segunda-feira, 23 de julho de 2012

Harry Potter e a Ordem da Fênix - Capítulo 19






— CAPÍTULO DEZENOVE —
O Leão e a Cobra



HARRY TEVE A SENSAÇÃO de que estava carregando uma espécie de talismã no peito, nas duas semanas seguintes, um segredo luminoso que o ajudou a suportar as aulas de Umbridge e até tornou-lhe possível sorrir insossamente ao encarar os olhos horríveis e saltados da professora.
Ele e a AD estavam resistindo debaixo do nariz dela, fazendo exatamente o que Umbridge e o Ministério mais temiam, e sempre que devia estar lendo o livro de Wilbert Slinkhard, durante as aulas, ele se regalava com as agradáveis lembranças das reuniões mais recentes, revendo como Neville conseguira desarmar Hermione, como Colin dominara a Azaração de Impedimento depois de se esforçar três reuniões seguidas, como Parvati executara um Feitiço Redutor com tanta perfeição que reduzira a pó a mesa em que estavam os bisbilhoscópios. Ele estava achando quase impossível fixar uma noite por semana para as reuniões da AD, porque precisavam acomodar os treinos de três equipes de quadribol diferentes, em geral remarcadas por causa das más condições do tempo, mas Harry não lamentava, sentia que provavelmente era melhor manter os horários de suas reuniões imprevisíveis. Se alguém os estivesse vigiando, ficaria difícil distinguir um padrão.
Hermione não tardou a inventar um método muito inteligente de comunicar o dia e a hora da reunião seguinte a todos os membros, caso precisassem mudá-los de um momento para o outro, porque pareceria suspeito se os alunos das diferentes Casas fossem vistos atravessando o Salão Principal para conversar uns com os outros com muita frequência. Ela deu a cada membro da AD um galeão falso (Rony ficou muito excitado quando viu a cesta de moedas e convenceu-se de que Hermione estava realmente distribuindo ouro).
— Vocês estão vendo os números na borda das moedas? — explicou Hermione ao final da quarta reunião, erguendo uma para mostrar.
A moeda brilhava maciça e amarela à luz dos archotes.
— Nos galeões verdadeiros, este é apenas o número de série referente ao duende que cunhou a moeda. Mas, nas moedas falsas, os números vão ser trocados para informar o dia e a hora da reunião seguinte. As moedas ficarão quentes quando a data mudar, então se vocês as carregarem no bolso poderão sentir. Cada um vai levar uma, e quando Harry mudar os números na moeda dele, porque eu usei um Feitiço de Proteu, todas mudarão para se igualar à dele.
Um silêncio total acolheu suas palavras, e Hermione olhou desapontada os rostos que a encaravam.
— Bom... achei que era uma boa idéia — disse insegura — Quero dizer, mesmo que a Umbridge nos mande virar os bolsos pelo avesso, não há nada suspeito em carregar um galeão, há? Mas... bom, se vocês não quiserem usar as moedas...
— Você sabe fazer um Feitiço de Proteu? — admirou-se Terêncio Boot.
— Sei.
— Mas isso... isso é nível de N.I.E.M. — comentou pouco convencido.
— Ah — respondeu Hermione, tentando parecer modesta — Ah... bom... é, suponho que seja.
— Como é que você não pertence à Corvinal? — perguntou Boot, fixando-a com um olhar próximo ao assombro — Com uma inteligência dessa?
— Bom, o Chapéu Seletor pensou seriamente em me mandar para Corvinal — contou Hermione animada — Mas acabou se decidindo pela Grifinória. Então, isso quer dizer que vamos usar os galeões?
Houve um murmúrio de concordância e todos se adiantaram para apanhar uma moeda na cesta. Harry olhou de esguelha para Hermione.
— Sabe o que essas moedas me lembram?
— Não, o quê?
— As cicatrizes dos Comensais da Morte. Voldemort toca em uma delas e todas ardem, e seus seguidores sabem que devem se reunir a ele.
— Bom... é — disse Hermione em voz baixa — Foi de onde copiei a idéia... mas você vai notar que decidi gravar a data em metal em vez de gravá-la na pele dos nossos colegas.
— É... prefiro do seu jeito — disse Harry, sorrindo ao enfiar a moeda no bolso — Imagino que o único perigo é que a gente possa gastar a moeda sem querer.
— Não tem a menor chance — disse Rony, que estava examinando o seu galeão falso com tristeza — Não tenho um galeão verdadeiro para confundir com este.
Quando o primeiro jogo da temporada, Grifinória contra Sonserina, começou a se aproximar, as reuniões da AD foram suspensas porque Angelina insistiu em fazer treinos quase diários. O fato de que a Copa de Quadribol não se realizava havia tanto tempo aumentava o interesse e a excitação que cercava o próximo jogo, os alunos da Corvinal e da Lufa-Lufa estavam vivamente interessados no resultado, porque eles, é claro, estariam jogando com as duas equipes no ano seguinte, e os diretores das Casas das equipes competidoras, embora tentassem disfarçar sob um falso espírito esportivo, estavam decididos a ver o seu próprio time vitorioso.
Harry percebeu o quanto a Profª. McGonagall queria derrotar a Sonserina quando ela se absteve de passar dever de casa na semana que antecedeu ao jogo.
— Acho que no momento já temos muito com que nos ocupar — disse com altivez.
