazes!
— Oi.
— Noite, River.
— River, é o Lino — explicou Rony — Todos têm codinomes, mas em geral dá para sacar...
— Psiu! — fez Hermione.
— Mas antes de ouvir as novidades de Royal e Rômulo — continuou Lino — Vamos tirar um minuto para noticiar as mortes que a Rede de Rádio Bruxa e o Profeta Diário não acham importante mencionar. É com grande pesar que informamos aos nossos ouvintes os assassinatos de Ted Tonks e Dirk Cresswell.
Harry sentiu uma náusea despencar em suas entranhas. Ele, Rony e Hermione se entreolharam horrorizados.
— Um duende de nome Gornope também foi morto. Acredita-se que o Nascido-Trouxa Dino Thomas e um segundo duende, que estariam viajando com Ted Tonks, Cresswell e Gornope, possam ter escapado. Se Dino estiver nos ouvindo, ou se alguém tiver conhecimento do seu paradeiro, seus pais e irmãs estão desesperados por notícias. Enquanto isso, em Gaddley, uma família de trouxas de cinco pessoas foi encontrada morta em sua residência. As autoridades trouxas estão atribuindo suas mortes a um escapamento de gás, mas membros da Ordem da Fênix me informam que a causa foi uma Maldição da Morte, mais uma prova, como se precisássemos de alguma, de que a matança de trouxas está se tornando apenas um esporte amador sob o novo regime. E, finalmente, lamentamos informar que os restos mortais de Batilda Bagshot foram descobertos em Godric’s Hollow. Aparentemente, ela morreu há vários meses. A Ordem da Fênix informa que seu corpo apresentava sinais inconfundíveis de ferimentos infligidos por Magia das Trevas. Eu gostaria de convidar os nossos ouvintes a fazer conosco um minuto de silêncio em memória de Ted Tonks, Dirk Cresswell, Batilda Bagshot, Gornope e dos trouxas anônimos, mas não menos dignos do nosso pesar, assassinados pelos Comensais da Morte.
O locutor silenciou e Harry, Rony e Hermione o acompanharam. Uma parte de Harry desejava ouvir mais, a outra temia o que poderia ouvir a seguir. Era a primeira vez em muito tempo que ele se sentia totalmente ligado ao mundo exterior.
— Obrigado — ouviram a voz de Lino — E agora o nosso colaborador habitual, Royal, nos trará novas informações sobre o efeito que a nova ordem bruxa está causando no mundo trouxa.
— Obrigado, River — disse uma voz inconfundível, grave, comedida, reconfortante.
— Kingsley! — exclamou Rony.
— Nós sabemos! — disse Hermione, pedindo silêncio.
— Os trouxas ainda ignoram a origem de seus problemas embora continuem sofrendo pesadas baixas — disse Kingsley — Entretanto, a todo momento, ouvimos histórias verdadeiramente inspiradoras de bruxos e bruxas que arriscam a própria segurança para proteger amigos e vizinhos trouxas, muitas vezes sem que eles o saibam. Gostaria de apelar a todos os nossos ouvintes que se mirem nesses exemplos, talvez lançando feitiços protetores em residências trouxas de sua rua. Muitas vidas poderiam ser salvas se tomassem essa simples providência.
— E, Royal, o que você responderia aos ouvintes que afirmam que em tempos perigosos como os que vivemos “os bruxos vêm em primeiro lugar”? — perguntou Lino.
— Eu diria que o passo seguinte a “os bruxos vêm em primeiro lugar” é “os de Sangue Puro vêm em primeiro lugar” — respondeu Kingsley — Somos todos humanos, não? Toda vida humana tem o mesmo valor e merece ser salva.
— Muito bem colocado, Royal, e você tem o meu voto para Ministro da Magia, se conseguirmos sair dessa confusão — disse Lino — E agora passamos a palavra a Rômulo, que vai apresentar o nosso popular “Amigos de Potter”.
