segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE - capítulo 8





8
MAIS DOIS CUPONS DOURADOS


Naquela tarde, o jornal do Sr. Bucket anunciou a descoberta não só do terceiro Cupom Dourado, mas também do quarto. DOIS CUPONS DOURADOS ENCONTRADOS HOJE, anunciavam as manchetes. FALTA APENAS UM.
— Muito bem — disse Vovô José, quando a família se reuniu no quarto dos velhinhos depois do jantar — Vamos ver quem foram os premiados.
O Sr. Bucket leu a notícia, segurando o jornal bem perto do rosto, porque não enxergava direito e não tinha dinheiro para comprar óculos.
— “O terceiro cupom foi encontrado pela senhorita Violeta Chataclete. Houve grande agitação na casa dos Chataclete quando nossos repórteres chegaram para entrevistar a mocinha de sorte — câmeras clicando, flashes faiscando, gente empurrando, se acotovelando, tentando chegar mais perto da feliz ganhadora. A menina, de pé numa cadeira da sala de visitas, agitava o Cupom Dourado com os braços levantados, como se estivesse chamando um táxi. Falava muito alto e depressa, mas não era fácil ouvir o que dizia por que ao mesmo tempo ela mascava ferozmente um chiclete! ‘Sempre fui mascadora de chicletes’, ela anunciou, ‘mas, quando ouvi falar desses cupons do Sr. Wonka, abandonei o chiclete e me dediquei ao chocolate, na esperança de encontrar a sorte grande. Agora, claro, estou de volta ao chiclete. Simplesmente adoro chiclete. Não posso viver sem chiclete. Masco chiclete o dia inteiro, menos por alguns minutos, na hora das refeições. Então, tiro o chiclete da boca e grudo atrás da orelha, para não perder. Na verdade, eu simplesmente não me sentiria à vontade se não tivesse esse pedacinho de borracha para ficar mascando o dia inteiro. Não consigo viver sem ele. Minha mãe diz que nem pareço uma mocinha e que é muito feio uma menina ficar o tempo todo mexendo a mandíbula para cima e para baixo, como eu, mas não concordo. E, afinal, quem é ela para dizer isso, porque, se vocês querem saber, a mandíbula dela mexe quase tanto quanto a minha, de tanto que ela fica gritando comigo o dia inteiro’.
‘Ora, Violeta’, gritou a Sra. Chataclete lá do outro canto da sala, onde estava de pé em cima do piano, para evitar ser pisoteada pela multidão.
‘Tudo bem, mamãe, não precisa ficar nervosa’, gritou a menina Chataclete. ‘E agora’, continuou ela, voltando-se novamente para os repórteres, ‘deve interessar a vocês saber que estou mascando este mesmo chiclete há três meses, sem parar. É um recorde, sem dúvida! Consegui bater o recorde que era da minha melhor amiga, Cornélia Prinzmetal. Ela ficou furiosa! Agora, este chiclete é a coisa mais preciosa que eu tenho. À noite, eu o deixo grudado no estrado da cama, e de manhã ele continua ótimo — talvez um pouquinho duro no começo, mas assim que eu dou umas mascadas ele amacia de novo. Antes de começar a mascar para disputar o recorde mundial, eu costumava trocar meu chiclete uma vez por dia. Fazia isso dentro do elevador, quando voltava da escola. Por quê? Porque eu gostava de grudá-lo num dos botões do elevador. Então, quando alguém entrava e apertava aquele botão, ficava com o chiclete usado grudado na ponta do dedo. Ha-ha! Muita gente achava ruim e reclamava! O melhor é quando isso acontece com aquelas mulheres que usam luvas caríssimas. Ah, sim, estou ansiosa para entrar na fábrica do Sr. Wonka. E sei que depois ele vai me dar chicletes para durar o resto da minha vida. Hip! Hip! Hurra!’”.
— Que menina idiota! — disse Vovó Josefina.
— Desprezível — disse Vovó Jorgina — Já está pegajosa de tanto mascar chiclete...
— E quem achou o quarto Cupom Dourado? — perguntou Charlie.
— Vamos ver — disse o Sr. Bucket, voltando ao jornal — Está aqui! O quarto Cupom Dourado foi encontrado por um menino chamado Miguel Tevel.
— Outro entojo, tenho certeza — resmungou Vovó Josefina.


— Não interrompa, vovó — disse a Sra. Bucket.
— “A casa dos Tevel” — leu o Sr. Bucket — “também estava cheia de gente entusiasmada quando nosso repórter chegou, mas o jovem Miguel Tevel, o feliz ganhador, parecia incomodado com toda aquela agitação. ‘Será que vocês não percebem que estou vendo televisão?’ disse ele, zangado, ‘gostaria de não ser interrompido!’ O garoto, que tinha nove anos de idade, estava sentado em frente a uma televisão enorme, com os olhos grudados na tela, assistindo a um filme onde dois bandos de gangsters atiravam um contra o outro de metralhadora. O próprio Miguel Tevel estava com o corpo coberto de cinturões, com uns dezoito revólveres pendurados. Eram revólveres de brinquedo, de todos os tamanhos. Toda hora ele dava um pulo, pegava umas das armas e soltava uma meia dúzia de tiros. Quando alguém tentava perguntar alguma coisa, ele gritava: ‘Silêncio, eu não disse que não queria ser interrompido? Esse programa é um tiroteio só! Incrível! Terrível! Eu o vejo todos os dias. Assisto a todos os programas todos os dias, até os chatos, que não têm tiro. Gosto mais dos bandidos. São incríveis! Principalmente quando começam a mandar chumbo, puxar os estiletes, ou brigar com soco-inglês!’”.


— Chega — gritou Vovó Josefina. — Não agüento ouvir isso!
— Nem eu — disse Vovó Jorgina — Será que hoje em dia todas as crianças se comportam como esses pirralhos?
— Claro que não — disse o Sr. Bucket, sorrindo para a velhinha — Algumas, sim. Talvez muitas. Mas não todas.
— Agora só sobrou um cupom — disse Vovô Jorge.
— É mesmo — fungou Vovó Jorgina — E, com a mesma certeza de que amanhã vou comer sopa de repolho no jantar, sei que esse cupom vai cair nas mãos de algum moleque insuportável, que não o merece.



 continua...






Frase Curiosa: Conjugando o verbo Facebook: Eu posto, Tu comentas, Ele curte, Nós compartilhamos, Vós publicais, Eles riem, Ninguém trabalha.
Frase CuriosaErrar é humano. Colocar a culpa em alguém é estratégico.

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