Ninguém quis acreditar no que estava ouvindo até vê-la olhando diretamente para Harry e Rony, e dizer muito séria:
— Me acostumei a ver a Taça de Quadribol na minha sala, rapazes, e realmente não quero ser obrigada a entregá-la ao Prof. Snape, então usem o tempo extra para treinar, sim?
Snape não foi um partidário menos óbvio, reservou o campo de quadribol para a Sonserina com tanta frequência que a equipe da Grifinória teve dificuldade em encontrá-lo livre para treinar. Fazia-se também de surdo com relação às muitas queixas de que os alunos da Sonserina estavam tentando azarar os jogadores da Grifinória nos corredores da escola. Quando Alicia Spinnet apareceu na Ala Hospitalar com as sobrancelhas crescendo tão densa e rapidamente que obscureciam sua visão e tampavam sua boca, Snape insistiu que a garota devia ter experimentado nela mesma um Feitiço para Engrossar os Cabelos, e se recusou a ouvir as catorze testemunhas que confirmavam ter visto o goleiro da Sonserina, Milo Bletchley, lançar o feitiço nas costas da garota quando ela estava estudando na Biblioteca.
Harry se sentia otimista quanto às chances da Grifinória, afinal de contas, jamais haviam perdido para a equipe de Malfoy. Era verdade que o desempenho de Rony ainda não chegara no nível do de Olívio, mas ele estava se esforçando o máximo para melhorar. Sua maior fraqueza era a tendência a perder a confiança quando fazia uma bobagem. Se deixava passar um gol, se atrapalhava e, com isso, se tornava mais vulnerável a deixar passar vários.
Em contrapartida, Harry vira Rony fazer algumas defesas espetaculares quando estava em forma, durante um treino memorável: ficara pendurado na vassoura por uma das mãos e chutara a goles com tanta força para longe do aro que ela percorrera toda a extensão do campo e atravessara o aro do meio na extremidade oposta. A equipe achara que essa defesa se comparava favoravelmente com uma outra feita recentemente por Barry Ryan, o goleiro da seleção da Irlanda, contra o melhor artilheiro da Polônia, Ladislau Zamojski. Até mesmo Fred dissera que Rony ainda poderia fazer com que ele e o irmão se orgulhassem dele, e que estavam pensando seriamente em admitir seu parentesco com ele, coisa que, garantiam-lhe, vinham tentando negar havia quatro anos.
A única preocupação real de Harry era que Rony estava deixando que as táticas da Sonserina o perturbassem mesmo antes de entrarem em campo. Harry, naturalmente, aturava os comentários maldosos deles havia mais de quatro anos, por isso, murmúrios como:
— Oi, Potty, ouvi dizer que Warrington jurou derrubar você da vassoura no Sábado — em vez de gelar seu sangue, o faziam rir.
— A pretensão de Warrington é tão patética, que eu ficaria mais preocupado se ele estivesse mirando na pessoa ao meu lado — retrucava ele, o que fazia Rony e Hermione rirem e apagava o sorriso presunçoso da cara de Pansy Parkinson.
Mas Rony nunca estivera sujeito a uma campanha incansável de desaforos, caçoadas e intimidações. Quando os alunos da Sonserina, alguns do sétimo ano e consideravelmente maiores que ele, murmuravam ao passar nos corredores: “Reservou seu leito na Ala Hospitalar, Weasley?”, ele não ria, e seu rosto adquiria um delicado tom verde. Quando Draco Malfoy o imitava largando a goles (o que ele fazia sempre que os dois se avistavam), as orelhas de Rony irradiavam um fulgor vermelho e suas mãos tremiam tanto que ele seria capaz de deixar cair também o que estivesse segurando na hora.

* * *

Outubro terminou numa investida de ventos uivantes e chuvas impiedosas, e Novembro chegou, frio como uma barra de ferro congelada, com espessas geadas matinais e correntes de ar cortantes que queimavam as mãos e os rostos desprotegidos. O céu e o teto do Salão Principal estavam um perolado cinza pálido, os picos das montanhas que cercavam Hogwarts, cobertos de neve, e a temperatura do castelo caíra tanto que muitos estudantes usavam grossas luvas de pele de dragão para se proteger quando saíam para os corredores no intervalo das aulas.
A manhã do jogo alvoreceu clara e fria.
Quando Harry acordou, olhou para a cama de Rony e o viu sentado, muito reto, abraçando os joelhos, olhando fixamente para o espaço.
— Você está bem? — perguntou Harry.
Rony respondeu afirmativamente com a cabeça, mas não falou. Harry se lembrou sem querer da ocasião em que o amigo acidentalmente lançara nele mesmo um feitiço que o fez vomitar lesmas: estava tão pálido e suado como naquele dia, para não falar na relutância em abrir a boca.
— Você só precisa tomar café — disse Harry para animá-lo — Vamos.
O Salão Principal estava se enchendo depressa quando eles chegaram, a conversa mais alta e o clima mais exuberante do que o normal. Quando passaram pela mesa da Sonserina, o barulho aumentou. Harry olhou e viu que, além dos habituais cachecóis e gorros verde e prata, cada um deles estava usando um distintivo prateado, que, na forma, lembrava uma coroa. Por alguma razão, muitos deles acenaram para Rony, às gargalhadas. Harry tentou ver o que estava escrito nos distintivos, mas estava tão preocupado em fazer Rony passar rápido pela mesa que não quis se deter tempo suficiente para ler.