— Obrigado, River — agradeceu outra voz muito conhecida.
Rony começou a falar, mas Hermione o impediu com um sussurro.
— Sabemos que é Lupin!
— Rômulo, você continua a sustentar, como tem feito nas vezes em que compareceu ao nosso programa, que Harry Potter continua vivo?
— Sustento — respondeu ele, com firmeza — Não me resta a menor dúvida de que os Comensais da Morte anunciariam amplamente a morte dele se tivesse ocorrido, porque vibrariam um golpe mortal no moral dos que resistem ao novo regime. O Menino Que Sobreviveu continua a ser um símbolo de tudo por que estamos lutando: o triunfo do bem, o poder da inocência, a necessidade de continuar resistindo.
Uma onda de gratidão e vergonha perpassou Harry. Lupin o perdoara, então, pelas coisas terríveis que dissera em seu último encontro?
— E que diria a Harry, se soubesse que ele o está ouvindo, Rômulo?
— Diria que estamos todos com ele em espírito — respondeu Lupin e após uma leve hesitação — E diria para seguir os seus instintos, que são bons e quase sempre corretos.
Harry olhou para Hermione, cujos olhos estavam cheios de lágrimas.
— Quase sempre corretos — repetiu ela.
— Ah, eu não contei a vocês? — disse Rony, surpreso — Gui me disse que Lupin voltou a viver com Tonks! E que ela está ficando enorme.
—... e as novas notícias sobre os amigos de Harry Potter que estão sofrendo por sua lealdade? — perguntava Lino a Lupin.
— Bem, como os nossos fiéis ouvintes sabem, vários partidários de Harry Potter foram presos, inclusive Xenófilo Lovegood, outrora editor de O Pasquim.
— Pelo menos ele ainda está vivo! — murmurou Rony.
— Soubemos também nas últimas horas que Rúbeo Hagrid... — os três prenderam a respiração e quase perderam o fim da frase —... o conhecido Guarda-Caça de Hogwarts, escapou por um triz de ser capturado nos terrenos da Escola, onde correm boatos de que ele teria dado uma festa em sua casa com o tema “Apoie Harry Potter”. Hagrid, entretanto, não foi levado preso, e acredita-se que esteja foragido.
— Suponho que ter um meio-irmão de quase cinco metros de altura ajude a pessoa a escapar dos Comensais da Morte, não? — comentou Lino.
— Isso lhe daria uma certa vantagem — concordou Lupin, solenemente — Posso acrescentar que, embora aqui no Observatório Potter aplaudamos a iniciativa dele, gostaríamos de insistir com os partidários mais devotados de Harry que não sigam o exemplo de Hagrid. Festas do tipo “Apoie Harry Potter” são absolutamente insensatas no clima atual.
— Sem a menor dúvida, Rômulo — concordou Lino — Portanto, sugerimos que continuem a demonstrar sua devoção ao homem com a cicatriz em forma de raio ouvindo o Observatório Potter! Agora vamos às notícias do bruxo que está se mostrando tão esquivo quanto Harry Potter. Gostaríamos de nos referir a ele como o Chefão dos Comensais da Morte e, para comentar alguns boatos delirantes que circulam a seu respeito, eu gostaria de apresentar um novo colaborador: Rodent.
— Rodent? — admirou-se outra voz conhecida, e Harry, Rony e Hermione exclamaram juntos:
— Fred!
— Não... será o Jorge?
— Acho que é o Fred — tornou Rony, aproximando o ouvido do rádio, quando o gêmeo, qualquer que fosse, protestou:
— Não sou o Rodent, nem pensar, já disse que queria ser o Rapier!
— Ah, está bem então. Rapier, pode nos dar a sua interpretação das várias histórias que temos ouvido sobre o Chefão dos Comensais da Morte?