Eles foram recebidos entusiasticamente na mesa da Grifinória, onde todos usavam vermelho e ouro, mas, em lugar de animar Rony, os vivas pareceram acabar de minar o seu moral, ele se largou no banco mais próximo, parecendo estar diante da última refeição da vida.
— Eu devia estar maluco quando fiz isso — disse num sussurro rouco — Maluco!
— Não seja tapado — disse Harry com firmeza, passando-lhe uma seleção de cereais — Você vai ficar ótimo. É normal se sentir nervoso.
— Sou uma meleca — crocitou ele em resposta — Sou um trapalhão. Não sou capaz de jogar nem para salvar a pele. Onde é que eu estava com a cabeça?
— Controle-se — disse Harry com severidade — Olhe aquela defesa que você fez com o pé ainda outro dia, até o Fred e o Jorge disseram que foi genial.
Rony voltou um rosto torturado para Harry.
— Aquilo foi por acaso — sussurrou infeliz — Não era minha intenção, escorreguei da vassoura quando vocês não estavam olhando e, quando tentei me endireitar, chutei acidentalmente a goles.
— Bom — disse Harry recuperando-se rapidamente da desagradável surpresa — Mais alguns acasos iguais àquele e o jogo está no papo, não acha?
Hermione e Gina sentaram-se defronte aos dois usando cachecóis, luvas e rosetas vermelho e ouro.
— Como é que você está se sentindo? — Gina perguntou a Rony, que agora contemplava o resto de leite no fundo da tigela vazia de cereal, como se considerasse seriamente a possibilidade de se afogar ali.
— Ele está só nervoso — disse Harry.
— Bom, é um bom sinal, acho que a pessoa nunca se sai tão bem nos exames se não estiver um pouco nervosa — disse Hermione com entusiasmo.
— Alô — cumprimentou uma voz vaga e sonhadora às costas deles.
Harry olhou: Luna Lovegood viera da mesa da Corvinal. Muitos estudantes a seguiam com os olhos, alguns davam gargalhadas e a apontavam sem disfarces. Luna conseguira arranjar um chapéu em forma de cabeça de leão em tamanho natural, e o colocara precariamente na cabeça.
— Estou torcendo pela Grifinória — disse, apontando sem necessidade para o chapéu — Olhe só o que ele faz...
Ela ergueu a mão e deu um toque de varinha no chapéu. O leão escancarou a boca e soltou um rugido extremamente real, que sobressaltou todos que estavam por perto.
— É ótimo, não é? — disse Luna, feliz — Eu queria que ele estivesse mastigando uma cobra para representar a Sonserina, entendem, mas o tempo foi pouco. Em todo o caso... boa sorte, Ronald!
Ela se afastou como se flutuasse.
Os garotos ainda não tinham se recuperado do choque que fora o chapéu de Luna quando Angelina se aproximou correndo, acompanhada por Cátia e Alicia, cujas sobrancelhas tinham sido misericordiosamente restauradas por Madame Pomfrey.
— Quando vocês estiverem prontos — disse ela — Vamos direto para o campo, verificar as condições e trocar de roupa.
— Estaremos lá daqui a pouco — Harry a tranqüilizou — O Rony precisa comer alguma coisa.
Mas, passados dez minutos, ficou claro que Rony não conseguiria comer mais nada, e Harry achou melhor levá-lo para os vestiários. Ao se levantarem da mesa, Hermione os acompanhou, e, segurando o braço de Harry, puxou-o para um lado.
— Não deixe Rony ver o que tem naqueles distintivos do pessoal da Sonserina — cochichou pressurosa.
Harry olhou-a curioso, mas ela sacudiu a cabeça num gesto de aviso, Rony vinha em direção a eles, parecendo perdido e desesperado.
— Boa sorte, Rony — disse Hermione, ficando na ponta dos pés e lhe dando um beijo na bochecha — E para você também, Harry...
Rony pareceu se reanimar ligeiramente quando tornaram a cruzar o Salão Principal. Ele encostou a mão no lugar em que Hermione o beijara, parecendo intrigado, como se não tivesse muita certeza do que acabara de acontecer.
Parecia distraído demais para reparar nas coisas ao seu redor, mas Harry lançou um olhar curioso para os distintivos em forma de coroa quando passaram pela mesa da Sonserina, e desta vez distinguiu as palavras gravadas: Weasley é o nosso rei
Com uma sensação desagradável de que aquilo não podia significar nada de bom, ele apressou Rony na travessia do saguão e na descida da escada de pedra, e saíram para o ar gelado.
A grama coberta de gelo produzia um ruído de trituração sob seus pés ao caminharem pelos gramados em direção ao estádio. Não havia vento algum e o céu estava um branco perolado uniforme, o que significava que a visibilidade seria boa, sem o transtorno de receber a luz do sol direto nos olhos. Harry apontou esses dados animadores para Rony, mas não tinha muita certeza de que o amigo o ouvisse.
Angelina já se trocara e estava falando com o resto da equipe quando eles entraram. Harry e Rony vestiram os uniformes (Rony tentou fazer isso de trás para a frente durante vários minutos até Alicia se apiedar dele e ajudá-lo), depois se sentaram para ouvir a preleção pré-jogo, enquanto lá fora o vozerio não parava de aumentar à medida que os espectadores saíam em um fluxo contínuo do castelo para o campo.
— Ok, acabei de descobrir a escalação final da Sonserina — disse Angelina, consultando um pedaço de pergaminho — Os batedores do ano passado, Derrick e Bole, saíram, mas parece que Montague os substituiu pelos gorilas de sempre, em vez de escolher alguém que saiba voar particularmente bem. São dois caras chamados Crabbe e Goyle, não sei muita coisa sobre eles...
— Nós sabemos — disseram Harry e Rony juntos.
— Bom, eles não parecem ter inteligência suficiente para diferenciar as extremidades da vassoura — continuou Angelina, embolsando o pergaminho — Mas, por outro lado, eu sempre me surpreendi que Derrick e Bole conseguissem encontrar o caminho do campo sem precisar de placas de sinalização.
— Crabbe e Goyle são iguais — garantiu-lhe Harry.
Ouviam-se centenas de passos subindo as arquibancadas do campo. Alguns espectadores cantavam, embora Harry não conseguisse entender as palavras. Estava começando a se sentir nervoso, mas sabia que as borboletas em seu estômago não eram nada se comparadas às de Rony, que apertava a barriga e olhava reto em frente outra vez, de queixo duro e a pele cinza-claro.
— Está na hora — avisou Angelina com a voz abafada, consultando o relógio — Vamos, galera... boa sorte!
A equipe se levantou, pôs as vassouras nos ombros e saiu em fila indiana do vestiário para a claridade ofuscante do dia. Foram saudados por um grande clamor, no qual Harry continuava a ouvir um canto, embora abafado pelos aplausos e vaias.
A equipe da Sonserina já os aguardava formada. Seus jogadores também usavam os tais distintivos em forma de coroa.
O novo capitão, Montague, tinha a forma física de Duda Dursley, braços maciços que lembravam presuntos peludos. Atrás dele, rondavam Crabbe e Goyle, quase tão grandes como ele, piscando idiotamente no céu, balançando os bastões novos de batedores. Malfoy estava parado de um lado, a cabeça louro-prateada refletindo o sol. Seus olhos encontraram os de Harry, e ele deu um sorriso debochado, batendo no distintivo que levava ao peito.
— Capitães, apertem as mãos — ordenou Madame Hooch, quando Angelina e Montague se aproximaram.
Harry pôde ver que Montague estava tentando quebrar os dedos de Angelina, embora ela nada demonstrasse.
— Montem as vassouras...
Madame Hooch levou o apito à boca e soprou.
As bolas foram soltas no ar, e os catorze jogadores dispararam para o alto. Pelo canto do olho, Harry viu Rony passar como um raio em direção às balizas. Harry continuou a subir em alta velocidade, se esquivou de um balaço, e começou a dar uma grande volta pelo campo, procurando no ar um brilho dourado, do outro lado do estádio, Draco Malfoy fazia exatamente a mesma coisa.
E é Johnson... Johnson com a goles, que jogadora é essa garota, é o que venho dizendo há anos, mas ela continua a não querer sair comigo...
— JORDAN! — berrou a Profª. McGonagall.
—... é só uma gracinha, professora, um toque de interesse humano. E ela se livra de Warrington, passa por Montague, ela... ai... foi atingida nas costas por um balaço lançado por Crabbe... Montague apanha a goles, Montague torna a subir pelo campo e... belo balaço agora de Jorge Weasley, um balaço na cabeça de Montague, que larga a goles, quem a apanha é Cátia Bell, Cátia Bell da Grifinória atrasa a bola para Alicia Spinnet e Spinnet se afasta...
Os comentários de Lino Jordan ecoavam pelo estádio, e Harry fazia esforço para escutá-los apesar do assobio do vento em seus ouvidos e do vozerio do público, que berra, vaia e canta.
—... foge de Warrington, evita um balaço... esse foi por pouco, Alicia... e o público está adorando o jogo, ouçam, que é que eles estão cantando?
E Lino parou para escutar, a cantoria soou alta e clara na seção verde e prata da Sonserina nas arquibancadas.
Weasley não pega nada
Não bloqueia aro algum
Ei, Ei, Ei, Ei,
Weasley é o nosso rei.
Weasley nasceu no lixo
Sempre deixa a bola entrar
A vitória já é nossa,
Weasley é o nosso rei.
—... e Alicia passa outra vez para Angelina! — gritou Lino, e quando Harry mudou de direção, suas entranhas fervendo com o que acabara de ouvir, percebeu que Lino estava tentando abafar a cantoria — Vai Angelina... agora ela só precisa passar pelo goleiro! ELA CHUTA... ELA... aaah...
Bletchley, o goleiro de Sonserina, defendeu bem, lançou a goles para Warrington, que saiu em velocidade, ziguezagueando entre Alicia e Cátia; a cantoria das arquibancadas se tornava cada vez mais alta e ele foi se aproximando de Rony.
Weasley é o nosso rei,
Weasley é o nosso rei,
Sempre deixa a bola entrar
Weasley é o nosso rei.
Harry não conseguiu se conter: abandonando a busca do pomo, virou sua Firebolt para Rony, uma figura solitária na extremidade do campo, planando diante das três balizas enquanto o troncudo Warrington avançava para ele.
Warrington tem a goles, Warrington vai em direção aos aros, está fora do alcance dos balaços e tem apenas o goleiro pela frente...
Uma grande onda sonora se elevou das arquibancadas da Sonserina:
Weasley não pega nada
Não bloqueia aro algum...
—... É o primeiro teste do novo goleiro da Grifinória, Weasley, irmão dos batedores Fred e Jorge... é um talento que promete... vamos garoto!