— Pois não, River. Os nossos ouvintes conhecem, a não ser que tenham se refugiado no fundo de um laguinho no jardim ou lugar semelhante, a estratégia usada por Você-Sabe-Quem em que ele permanece nas sombras para criar certo clima de pânico. Vejam bem, se todas as notícias de gente que o avistou forem genuínas, deve ter bem uns dezenove Você-Sabe-Quem andando por aí.
— O que naturalmente convém a ele — comentou Kingsley — O mistério está criando mais terror do que sua real aparição.
— Concordo — disse Fred — Então, pessoal, vamos tentar nos acalmar um pouco. As coisas já estão bem ruins sem precisarmos inventar nada. Por exemplo, essa nova ideia de Você-Sabe-Quem ser capaz de matar com um olhar. Isto quem faz é o basilisco. Um teste simples é verificar se aquilo que está olhando para vocês tem pernas. Se tiver, pode fixá-la nos olhos sem medo, embora haja a probabilidade de ser a última coisa que você fará na vida, se for realmente Você-Sabe-Quem.
Pela primeira vez em muitas semanas, Harry estava rindo: sentia o peso da tensão deixá-lo.
— E os boatos de que não param de avistá-lo no exterior? — perguntou Lino.
— Bem, quem não iria querer umas férias agradáveis depois de todo o trabalho pesado que tem feito? — respondeu Fred — Pessoal, a questão é: não se deixem embalar pela falsa sensação de segurança achando que ele está fora do país. Talvez esteja, talvez não, e é inegável que, quando ele quer, consegue se deslocar mais rápido do que Severo Snape ameaçado com um xampu, portanto, não confiem que ele esteja muito distante se estiverem planejando se arriscar. Nunca pensei que me ouviria dizer isso, mas a segurança vem em primeiro lugar!
— Obrigado por suas palavras sensatas, Rapier — disse Lino — Caros ouvintes, chegamos ao final de mais um Observatório Potter. Não sabemos quando será possível voltarmos ao ar, mas podem ter certeza de que voltaremos. Não parem de girar os botões dos rádios: a próxima senha será “Olho-Tonto”. Mantenham-se mutuamente protegidos, mantenham a fé. Boa noite!
O botão do rádio girou e as luzes do painel de sintonia se apagaram. Harry, Rony e Hermione continuavam a sorrir. Ouvir vozes conhecidas e amigas fora um tônico extraordinário, Harry se acostumara de tal modo ao seu isolamento que quase esquecera que havia outras pessoas resistindo a Você-Sabe-Quem. Era como acordar de um longo sono.
— Bom, hein? — comentou Rony, feliz.
— Genial — disse Harry.
— Que coragem a deles — suspirou Hermione, com admiração — Se forem apanhados...
— Bem, eles não param em lugar algum, não é? Como nós — disse Rony.
— Mas você escutou o que Fred disse? — perguntou Harry, animado, agora que a irradiação terminara, seus pensamentos retornaram à sua devoradora obsessão — Ele está no exterior! Continua procurando a varinha, eu sabia!
—Harry...
— Qual é, Hermione, por que você está tão determinada a não admitir isso? Vol...
— HARRY, NÃO!
—... demort está procurando a Varinha das Varinhas!
— Esse nome é Tabu! — berrou Rony, levantando-se de um pulo ao som de um forte estalo no exterior da barraca — Eu o avisei, Harry, eu o avisei, não podemos mais dizer esse nome... temos que refazer a proteção ao nosso redor... depressa... foi assim que nos encontraram...
Mas Rony parou de falar e Harry entendeu por quê.
O bisbilhoscópio sobre a mesa acendera e começara a rodopiar, ouviram vozes cada vez mais próximas, ásperas e excitadas. Rony puxou o desiluminador do bolso e clicou-o: as luzes se apagaram.
— Saiam daí com as mãos para o alto! — disse uma voz rascante na escuridão — Sabemos que vocês estão aí dentro! Temos meia dúzia de varinhas apontadas para vocês e não estamos ligando para quem vamos amaldiçoar!







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