Mas o grito de alegria veio do lado da Sonserina: Rony dera um mergulho às cegas, de braços muito abertos, e a goles passara entre eles, atravessando direto o seu aro central.
Ponto para Sonserina! — entrou a voz de Lino entre os aplausos e vaias do público embaixo — Dez a zero para Sonserina... que pouca sorte, Rony!
Os alunos de Sonserina cantaram ainda mais alto:
WEASLEY NASCEU NO LIXO
EI, EI, EI, EI...
—... e a Grifinória retoma a posse e temos Cátia Bell atravessando o campo com energia... — gritou Lino se enchendo de coragem, embora a cantoria agora estivesse tão ensurdecedora que ele mal conseguia se fazer ouvir.
A VITÓRIA JÁ É NOSSA
WEASLEY É O NOSSO REI...
— Harry, QUE É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? — berrou Angelina, sobrevoando-o para acompanhar Cátia Bell — MEXA-SE!
Harry se deu conta de que parara no ar por mais de um minuto, observando o andamento da partida sem pensar um instante onde estaria o pomo, horrorizado ele mergulhou e recomeçou a circular o campo, tentando ignorar o coro que agora atroava o estádio:
WEASLEY É O NOSSO REI,
WEASLEY É O NOSSO REI...
Não viu sinal do pomo em lugar algum, Malfoy continuava a circular o estádio como ele. Cruzaram na metade da volta pelo campo, seguindo em direções opostas e Harry ouviu Malfoy cantando em voz alta:
WEASLEY NASCEU NO LIXO...
—... e aí vem Warrington de novo — berrou Lino — Que passa para Pucey, Pucey ultrapassa Alicia, vamos Angelina, dá para pegar ele, afinal não deu, mas foi um belo balaço de Fred Weasley, quero dizer, Jorge Weasley, ah, que diferença faz, foi um dos gêmeos, e Warrington larga a goles e Cátia Bell... hum... larga também... então a goles sobra para Montague que sai voando pelo campo, vamos Grifinória, bloqueia ele agora!
Harry contornou veloz a extremidade do campo por trás das balizas da Sonserina, fazendo força para não olhar para o que estava acontecendo na extremidade do campo defendida por Rony. Quando passou pelo goleiro da Sonserina, ouviu Bletchley acompanhando o coro do público embaixo.
WEASLEY NÃO PEGA NADA...
—... e Pucey se livra mais uma vez de Alicia e ruma diretamente para o gol, segura a bola, Rony!
Harry não precisou olhar para saber o que acontecera: ouviu-se um gemido terrível no lado da Grifinória, acompanhado de novos gritos e aplausos dos alunos da Sonserina. Olhando para baixo, Harry viu a cara de buldogue de Pansy Parkinson bem na frente da arquibancada, de costas para o campo, regendo a torcida da Sonserina que urrava:
EI, EI, EI, EI
WEASLEY É O NOSSO REI!
Mas vinte a zero não era problema, ainda havia tempo para a Grifinória igualar o placar ou capturar o pomo. Uns três gols e eles tomariam a dianteira como sempre.
Harry procurou se tranqüilizar, subindo, descendo e entrecruzando com os demais jogadores em busca de um brilho que vira e que, afinal, era a correia do relógio de Montague.
Mas Rony deixou entrar mais dois gols.
Havia um toque de pânico no desejo que Harry sentia de encontrar o pomo imediatamente. Se conseguisse capturá-lo logo, terminaria o jogo de uma vez.
—... e Cátia Bell da Grifinória escapa de Pucey, se abaixa para fugir de Montague, bela virada, Cátia, e atira para Angelina, que agarra a goles, ultrapassa Warrington, está voando para o gol, vamos, agora Angelina... E É PONTO PARA GRIFINÓRIA! Quarenta a dez, quarenta a dez para Sonserina, e Pucey tem a posse da goles...
Harry ouviu o ridículo chapéu de leão de Luna rugir no meio dos vivas da Grifinória e se sentiu fortalecido: apenas trinta pontos de diferença, isso não era nada, podiam se recuperar facilmente. Harry evitou um balaço que Crabbe disparara em sua direção e retomou a varredura frenética do campo em busca do pomo, vigiando, caso Malfoy desse indicação de que o localizara, mas Malfoy, como ele, continuava a voar à volta do estádio, procurando sem sucesso.
—... Pucey atira para Warrington, Warrington para Montague, Montague devolve a Pucey... Johnson intercepta, Johnson toma a goles, atira para Bell, a coisa parece boa... quero dizer... ruim... Bell é atingida por um balaço de Goyle, da Sonserina, e é Pucey quem retoma a...
WEASLEY NASCEU NO LIXO
SEMPRE DEIXA A BOLA ENTRAR
A VITÓRIA JÁ É NOSSA...
Finalmente Harry o viu: o minúsculo pomo de ouro esvoaçava a poucos metros do chão no campo da Sonserina. Ele mergulhou...
Em questão de segundos, Malfoy veio varando o céu à esquerda de Harry, um borrão verde e prata deitado sobre a vassoura...
O pomo contornou a base de uma das balizas e saiu para o outro lado das arquibancadas, sua mudança de direção beneficiou Malfoy, que estava mais próximo. Harry inverteu o rumo da sua Firebolt, e ele e Malfoy estavam agora emparelhados. À curta distância do chão, Harry ergueu a mão direita da vassoura, esticou-a para o pomo... à direita, o braço estendido de Malfoy também esticou, tateou...
Tudo terminou em dois segundos desesperados, esbaforidos, vertiginosos... os dedos de Harry se fecharam sobre a bolinha minúscula e rebelde... as unhas de Malfoy tentaram agarrá-la inutilmente nas costas da mão do oponente, Harry empinou a vassoura, apertando na mão a bola que se debatia, e os espectadores da Grifinória gritaram sua aprovação ao lance...
Estavam salvos, não importava que Rony tivesse deixado entrar aqueles gols, ninguém se lembraria desde que a Grifinória tivesse ganho...
TAPUM.
Um balaço atingiu Harry nos rins e ele foi lançado para fora da vassoura. Por sorte, estava a menos de dois metros do chão, pois mergulhara muito baixo para apanhar o pomo, mas ficou sem ar e caiu com as costas chapadas no chão congelado. Ele ouviu o apito agudo de Madame Hooch, um clamor nas arquibancadas em que se misturavam assobios, berros furiosos e vaias, um baque e, então, a voz frenética de Angelina.
— Você está bem?
— Claro que estou — respondeu Harry carrancudo, segurando sua mão e deixando que ela o ajudasse a se levantar.
Madame Hooch voava velozmente em direção a um dos jogadores da Sonserina acima, embora, do ângulo em que estava, ele não conseguisse ver quem era.
— Foi aquele bandido do Crabbe — disse Angelina, furiosa — Atirou o balaço no momento em que viu que você tinha capturado o Pomo... mas nós ganhamos, Harry, nós ganhamos!
Harry ouviu um bufo às costas e se virou, ainda apertando o pomo na mão: Draco Malfoy pousara ali perto. O rosto branco de fúria, ainda assim conseguia desdenhar.
— Salvou o pescoço do Weasley, não foi? Nunca vi um goleiro pior... mas também, nasceu no lixo... gostou da minha letra, Potter?
Harry não respondeu. Virou-se para se reunir ao resto de sua equipe que agora aterrissava, um a um, berrando e dando socos no ar, todos, exceto Rony, que desmontara da vassoura próximo às balizas e parecia estar caminhando lentamente para os vestiários, sozinho.
— Queríamos acrescentar mais uns versos! — gritou Malfoy, enquanto Cátia e Alicia abraçavam Harry — Mas não encontramos rimas para gorda e feia, queríamos cantar alguma coisa sobre a mãe dele, sabe...
— Inveja mata — disse Angelina, lançando a Malfoy um olhar enojado.
—... também não conseguimos encaixar “fracassado inútil”... para o pai dele, sabe...
Fred e Jorge perceberam o que Malfoy estava dizendo. A meio caminho de apertar a mão de Harry, eles se retesaram, encarando Malfoy.
— Deixa para lá! — disse Angelina na mesma hora, segurando o braço de Fred — Deixa para lá, Fred, deixa ele gritar, ele só está frustrado porque perdeu, o metido...
—... mas você gosta dos Weasley, não é Potter? — continuou Malfoy, caçoando — Passa as férias lá e tudo, não é? Não sei como você agüenta o fedor, mas suponho que para alguém criado por trouxas, até o pardieiro dos Weasley cheira bem...
Harry agarrou Jorge. Entrementes, eram necessários os esforços conjuntos de Angelina, Alicia e Cátia para impedir Fred de pular em cima de Malfoy, que ria abertamente. Harry olhou para os lados procurando Madame Hooch, mas ela ainda estava brigando com Crabbe por seu ataque ilegal com o balaço.
— Ou vai ver — disse Malfoy, recuando com um sorriso debochado — Você se lembra como a casa da sua mãe fedia, Potter, e o chiqueiro dos Weasley faz lembrar dela...
Harry não percebeu que largara Jorge, só soube é que um segundo depois os dois estavam atracados com Malfoy. Esquecera-se completamente de que todos os professores estavam assistindo, tudo que queria era infligir a Malfoy o máximo de dor possível, sem tempo para puxar a varinha, ele apenas recuou, o punho fechado sobre o pomo, e enterrou-o com toda a força que pôde no estômago de Malfoy...
— Harry! HARRY! JORGE! NÃO!
Ele ouvia as garotas gritando, Malfoy berrando, Jorge xingando, um apito tocando e os urros do público, mas ele não deu atenção a nada. Até alguém próximo gritar Impedimenta!, e ele ser derrubado de costas no chão por força do feitiço, não desistiu da tentativa de socar cada centímetro de Malfoy ao alcance de sua mão.
— Que é que você acha que está fazendo? — berrou Madame Hooch, quando Harry se levantou de um salto.
Aparentemente fora ela quem o atingira com a Azaração de Impedimento, a juíza segurava o apito em uma das mãos e a varinha na outra, largara a vassoura a alguns passos de distância. Malfoy estava dobrado no chão, choramingando e gemendo, o nariz ensanguentado, Jorge exibia um lábio inchado, Fred ainda estava sendo contido à força por três artilheiros, e Crabbe dava gargalhadas mais atrás.
— Nunca vi um comportamento igual, já para o castelo, os dois, e direto para a sala da diretora de sua Casa! Vão! Agora!
Harry e Jorge saíram do campo, ofegantes, sem trocar palavra.
Os uivos e as vaias do público foram se tornando mais fracos à medida que se aproximavam do Saguão de Entrada, onde não ouviam nada exceto o som dos próprios passos.
Harry se deu conta de que alguma coisa ainda se debatia em sua mão direita, cujos nós ele ferira ao bater no queixo de Malfoy. Baixando os olhos, viu as asas de prata do pomo saindo por entre seus dedos, tentando se libertar.
Haviam acabado de chegar à porta da sala da Profª. McGonagall quando ela apareceu marchando pelo corredor atrás deles. Usava o cachecol da Grifinória, mas arrancou-o do pescoço com as mãos trêmulas ao se aproximar, com o rosto lívido.
— Entrem! — ordenou furiosa, apontando para a porta.
Harry e Jorge obedeceram. Ela deu a volta à escrivaninha e os encarou, tremendo de raiva, atirando o cachecol ao chão.
— Então? Nunca vi uma exibição tão vergonhosa. Dois contra um! Expliquem-se!
— Malfoy nos provocou — disse Harry formalmente.
— Provocou vocês? — gritou a professora, batendo na mesa com tanta força que uma lata escorregou para um lado e se abriu, enchendo o chão de lagartos de gengibre — Ele tinha acabado de perder, não tinha? Claro que queria provocar vocês! Mas o que pode ter dito para justificar o que vocês dois...
— Ele insultou meus pais — vociferou Jorge — E a mãe de Harry.
— Mas em vez de deixarem Madame Hooch resolver vocês dois decidiram fazer uma exibição de duelo de trouxas, não foi? — urrou a Profª. McGonagall — Vocês têm idéia do que...
— Hem, hem.
Harry e Jorge se viraram rápido.
Dolores Umbridge estava parada à porta da sala, envolta em uma capa de tweed verde que enfatizava enormemente sua semelhança com um sapo gigante, e sorria daquele jeito horrível, doentio e agourento que Harry aprendera a associar com desgraça iminente.
— Posso ajudar, Profª. McGonagall? — perguntou ela com sua voz meiga, mas venenosa.
O sangue anuiu ao rosto de McGonagall.
— Ajudar? — repetiu, num tom de voz controlado — Que é que você quer dizer com ajudar?
A Profª. Umbridge entrou na sala, ainda exibindo seu sorriso doentio.
— Ora, achei que poderia agradecer um reforço de autoridade.
Harry não teria se surpreendido de ver faíscas saltarem das narinas da Profª. McGonagall.
— Pois se enganou — disse ela voltando as costas à Umbridge — Agora, é bom os dois me ouvirem com atenção. Não sei qual foi a provocação que Malfoy fez, não quero saber se ele ofendeu cada membro das suas famílias, o seu comportamento foi vergonhoso e vou dar a cada um uma semana de detenção! Não olhe assim para mim, Potter, você mereceu! E se um dos dois voltar...
— Hem, hem.
A Profª. McGonagall fechou os olhos como se rezasse pedindo paciência quando tornou a voltar o rosto para a Profª. Umbridge.
— Sim?
— Acho que eles merecem muito mais do que detenções — disse Umbridge ampliando o sorriso.
Os olhos de McGonagall se abriram de repente.
— Mas, infelizmente — disse, tentando retribuir o sorriso, o que fazia parecer que estivesse acometida de tétano — O que conta, é o que eu penso, porque eles pertencem à minha Casa, Dolores.
— Bom, Minerva, na realidade — disse Umbridge afetando um sorriso — Acho que você vai descobrir que o que eu penso realmente conta. Vejamos, onde está? Cornélio acabou de me enviar... quero dizer... — ela deu uma risadinha fingida enquanto remexia na bolsa — O Ministro acabou de me enviar... ah, sim...
Puxou um pergaminho que agora começava a desdobrar, pigarreando com exagero antes de começar a lê-lo.
— Hem, hem... Decreto Educacional nº 25.
— Mais um, não! — explodiu a Profª. McGonagall.
— É, mais um — respondeu a outra ainda sorrindo — Aliás, Minerva, foi você que me fez ver que precisávamos de mais uma emenda... lembra-se de como você passou por cima da minha cabeça, quando eu não quis deixar a equipe de quadribol da Grifinória se reorganizar? Como você levou o caso a Dumbledore, que insistiu que a equipe tivesse permissão de jogar? Então, agora eu não poderia permitir isso. Entrei imediatamente em contato com o Ministro, e ele concordou comigo que a Alta Inquisidora precisa ter o poder de retirar privilégios de alunos, ou ela, ou seja, eu, teria menos autoridade que os professores comuns. E você está vendo agora, não está, Minerva, como eu tinha razão em tentar impedir a equipe da Grifinória de se reorganizar? Temperamentos violentos... em todo o caso, eu estava lendo a emenda para você... hem, hem... “Doravante a Alta Inquisidora terá autoridade suprema sobre todas as punições, sanções e cortes de privilégios referentes aos estudantes de Hogwarts, e o poder de alterar tais punições, sanções e cortes de privilégios que tiverem sido ordenados por outros membros do corpo docente. Assinado, Cornélio Fudge, Ministro da Magia, Ordem de Merlim Primeira Classe, etc. etc.”.
Ela enrolou o pergaminho e tornou a guardá-lo na bolsa, ainda sorrindo.
— Portanto... eu realmente acho que terei de proibir esses dois de voltarem a jogar quadribol para sempre — disse ela, olhando de Harry para Jorge e de volta a McGonagall.
Harry sentiu o pomo se debater enlouquecido em sua mão.
— Nos proibir? — disse ele, e sua voz lhe pareceu estranhamente distante — De voltar a jogar... para sempre?
— É, Potter, acho que uma proibição definitiva deve funcionar — disse Umbridge, ampliando o seu sorriso ao observar o esforço do garoto para compreender o que ela acabara de dizer — O senhor e o Sr. Weasley aqui. E acho que, para ficarmos seguros, o gêmeo deste rapaz também deve ser proibido, se os seus companheiros de equipe não o tivessem contido, estou certa de que teria atacado o jovem Sr. Malfoy também. Quero que suas vassouras sejam confiscadas, naturalmente. E as guardarei em segurança na minha sala para ter certeza de que não desobedecerão à minha proibição. Mas não sou injusta, Profª. McGonagall — continuou ela, voltando-se para a colega, que agora olhava para ela de pé e tão imóvel que parecia esculpida em gelo — O resto do time pode continuar jogando, não vi sinais de violência em nenhum deles. Bom... boa tarde para todos!
E com uma expressão satisfeitíssima, Umbridge saiu da sala, deixando atrás de si um silêncio horrorizado.

* * *

— Proibidos... — ressoou a voz de Angelina, mais tarde naquela noite na Sala Comunal — Proibidos... sem apanhador e sem batedores... que meleca é que nós vamos fazer?
Nem parecia que haviam ganho o jogo. Para todo o lado que Harry olhava havia rostos desolados e enfurecidos, os jogadores da equipe estavam largados em volta da lareira, todos menos Rony, que não era visto desde o final da partida.
— É tão injusto — disse Alicia, atordoada — Quero dizer, e Crabbe e aquele balaço que ele lançou depois que o apito já tinha tocado? Ela proibiu o Crabbe?
— Não — respondeu Gina infeliz, ela e Hermione estavam sentadas de cada lado de Harry — Crabbe recebeu frases para escrever, ouvi Montague contar isso às gargalhadas na hora do jantar.
— E proibir o Fred quando ele nem fez nada! — admirou-se Alicia furiosa, batendo com o punho no joelho.
— Não é minha culpa se não fiz — disse Fred, com uma expressão feroz no rosto — Eu teria quebrado aquele merdinha todo se vocês três não estivessem me segurando.
Harry contemplava, infeliz, a vidraça escura. A neve caía.
O pomo que ele apanhara mais cedo voava sem parar pela Sala Comunal, as pessoas acompanhavam sua trajetória como se estivessem hipnotizadas, e Bichento saltava de uma cadeira para outra, tentando apanhá-lo.
— Vou me deitar — disse Angelina, levantando-se devagar — No final, a gente talvez descubra que tudo isso não passou de um sonho mau... talvez eu acorde amanhã e descubra que ainda não jogamos...
Logo Alicia e Cátia a acompanharam. Fred e Jorge subiram algum tempo depois, fechando a cara para todos por quem passavam, e Gina não se demorou muito mais. Somente Harry e Hermione continuaram ao pé da lareira.
— Você viu Rony? — perguntou Hermione em voz baixa.
Harry balançou a cabeça.
— Acho que ele está nos evitando. Onde é que você acha que ele...
Mas, neste exato momento, ouviram um rangido, o retrato da Mulher Gorda girou e Rony atravessou o buraco do retrato. Estava de fato muito pálido e havia neve em seus cabelos. Quando viu Harry e Hermione, ele parou de chofre.
— Onde você esteve? — perguntou Hermione, ansiosa, se erguendo.
— Andando — murmurou.
Ele ainda usava o uniforme de quadribol.
— Você parece enregelado — disse Hermione — Vem sentar aqui com a gente!
Rony foi até a lareira e se largou na poltrona mais distante de Harry, sem olhá-lo. O pomo roubado sobrevoava suas cabeças.
— Sinto muito — murmurou ele, olhando para os pés.
— Pelo quê? — perguntou Harry.
— Por pensar que sabia jogar quadribol. Vou pedir demissão logo de manhã.
— Se você pedir demissão — disse Harry irritado — Só sobrarão três jogadores na equipe.
E quando Rony o olhou intrigado, ele informou:
— Fui proibido de jogar definitivamente. Fred e Jorge também.
— Quê? — gritou Rony.
Hermione contou-lhe a história toda. Harry não suportaria repeti-la. Quando terminou, Rony pareceu mais agoniado que nunca.
— Tudo isso foi minha culpa...
— Você não me fez bater em Malfoy — respondeu Harry zangado.
—... se eu não fosse tão ruim em quadribol...
— Não tem nada a ver.
—... foi aquela música que me deixou nervoso...
—... teria deixado qualquer um nervoso.
Hermione se levantou e foi até a janela, para se afastar da discussão, olhar os flocos de neve caírem em rodopios contra a vidraça.
— Olha aqui, para com isso, tá! — explodiu Harry — Já tá bem ruim sem você se culpar por tudo!
Rony se calou, mas ficou sentado olhando infeliz para a barra molhada das vestes. Passado algum tempo, disse, sem graça:
— Nunca me senti tão mal na vida.
— Entre para o nosso clube — respondeu Harry com amargura.
— Bom — disse Hermione, a voz ligeiramente trêmula — Sei de uma coisa que pode animar os dois.
— Ah, é? — disse Harry, incrédulo.
— É — respondeu ela se afastando da janela escuríssima, salpicada de flocos, um grande sorriso a iluminar seu rosto — Hagrid voltou.









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